sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Como manter sua horta e seu jardim exuberantes mesmo na pior seca


Por aqui a primavera chegou e não perguntou se estamos passando pela pior seca dos últimos anos. As plantas estão se comportando como se nada estivesse acontecendo, cheias de brotos, cheias de flor. Brócolis, cará-moela, taiobas, uvas, manjericões. Nem por isto alguém vai poder me apontar o dedo dizendo que ter planta no quintal é um luxo no atual momento volume-morto.

É Uauá-BA, mas por aqui não está diferente
Mas tenho visto muitos quintais abandonados à própria sorte e secura. Já não basta a seca? O que seria de nós sem as plantas para abrandar o ar duro e seco que castiga nossos pulmões?  Se não dá pra consertar, ao menos vamos remediar.

O fato é que economizar água já não é mais aquilo de usar a máquina de lavar só quando tiver roupas sujas em quantidade suficiente para enchê-la,  escovar dentes com a torneira fechada, desligar o chuveiro enquanto se ensaboa ou usar a água da máquina de lavar para lavar o quintal. Tudo isto é o óbvio. Agora, com as torneiras realmente secas e com os reservatórios em seus piores momentos, é preciso ir além.  Mas o pouco que nos resta de água podemos dividir com nossas plantas.

Dizem que não há racionamento, mas já há uns dois meses que a água é cortada à noite e só volta pela manhã no meu bairro. Quem chega em casa tarde e sai de manhã para trabalhar tem que depender da água da caixa que nem sempre suporta os gastos de uma família. Aqui em casa, por enquanto, só a torneira com água que vem direto da rua é que seca. A caixa, embora pequena, tem conseguido nos suprir. Isto porque temos racionado de verdade.

A água da pia da cozinha, já estava guardando e, no banheiro, o copinho do sifão do lavatório foi tirado para recolher a água de lavagem de mão num balde (a economia aí não é muito grande - cerca de um balde por dia).  Mas percebi que o grande gasto de água se dava mesmo na lavagem de roupa. As máquinas podem chegar a usar 120 litros por lavagem. Queria descobrir um jeito de usar menos água e ainda reaproveitá-la integralmente para regar as plantas (a lavagem do quintal pode esperar). Então, o único jeito de aproveitá-la integralmente era reduzir drasticamente o uso do sabão (amaciante já não uso há bastante tempo).  Quanto menos sabão, menos água para enxague. Testei algumas possibilidades que vou mostrar aqui. Dá só um pouco de trabalho e, como só lavo roupa uma vez por semana, toda a água acumulo e vou usando pura ou diluída com a da cozinha, dependendo do método usado.

ME - da captura das leveduras até a fermentação
com água e melado de cana

Microorganismos Eficientes 
Minha primeira aventura foi substituir o sabão em pó por ME (Microorganismos Eficientes), usados como inoculante para fazer o adubo natural bokashi - um tipo de probiótico para o solo. O ME pode ser comprado pronto, mas resolvi fazer o meu, claro. Não é muito simples, mas é divertido. Tive que levar um tanto de arroz cozido a um bosque para captar as leveduras e ir buscar depois de alguns dias. Tem que separar os fungos escuros e só deixar os coloridos. Depois disso, mistura-se melado e água e deixa mais uns dias fermentando em ambiente anaeróbio, até acabar a produção de gás. No final, terá uma mistura cheia de leveduras e enzimas que pode ser usada não só como inoculante para o bokashi como também como produto de limpeza e vários outros usos. No livreto explicativo, que você pode acessar aqui, diz que é bom como desengordurante, para lavar banheiro, azulejos, lavar roupa e tirar o cheiros de roupas e ambientes. Então, comecei a usar para lavar toalhas, lençóis e roupas limpas só suadas. Funciona bem e fica melhor se a roupa for seca rapidamente ao sol ou na máquina de secar elétrica. A roupa fica com cheiro neutro. Se a roupa fica úmida por muito tempo, os microorganismos parecem continuar crescendo. Só estou relatando aqui por curiosidade, pois sei que ninguém vai ter paciência para cultivar ME (eu cultivo o meu adicionando mais arroz cozido e melado, como se fosse um kefir). A vantagem é que toda a água - a de lavagem e um enxague pode ser jogada no jardim.

Saponária - 5 bolinhas limparam toda esta roupa
Saponária, saboneteira ou sabão de soldado
Estava comprando flores no Ceagesp com minha vizinha Ana quando avistei um arranjo de bolinhas verdes ornamentais, lisas e brilhantes com cara de uvas. Perguntei o que era e o vendedor respondeu: saponeteira. Já ia indo embora quando fiquei matutando, saboneteira, saboneira..., com este nome só pode ter saponina, deve fazer espuma. Voltei, comprei o maço e assim que cheguei em casa, junto com a Ana, amassei uma, esfreguei um paninho e, claro, fez espuma. Peguei o que tinha de mais gorduroso sobre a pia e lavei com o paninho. Pimba na bolinha! Fez espuma e desengordurou um potinho de manteiga. Só então fui buscar informações e fiquei sabendo que estas bolinhas, Sapindus saponaria, são chamadas de sabão de soldado justamente porque substituem o sabão. Ou já substituíram um dia. E fiquei sabendo também que as nozes de espécie parecida, na Europa, são vendidas como sabão ecológico.  As de lá chegam do Nepal, o que gera certa discussão sobre sustentabilidade, mas as nossas são nativas e na cidade de São Paulo há algumas espalhadas por aí (eu já ganhei minhas mudas da amiga Ana Laura). Ainda preciso testar frutos do juazeiro (minha faxineira diz que a mãe usava como sabão e pasta de dente e a gente sabe que também tem saponinas, por isto as indústrias usam em cremes dentais). Mas só não uso mais destes frutinhos porque acabei com todos e minha árvore ainda é pequena. É só bater no liquidificador, em água morna,  umas 5 bolinhas, peneirar e jogar o líquido na máquina de lavar.  Descobri que a melhor coisa a fazer para limpar a roupa quando usa métodos não ortodoxos é deixá-la de molho de um dia para outro. A sujeira amolece e sai facilmente com a agitação da máquina.  Se você tem um tanquinho, melhor ainda, porque a espuma realmente aparece. Mas espuma não é fundamental.  Então, encontrando uma árvore em frutos, faça o teste. A roupa fica macia (o cabelo, não, já vou avisando).

Com ou sem bolinha, água limpa igual

Bolinha de cerâmica x Água pura
Eu nem conhecia estas bolinhas, mas quando estava comentando com minha amiga Carol sobre as bolinhas de saponária, ela pensou que eu falava destas de cerâmica encapadas por uma concha de plástico furada e que promete lavagem de roupa sem sabão. Fiquei encantada com a promessa e acabei ganhando uma da minha vizinha Ana. Lavei imediatamente uma maquinada de roupa bem suja do sítio. Deixei de molho de um dia para outro e lavei. E tchan tchan... a roupa saiu razoavelmente limpa e ainda pude aproveitar toda a água e usar um enxague apenas. Acabei fazendo propaganda e devo ter influenciado duas ou três vizinhas a comprarem também -  aproximadamente R$ 70,00 cada uma.  Depois de mais duas ou três lavagens, duas ou três propagandas, resolvi que antes de propagandear no blog, por exemplo, deveria fazer outros testes, já que os dizeres na caixa me parecem meio fantasiosos, pseudo-científicos. Todos os selos na caixa são de tecnologia e design. Como o produto é coreano, não dá nem pra saber se são verdadeiros estes selos. Será mesmo possível que simples bolinhas de cerâmica possam ser tão poderosas a ponto de esterilizar, higienizar, eliminar cheiros? E a promessa de que dura 1095 lavagens com eficiência comprovada em laboratório (sic)?

Bem, resolvi testar uma mesma maquinada de roupas sujas sem usar a bolinha e nada mais. Um molho, uma batida, centrifugação e um enxague. E, pasme, o resultado foi o mesmo. Ou seja, se você tem roupa limpa, só empoeirada e suada pra lavar, deixar de molho em água e depois lavar e enxaguar leva ao mesmo resultado que a bolinha proporciona. Conclusão, a bolinha serviu pra mostrar que usamos muita artilharia para pouca briga. Usamos mais produtos de limpeza do que realmente precisaria.  Parei de fazer propaganda.

Sabão caseiro 

Devido à falta de saponária e à conclusão de que as bolinhas de cerâmica não passam de efeito placebo, tenho recorrido ao sabão caseiro que faço de tempos em tempos com óleo usado aqui em casa e o da faxineira. A receita está aqui.  Uso apenas um pedaço do tamanho de um cubo de gelo ou menor até e bato no liquidificador com um pouco de água quente. Despejo esta quantidade na máquina de lavar e deixo de molho de um dia para outro. Lavo normalmente, centrifugo e uso apenas um ou dois enxagues dependendo da sujeira da roupa. Esta quantidade de sabão mal chega a fazer espuma, então, uso a água da lavagem e do enxague misturadas para regar as plantas.

Para clarear roupas amareladas

Em vez de água sanitária, basta bater algumas folhas de mamão, coar e deixar de molho neste suco, sob o sol,  as roupas que pretende clarear. Já mostrei aqui.

Para captar a água que vai regar o jardim 

Instalei estes galões ao lado da máquina de lavar e desviei a mangueira de saída para uma das tampas - que só abro quando a máquina está em uso. Inicialmente era apenas um, mas tinha que sair correndo para encher mais baldes. Então comprei uma conexão de piscina, fiz buracos nos dois recipientes e encaixei perfeitamente sem deixar margem para vazamentos. Assim que um galão encheu, a conexão leva a água para o outro. Nos dois, instalei mangueiras, também bem ajustadas, sem vazamentos, que tampo com rolhas. Para facilitar o trabalho, encomendei este banquinho para meu cunhado Darly, marceneiro (que gentilmente me presenteou), assim posso enfiar baldes embaixo das mangueiras.  Esta água usada da máquina não é muito cheirosa depois de um ou dois dias, mas como os galões ficam totalmente fechados você só vai sentir o cheiro na hora de usar - e, sei por experiência, as plantas nem ligam pra isso. E carregar baldes para molhar as plantas é garantia de músculos fortes.



O perfume
Claro, a roupa lavada sem sabões perfumados não será uma roupa perfumada, mas simplesmente com cheiro de roupa limpa, que significa sem cheiro algum. É difícil mudar comportamentos, trocar aquele cheiro de amaciante ou sabão em pó por cheiro algum, eu sei. Mas não custa tentar. O bom é que não teremos cheiro de produtos de limpeza interferindo na fragrância do perfume (e eu adoro perfumes).  Experimente usar vinagres perfumados como amaciante.  E para deixar panos de cozinha ou lençóis cheirosos, gosto de juntar à água de enxague uma boa quantidade de infusão de limão com manjericão-cravo ou manjericão-anis. Pode não restar muito do perfume depois de a roupa estar seca, mas ao menos na hora de estender no varal.  Outra possibilidade é, se você ainda passa roupas - eu só passo camisas e o resto passo pelo batente da porta -, use uma água perfumada com água de flor de laranjeira ou de rosas.

Como manter a horta comunitária em tempos de seca

Nossa horta comunitária City Lapa está sofrendo, mas não está morta. Tive a ideia de instalar lá uma "cacimba" para que os vizinhos depositassem ali água de reúso (de enxágue de verduras, de roupas etc). Escrevemos um convite no poste convocando a colaboração e deixamos lá. Algumas pessoas não acreditavam que o galão não seria roubado, mas já tem mais de dois meses e está lá, sempre com um certo volume de água doada por voluntários anônimos. Quando chego lá e encontro um pouco de água, pego o regador, que também fica pendurado no poste, e rego as plantas mais agonizantes. E assim elas têm se mantido.

A terra sempre úmida conserva as minhocas para o bravo sabiá laranjeira


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Criando cogumelos em casa

Mais que uma brincadeira instigante, ver os cogumelos crescerem em tempo real enche a gente de urgência de comê-los em cada fase. Eles começam dentro do substrato úmido como granulações. No outro dia já têm corpo de cogumelos e até o terceiro dia já estão virando pra cima. Se não colher neste ponto, eles vão ressecando se o tempo estiver seco.

Esta caixa para cultivo de cogumelos em casa não é novidade mundo afora, mas por aqui nunca tinha visto até ser presenteada pela Juliana Valentini, do blog De verde casa antes da minha viagem para Uauá. Chama-se Mush Garden e é de uma empresa de Jundiaí.  Eles vendem pela internet. Já até comprei uma caixa pra minha filha Ananda.

Ops, nasceu em lugar errado 
A embalagem de papelão protege o substrato feito à base de fibras vegetais e borra de café. Quando a gente quer que o cogumelo frutifique, é só fazer um furo nas  aberturas do papelão. Como diz que pode demorar até três semanas para os cogumelos aparecerem, preferi deixar pra começar a borrifar água (o borrifador vem junto) quando voltasse. Coloquei a caixa num canto e fui viajar. Quando voltei, uma penca de cogumelo seco enfeitava a caixa - saiu por cima, em local não programado, sem abertura na caixa. Acidentes acontecem. Eles tinham frutificado e desidratado sem que ninguém notasse. Nesta hora, o ar seco ajudou.  Então, meu primeiro produto foram os cogumelos secos, que usei pra fazer risoto. Estavam deliciosos e perfumados. Nem precisei reidratar muito.

Mas estava louca mesmo pra começar a borrifar alguns buracos. Cortei duas rodelinhas do plástico com uma tesoura e comecei a irrigar. Mais que três vezes ao dia - todas as vezes em que me via frente a frente com a caixa, na maior ansiedade pra ver os pleurothus brotarem.

O fato é que não demoraram muito para estarem prontos pra ir pra panela. Em três dias já estavam no ponto de colher. De manhã eles estavam pequenos, à noite estavam enormes. Precisei levá-los comigo para o sítio, como quem carrega seu pet. Levei, então, a cachorrinha Dendê, o kefir de água, o kefir de leite, o levain, os fermentados de hibisco e os cogumelos. Vida pouca é bobagem.




Tive que improvisar uma fritada no domingo se quisesse comê-los frescos. Com ajuda dos amigos Ana Laura e  Guilherme Ranieri, picamos os cogumelos em duas ou três pedaços cada. Fritei em azeite uma cebola roxa em fatias, juntei os cogumelos e refoguei um pouco até murchar. Despejei tudo sobre 4 ovos batidos, temperei com uma pitada de sal e outra de pimenta-do-reino e juntei um pouco de cebolinha picada. Fritei em frigideira com um pouco de azeite. De um lado e depois do outro, até ficar firme. E nhac!




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Hidropônico não é Orgânico


Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas nos supermercados frequentemente a gente encontra um do ladinho do outro. E já vi muita gente achando que o hidropônico é a mesma coisa que orgânico. Verduras orgânicas são cultivadas na terra e, pra serem chamadas assim, o cultivo precisa seguir uma série de regras ambientais, como o não uso de fertilizantes e defensivos industriais e tóxicos, além de observar o comprimento das relações trabalhistas. Na contramão disso tudo, os hidropônicos são cultivados diretamente na água. Se você tentar cultivar alface em água, vai ver que não é tão simples assim, afinal, todo o nutriente que a planta deveria tirar da terra ela tem que encontrar diluído na água.  Ali estão fertilizantes químicos solúveis para que a planta consiga se desenvolver com cara de alface (ou rúcula, agrião etc) mesmo sendo planta de seco. Para que suas raízes não apodreçam e a planta não adoeça, outros defensivos são adicionados. Ou seja, assim como a planta de cultivo convencional, a hidropônica costuma receber as mesmas aplicações de agrotóxicos, tornando-se uma verdura frágil que apodrece na geladeira se não usada rapidamente (muito diferente da orgânica, que dura muito mais - compre salsinha orgânica e convencional e compare).  Se colocadas lado a lado gera confusão, imagine a situação da foto.

Hoje, no supermercado Extra, não encontrei o hidropônico ao lado do orgânico, mas na própria gôndola dos orgânicos, com placa verde de orgânico em cima e, logo abaixo,  nas plaquinhas escritas em giz, o nome grande do produto e pequeno a denominação "hidrop.". E aí, o que você acha, é pra esclarecer ou pra confundir? Engano ou má fé?

Jéssica, no nosso curso de orgânicos. Estas são hortaliças orgânicas


       

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Chá de flor de umbuzeiro

Estou feliz porque a mudinha de umbu que trouxe da penúltima viagem a Uauá resolveu cobrir o galho seco de folhinhas. E mesmo que chova e que não nos tornemos uma caatinga, e mesmo que meu umbuzeiro não dê flor e frutos, ao menos as folhas ele já provou que é capaz de me dar. E elas são ácidas, gostosas de comer, boas para chá e tempero.  Já está bom assim.

Agora, no semi-árido, o umbuzeiro é uma das árvores mais importantes para o sertanejo. Já foi muito mal-tratado no passado, mas agora é respeitado, pelo menos por quem depende dele pra viver, que o caso da dona Jovita e dos cooperados da Coopercuc. Dona Jovita conta que no passado o pobrezinho era chacoalhado de assalto para que soltasse seus frutos, fossem verdes ou maduros. Agora, não. Sobem no pé, colhem um a um, com o maior cuidado. Ou recolhem do chão, desde que cheguem antes que as cabras.  Ela me ofereceu o chá da foto, com flores e folhas recém-colhidos. Uma delícia, ácido com gosto de mel.



Dona Jovita se transforma quando sobe no umbuzeiro. Diz que não sabe como tem gente que tem tudo pra ser feliz e não é. Ela diz que tem tudo e é feliz. E seu tudo é uma casinha simples, alguns pés de umbu e uma natureza toda à sua volta, às vezes seca, às vezes exuberante.

O umbuzeiro está sempre verdinho mesmo quando tudo o mais na caatinga secou. Para abastecê-lo com água, ele dispõe de grandes xilopódios que são verdadeiras cacimbas junto às raízes.  Por isto, a planta se assenta numa área grande espalhando em volta suas fontes de água. Dona Jovita sabe disto e nunca mais tirou os xilopódios para fazer doce - o hábito ainda persiste em alguns lugares do sertão.

Mas tem gente que parece não saber. Fiquei estarrecida quando fui de carro pra Petrolina e vi que para pavimentar a BR 235 a construtoras tira terra da beira da estrada, elevando a rodovia e rebaixando as margens como se elas fossem rais olímpicas, só que secas. Quando um umbuzeiro é encontrado pelo caminho, homens e máquinas  não têm dúvida: tiram a terra de volta e deixam a pobre árvore lá em cima, apoiada num bolo de terra, sozinha. É claro que são umbuzeiros com morte certa e muitos já estão secos.  E, na margem da rodovia, para que ela não desmorone, estão plantando macambiras,  que são retiradas de seu habitat natural no meio da caatinga e levadas para o ambiente hostil da beira do asfalto quente e sem irrigação. Conclusão: macambiras e macambiras mortas, caatinga sem macambiras, animais sem abrigo, novas plantas desprotegidas e tudo o que há de vir deste descuido ambiental.


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Doce melancia do semi-árido

Numa das visitas que fiz a comunidades de Uauá, me deparei com uma paisagem que em nada se parecia com o bosque acinzentado e o terreno pedregoso da caatinga. Na Fazenda Serra da Besta encontramos Zé Wilson com sua mulher Joelma e o filho Antenor colhendo feijões e melancias num pomar de terra fina como de fundo de mar. Mangueiras frondosas estavam carregadas de frutos que esbarravam no chão.  Zé Wilson tratou logo de colher mais melancias, em número igual ao de visitantes. Claro que não conseguimos comer tanto assim e o cachorro fez a festa. Apesar de quentes por fora e com polpas pálidas, elas eram super doces e refrescantes. E o menino Antenor comeu quanto pode - ele tem cabelo louro-surfista e diz que quer ser policial.  Quanto ao treino com estilingue, é só pra ver que lonjura a pedrinha vai.

Aqui, algumas fotos.

Moleque é moleque

Joelma com os feijões




Mangueira carregada

Melancia para todos

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Kefir beer, country wine, espumante caseiro

Nada de O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,refri-proibido-para-menores-imp-,4870O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,refri-proibido-para-menores-imp-,4870O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://www.estadao.com.br/noticias/geral,refri-proibido-para-menores-imp-,4870máquina carbonatadora que injeta gás carbônico em água gelada para fazer bebidas gasosas. Estes refrigerantes são muito  mais que isto. São bebidas naturalmente gaseificadas e alcoólicas.

Entre meus amigos, está virando moda. O Guilherme faz, minha vizinha Ana, a amiga Ana Laura e a Sonia (levamos a bebida num picnic do Slow Food neste último final de semana na ecovila Clareando, em Piracaia, e foi um sucesso). Está todo mundo explorando como nunca suas colônias de kefir-de-água.  Eu já tive kefir de água anos atrás, presente da Neka Mena Barreto. Não achava muita graça naquele caldo de açúcar mascavo com gosto de água choca. Por isto, logo troquei pelo kefir de leite, que tomo todos os dias no café da manhã batido com frutas (bem, se você não sabe o que é kefir, há alguns posts aqui no Come-se).

Mas o fato é que meu amigo Guilherme, que faz refrigerante de batata-doce (do excelente blog Matos de Comer) me incentivou a ter o kefir de água novamente e desde então venho fazendo progressos nas bebidas que faço com ele. Algumas têm cara e sabor de espumantes suaves, outras ganham corpo de cerveja ou de refrigerante alcoólico. A depender do açúcar inicial, o resultado fica na linha do paiauaru ou do kwas - estes, fermentados sem um iniciador.

O kefir é uma colônia de leveduras e bactérias que funciona como um iniciador ou fermento (além dos efeitos probióticos - melhora a flora intestinal, a imunidade etc). É claro que isto é só um projeto que precisa ser aperfeiçoado. Ainda preciso aprender a controlar melhor a fermentação e o teor alcoólico, mas aos poucos e com os erros estou chegando a um bom resultado. Para aperfeiçoar, quero ainda comprar um medidor de grau brix - mede-se a densidade de açúcar inicial e após a fermentação e, com uma fórmula, chega-se ao teor de álcool da bebida. Quanto à fermentação, já não produzo mais bombas caseiras depois que resolvi adotar de vez o velho e bom selo-d´água na falta de um airlook (já mostrei o selo d´água quando mostrei o feitio de vinagre - que necessita de fermentação prévia).

Por enquanto ainda não tenho uma fórmula do espumante, mas tenho mantido várias garrafas borbulhantes no balcão da cozinha como experimentos. Em poucos dias produzo espumantes frescos e diferentes, bons para estes dias quentes. De frutas, gengibre, ervas, hibisco. Ainda tenho muitas combinações em mente, mas por enquanto, vou falar apenas como faço o de hibisco e você pode ir criando o seu, a gosto.  O teor de açúcar é que vai determinar o grau alcoólico.  Costumo fazer um refresco de hibisco cozinhando cerca de 100 g das flores (sépalas) secas em 3 litros de água e adoçando com 1 xícara de açúcar orgânico. Peneiro, adiciono 1 colherada de grãos de kefir de água e deixou fermentando com o selo d´água (é só inserir uma mangueirinha bem ajustada na tampa de uma garrafa Pet ou rolha e deixar a ponta dentro de um copo com água - o gás carbônico sai mas o oxigênio não entra). Quando acabarem as borbulhas, praticamente todo o açúcar se transformou em álcool. Basta agora engarrafar e deixar na geladeira por uns dois dias.

Mas se quiser uma segunda fermentação na garrafa, e é isto que vai torná-la frizante, adicione 1/2 colher (chá) de açúcar dentro de cada garrafa de 500 ml (daquelas de cerveja reutilizadas, com presilha) e deixe mais dois dias em temperatura ambiente. Antes de abrir, coloque a bebida na geladeira por um dia. E ainda assim, enquanto ainda não sabe domar a fermentação, abra a garrafa apontada para o céu. Se não tiver garrafas com presilhas (vale comprar uma cerveja industrial só pra isto, pois estas garrafas são quase eternas), use garrafas de água com gás vazias, pois são mais reforçadas e suportam a expansão do gás. Basta, pelo menos umas três vezes por dia, desrosqueá-la devagar para deixar escapar o excesso de gás.

Para que isto não aconteça, segure a tampa com a mão,
deixando escapar um pouco do gás antes de entornar
no copo

Bebendo estrelas

Cozinha de experimentos - e o kefir no pote ao lado (para fazer o selo d´água,
basta furar com ferro quente a tampinha e ajudar a mangueira sem folga
alguma para entrada de ar (a mangueira não deve encostar no líquido)

Espuma densa

Flor de sabugueiro com gengibre - ficou horrível
Com flor de sabugueiro e limão rosa


Geladeira cheia para o picnic do Slow Food Piracaia - estas, da amiga Sônia

Quem provou, aprovou




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