sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Chá de flor de umbuzeiro

Estou feliz porque a mudinha de umbu que trouxe da penúltima viagem a Uauá resolveu cobrir o galho seco de folhinhas. E mesmo que chova e que não nos tornemos uma caatinga, e mesmo que meu umbuzeiro não dê flor e frutos, ao menos as folhas ele já provou que é capaz de me dar. E elas são ácidas, gostosas de comer, boas para chá e tempero.  Já está bom assim.

Agora, no semi-árido, o umbuzeiro é uma das árvores mais importantes para o sertanejo. Já foi muito mal-tratado no passado, mas agora é respeitado, pelo menos por quem depende dele pra viver, que o caso da dona Jovita e dos cooperados da Coopercuc. Dona Jovita conta que no passado o pobrezinho era chacoalhado de assalto para que soltasse seus frutos, fossem verdes ou maduros. Agora, não. Sobem no pé, colhem um a um, com o maior cuidado. Ou recolhem do chão, desde que cheguem antes que as cabras.  Ela me ofereceu o chá da foto, com flores e folhas recém-colhidos. Uma delícia, ácido com gosto de mel.



Dona Jovita se transforma quando sobe no umbuzeiro. Diz que não sabe como tem gente que tem tudo pra ser feliz e não é. Ela diz que tem tudo e é feliz. E seu tudo é uma casinha simples, alguns pés de umbu e uma natureza toda à sua volta, às vezes seca, às vezes exuberante.

O umbuzeiro está sempre verdinho mesmo quando tudo o mais na caatinga secou. Para abastecê-lo com água, ele dispõe de grandes xilopódios que são verdadeiras cacimbas junto às raízes.  Por isto, a planta se assenta numa área grande espalhando em volta suas fontes de água. Dona Jovita sabe disto e nunca mais tirou os xilopódios para fazer doce - o hábito ainda persiste em alguns lugares do sertão.

Mas tem gente que parece não saber. Fiquei estarrecida quando fui de carro pra Petrolina e vi que para pavimentar a BR 235 a construtoras tira terra da beira da estrada, elevando a rodovia e rebaixando as margens como se elas fossem rais olímpicas, só que secas. Quando um umbuzeiro é encontrado pelo caminho, homens e máquinas  não têm dúvida: tiram a terra de volta e deixam a pobre árvore lá em cima, apoiada num bolo de terra, sozinha. É claro que são umbuzeiros com morte certa e muitos já estão secos.  E, na margem da rodovia, para que ela não desmorone, estão plantando macambiras,  que são retiradas de seu habitat natural no meio da caatinga e levadas para o ambiente hostil da beira do asfalto quente e sem irrigação. Conclusão: macambiras e macambiras mortas, caatinga sem macambiras, animais sem abrigo, novas plantas desprotegidas e tudo o que há de vir deste descuido ambiental.


3 comentários:

Unknown disse...

Conheci o umbuzeiro quando criança numa viagem à Januária(MG). Ler seu texto me jogou de volta no tempo. Eu tomo chá de flores, principalmente o de hibisco, que conheci aqui e fiquei curioso com esse da flor do umbuzeiro. Pena que não tem na região onde moro. Mas vou procurar. Grato pelo texto.

Unknown disse...

Tenho um pé de umbu que plantei em frente a minha casa na calçada há quase um ano e já está florindo. E está lindo!!

Unknown disse...

Estou feliz, ganhei uma muda e plantei n meu sitio no sul do Pará,ja tem uns 6 anos q plantei,hoje me deparei com as flores dele.