terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ingredientes inusitados em lugares improváveis: araruta e jacatupé


Se você quer recuperar alimentos de nossa tradição que estão desaparecendo ou simplesmente conhecê-los, não despreze uma mercearia chinesa. Está certo que os vendedores vão te desprezar e negar um sorriso ou uma ajuda. Mas, ligue não. Você está no Brasil e, se as portas do comércio estão abertas, você tem o direito de comprar e saber o que está comprando. Então entre olhando, curiando, lendo rótulos e questionando quando o texto em inglês registrar, por exemplo, goji berries e a tradução em português, obrigatória, resumir como "semente vermelha desidratada". Isto a gente ainda percebe quando há rótulo em inglês. Quando passa direto do chinês para o português, quem vai saber? Mas, não se intimide. Pergunte e, se te mal-tratarem, tire fotos, diga que vai ligar pro Procon.
Agora, guarde a imagem destas duas figuras acima, araruta e jacatupé, dos quais já falei muito por aqui. Há muito tempo estão longe das hortas brasileiras, mas não do interesse dos chineses que usam ambos em sopas e cozidos. Digo para mentalizar a imagem porque você não vai poder chegar à mercearia chinesa e perguntar se vendem araruta ou jacatupé, que vão achar que você é biruta da cabeça ou doente do pé. E, se apontar aleatoriamente qualquer tubérculo ou raiz com dedo e perguntar o que é, vão lhe responder também aleatoriamente que é "batata chinesa" ou "batata d´água" e isto inclui os itens mencionados. Se bem que uma chinesa esperta e boa vendedora conseguiu ser simpática comigo na minha última compra e prestou atenção quando lhe contei que estes ingredientes fazem parte de um grupo de alimentos com risco de extinção na nossa cultura - quis saber o nome e me pediu para anotar, inclusive o similar mexicano do jacatupé, jicama, que ensinei até a pronunciar. Mas ela é mosca branca, não se iluda.
Bem, tudo isto só pra dizer que você pode comprar araruta ou jacatupé nas duas mercearias chinesas que ficam na Praça da Liberdade. Eu comprei ambos para minha aula no evento do Paladar, Tinha uma Horta Aqui, do Jacatupé ao Jiquiri (bem, saber onde são cultivadas estas batatas chinesas já é assunto para doutorado)
Uma das mercearias é a Towa - Praça da Liberdade, 113 - Liberdade. Tel. 11 3105-4411. A outra é a do lado. Tente primeiro ligar e depois me conte a resposta do atendente.
Já falei do jacatupé aqui
Da araruta, nestes posts:
E em vários outros - basta digitar na caixa de busca

16 comentários:

  1. Nossa Senhora!!!
    Chineses sao iguais em todo o mundo!!!
    Aqui na Italia encontro podutos brasileiros em algumas lojas latino-americas ou africanas, mas a maioria do mercado de alimentos exoticos aqui, principalmente dos derivados de mandioca e tuberculos varios estao nas lojas chinesas. Incrivel! Aqui tambèm eles chamam tudo o que vem de debaixo da terra de "batata chinesa" e agem como vendedores robotisados... Coincidencia, eu ando com a maquina fotografica nao mao fotografando tudo o que nao conheço entao os chinese desconfiados, primeiro me enchem de perguntas, depois ou me ignoram ou me enchem de explicaçoes. Vou ja procurar a araruta e encher o saco dos cineses :-))

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  2. Neide,pelo tom do post,acho que tu te incomodaste com os chineses,mas,é isso aí, não dá para deixar barato,que audácia!Beijão!

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  3. Boa Noite Neide,
    sobre o jacatupé gostaria de informar que, pelo menos em Goiás, algumas comunidades quilombolas o cultivam constantemente. Foi com eles que conseguimos nossas primeiras sementes.
    Lieko

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  4. Neide,
    Outro dia minha irmã queria fazer biscoitos de araruta. Foi aí que se deu conta que não se acha mais a farinha de araruta.
    Essa história de apontar me remeteu para o fato de que os chineses não admitem que se aponte algo, é um gesto ofensivo. Mas isso lá na china...!
    Daqui a pouco estarão "patenteando" a araruta.
    Bjs.

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  5. Engraçado, quando vi a foto do post sem ler o título, me veio à cabeça o nome kuzukon, que é o nome em japonês da primeira raiz. Nunca associei ela com araruta.

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  6. Mary, depois me conte.

    Mari, imagino que não sejam todos, mas pelo menos estes destas lojas da Liberdade não são mesmo muito simpáticos. Eles não tem nenhum interesse em vender para brasileiros.

    Patrícia, que bom saber disso. Meu pezinho de jacatupé em Fartura está super devagar.

    Gina, pelo menos os daqui também apontam para a coisa perguntando "este?" para em seguida responderem "Batata chinesa!" ou "verdura chinesa".

    Isaac, o kukuzon não é o mesmo que kudzo ou Puereria lobata (com esta também se faz "araruta" no Japão). Veja este post: http://come-se.blogspot.com/2008/10/deu-hoje-na-folha-de-spaulo-araruta-em.html

    Um abraço, n

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  7. Realmente é uma luta comunicação com uma comunidade que se mantém fechada. Qdo fui a Liberdade comprar lótus, uma raiz pouco comum mas gostosa, esqueci o nome oriental. Put's grila, foi dose, eu tentando explicar e eles entender! No fim, achamos e foi muita risada, ambas as partes, acredita!?!?!
    Bjs.
    Ana, Araça

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  8. Oi, Neide,
    Cheguei ao seu blog pesquisando algo que os meus amigos e colegas consideram esquisitice: ruderais e comidas tradicionais.
    Obrigada, por tanta coisa aprendida. Como diz o ditado- "Pão comido, conforme o indíviduo, é logo esquecido"- nunca havia agradecido. Mas hoje, achei graça da coincidência. Meio sem querer, querendo esbarrei numa tese de doutorado de Valdely Ferreira Kinupp,sobre espécies nativas com potencial alimentício (hortaliças e frutas)da Grande Porto Alegre.
    Abçs e parabéns pelo trabalho,
    Thania

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  9. Neide, sou filha de mãe cearense e vó baiana, na casa de ambas sempre havia o bolinho de araruta , as tais brevidades, mas, eu, criança, achava seco. Hoje devo adorar. Mas eu acho que o nome que davam não era brevidade e sim "beijo de estudante"

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  10. Eu que já havia me espantado por encontrar nessas lojas chinesas o cupuaçu fresco, agora fico ainda mais surpresa com a notícia.

    Boa notícia, no entanto.

    Obrigada por compartilhar, Neide, vou procurar na próxima visita à Liberdade.

    Um abraço.

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  11. Tanto a Pueraria lobata quanto a Maranta arundinacea existem no Japão. A primeira, no Japão é chamada de kuzu (葛) enquanto que a segunda é o kuzukon (葛鬱金). A segunda, a nossa araruta, só existe na província de Okinawa, onde o clima é quente o ano inteiro. Já a primeira, é cultivado em, além de Okinawa, Kyushu, Shikoku e sul de Honshu.

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  12. Issac, obrigada! (na minha resposta a você, o final era uma interrogação e não um ponto);. Mas gostei de saber. A araruta que ganhei da Mari Hirata uma vez era da Puereria lobata. Então a Kunzukon, no Japão, também é usada como raiz (e não só para extração de amido)?
    Um abraço, N

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  13. Olá, a araruta eu estou tentando arrumar mudas para plantio comercial no vale do paraíba (Pindamo nhangaba/SP). Se vc souber onde arrumar cerca de 100kg, agradeço. Ah, aquilom
    na tua boca é mesmo o que pensei?

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  14. Anônimo,
    entre em contato com Pedro Coni, do Araruta do Recôncavo: "Pedro Coni" - saboresdeararutas@gmail.com.
    Sim, na minha boca é isto mesmo.
    Um abraço, N

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