terça-feira, 4 de setembro de 2012
O Sena é aqui
A casa está novamente vazia. As francesas, Sophie e Cecille, a argelina Yasmin e a brasileiríssima sobrinha Flora, colocaram a grande mochila nas costas e voltaram para Paris levando cachaça, sabonete phebo e o burburinho alegre que já deixa saudade. Elas se amontoaram na edícula, com banheiro e saída independentes, e por isto não incomodaram em nada. Saiam pra fumar, passeavam, terminavam a noite na Vila Madalena e levantavam tarde. Ainda assim, não deram trabalho e se mostraram empolgadas para aprender o português.
Já quase na minha hora de almoço é que iam começar o dia, mas se viravam, faziam chá, café, suco de laranja, que adoram, arrumavam a mesa de fora e comiam sossegadamente no jardim. Na mesma mesa, à noite, às vezes tomavam caipirinha que aprenderam a fazer, guaraná que amaram e salgadinhos. Ou, para ficarem ainda mais à vontade, iam ao supermercado, compravam pão, presunto, tomates e umas bobagens (sem entrar aqui no mérito da qualidade do que escolhiam), carregavam minha manteiga e as toalhas para a praça aqui do lado e improvisavam um piquenique em pleno dia de semana.
Em Paris, é assim que fazem. Enquanto por aqui nossos piqueniques são um acontecimento, lá, basta que surja um solzinho e ter um intervalo na faculdade, que elas correm pra margem do Sena, às vezes disputando espaço com tanta gente que teve a mesma ideia. É claro que há piqueniques mais charmosos, com cestas apropriadas, vinho com taça e patês elaborados. Em termos de satisfação e sensação de pertencimento que o comer coletivo oferece, o resultado será praticamente o mesmo. Nem precisa toalha, elas dizem. Basta que tenham um echarpe no pescoço ou um pano africano na cabeça, como as meninas gostam de usar, para estenderem no chão e compartilhar o momento com os amigos. Antes, passam na mercearia, compram pão, frutas, queijo, salame, vinho e certamente algumas bobagens, racham a conta e voilà. Comem, bebem, fumam, riem bastante e voltam pra Sorbonne. Aliás, basta que não chova. Pois, mesmo no fim do dia, uma liga pra outra: vamos tomar uma cerveja? Passam no mercado, compram a bebida gelada, uns patês e uns belisquetes e correm pra praça iluminada. Dali, ligam pra um, ligam pra outro, estendem a echarpe do pescoço, o pano da cabeça, chega uma flauta, um violão e o piquenique vira festa até tarde da noite.
Tudo tão leve, barato e descomplicado. Por que não fazemos mais horas felizes no final do dia com os amigos? Segurança? E no restaurante? Alguém está livre dos arrastões? Se ocuparmos os espaços públicos, estaremos mais seguros, porque somos mais, isto é certo. Se nos trancarmos em casa, aí sim deixamos a cidade aos ratos. Vamos piqueniquear!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
13 comentários:
Neide, não é só em Paris. por aqui fazer picnic é tao comum que muitas vezes nem precisa de toalha. no campus os estudantes simplesmente se espalham pelos gramados, na sombra ou no sol. eu faço um picnic toda sexta-feira. atravesso a rua e estendo um quilt na grama bem embaixo de uma arvore. as vezes como sozinha, as vezes um esquilo me acompanha, outras vezes um colega ou amigo. é muito bom. :-) esse sanduba de queijo/presunto/tomate das meninas me deu agua na boca. beijao :-)
Olá , passei pela net encontrei o seu blog e o achei muito bom, li algumas coisas folhe-ei algumas postagens, gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns, e espero que continue se esforçando para sempre fazer o seu melhor, quando encontro bons blogs sempre fico mais um pouco meu nome é: António Batalha. Como sou um homem de Deus deixo-lhe a minha bênção. E que haja muita felicidade e saude em sua vida e em toda a sua casa.
PS. Se desejar seguir o meu blog,Peregrino E Servo, fique á vontade, eu vou retribuir.
Neide,confesso que é um pouco(ou muito) deprimente ler sobre a segurança,arrastões,esta palavra arrastão me causa nem sei o que...Mas creio que é falta de hábito do povo,lembra como em POA todo mundo se junta com o chimarrão pelos parques? Aqui o povo comemora aniversário de crianças pelos parques,ao contrário do hábito ridículo que impera em POA ao menos,de alugar aqueles lugares caríssimos que mais parecem de plástico..enfim...desculpa o desabafo! Mas quando a gente le o final,não tem como...
Fer,
Onde há verão e inverno definidos as pessoas gostam de sair para os parques, né? Aqui o hábito está só começando, com a vantagem que podemos fazer isto quase o todo todo. Mas eu tenho esperança. Sabe que até eu fiquei com vontade?
Antônio, obrigada!
Mari, isto é cultural e tem a ver com invernos mais rigorosos, mas por aqui a coisa está pegando também. Faz tão bem, não é? No Rio é comum piqueniques de aniversários. Vi vários acontecendo ao mesmo tempo no Parque Lage, por exemplo. Pois é, agora deu de ter arrastões por aqui...
Um abraço, N
Neide e Mari,
Em Porto Alegre estão ocorrendo enormes piqueniques noturnos no Parque Moinhos de Vento e na Praça da Encol (apesar do nome é, pelo tamanho e layout, mais parque do que praça):
http://wp.clicrbs.com.br/zhmoinhos/2012/09/03/o-piquenique-noturno-no-parcao-esta-crescendo/?topo=13,1,1,,,13
Mariângela,
Viver na Europa, ainda que num país em profunda crise é um privilégio!
Lamento informar, mas a Redenção virou local perigoso DE DIA. Às vezes, eu cortava caminho entre a Oswaldo e a Venâncio e não faço mais isso.
Há três semanas, em pleno meio-dia, um grupo de uns dez meninos roubou TUDO de um rapaz, (deixaram-no pelado, apenas de cuecas) e o obrigaram a entrar no chafariz, e estava frio... Também bateram nele... Claro, havia inúmeras pessoas se exercitando no local na hora, mas os bandinhos tinham certeza da impunidade.
Felizmente, com as câmeras de vigilância espalhadas pelo parque, logo a polícia chegou, prendendo os assaltantes (TODOS menores e já SOLTOS, claro...). Pelo menos, o coitado recuperou as roupas, tênis e telefone. Não, ninguém me contou isso: assisti no telejornal!
O melhor é não arriscar. A Redenção deixou de ser um local para se frequentar.
Ei, Neide.
Compactuo com sua ideia. Culpam a "falta de segurança" por tudo. As pessoas preferem se restringir do que pensar que a convivência no espaço comum pode ser um fator apaziguador muito forte.
João Inácio,
que pena isto da Redenção, mas quanto mais nos afastamos destes lugares, mas o deixamos vulnerável. Talvez sozinho não seja aconselhável passar por lá, mas quem sabe em grupos?
Nely,
talvez o que lhe falte é treinar o olhar e os sentidos para reconhecer gente assim como esta pessoa. Amigos bons estão às soltas por aí. Não desista, não.
Um abraço,
N
Oi Neide,
Eu amo um picnic, e quando estava no RJ, quase todo sábado o grupo de tricô que participo fazia picnic no Parque Lage. Agora que estou em SP e moro pertinho do Museu do Ipiranga, vou fazer um Picknit (picnic com tricô) lá. Aliás, seus leitores estão convidados e vou ver se me aventuro nas suas receitas de pão. Admiro muito seu trabalho, é uma inspiração para mim.
Desculpe Neide, removi porque me pareceu que eu escrevi a novela das oito da globo, que horror KKKKKK
Mas você tem toda razão, basta ficar atenta! Mas que seu post me trouxe boas lembranças e despertou saudades... aaai que delícia! Bons tempos aqueles!
Bjs
Nely Maria
PS; não vou remover este KKKKKK; e pelo desculpas, sou muito emotiva.
Valesca,
que ótima ideia. Vou falar pra minha irmã que mora perto do museu. Obrigada!
Nely, sem problemas. Mas peço que não desista.
Um abraço, N
Adorei o texto. No Brasil não temos muito o hábito do picnic, talvez pela falta de parques na maioria das cidades, ou pela falta de parques decentes. Acho que tb no Brasil a classe média não tem esse despojamento dos europeus, que aliás, é algo de que gosto neles, começando pelo modo como se vestem.
Realmente, os gringos adoram guaraná. Eu evito refrigerantes, mas gostava muito do guaraná de antes, o de hoje parece que tem muito mais açúcar, como tudo na indústria de alimentos.
PS: faz um tempinho não comentava aqui, mas não lembro de antes ter o verificador de letras. Ô coisinha chata. :-\
Jussara,
obrigada pelo comentário. Eu faço piquenique pelo menos uma vez por mês, mas realmente é um hábito bem europeu, que tem estações bem marcadas.
Desculpe pelo verificador de letras - cada vez mais difícil de acertar. Eu também odeio, mas não dá pra ficar sem, pois entram muitos spans, às vezes perigosos para o blog e para os leitores.
Um abraço, N
Postar um comentário