terça-feira, 14 de junho de 2011

Tipiti de plástico. E outros lixos.

Tipitis de plástico à venda numa feira popular em Belém 
Nonato tirando tucupi no tipiti de palha 
Além da beleza natural, o que mais me chamou a atenção nesta viagem a Belém e Ilha do Marajó foi a quantidade de lixo de plástico e outros materiais não biodegradáveis. O efeito nefasto da globalização e seu residuo moderno parece ter chegado antes que a população tivesse tempo de se educar e refletir sobre a diferença entre uma casca de coco que apodrece no quintal e uma sacola plástica que voa sem rumo para as águas,  se engancha nos galhos pelo caminho, entope bueiros da cidade, chega pelos rios e mares contaminando mangues e igarapés e está longe de se integrar àquela paisagem que gostaríamos de ver sempre verde.  Se bem que isto vem acontecendo com frequência em todo o Brasil.

Esta foi a quarta vez que estive no Marajó, sendo que a última vez foi em 2008.  O que entristece é ver que as coisas estão mudando num ritmo muito acelerado. Daqui a poucos anos não veremos mais tipitis de tala de miriti, nem croatás como fruteiras, cestos de cipó timbó açu ou de tala de jupati, redes de fibras de buriti,  nem a tala de guarumã em paneiros e peneiras.

O tacacá ainda resiste em tigelas das cuieiras (Crescentia cujete), mas o açaí e o chibé, até há pouco tempo tomados em cuias, já são servidos em pratos de plástico e tigelas de alumínio. Nas casas da Ilha do Marajó quase não se vêem mais tábuas de madeira. Todo mundo alega que este utensílio milenar e confortável para os olhos e para as facas é anti-higiênico e, antes que se educasse a população sobre técnicas de higienização, disseminou-se através de cursos para manipuladores de alimentos, que as tábuas de madeira devem ser banidas para sempre e substituídas por plástico. Então, o que se encontram nas casas são tábuas de plástico vagabundo cheias de sulcos encardidos, difíceis de limpar - ótimos reservatórios para bactérias de todo tipo. Nada sobre higienização, nada sobre contaminação cruzada, basta trocar madeira por plástico. Parece ser esta a única mensagem que fica, sem distinção entre o ambiente doméstico e estabelecimentos de alimentação coletiva. Por isto, pulando a etapa de educação em higiene, daqui a pouco tudo será de plástico com mil alegações sanitárias.  Uma perda cultural irreparável.

Paneiros de açaí - de plástico e com talas de arumã
Paneiros com mangaba e cará roxo ainda persistem
Em grande parte o paneiro foi substituído por estas redes 
Nota: depois falo sobre higienização de tábuas

15 comentários:

Angela Escritora disse...

Neide.. traduz? "Daqui a poucos anos não veremos mais tipitis de tala de miriti, nem croatás como fruteiras, cestos de cipó timbó açu ou de tala de jupati, redes de fibras de buriti, nem a tala de guarumã em paneiros e peneiras.

O tacacá ainda resiste em tigelas das cuieiras (Crescentia cujete), mas o açaí e o chibé, até há pouco tempo tomados em cuias"
Interessante, fiquei doente esse fim de semana e vi MUITA TV. Ontem mesmo vi uma reportagem sobre tábuas demonstrando como as de madeira são as melhores, como a própria madeira evita bactérias.

Neide Rigo disse...

Ângela, eu sei que você conhece tudo isto, ah vá!

Pois é, as tábuas de madeiras tem substâncias protetoras naturais bactericidas que o plástico não tem. A única desvantagem é que são mais porosas, acumulam mais umidade - mas pra que temos sabão, fogo, escovas e sol?
Que programa é este que viu? Eu quero! Será que eu consigo ver? Você está melhor? O que teve? Espero que seja apenas uma gripe ligeira. Beijos, N

Lissa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Larissa Ribeiro disse...

Puxa vida... achei que era exclusividade dos grandes centros urbanos aquelas cestinhas e móveis de "vime de plástico"... isso não faz nenhum sentido! Onde foi parar o bom senso das pessoas? É assustador...

Gina disse...

Pois é, ainda não abandonei meu rolo de macarrão... de madeira.
Tábuas, tenho das duas, assim como algumas facas com cabos de madeira e colheres de pau, que secam ao sol!
Você tocou no ponto certo. De que adiantam certas mudanças, se a de hábitos não muda?
O mesmo acontece com o uso de luvas, que sabe-se lá quando são lavadas...

FIlipe disse...

Tô adorando ver a viagem que eu... não fiz! Não estava lá no pão do coco nem quando o Nonato tirou o tucupi. Bjs

Silvia - BH disse...

Pois é , D. Neidoca e eu que curto madeira enquanto não adquiro uma bacana, preferi uma tábua da Monofil que é bem grossa. È que eu não sei amolar faca e achei que as minhas estavam ficando ruins com as tábuas de madeira. O que você me diz?

Podia ter traduzido para a Angela, pois eu também não entendi nada e para já não vou ter tempo de pesquisar. : (
Mas imagino que boa parte sejam palmeiras.

Neide Rigo disse...

Larissa, eu também procuro!

Gina, é isto mesmo.

Filipe, pensei que tivesse experimentado o coco. Você estava junto, não? Por lá as coisas iam acontecendo sem avisar. Mas você vê agora.

Silvia, para mim as tábuas de madeira são as que mais preservam o corte das facas. Isto, empiricamente, pois nunca vi nenhum trabalho comparativo sério.

Silvia e Angela, tipitis são estes instrumentos que mostro na foto, usados como prensa para mandioca. Croatá é aquela proteção para o cacho de frutos das palmeiras. Tem um lindo desenho e serve como fruteira. As espécies citadas fornecem talas para se trançar peneiros (cestos para transportar alimentos) e peneiras. Tacacá é aquela sopa feita com tucupi (o caldo da mandioca sem o amido e temperado), goma de mandioca, camarão e jambu. Cuia é o fruto da cuieira cortado ao meio e tratado para servir de tigela (como as cabaças). Açaí todo mundo sabe o que é e chibé é farinha d´água e água. Espero ter agora esclarecido. Qualquer dúvida, me fale.

Um abraço, N

Juliana Valentini disse...

Já há tempos também questiono essa substituição de tudo por plástico e recentemente troquei minhas tábuas plásticas por umas lindas de bambu que comprei na Liberdade, bairro japonês em São Paulo.
Agora falta aprender como higienizá-las. Imagino que valha para o bambu o mesmo processo usado para a madeira, não?
Neide, você ensina?
Aguardo ansiosamente e, desde já, peço autorização para passar as dicas pra frente no meu blog, o www.deverdecasa.com
Um beijo,
Juliana.

Silvia - BH disse...

Neide, ficou claro agora. Gosto destas cuias.

DESABAFO: aqui em BH havia uma Feira Nacional de Artesanato no MInascentro, em frente ao Mercado Central. Tem gente que ia lá só para visitar a barraca do Pará. Serviam comida típica em cuias, três deliciosos sucos , uma torta de caranguejo (acho) e aquele biscoitinho de castanha ficava para a sobremesa junto com os bombons. Pois bem, a feira ainda há, mas quando mudaram-na, destrataram esta barraca do Pará. Instalaram num corredor, sem mesas e cadeiras e deram ótimas instalações a outros- quem vai comer em cuia o pato ao tucupi em pé? A moça ficou tão aborrecida que prometeu não mais retornar e o cumpriu. Mas a feira pra mim nunca mais voltou as ser boa como antes, por esta e outras.

Mais desabafo. Aqui proibiram sacola de plástico em todos ambinetes comerciais. Há muitos argumentos para mostrar como isto só se tornou uma chatice para todos e não resolve a grande questão do lixo. A prefeitura cuida pouco da coleta seletiva e menos ainda da educação do povo. Sou uma que há anos uso sacolas retornáveis, mas jamais aplicaria uma lei assim, hipócrita que é, tão sem apoio dos próprios que a querem fazer cumprir para uma genuína mudança de atitude.

E outra, querem acabar com a cerveja em garrafas de vidro na cidade para diminuir a violência na cidade. E todos vão tomar em copo de plástico na cidade que tem mais botecos e bares do país. Imagino D.Neidoca!

Angela Escritora disse...

Conheço nada! Sei lá o que é tipiti, miriti, croatá jupati.. pra mim você está falando em tupi-guarani-nagô!:-)Morri de inveja mas me lembrou os anos 70 com seus códigos!!!

O programa .. foi na SKy, testavam tábuas de mármore, madeira e plástico. Entrevistaram até um chef que nas aulas só usava plástico. Aí foram a um laboratório, lá , colocaram e-coli boazinha no centro das tábuas. No dia , lavaram bem com água e sabão. Aí testaram o centro e as extremidades. Resultado:plástico com mais bactérias de todos no centro, depois mármore e depois madeira(pouquíssima) porém, nas extremidades, mármore mais que plástico. Os cortes das facas no plástico acumulavam as bactérias enquanto os cortes na madeira matavam as bactérias. Eu estava doente,fiquei zapeando, não lembro se foi na GNT ou em canais discovery, mas deve passar novamente. Estou melhor, ainda não 100%, obrigada, deve ter sido vírus mesmo, pois a menina vomitou demais, aí, 5 dias depois, a mãe sentiu uma dor enorme na barriga a ponto de ser hospitalizada, a menina ficou comigo. No dia seguinte eu fiquei mal, zonza, dores no estômago, febre. Ontem ainda meio seilá, mas hoje, até agora, tudo bem!

Angela Escritora disse...

Sim, também teve esse teste de preservação das facas! a madeira era melhor. Ah, mas eu comprei uma de vidro linda!! irresistível. Mas precisa ser madeira dura.

Angela Escritora disse...

Agora estou lendo os comentários, e obrigada pela tradução!!!!

Silvia - BH disse...

Angela, não gostei das tábuas de vidro exceto para cortar pão. A minha fica perto do forno e serve como apoio para todo vasilhame quente que tiro de lá.

Muito legal sua descrição do programa. Ok, convenceu-me de que as facas não sofrem com a madeira. Depois pensei é que na cozinha que uso atualmente, as tábuas de madeira estavam mofando pois não tenho como pendurá-las logo na parede como era na outra cozinha.

miriamics disse...

Neide, você sabe onde achar tipiti em SP?
Tenho feito leite de soja e farinha com a massa e lembrei do tipiti, mas não achei em canto nenhum aqui em SJC.
Beijo
Mirinha