Você tem até segunda-feira para adivinhar o que é isto. Se não tem na foto referência de tamanho, imagine um limão rosa ou uma ameixa. É o tamanho. Antes de ir pra Fortaleza, darei a resposta. aqui mesmo nos comentários deste post. Acho que desta vez está mais difícil que o feijão guandu. Se puder postar novidades durante a viagem, o farei.
Se não, até a volta!
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quarta-feira, 29 de maio de 2013
Mais um vídeo sobre a importância dos espaços verdes. Capital Natural, do Gabeira
CAPITAL NATURAL # 38 : saúde e natureza from AIUÊ : produtora de conteúdo on Vimeo.
Há alguns dias gravei (fui gravada) um passeio pelas ruas da Lapa para este programa do Gabeira, Capital Natural, mas eu mesma não vi porque não tenho tv a cabo e também porque não estava em casa. Então, nem sei se apareci ou não porque a edição da internet é menor e ali eu não estou. Mas não importa. O fato é que o programa está muito bom, com fala de especialistas sobre a importância dos parques e áreas verdes para nossa saúde e bem estar. Vale a pena ver. E se alguém viu o programa completo que passou em dois momentos na Bandnews neste último final de semana, me conte. Aqui, a parte editada:
A vida secreta das plantas
Estou fazendo um curso de horta na biblioteca Cecília Meireles e, na última segunda, a professora, falando dos mecanismos para perpetuação da espécie das plantas, mostrou este vídeo que muita gente já viu em sua época. Mas como é sempre atual e tem um começo lindo, mostrando o dente de leão e das ervas daninhas, acho que merece ser visto em algum momento de calmaria neste feriado prolongado.
Come-se em Fortaleza
Na próxima semana vou participar com uma palestra no Congresso Internacional de Gastronomia e Ciência de Alimentos, que acontece de 03 a 05 de junho, em Fortaleza - CE, organizado pela Universidade Federal do Ceará. Então, vou ficando por aqui, pois amanhã é feriado, Piracaia me espera, e na segunda já vou para o congresso. Vou com mala vazia.. Veja aí a programação: http://www.congressogastronomia.ufc.br/
Bolo de maçã e nozes da Ananda
Fui nesta semana com Ananda tomar chocolate quente numa loja de bolos na Leopoldina, esperando aquecer o frio e acalmar a tosse (pois é, estou com pneumonia!). O bolo de maçã na vitrine era tentador e pedimos um pedaço para acompanhar. Uma porção de bom tamanho, que dá pra dois e estava muito bom. Já o mini e açucarado chocolate...
Não havia ninguém no salão, que é aconchegante, além de nós, da dona e uma amiga. Na hora de pagar, 20 reais por estes três itens, a moça do caixa nos perguntou se estava tudo bom. Ananda, muito delicada, não disse nada, mas eu, com educação e com medo de magoar, já fui falando do chocolate. Na verdade, não. Não estava tudo bom. O chocolate poderia ser maior (ou poderiam ter me perguntado se queria grande ou pequeno), menos doce - estava um melado, e deveria ser quente, claro - era quase frio. A moça não esperava a resposta e não olhou pra mim enquanto eu falava. Nem depois. Não disse anrram, nem ok, nem sim, nem não. Ignorou egipciamente o que eu dizia, não se desculpou, não prometeu melhorar, nada. Simplesmente me deixou falando sozinha enquanto pegava o troco. A pergunta foi só uma mera retórica que esperava a resposta sim, obrigada.
Você pode dizer: ah, empregado é assim mesmo. Não, não é. Veja lá os funcionários da Mara, no restaurante Tordesilhas. O que mais me constrangeu é que a dona estava ali do lado, na mesma salinha pequena que nós, e fez a mesma cara de paisagem da funcionária. Tudo bonitinho, todo bacaninha, todo decorado antiguinho pra gente moderninha, toda comidinha com nome no diminutivo, com matérias elogiosas em revistas e tal, mas não nos julgaram merecedoras de um tratamento à altura do que querem ser. E nem vou dizer o nome do lugar, pois pode ter sido pontual a desatenção. Fico feliz se melhorarem. De qualquer forma, não vou voltar.
Agora, tudo isto é pra dizer que chegamos em casa com vontade de fazer um bolo de maçã para comermos acompanhado de uma caneca bem grande de chocolate bem quente. Com leite da roça, cacau puro e pouco açúcar, por favor. A receita do bolo, deixei com a Ananda, enquanto vim trabalhar. E não é que saiu bom, melhor que o que comemos? (sentimentos como tempero nem sempre é boa coisa). Foi só adaptar a receita do bolo de cenoura e nozes da Flora, aumentar um tico o açúcar, juntar uma mãozada de uva passa e voilà!
Bolo de maçã verde com nozes
3 ovos
1 xícara de açúcar mascavo
2 xícaras de farinha de trigo peneirada
1 pitada de sal
1/2 xícara (100 g) de manteiga sem sal derretida
2 maçãs verdes raladas bem grosso com casca (ou picadas finamente)
1/2 xícara de uvas passas (opcional)
1 xícara de nozes picadas (ou menos, se quiser)
1 colher (sopa) de canela
1 colher (sopa) de fermento
Coloque numa tigela os ovos e o açúcar e bata bem. Pode usar a batedeira, mas não precisa. Junte a farinha, o sal e a manteiga derretida (já morna) aos poucos, sem parar de bater. A massa fica bem densa. Junte, então, a maçã, as uvas passas se for usar, nozes, a canela e, por último, o fermento. Misture bem e coloque numa forma de bolo inglês untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo. Leve ao forno médio pré-aquecido e deixe assar por cerca de 45 minutos ou até que espetando um garfo na massa ele saia limpo. Espere esfriar para servir (ele, quente, fica muito frágil)
Rende: cerca de 15 fatias
Nota: medidas padronizadas - xícara de 240 ml e colher de sopa de 15 ml. Se quiser use duas formas menores.
1/2 xícara (100 g) de manteiga sem sal derretida
2 maçãs verdes raladas bem grosso com casca (ou picadas finamente)
1/2 xícara de uvas passas (opcional)
1 xícara de nozes picadas (ou menos, se quiser)
1 colher (sopa) de canela
1 colher (sopa) de fermento
Coloque numa tigela os ovos e o açúcar e bata bem. Pode usar a batedeira, mas não precisa. Junte a farinha, o sal e a manteiga derretida (já morna) aos poucos, sem parar de bater. A massa fica bem densa. Junte, então, a maçã, as uvas passas se for usar, nozes, a canela e, por último, o fermento. Misture bem e coloque numa forma de bolo inglês untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo. Leve ao forno médio pré-aquecido e deixe assar por cerca de 45 minutos ou até que espetando um garfo na massa ele saia limpo. Espere esfriar para servir (ele, quente, fica muito frágil)
Rende: cerca de 15 fatias
Nota: medidas padronizadas - xícara de 240 ml e colher de sopa de 15 ml. Se quiser use duas formas menores.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Arroz doce da Dona Olga
As coisas coincidem. Ananda, com vontade de comer arroz doce da avó. Eu aqui com uns quilinhos a menos e boca boa para comer doces. Fernando, do Alimento Sustentável, com um bom arroz cateto orgânico, da Chácara Santo Antônio, de Bocaiuva do Sul, que eu adoro porque é cremoso, ideal para o arroz doce. E bastou!
Nesta hora, nada que pensar que arroz branco é "carbo", que carrega um número de índice glicêmico nas costas, que foi destituído de sua película nutritiva, que é calórico, não tem nenhuma propriedade messiânica como a batata doce, a chia ou a linhaça, que o leite é integral, que o açúcar é cristal, o escambau. Gente, menos, menos. Os extremos são sempre perigosos.
Arroz doce é comida de alma, o leite veio da vaquinha do caseiro lá de Piracaia, o açúcar é orgânico, o limão veio da roça, mas a canela deve ter vindo da China. O importante é que a gente volte a cozinhar. E aos poucos vai tentando fazer o melhor, usar os melhores ingredientes que se pode conseguir. Mas tudo isto pode ir acontecendo aos poucos. É importante não desistir e resgatar o prazer de comer (e de cozinhar a própria comida) e usar bom senso na hora de dosar a quantidade que vai comer. Só isto. Mas vamos lá à receita de minha mãe, dona Olga.
Arroz doce da dona Olga
Deixe de molho 1
xícara de arroz cateto com
Nesta hora, nada que pensar que arroz branco é "carbo", que carrega um número de índice glicêmico nas costas, que foi destituído de sua película nutritiva, que é calórico, não tem nenhuma propriedade messiânica como a batata doce, a chia ou a linhaça, que o leite é integral, que o açúcar é cristal, o escambau. Gente, menos, menos. Os extremos são sempre perigosos.
Arroz doce é comida de alma, o leite veio da vaquinha do caseiro lá de Piracaia, o açúcar é orgânico, o limão veio da roça, mas a canela deve ter vindo da China. O importante é que a gente volte a cozinhar. E aos poucos vai tentando fazer o melhor, usar os melhores ingredientes que se pode conseguir. Mas tudo isto pode ir acontecendo aos poucos. É importante não desistir e resgatar o prazer de comer (e de cozinhar a própria comida) e usar bom senso na hora de dosar a quantidade que vai comer. Só isto. Mas vamos lá à receita de minha mãe, dona Olga.
E nhac! |
Arroz doce da dona Olga
Deixe de molho 1
xícara de arroz cateto com 1
litro de leite fervente. Depois de uma hora, leve tudo
para cozinhar em panela grande, com um pau de canela, em fogo baixo. Quando o arroz estiver bem macio, junte
açúcar a gosto (algo como 3/4 de xícara ou menos) com pedaços de casca de limão verde ou rosa (usei rosa) e uma pitada de sal. Cozinhe até que fique cremoso e o arroz bem molinho. Tire do fogo e sirva com canela em pó. Para enfeitar, coloque sobre o arroz uma toalha rendada ou um apoiador de panela com desenho e só então polvilhe a canela. Retire com cuidado. Deixe gelar se for capaz. E nhac!
Rende: 6 a 8 porções
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Feijão guandu verde
Como previ na postagem anterior, quase todos que comentaram acertaram. Menos a Gabriele, que errou feio, errou rude. Nem precisa mais aparecer, tá?
Sim, é feijão guandu verde. Ou andu, tanto faz. Agora tenho aos montes no sítio e tenho que ficar inventando moda. O Cajan cajan tem origem indiana e foi trazido pra cá pelos mercadores de escravo. É um verdadeiro arado vegetal e adubo verde sem igual porque além de fixar nitrogênio no solo fornece bastante massa verde. Sem contar que suas sementes podem alimentar gentes e animais. E quer mais? As flores são lindas e perfumadas. Germinam e vingam com facilidade, crescem com rapidez, suportam a seca, refrescam o caminho, embelezam. Por tudo isto, plantei vários pés na trilha do sítio que leva à casa.
O jeito de preparar os grãos secos está aqui. É fácil encontrar em casas que vendam produtos do norte e nordeste. No Mercado da Lapa quase sempre tem e custa em geral o mesmo que o feijão, mas há uns três meses vi por 12 reais o quilo por causa da forte estiagem que castiga o nordeste (e olhe que a planta é resistente, mas não há guandu que resista a tanta secura). A marca Retrato do Gosto também está lançando o feijão. O bom é que este feijão é rústico, não precisa de agrotóxicos, então o que encontramos por aí geralmente é um bom feijão crioulo (só veja se não está muito carunchado). Da última vez que comprei (este de 12 o quilo - comprei pra plantar), metade era de grão carunchado, mas como ninguém mais tinha, comprei e escolhi.
Agora, estes do sítio, pra comer verde, não têm erro. É colher as vagens já bojudas e debulhar. As vagens são um pouco grudentas, mas vale a pena, pois são gostosas, com um quê de ervilha e outro de carne de porco.
Como disse a leitora Kristina e eu citei no post que fiz do guandu, em Porto Rico, o feijão verde, chamado de gandule, é comum e há até dele enlatado como ervilhas. Kristina menciona o arroz com gandules (uma receita pode ser vista aqui), e há tantas outras a provar (com o nome gandules, procure no google imagens e veja quanta maravilha se faz com ele). Na índia, pode ser encontrado o grão seco pelado - split pigeon pea e várias receitas com ele. Aqui perto de São Paulo, em Piedade, o feijão guandu com carne de porco já foi mais comum e agora vem sendo redescoberto - veja aí na foto.
Bem, tanto faz a vagem ser lisa ou camuflada e decorativa, que o feijão verde é sempre verde. Já depois de secos os grãos serão lisos ou rajados. Ambos muito gostosos.
Aqui em casa os grãos têm ido pra panela cozidos juntos com o arroz - desde o início do cozimento do cereal. Ou cozido em água salgada fervente por 10 minutos - para ser acrescentado à salada ou a algum prato já pronto. No lobozó de todo dia, ele pode entrar junto com outros vegetais ou já cozido, no final.
Há muitos pratos ainda a provar - na sopa será a próxima opção. Alguém se habilita a se sentar na varanda com uma cesta na mão e passar horas debulhando aquelas vagenzinhas grudentas?
O ciclo:
Sim, é feijão guandu verde. Ou andu, tanto faz. Agora tenho aos montes no sítio e tenho que ficar inventando moda. O Cajan cajan tem origem indiana e foi trazido pra cá pelos mercadores de escravo. É um verdadeiro arado vegetal e adubo verde sem igual porque além de fixar nitrogênio no solo fornece bastante massa verde. Sem contar que suas sementes podem alimentar gentes e animais. E quer mais? As flores são lindas e perfumadas. Germinam e vingam com facilidade, crescem com rapidez, suportam a seca, refrescam o caminho, embelezam. Por tudo isto, plantei vários pés na trilha do sítio que leva à casa.
O jeito de preparar os grãos secos está aqui. É fácil encontrar em casas que vendam produtos do norte e nordeste. No Mercado da Lapa quase sempre tem e custa em geral o mesmo que o feijão, mas há uns três meses vi por 12 reais o quilo por causa da forte estiagem que castiga o nordeste (e olhe que a planta é resistente, mas não há guandu que resista a tanta secura). A marca Retrato do Gosto também está lançando o feijão. O bom é que este feijão é rústico, não precisa de agrotóxicos, então o que encontramos por aí geralmente é um bom feijão crioulo (só veja se não está muito carunchado). Da última vez que comprei (este de 12 o quilo - comprei pra plantar), metade era de grão carunchado, mas como ninguém mais tinha, comprei e escolhi.
Agora, estes do sítio, pra comer verde, não têm erro. É colher as vagens já bojudas e debulhar. As vagens são um pouco grudentas, mas vale a pena, pois são gostosas, com um quê de ervilha e outro de carne de porco.
Como disse a leitora Kristina e eu citei no post que fiz do guandu, em Porto Rico, o feijão verde, chamado de gandule, é comum e há até dele enlatado como ervilhas. Kristina menciona o arroz com gandules (uma receita pode ser vista aqui), e há tantas outras a provar (com o nome gandules, procure no google imagens e veja quanta maravilha se faz com ele). Na índia, pode ser encontrado o grão seco pelado - split pigeon pea e várias receitas com ele. Aqui perto de São Paulo, em Piedade, o feijão guandu com carne de porco já foi mais comum e agora vem sendo redescoberto - veja aí na foto.
Bem, tanto faz a vagem ser lisa ou camuflada e decorativa, que o feijão verde é sempre verde. Já depois de secos os grãos serão lisos ou rajados. Ambos muito gostosos.
Aqui em casa os grãos têm ido pra panela cozidos juntos com o arroz - desde o início do cozimento do cereal. Ou cozido em água salgada fervente por 10 minutos - para ser acrescentado à salada ou a algum prato já pronto. No lobozó de todo dia, ele pode entrar junto com outros vegetais ou já cozido, no final.
Há muitos pratos ainda a provar - na sopa será a próxima opção. Alguém se habilita a se sentar na varanda com uma cesta na mão e passar horas debulhando aquelas vagenzinhas grudentas?
O ciclo:
Feijão guandu seco - do rajado |
Feijão guandu germinado - do liso, como estes grãos menores |
A planta jovem |
A planta adulta - bom para arborizar rapidamente caminhos e adubar a terra |
As lindas flores são vermelhas e amarelas na variedade rajada ou só amarela na variedade lisa - as vagens jovens e plantas são também comestíveis |
Debulhando |
Grãos verdes como ervilhas |
E nhac no arroz com carne seca |
sexta-feira, 24 de maio de 2013
O que é, o que é?
Aposto que todo mundo sabe, mas diga aí, só pra confirmar. Resposta, na segunda-feira. Bom fim de semana!
Momento relax. Jeneci
Para quem não sabe, hoje tem show do Jeneci no Memorial da América Latina, de graça. Eu vou! http://www.memorial.org.br/2013/05/marcelo-jeneci-canta-no-memorial-de-graca/
Pudim de leite com leite (sem leite condensado)
Pode parecer redundante dizer que o pudim de leite é de leite, só leite, sem leite condensado. Mas há gente que não acredita ser possível tal façanha, como se não houvesse pudim na era A.lc. Poderia ter usado leite comum, sem concentrar, mas acontece que esqueci uma garrafa de leite cru fora da geladeira (a rotina tem sido comprar o leite cru do caseiro e trazer as garrafas congeladas, chegando aqui, transfiro para o freezer, vou tirando duas a duas para descongelar, deixo ferver, deixo invariavelmente a espuma entornar e sujar o fogão, mesmo colocando uma colher de pau na borda da panela, limpo xingando o fogão, espero o leite esfriar, deixo gelar, tiro a nata para fazer manteiga - que vou deixando no congelador até o pote se encher, passo o leite já meio magro para duas garrafas de vidro e vou usando para o kefir ou para fazer receitas). Mas, então... esqueci em temperatura ambiente por uma noite e um dia e resolvi ferver para ver se estava estragado. Antes de constatar que estava ainda em bom estado, resolvi deixar ferver mais para reduzir a 1 e meia xícara e fazer pudim com o leite concentrado, que daria mais corpo à sobremesa. É só abaixar o fogo ou colocar entre a chama e a panela um redutor de calor e deixar até conseguir a quantidade que quer. E para saber o momento de apagar o fogo, é fácil. Escolha a panela que vai usar e coloque nela 1,5 xícara (ou menos, se quiser o leite reduzido ainda mais) de água. Mergulhe na água um palito de fósforo (com a pólvora pra cima, claro) e marque com uma canela a altura da água. Jogue a água fora, coloque o leite e vai conferindo a altura com o palito.
Não consegui desvirar esta p de foto de jeito nenhum |
Os ovos caipiras o deixaram assim, bem amarelo |
Pudim de leite concentrado sem leite condensado
Para o caramelo: meia xícara de açúcar e 1/4 de xícara de água
Para o pudim
3 ovos
1,5 xícara de leite concentrado (1 litro de leite sem nata reduzido no fogo a 1,5 xícara)
1/3 de xícara de açúcar - ou menos, se preferir menos doce
Sementinhas de uma fava de baunilha
Prepare o caramelo: coloque numa panela o açúcar com a água, leve ao fogo e vá mexendo devagar até derreter e formar um xarope grosso, cor de caramelo. Distribua esta calda no fundo de uma forma de pudim pequena (com capacidade para um litro). Reserve.
Para o pudim: bata todos os ingredientes no liquidificador só até formar um líquido homogêneo. (pode usar mixer, bater com garfo ou simplesmente passar inúmeras vezes por peneira). Despeje sobre a forma com caramelo, tampe bem e cozinhe na cuscuzeira, com água fervendo na parte de baixo, em fogo brando, por cerca de 40 minutos ou até a parte de cima estar coagulada - teste com uma faca, que deverá sair limpa. Se quiser assar no forno, em banho-maria, faça como este pudim com priprioca. Espere amornar e desenforme. Sirva gelado.
Rende: 8 porções
Nota: Se fizer como eu, na cuscuzeira, o pudim tem que ser bem tampado - com papel alumínio ou usando forma com tampa como a que mostro na foto. Se não, o pudim ficar encharcado de água de vapor. Em banho-maria, no forno, pode ficar sem cobertura, que não haverá grande prejuízo (mas é sempre recomendável cobrir para o pudim não ressecar). Para mais furinhos, fogo mais alto. Textura lisa, fogo baixo (use ou não use liquidificador). Outro que fiz na cuscuzeira, em forminhas individuais, está aqui.
E nhac! |
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Dente-de-leão. Coluna do Paladar, edição de 23 de maio de 2013
FOTO: Tiago Queiroz/Estadão |
...
Temos muitos nomes para este matinho
nativo da Europa e Ásia, sendo o mais popular, dente-de-leão. Mas responde
também por taraxaco, amargosa ou chicória silvestre.
Não me lembro de tê-lo visto sendo
vendido em feiras livres ou supermercados, mas é daquelas ervas ditas daninhas
que vão aos poucos tingindo de verde das folhas e amarelo das flores as calçadas
e jardins abandonados sem que ninguém as perceba. Até que a pouco chamativa
flor que cresce na ponta de uma haste amadureça em forma de uma bolinha de
pompom de seda. Aí vem o vento ou uma
criança que sopra por brincadeira. E, pronto, a espécie está disseminada. Perto
de minha casa sempre há uma pequena plantação esquecida e nunca estou
desabastecida. Na pressa, faço um angu, refogo umas folhinhas com bacon e nhac.
Esta família botânica a que pertence
o dente-de-leão agrupa outras espécies que a gente conhece melhor – a margarida, a alcachofra, a camomila e o
girassol, por exemplo. As flores vivem frequentadas por abelhas e como as
outras citadas não são comuns, mas em capítulos, agrupamentos
de flores pequenas assentadas num mesmo receptáculo, normalmente plano. Nas
bordas, as pequenas flores podem ter uma parte prolongada simulando pétalas. E
ao redor de tudo, folhas modificadas dando o desenho de flor. Se as flores tem estas particularidades, com
os frutos não seria diferente. São em forma de aquênios, ou frutos secos,
finos, ínfimos, com um chumacinho de pelos na extremidade. Todos juntos
eriçados sobre a base dão a forma da bolinha de seda que se desmancha em voo ao
menor sinal de instabilidade. É assim que se dispersam.
Mas toda esta descrição é para que, da próxima vez que estiver andando pela cidade
de São Paulo ou de Lisboa, ou de qualquer outra capital mundo afora, você pare e
observe que a disposição das próprias folhas serrilhadas como dentes (de leão,
é claro) e verde escuras, assentadas na
mesma altura em volta de uma base, faz da verdura uma roseta basal difícil de
esquecer ou de confundir com qualquer outra. E se acaso colher por engano
alguma erva parecida, saiba que todas as assimiladas ao dente-de-leão,
serralhas ou serralhinhas, são comestíveis.
Na zona rural as folhas são
encontradas facilmente nos cultivos de roça, nem sempre benquistas, mas
apreciadas junto com outras ervas espontâneas como alimento principalmente
nos tempos em que alfaces não eram tão
abundantes e dispersas nos mercados.
Mesmo na Europa, com uso ancestral na cozinha e na farmácia, já foi
muito mais comum. Sorte que tanto lá
quanto aqui ainda há agricultores interessados em preservar a biodiversidade
alimentar que cultivam a erva para vender em feiras de produtores. Já vi
algumas vezes na feira de orgânicos do Parque da Água Branca, aqui em São
Paulo.
No romance A Ciociara, de Alberto Moravia, que conta as dificuldades de duas
mulheres que voltam ao vilarejo natal durante a segunda guerra mundial, a erva
é mencionada junto com outras que cresciam espontaneamente nas montanhas, chamadas todas indistintamente de
chicórias, e serviram para matar a fome
em tempo de penúria. A personagem descreve estas ervas assim: “Luísa, a mulher de Paride, acompanhou-me a primeira vez para me ensinar e bem depressa
me tornei tão hábil como os camponeses, conhecendo as várias espécies uma
por uma, pelo nome e pela forma. Lembro algumas: o mastruço, que na cidade
se chama agrião, com as folhas e os pés tenros e doces, de um verde-escuro; o dente-de-leão, que se
encontra entre as pedras dos socalcos, de um verde
quase azul, com folhas finas, compridas e carnudas ..”
Não são exatamente carnudas como as
folhas de beldroegas ou espinafres, mas são folhas consistentes quando adultas
e melhor apreciadas se cortadas em fatias finas como nossa couve para a
feijoada. Folhas jovens são tenras e podem ir inteiras para as saladas. Nos
dois casos, porém, não deixam de ser amargas, não posso mentir. Mas são
deliciosas para quem tem apreço por este sabor que combina com bacon, abacates
e alhos.
Pelo nome científico, Taraxacum officinale, já conseguimos ter sobre a planta a certeza de utilidade, afinal espécies
nomeadas officinale são sempre
aquelas com aplicações na fitomedicina. Além de serem ricas em antioxidantes,
vitaminas, minerais e, como qualquer verdura, clorofila, as folhas, raízes e
flores são diuréticas e também indicadas para problemas biliares e estomacais.
Mas, para isto, é melhor procurar um médico fitoterapeuta que sabe fórmulas e
dosagens adequadas. Nosso negócio é comida.
O que interessa aqui é saber que as
folhinhas são gostosas como o almeirão e apetecem justamente por terem um
amargo bom, conferida pelos princípios amargos como a taraxina. As flores em
botão fazem as vezes de alcaparras, as abertas são aproveitadas em licores e
geleias e a raiz, torrada, vira bebida como café.
Quem ainda não está acostumado com a
verdura deve começar com algo de fácil aceitação, como este macarrão.
Acrescentei alho negro no final, mas alho fresco pode ser usado no lugar, fritando
antes com o bacon. Uma salada com folhas jovens regadas com vinagre e gordura
quente em que se fritou bacon também pode seduzir. E as flores em broto podem
estar juntas. Para quem gosta de
amargos, um bom refogado sobre um angu mole pode ser visto lá no blog do
Paladar.
FOTO: Tiago Queiroz/Estadão |
Macarrão com
dente-de-leão e bacon
2 litros de água salgada com meia
colher (sopa) de sal
150 g de macarrão de massa curta
2 colheres (sopa) de azeite
40 g de bacon picado em cubinhos
Meia pimenta dedo-de-moça madura sem
sementes picada
100 g de folhas de dente-de-leão
4 dentes de alho negro*
Numa panela, coloque a água salgada e
leve ao fogo. Quando ferver, junte o macarrão e cozinhe pelo tempo indicado na
embalagem (cerca de 8 minutos ou até ficar al dente). Enquanto isso, numa
frigideira, coloque o azeite e o bacon na frigideira e frite até o bacon
dourar. Junte primeiro a pimenta e depois o dente-de-leão picado e refogue até
murchar. Tempere com sal a gosto (cuidado porque o bacon já tem sal) e junte o
alho negro fatiado no final. Escorra o macarrão, coloque na frigideira e
incorpore à verdura, chacoalhando a frigideira. Sirva bem quente com lascas de
queijo da Canastra curado, se quiser.
Rende 2 porções
*Se não
tiver alho negro, acrescente junto ao bacon umas fatias de alho fresco, comum.
Vai ficar bom do mesmo jeito.
FOTO: Tiago Queiroz/Estadão |
Refogado de dente-de-leão para comer
com angu
5 pés de dente-de-leão
2 colheres (sopa) de gordura de porco ou óleo
2 dentes de alho grandes bem picados
Meia xícara de água quente
1/4 colher (chá) de sal
Lave bem as folhas, escorra e
pique em fatias de meio centímetro. Reserve.
Numa panela, coloque a gordura e o alho picado. Deixe começar a dourar e
junte a água e o sal. Coloque na água as folhas e deixe cozinhar para que fiquem
bem macias (cerca de 3 minutos). Se precisar, junte um pouco mais de água aos
poucos. Prove o sal e corrija, se necessário. Sirva com angu ou polenta mole.
Rende de 2 a 3 porções
Para o angu, misture 1/2
xícara de fubá fino de milho com 3 xícaras de água. Leve ao fogo, mexendo
sempre, até começar a espessar. Tampe a
panela, abaixe o fogo e cozinhe por meia hora ou até que esteja soltando do
fundo da panela e com consistência cremosa. Não precisa ficar mexendo. Se
quiser, junte uma pitada de sal. Rende: 2 a 3 porções
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Pão de mel com doce de leite
Numa das reuniões com o grupo Piracaia Orgânica, comemos pão de mel levado pela Sonia, feito com o mel que compramos na Milena, de produção própria. Aqui em casa, Marcos é um devorador de mel (puro, com manteiga de amendoim ou com tahine). Uso também uma colherada na massa de pão, para dar cor à crosta e conservar a umidade da massa. E agora temos a sorte de sempre termos mel produzido pelas abelhas de alguém que conhecemos.
O da Sonia |
Fora esta interferência, todo o mais continuou como a receita que me mandou. Aqui vai, então, minha versão, a partir da receita da Sonia Campos.
Pão de mel com doce de leite
3/4 de xícara de doce de leite
1 e 1/2 xícara de leite integral
2 colheres (chá) de canela em pó
1/2 colher (chá) de cravo em pó
1 colher (chá) de noz moscada
½ xícara (chá) de café forte
2 colheres (chá) de bicarbonato de sódio
1 e ½ xícara de mel
3 xícaras de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó
Bata todos os ingredientes (menos o fermento e a farinha) na batedeira até estarem bem misturados. Acrescente a farinha de trigo, uma de cada vez, mexendo até ficar bem homogênea a massa. Acrescente o fermento e misture bem. Coloque em assadeira grande untada e enfarinhada e leve para assar em forno médio. Deixe por 50 a 60 minutos. Retire do forno e jogue por cima do bolo ainda quente 200 g de chocolate em barra meio amargo ralado. Espalhe o chocolate cuidadosamente com uma espátula. Deixe secar e esfriar antes de partir o bolo. Se quiser, pode assar em forminhas individuais ou em assadeira redonda, partir em camadas e rechear com doce de leite. Rende: cerca de 40 pedaços.
1 colher (chá) de noz moscada
½ xícara (chá) de café forte
2 colheres (chá) de bicarbonato de sódio
1 e ½ xícara de mel
3 xícaras de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó
Bata todos os ingredientes (menos o fermento e a farinha) na batedeira até estarem bem misturados. Acrescente a farinha de trigo, uma de cada vez, mexendo até ficar bem homogênea a massa. Acrescente o fermento e misture bem. Coloque em assadeira grande untada e enfarinhada e leve para assar em forno médio. Deixe por 50 a 60 minutos. Retire do forno e jogue por cima do bolo ainda quente 200 g de chocolate em barra meio amargo ralado. Espalhe o chocolate cuidadosamente com uma espátula. Deixe secar e esfriar antes de partir o bolo. Se quiser, pode assar em forminhas individuais ou em assadeira redonda, partir em camadas e rechear com doce de leite. Rende: cerca de 40 pedaços.
O mel da Milena |
terça-feira, 21 de maio de 2013
Tordesilhas em novo local. É hoje!
Foi triste acompanhar a desmontagem do restaurante Tordesilhas. Desde 1999 esteve plantado ali daquele lado da Paulista que ainda sobrevivia com seus sobradinhos charmosos, mas o bairro foi alcançado recentemente pelas gruas da especulação imobiliária que chegam destruindo tudo para erguer torres.
Meio a contra-gosto no inicio, Mara Salles resistiu a ir para o Jardins, do outro lado da Paulista. Já que não teve escolha, ao menos teve a sorte de encontrar um lugar agradável na Alameda Tietê, que reformou e deixou com a mesma cara aconchegante do espaço da Bela Cintra. Tudo o que pode ser salvo do velho sobrado, foi aproveitado no novo restaurante. Parte do enxoval foi trocada e dos equipamentos também. Você vai ver lá a mureta do alpendre, as janelonas de ferro, a decoração e, principalmente os leais funcionários, que trabalharam todos estes últimos meses nos bastidores da reforma. Todos os bons, se salvaram.
Cenas da despedida:
Estivemos no velho Tordesilhas no dia de entregar as chaves (que chaves? não havia mais portas..), em março, ajudamos a carregar coisas, enchemos também nosso carro de heranças para o sítio em Piracaia e depois fomos a uma padaria, Marcos e eu, Mara e Ivo, comermos pão com mortadela de despedida. Estávamos num clima um pouco melancólico.
Os meses se passaram e na última sexta teve um "esquenta" para os amigos no novo espaço. Já na rua, mesmo sem ver placa, advinha-se que é ali o Tordesilhas que se ilumina em amarelo, mostrando o ambiente convidativo. No lugar do terraço do velho, agora temos um alpendre, com vista para a alameda.
A comida continua maravilhosa e os funcionários com sorrisos familiares circulam com desenvoltura como se ali sempre estiveram. Se o outro lado da Paulista perdeu mais uma atração, o Jardins estará ainda mais florido com o ganho - aliás, na frente do restaurante há uma pata-de-vaca cor de rosa, já com flor.
A diferença é que agora o Tordesilhas não abre mais no almoço durante a semana, mas no fim da tarde já estará pronto para servir qualquer pedido do cardápio. Isto quer dizer que não precisamos mais nos preocupar quando quisermos almoçarmos tarde ou jantarmos cedo, pois a partir das cinco a cozinha estará a toda. E será também uma ótima opção para happy hour, pois os acepipes do Tordesilhas são imbatíveis.
Onde fica: Al. Tietê, 489 (onde funcionava o Day by Diet)
Tel. 11 3107-7444
Meio a contra-gosto no inicio, Mara Salles resistiu a ir para o Jardins, do outro lado da Paulista. Já que não teve escolha, ao menos teve a sorte de encontrar um lugar agradável na Alameda Tietê, que reformou e deixou com a mesma cara aconchegante do espaço da Bela Cintra. Tudo o que pode ser salvo do velho sobrado, foi aproveitado no novo restaurante. Parte do enxoval foi trocada e dos equipamentos também. Você vai ver lá a mureta do alpendre, as janelonas de ferro, a decoração e, principalmente os leais funcionários, que trabalharam todos estes últimos meses nos bastidores da reforma. Todos os bons, se salvaram.
Cenas da despedida:
Estivemos no velho Tordesilhas no dia de entregar as chaves (que chaves? não havia mais portas..), em março, ajudamos a carregar coisas, enchemos também nosso carro de heranças para o sítio em Piracaia e depois fomos a uma padaria, Marcos e eu, Mara e Ivo, comermos pão com mortadela de despedida. Estávamos num clima um pouco melancólico.
Os meses se passaram e na última sexta teve um "esquenta" para os amigos no novo espaço. Já na rua, mesmo sem ver placa, advinha-se que é ali o Tordesilhas que se ilumina em amarelo, mostrando o ambiente convidativo. No lugar do terraço do velho, agora temos um alpendre, com vista para a alameda.
A câmera e a fotógrafa não fizeram jus à beleza da comida |
A comida continua maravilhosa e os funcionários com sorrisos familiares circulam com desenvoltura como se ali sempre estiveram. Se o outro lado da Paulista perdeu mais uma atração, o Jardins estará ainda mais florido com o ganho - aliás, na frente do restaurante há uma pata-de-vaca cor de rosa, já com flor.
A diferença é que agora o Tordesilhas não abre mais no almoço durante a semana, mas no fim da tarde já estará pronto para servir qualquer pedido do cardápio. Isto quer dizer que não precisamos mais nos preocupar quando quisermos almoçarmos tarde ou jantarmos cedo, pois a partir das cinco a cozinha estará a toda. E será também uma ótima opção para happy hour, pois os acepipes do Tordesilhas são imbatíveis.
Dona Dega, mãe da Mara, cozinheira, não aguentava mais as férias forçadas |
Tel. 11 3107-7444
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Insetos. Ou "Com uma farofinha... ", no caderno Aliás
Saiu ontem, no caderno Aliás, do Estadão. E está lá no site do jornal: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,com-uma-farofinha,1033173,0.htm
Com uma farofinha...
Embora negue de pés juntos, o brasileiro é um papa-inseto vocacional. E basta alguém admitir que come içá para surgirem outros insetívoros
18 de maio de 2013 | 15h 59
Podemos até discordar da estratégia da FAO de combater a fome e prevenir catástrofes nutricionais estimulando o consumo de insetos, pois uma das saídas seriam ações para melhorar a distribuição de alimentos e evitar seu desperdício. Mas duas coisas são certas. Uma é que, involuntariamente, comemos insetos, ovos e larvas com certa frequência. Afinal, ainda que evitemos alimentos industrializados vermelhos à base de carmim, corante natural feito a partir de cochonilhas, é difícil fugir da proteína animal do bicho da goiaba e dos carunchos dos cereais, às vezes ainda na forma de ovos ou larvas. Outro dado é que o Brasil é essencialmente um papa-insetos, ainda que não o admita, pelo menos até agora.
O próprio documento da FAO cita o País usando referências do especialista baiano Eraldo Medeiros Costa Neto, que estima em 135 o número de espécies de insetos comestíveis por aqui. Diante de nossa biodiversidade e das quase 2 mil possibilidades mundo afora também mencionadas pelo relatório, é de se imaginar que esse número seja ainda maior.
O hábito indígena de comer insetos – sejam formigas nos vários estágios, larvas de abelhas, cupins, tenébrios, lagartas ou crisálidas – sobrevive, e podemos trazer do Alto Rio Negro deliciosas saúvas inteiras com tucupi e pimenta ou paneiros com seus abdomes moqueados. Ainda podemos ir à cidade de Silveiras, no Vale do Paraíba, para comer içás em restaurante popular. Mas mesmo nos bairros da cidade de São Paulo e arredores encontramos grandes formigueiros de saúvas cortadeiras, terror dos jardins, com o mesmo sabor de citronela do inseto amazônico.
O perfume cítrico característico dessa espécie, Atta sexdens, vem do feromônio produzido numa glândula mandibular. A substância tem várias funções, entre elas a de inibir o crescimento de micro-organismos outros que não o fungo desejável para a própria nutrição da colônia. Porém, apesar do apreciado sabor herbáceo na cabeça dessas formigas, o hábito disseminado por todo o Brasil é perseguir as fêmeas em revoada, chamadas de içás ou tanajuras, quando estão prenhes. É exatamente o abdome esférico, do tamanho de um grão de ervilha, que é dourado na própria gordura ou na banha de porco e comido como petisco crocante, puro ou com farinha. Uma mistura de torresmo com amendoim torrado, uma iguaria.
No entanto, tirando o exemplo do Vale do Paraíba e da Amazônia, onde há certo orgulho do alimento, pouca gente admite que come ou já tenha comido içá ou qualquer outro inseto. É hábito taxado como primitivo ou de pobre – exceção feita a quem viaja para o México, ou Tailândia, Japão, China e tantos outros países asiáticos, onde os insetos são vendidos na rua ou em lojas especializadas. Basta ao turista experimentar um deles, fotografar e postar na rede social como fato pitoresco e, pronto, está batizado. Passar a encarar os insetos como alimento nutritivo e saboroso do dia a dia, sem distinção de classe, é outra história.
No verão passado, por exemplo, quando consegui recolher um tanto de içá em Piracaia, cidade a 100 km de São Paulo, achei que só eu sabia que aquele inseto era comestível, que só eu tinha presenciado centenas de formigas gordas caindo do céu. Aos poucos, as pessoas foram revelando que também coletaram içás naquela tarde de domingo que anunciava chuva com trovoadas – mas só depois de eu dizer que já tinha provado a formiga até em restaurante e gostava muito. Não fosse assim, teriam negado até a morte.
Não é diferente o que acontece com os bichos de coco, de taquara, de tronco de palmeira. A larva do besouro Pachymerus nucleorum, por exemplo, cresce dentro da amêndoa do fruto de várias palmeiras, como o licuri, que produz coquinho adocicado e crocante. Essas larvas, que parecem confitadas em gordura de coco como uma síntese da polpa que as alimentou, são apreciadas em todo o Brasil, seja a que dá no butiá, no babaçu ou no buriti. Os nomes regionais variam conforme a planta e são geralmente repletos de "os": gongo, coró, fofó, boró, bigolô, gogolô. No interior do Maranhão, os gongos do coco babaçu fritos viram ingrediente para farofas ou são servidos com arroz. Mas é comida interna, familiar, de pertencimento. Vá querer compartilhar essa emoção...
O preconceito chegou com o colonizador, que encontrou aqui grandes dissonâncias de costumes e higiene em relação aos padrões europeus. Vide os termos pejorativos e de asco em relação aos hábitos alimentares dos índios nos relatos dos viajantes. Hoje sabemos o que nossos índios sempre souberam: que quase todos os insetos são comestíveis – grilos, lagartas sem pelo, larvas, crisálidas, cupins, abelhas, besouros. Estaríamos mais saudáveis e teríamos menos problemas ambientais se não comêssemos tanta carne e tantos camarões – que se alimentam de restos putrefatos do fundo do mar – e enxergássemos gafanhotos nutridos à base de folhas verdes como limpos e apetitosos camarões do campo.
* NEIDE RIGO É NUTRICIONISTA, COLUNISTA DO PALADAR E AUTORA DO BLOG COME-SE