quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Choveu içá em Piracaia


Estava eu lá em Piracaia neste final de semana trabalhando no jardim, sob um sol escaldante no domingo, quando começou a chover içá. 

No sábado, ao anoitecer, teve uma invasão de besouros, que se suicidavam queimados no lustre. E agora, sob o sol quente eles eram enterrados pelas formigas, para irem devorando aos poucos. Era isto que observava quando começou a cair içá do céu. No começo,  fiquei assustada com aquelas formigonas e confesso que matei algumas com o enxadão. Aqueles insetos realmente não faziam parte das minhas memórias. Mas me lembrei de ter conversado com a amiga Nana Tucci dias antes. Ela tinha ido à Lagoinha, no Vale do Paraíba,  fazer uma matéria para o Caderno Comida, do Jornal Folha de São Paulo e me mandou a íntegra do texto, que publicou no seu blog Calunga Cor de Rosa. Portanto, antes de continuar lendo, melhor ir lá para saber tudo sobre a caçada e o bicho: Formigou 

Nunca vi uma caçada, mas já comi paçoca feita com elas em Silveiras, também no Vale. E foi sobre isto, sobre o costume e a natureza do bicho que falei no post Delícias de Silveiras.  Compensa dar uma olhada nestes dois links antes de prosseguir.  

Tentei olhar em volta para descobrir de onde vinham, mas o sol estava se pondo e eu ainda tinha muito trabalho na terra antes de voltar para São Paulo.  Depois me arrependi. Devia ter procurado o formigueiro para acompanhá-lo. Não é toda hora que cai içá do céu. Quando resolvi catar algumas, várias delas já estavam com bundinhas pra cima, cavoucando buraco na terra ainda molhada da chuva do dia anterior.  Achei bom porque estavam entrando em terreno duro de terraplanagem. Assim, os novos formigueiros servirão para arejar as profundezas com suas galerias. Só espero que não virem saúvas cortadeiras vorazes que vão acabar com os meus verdes. 



Quando as catei do chão, já estavam sem as asas. Usei uma caneca de pegar grãos como se fosse pá e fui colocando num pote com tampa. Cerca de uma dúzia apenas. Congelei quando cheguei aqui e só hoje limpei. Eliana ajudou, mas é fácil. Estando congeladas, basta quebrá-la pela cintura, aproveitando apenas o abdome e descartando tórax e cabeça. Ela tem mais prática que eu, pois seus vizinhos que vieram de Minas e Pernambuco pegam içás aqui mesmo em São Paulo, quando começam a cair no asfalto. E preparam farofa em banha de porco com farinha de mandioca, para comer com cerveja.  Segundo ela, bastante içá e pouca farinha, diferente do que fiz. Como tinha pouco, fritei na manteiga e juntei farinha suficiente para o meu almoço. Comi com carne e verdura. E estava boa. No começo parece estranho, mas quando se vence o preconceito e começa a prestar atenção ao sabor, ele é bom, muito bom. E a textura,  crocante como pipoca. 



Não quero, não gostei ! Só quero as bolinhas crocantes! 
Dendê também adorou e queria mais. Claro, só as bolinhas crocantes,  o filé mignon da formiga. Já o que sobrou da separação, cabeça, corpo, perninhas, misturei como complemento proteico na comida da vira-lata, que come de um tudo (menos nozes, casca de jabuticaba e outras poucas coisas). Achei que bastava ser proteína para que Dendê devorasse, mas que nada. Não quis saber. Embora tudo bem misturado, ela conseguiu separar todas as cabecinhas. Algumas,  pegou com a boca e cuspiu para fora da vasilha. Outras, deixou no fundo. Não é boba nem nada esta filha de uma cadela. 

E aí, em algum outro lugar está tendo revoada de içá? Vamos pensar outros pratos com ela? 

26 comentários:

marta disse...

Oi Neide,
Que coisa mais fofa a Dendê e ainda por cima inteligente!!!! sabe o que gosta e não adianta usar artimanhas com ela!!!a vira-latinha que amor,mas pelo jeito, tratada como uma rainha!!! amei.

Maria Amélia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Amélia disse...

Neide, me lembro de ter comido içá (chamávamos de inçá) na infância. Eu e outras crianças pegávamos as formigas e minha mãe fritava as bundnhas gordinhas e comíamos. Não lembro do sabor mas sei que eram boas. Esse final de semana choveu siriri lá na chácara, mas não tinham bundinhas gordas kkkk.
Outra coisa que me chama a atenção lá na chácara, e que infelizmente não vemos mais aqui na cidade, são os vaga-lumes. às Vezes tenho vontade de aprisionar alguns em vidros (como na infância) e depois soltá-los aqui na cidade. Será que dá certo isso, de repovoar a cidade com vaga-lumes? Tenho feito isso com borboletas. Esse ano criei lagartas até se transformarem em borboletas. bjs.

Marília disse...

que maravilha, neide! aqui em pernambuco chamamos de "tanajura". normalmente cai no inverno (junho/julho). como esse ano quase não choveu por aqui, a "safra" foi pequena...

Eliete *artseartes* disse...

Olá Neide!
Aqui em Minas chamamos de "tanajura".
Içá é a primeira vez que ouço! Meus irmãos adoram tanajura com farinha de milho, enquanto eu, nem passo perto! rsrsrs. Geralmente aparecem por aqui final de outubro quando as primeiras chuvas se armam. bjs

Kenia Bahr disse...

Oi, Neide. Aqui em Tremembé, também Vale do paraiba, choveu içás no domingo. Só descobri à tarde, quando vi um tanto de gente andando pela estrada, com potes e sacos cheios nas mãos. Corri pra roça e consegui catar um pouco tb, mas já estavam sem as asas e fazendo buraquinhos. A essas o povo da roça chama 'cachorrinhos'. Fiquei esperando uma por uma sair dos buracos que elas mesmas fazem pra botar seus ovos, saem de ré! Daí fiz como vc a farofa. E pelo que me consta, a içá é a rainha da saúva, aquelas pestes cortadeiras! Os machos são menores que as içás e aqui são chamados de Sabitus.
Beijos!

Kenia Bahr disse...

Ah, esqueci: descobri que o proprio Ocílio, de Silveiras usa também os tórax delas na paçoca/farofa. E descobri soziha que eles são até mais saborosos que os abdomes!
Beijos!

Anônimo disse...

Neide tb conheço como tanajura,tem que torrar para fazer apaçoca, ja comi muito quando criança.(Diulza)

LoliPorto disse...

Oi, Neide.
Aqui em Pernambuco elas são conhecidas como tanajuras e quando "caem" do céu vira uma festa. Crianças e adultos correm campo a dentro pra pegar, saímos com potes cheios para fritarmos na manteiga e comermos pura ou com farinha. Olivier as chama de "O Caviar do Sertão" e conserva potes delas congeladas para comer a qualquer época do ano.Gostei de ler sobre elas aqui. Parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Bom dia, Neide! Olha, já catei muita tanajura para uma cunhada pernambucana que ama a iguaria, mas eu mesma não gosto. Acho que é porque, infelizmente, elas enfiadas na terra formarão o futuro formigueiro de saúvas cortadeiras, que na minha chácara conseguiram poluir a água do meu poço e tive que as combater com produto químico. Cada danadinha dessas sem asa já foram fecundadas e serão uma rainha, ou seja, cada buraquinho será uma nova colônia. É impressionante, não é?
Então, se vc aprecia, coma-as, antes que elas tenham a oportunidade de comer suas plantinhas! Abç.
Izabel

Anônimo disse...

Oi Neide, aqui em Santo Antônio do Pinhal o pessoal da roça come muito, desse jeito mesmo, com farinha, só as bundinhas. Mas uma coisa: não se iluda com os formigueiros, porque elas vão COM CERTEZA virar saúvas vorazes e comer tudo que você plantar. O melhor pra arejar a terra é plantar uma boa coleção de adubos verdes: feijão de porco, feijão guandú,
crotalária, lab-lab, até mamona e amora, margaridão e capim que da em toceira: elefante, napier. E nabo forrageiro no inverno. depois poda tudo quando estiver quase dando flor e deixa por cima da terra cobrindo o solo. E deixa um pedacinho sem cortar pra dar semente (e depois a gente troca de novo). bjs!

Anônimo disse...

Que nojento!Aqui no Sul Fluminense chama-se bitu.Há muitos anos que não cai mais.Quando criança tinha pessoas que comiam,tenho nojo até do cheiro que ficava no ar!

Anônimo disse...

Achei bem interessante, na verdade nem sabia que se comia formigas, mas deve estar crocante! Se achar agora já sei o que fazer! kk Gosto muito deste blog, estou fazendo uma chamado Amigos da Horta, para quem gosta de cultivar seus próprios alimentos como eu, quem quiser conhecer o endereço é este: http://amigosdahorta.blogspot.com.br/

João Inácio disse...

Pra começar, nunca vi formigas tãããããoooo grandes assim. E, quanto à crocância, acho que prefiro pipoca. Eu até poderia comer, mas um leitor do interior do RJ, que não se identificou, disse que fica um cheiro no ar... Que cheiro? De formiga, o que entendo é aquelas com asas (que são pequenas) e após muitos dias de estio, perdem suas asas, anunciando uma futura chuva. Nestes dias, estas formigas "soltam" um cheiro, que é muito desagradável. Se é assim com essas tb, eu passo...

Outra coisa, como assim "cair do céu"? Não entendi.. dã... Sério, fui criado no interior do RS, e lembro só de três tipos de formigas: as pretas cortadeiras, indicativas de inverno muito frio; as corredeiras, minúsculas, que no passado indicavam chuva, mas hj em dia elas estão para lá e para cá e não chove.... rsrsrsrs Estas últimas parecem bem inocentes, mas um amigo farmacêutico me disse que eles são vetores de inúmeras doenças...

O terceiro tipo só lembro da minha infância, nunca mais vi. É uma formiga vermelha, um pouco menor que as cortadeiras pretas, que tem uma picada muito dolorida, pode até causar choques anafiláticos em certas pessoas e podem destruir uma lavoura em poucos dias. Lembro delas atacando naqueles dias horrivelmente quentes e úmidos do verão gaúcho. Felizmente, nunca mais vi as "tipas".

Mais alguém aqui do RS ou para corroborar o que digo ou dizer que o que estou falando é balela????? Realmente, fiquei intrigado com o post.

Fábio Metello disse...

Não como isso nem a pau!!! hahahah

Neide Rigo disse...

João Inácio,
veja os links que eu indiquei, que vai entender porque elas "caem" do céu. Elas não tem cheiro, não. Eu não sinto, pelo menos.

Fábio, eu te entendo.

Um abraço, N

reconquistar disse...

belissimo blog

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