As malas, minha e da Roberta de Sá, coordenadora dos projetos do Slow Food no Brasil, foram cheias para o encontro da Comissão Internacional da Arca do Gosto, em Scandicci, na Toscana. Roupas supérfluas deram lugar a pinhões de Santa Catarina, mangaritos de São Paulo, farinha d´água do Seu Bené e farinhas tantas outras, incluindo a ovinha de Uarini. Sem falar nos saquinhos de licuri salgado que todo mundo queria beliscar. Trata-se de um coquinho com gosto de coco, é claro, só que mais suave. Salgado e tostado é um petisco crocante tentador.
O fato é que nem todo licuri que me foi enviado pôde embarcar, afinal levaríamos apenas pequenas amostras para o pessoal da Itália ver. Um tanto ficou aqui em casa. E um destino pra ele não tardou a ser descoberto. Usaríamos no jantar Sbav/ Slow Food que nosso Convivium estava organizando junto com a Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho. Não deu outra: o coquinho foi um sucesso. Deu crocância e casou bem com o sabor amendoado do arroz vermelho do Vale do Piancó.
Aliás, como conseguir o arroz vermelho com greve do correio? Junta um pouco daqui e outro dali e conseguimos reunir 2 kg. O meu, tinha conservado dentro da geladeira. A Cênia Salles, líder do nosso Convivium, tinha outro tanto. Deu tudo certo no final. E a parceria arroz vermelho+licuri deu o que falar. Arroz deste tipo, integral, com a película vermelha rica em antocianinas - como o vinho, pode ser encontrado em mercados municipais ou em lojas de produtos naturais, vindo de diferentes lugares, mas o objetivo era usar este arroz específico protegido pela Arca do Gosto do Slow Food. O objetivo do jantar era divulgar e valorizar os pequenos produtores e produtos de qualidade - bons, limpos e justos - relacionados com os projetos do Slow Food no Brasil.
Seu João Lino, por exemplo, produtor que resgatou a cultura do mangarito aqui em São Paulo, estava lá pra aplaudir o talento do chef Newton Figueiredo, que soube transformar as batatinhas miúdas, mesmo sem nunca tê-las visto antes, num purê perfeito: liso, dourado, delicioso, que acobertava nacos suculentos de carne seca no seu Escondidinho, que acompanhou nosso arroz crocante. Antes disso, o chef Newton já havia surpreendido com a entrada à base de legumes grelhados – berinjela e abobrinha – com farinha ovinha do Uarini, que trouxemos de Manaus. De novo, mesmo sem nenhum contato prévio com esta farinha iguaria que lembra grãos de cuscuz marroquino, o Newton se saiu bem na técnica: hidratou os grãos com caldo de legumes e serviu com os legumes ladeados por cubos de queijo coalho grelhados e cobertos com mel de abelhas nativas de florada de limoeiro (néctar ou natimel, do projeto Abelhas nativas da Amavida - Associação Maranhense para a Conservação da Natureza, à venda no site da ong Central do Cerrado). De sobremesa, um perfumado creme de cupuaçu, delicado, com pouco açúcar, azedinho e muito sabor.
Os vinhos escolhidos pelo diretor cultural da Sbav, Edecio Armbruster, combinaram perfeitamente com os pratos salgados – degustamos duas versões de brancos com a entrada e duas de tintos com o prato principal para comparar qual seria a melhor escolha. Se entre eles houve ganhos e empates, no caso do vinho de sobremesa aconteceu a incompatibilidade total: a parceria Riesling e cupuaçu não funcionou. Os dois estavam deliciosos, fortes, dinâmicos, cheios de personalidade, mas não se bicaram. São como aqueles amigos que você adora separadamente, mas não ousa apresentá-los. O bom é que, um de cada vez, nenhum deles se podia desperdiçar. Ao final, taças e pratos vazios, óbvio.
Entre um gole e uma garfada, Edecio Armbruster deu uma verdadeira aula de harmonização de comida brasileira com estes vinhos orgânicos e/ou biodinâmicos. Dos brancos que acompanharam a entrada, o alemão Iphöfer Kronsberg Silvaner Kabinett trocken 2005 – da Francônia, Alemanha, era mais complexo, encorpado e tinha um toque de açúcar ideal para fazer companhia para os grãos delicados e ligeiramente ácidos da farinha ovinha de Uarini e mais ainda com o queijo coalho com o mel, que também traz certa acidez além da doçura.
Já os dois apresentados para ver qual o melhor casaria com o arroz crocante com escondidinho brigaram pela liderança. Ficaram no empate principalmente quando se provou separadamente o arroz ou o mangarito com carne. Enquanto o espanhol Rioja, Ijalba Múrice Crianza 2003, biodinâmico, mais amadeirado, andava bem com o sabor de coco do licuri, o francês Crozes-Hermitage Les Meysonniers 2006 – Rhône, estendia as mãos firmes para o purê com carne. Os dois, absolutamente equilibrados.
E da deliciosa sobremesa com o estupendo Riesling alemão Wachenheimer Rechbächel, já falei. Eles não querem conversa.
O fato é que nem todo licuri que me foi enviado pôde embarcar, afinal levaríamos apenas pequenas amostras para o pessoal da Itália ver. Um tanto ficou aqui em casa. E um destino pra ele não tardou a ser descoberto. Usaríamos no jantar Sbav/ Slow Food que nosso Convivium estava organizando junto com a Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho. Não deu outra: o coquinho foi um sucesso. Deu crocância e casou bem com o sabor amendoado do arroz vermelho do Vale do Piancó.
Aliás, como conseguir o arroz vermelho com greve do correio? Junta um pouco daqui e outro dali e conseguimos reunir 2 kg. O meu, tinha conservado dentro da geladeira. A Cênia Salles, líder do nosso Convivium, tinha outro tanto. Deu tudo certo no final. E a parceria arroz vermelho+licuri deu o que falar. Arroz deste tipo, integral, com a película vermelha rica em antocianinas - como o vinho, pode ser encontrado em mercados municipais ou em lojas de produtos naturais, vindo de diferentes lugares, mas o objetivo era usar este arroz específico protegido pela Arca do Gosto do Slow Food. O objetivo do jantar era divulgar e valorizar os pequenos produtores e produtos de qualidade - bons, limpos e justos - relacionados com os projetos do Slow Food no Brasil.
Seu João Lino, por exemplo, produtor que resgatou a cultura do mangarito aqui em São Paulo, estava lá pra aplaudir o talento do chef Newton Figueiredo, que soube transformar as batatinhas miúdas, mesmo sem nunca tê-las visto antes, num purê perfeito: liso, dourado, delicioso, que acobertava nacos suculentos de carne seca no seu Escondidinho, que acompanhou nosso arroz crocante. Antes disso, o chef Newton já havia surpreendido com a entrada à base de legumes grelhados – berinjela e abobrinha – com farinha ovinha do Uarini, que trouxemos de Manaus. De novo, mesmo sem nenhum contato prévio com esta farinha iguaria que lembra grãos de cuscuz marroquino, o Newton se saiu bem na técnica: hidratou os grãos com caldo de legumes e serviu com os legumes ladeados por cubos de queijo coalho grelhados e cobertos com mel de abelhas nativas de florada de limoeiro (néctar ou natimel, do projeto Abelhas nativas da Amavida - Associação Maranhense para a Conservação da Natureza, à venda no site da ong Central do Cerrado). De sobremesa, um perfumado creme de cupuaçu, delicado, com pouco açúcar, azedinho e muito sabor.
Os vinhos escolhidos pelo diretor cultural da Sbav, Edecio Armbruster, combinaram perfeitamente com os pratos salgados – degustamos duas versões de brancos com a entrada e duas de tintos com o prato principal para comparar qual seria a melhor escolha. Se entre eles houve ganhos e empates, no caso do vinho de sobremesa aconteceu a incompatibilidade total: a parceria Riesling e cupuaçu não funcionou. Os dois estavam deliciosos, fortes, dinâmicos, cheios de personalidade, mas não se bicaram. São como aqueles amigos que você adora separadamente, mas não ousa apresentá-los. O bom é que, um de cada vez, nenhum deles se podia desperdiçar. Ao final, taças e pratos vazios, óbvio.
Entre um gole e uma garfada, Edecio Armbruster deu uma verdadeira aula de harmonização de comida brasileira com estes vinhos orgânicos e/ou biodinâmicos. Dos brancos que acompanharam a entrada, o alemão Iphöfer Kronsberg Silvaner Kabinett trocken 2005 – da Francônia, Alemanha, era mais complexo, encorpado e tinha um toque de açúcar ideal para fazer companhia para os grãos delicados e ligeiramente ácidos da farinha ovinha de Uarini e mais ainda com o queijo coalho com o mel, que também traz certa acidez além da doçura.
Já os dois apresentados para ver qual o melhor casaria com o arroz crocante com escondidinho brigaram pela liderança. Ficaram no empate principalmente quando se provou separadamente o arroz ou o mangarito com carne. Enquanto o espanhol Rioja, Ijalba Múrice Crianza 2003, biodinâmico, mais amadeirado, andava bem com o sabor de coco do licuri, o francês Crozes-Hermitage Les Meysonniers 2006 – Rhône, estendia as mãos firmes para o purê com carne. Os dois, absolutamente equilibrados.
E da deliciosa sobremesa com o estupendo Riesling alemão Wachenheimer Rechbächel, já falei. Eles não querem conversa.
Creme de Cupuaçu com Riesling: não se bicaram
O Menu
Entrada: Legumes grelhados com cuscuz de farinha ovinha de Uarini, cubos de queijo coalho grelhados ao néctar de abelhas nativas
Prato principal: Escondidinho de mangarito com carne seca e arroz vermelho com crocante de licuri
Sobremesa: Creme de cupuaçu
Vinhos degustados
Avondale Sauvignon Blanc 2006 - África do Sul
Iphöfer Kronsberg Silvaner Kabinett trocken 2005 - Francônia, Alemanha
Crozes-Hermitage Les Meysonniers 2006 – Rhône, França
Ijalba Múrice Crianza 2003 – Rioja, Espanha
Wachenheimer Rechbächel Riesling Auslese – Palatinado, Alemanha
Contato com os produtores
Arroz Vermelho do Vale do Piancó, Paraíba
Coordenador da Comunidade José Soares Filho
Coordenador da Comunidade José Soares Filho
Telefone 83-3485-1080
Mangarito
Sr. João Lino. Telefone 11-5561-0120 ou celular: 11 7152-6585
www.mangarito.blogspot.com/
www.mangarito.blogspot.com/
Licuri
Produtores do Piemonte da Diamantina (polígono das secas)
Coordenadora da Comunidade: Josenaide Souza Alves
Coordenadora da Comunidade: Josenaide Souza Alves
Telefone 74-3651-0225 ou celular 74-199 8569
josenaide@coopes.org
Mel de abelhas nativas
Central do Cerrado – produtos ecossociais
http://www.centraldocerrado.org.br/
Mel de abelhas nativas
Central do Cerrado – produtos ecossociais
http://www.centraldocerrado.org.br/
Informação sobre os vinhos
Sbav – Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho
http://www.sbav-sp.com.br/
Sbav – Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho
http://www.sbav-sp.com.br/
Sobre o Slow Food
http://www.slowfoodbrasil.com/
Cenia Salles, lider do Convivium Slow Food de São Paulo (eu, vice-lider, estava sentada comendo, bebendo, fotografando..)http://www.slowfoodbrasil.com/
Neide,
ResponderExcluirGostei tanto das suas fotografias do mercado em Florença, que gostava de ter algumas na minha cozinha, de tão coloridas que são.
Vinha pedir autorização p descarregar 2 fotos, onde tem as flores de aboborinha e uma onde tem a bancada cheia de legumes.
Se tiver por acaso um tempinho p enviar os ficheiros (com o seu nome, claro), ficava super agradecida!
Cumprimentos
Claudia
PS: blogue lindo, que me dá imensa vontade de provar tudo!!
Claudia,
ResponderExcluirobrigada. Me mande seu email que eu lhe envio as fotos. Um abraço,
Neide
Obrigada Neide!
ResponderExcluirO meu mail é claud.campos@gmail.com.
Um abraço
Claudia
Uau, que belo jantar! Era privado pro pessoal da Sbav ?
ResponderExcluirOi, Eduardo,
ResponderExcluiro jantar era aberto ao público. Pena que você não foi. Eu mandei convite para o Grupo.
Um abraço,
N
Olá Neide!
ResponderExcluirEntão não é que vim dar aqui com uma comentadora,claudia de seu nome,que partilha dos meus sentimentos pelas suas fotos?!Bem,já somos duas a pedir...mas quantas mais existirão que gostariam de fazer o mesmo?Adorei!
Quanto aos vinhos,saúde!!!,mas para mim,tintinho por favor.
Brindo a si Neide,à sua prosa escorreita,aos seus dotes culinários,ao seu sentido de humor,às suas belas fotos e ao seu fantástico blogue.
Obrigada por tudo isso.
Adriana ou Dri