Lembra aquele tofu de ervilha cuja receita publiquei na semana passada? Pois aqui estão duas formas de servir.
A primeira tem só uma cobertura de cebolas roxas fritas no óleo até dourar bem e depois escorridas mais cebolinha, pimenta e gergelim preto tostado ligeiramente. A segunda é uma salada que também leva cebola roxa frita, cebolinha, pimenta e gergelim, mas também um pouco de limão, açúcar e molho de peixe. Além de pétalas de hemerocallis. Ambos para comer frio. Nhac!
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terça-feira, 31 de janeiro de 2017
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Quase um tofu da Birmânia
Outro dia a leitora Alice me perguntou se eu já tinha feito o shan tofu com a farinha dos grãos fermentada. E, não, nunca fiz. Mas como ultimamente tenho deixado sempre uns grãos de molho além de farinhas fermentando, calhou de eu ter grão de bico, ervilha e feijão fradinho demolhados por 24 horas (eles começam a fermentar e ficam mais fáceis de digerir). E ficam também bem molinhos e aí foi fácil. Achei melhor que usar a farinha.
Na verdade, este não é um tofu como o que conhecemos, feito a partir do leite de soja coagulado. Feito na Birmânia com grão de bico e ervilha, este tipo é como uma polenta que é resfriada e cortada em pedaços. Depois os pedaços são temperados ou preparado como curry. Fiz ontem como salada mas esqueci de tirar foto...
Para o preparo, fiz minhas intromissões, misturei os grãos e ainda forrei a forminha com folha de cúrcuma para aumentar o perfume da especiaria - normalmente o que se usa é só o pó neste tipo de tofu. Se quiser, use um só tipo ou dois de grãos e também vai dar certo.
Tofu de ervilhas e outros grãos
1/2 xícara de grão-de-bico demolhado e escorrido
1/2 xícara de feijão fradinho sem pele demolhado e escorrido
1/2 xícara de ervilha seca demolhada e escorrida
1 e meia xícara de água
1 pitada de sal
1 pitada de cúrcuma
Coloque os grãos no liquidificador, junte a água e triture até virar uma massa bem lisa. Leve ao fogo baixo com os temperos e cozinhe, mexendo sempre, por cerca de 15 minutos ou até formar uma mistura cremosa que se solta do fundo. Se precisar, junte mais água quente. Tem que ter consistência de polenta. Despeje num tabuleiro, espere esfriar, espere gelar e corte em cubos. Eu forrei a forma com folha de cúrcuma, mas foi intromissão minha. Não precisa.
Tempere como salada - pode levar molho de peixe, limão, shoyu, cebolinha, pimenta, coentro, cebola roxa frita. Ou faça um caril com os cubos.
É isto. Depois mostro os pratos prontos.
Na verdade, este não é um tofu como o que conhecemos, feito a partir do leite de soja coagulado. Feito na Birmânia com grão de bico e ervilha, este tipo é como uma polenta que é resfriada e cortada em pedaços. Depois os pedaços são temperados ou preparado como curry. Fiz ontem como salada mas esqueci de tirar foto...
Para o preparo, fiz minhas intromissões, misturei os grãos e ainda forrei a forminha com folha de cúrcuma para aumentar o perfume da especiaria - normalmente o que se usa é só o pó neste tipo de tofu. Se quiser, use um só tipo ou dois de grãos e também vai dar certo.
Tofu de ervilhas e outros grãos
1/2 xícara de grão-de-bico demolhado e escorrido
1/2 xícara de feijão fradinho sem pele demolhado e escorrido
1/2 xícara de ervilha seca demolhada e escorrida
1 e meia xícara de água
1 pitada de sal
1 pitada de cúrcuma
Coloque os grãos no liquidificador, junte a água e triture até virar uma massa bem lisa. Leve ao fogo baixo com os temperos e cozinhe, mexendo sempre, por cerca de 15 minutos ou até formar uma mistura cremosa que se solta do fundo. Se precisar, junte mais água quente. Tem que ter consistência de polenta. Despeje num tabuleiro, espere esfriar, espere gelar e corte em cubos. Eu forrei a forma com folha de cúrcuma, mas foi intromissão minha. Não precisa.
Tempere como salada - pode levar molho de peixe, limão, shoyu, cebolinha, pimenta, coentro, cebola roxa frita. Ou faça um caril com os cubos.
É isto. Depois mostro os pratos prontos.
terça-feira, 24 de janeiro de 2017
Bacupari, nosso pequeno mangostão
Foi justamente na época do Natal que descobri que a pequena muda que havia comprado no viveiro Ciprest, lá de Limeira, já começava a dar os primeiros frutos. Nem me lembrava mais, pra dizer a verdade. Estávamos andando, Marcos e eu, pela braquiária alta no sítio em Piracaia quando nos deparamos com o arbusto e seus frutinhos amarelos. Fiquei numa felicidade só. O sabor é como o de um mangostão, só que mais ácido. Pensei logo numa caipirinha. Foi o que deu pra fazer com a pequena quantidade que conseguimos colher.
Sorte que ganhei uma baciada do amigo Fernando que também tem em seu sítio em São Francisco Xavier. Chupei um montão - é como comer jabuticabas. O caroço é grande e a polpa além de escassa é bem aderida à semente. Para fazer suco, achei mais fácil bater tudo no liquidificador e coar. Outra opção é cozinhar a fruta inteira como jabuticaba e peneirar. Aí basta diluir com mais água e vira um refresco delicioso.
Quase como uma cerveja |
A Garcinia gardneriana pode ser chamada também de bacopari, bacoparé, bacopari-miúdo, bacuri-miúdo, escropari, limãozinho ou mangostão-amarelo, e pode ser encontrada em todo o Brasil, da Amazônia ao Sul, mas não é uma fruta muito comum.
Para a caipirinha: um pouco da fruta junto com limão e xarope de açúcar , cachaça e gelo |
Como fazer tapioca: mostro em vídeo
Lá no blog do Paladar mostro como fazer tapiocas brancas, coloridas, decoradas, floridas. Já aviso que não levo o mínimo jeito para vídeo, mas tá lá e dá pra entender, eu acho. Acesse aqui.
Tenho aqui outros posts sobre o mesmo assunto: https://come-se.blogspot.com.br/2016/10/tapiocas-coloridas-e-floridas-como-fazer.html
Tenho aqui outros posts sobre o mesmo assunto: https://come-se.blogspot.com.br/2016/10/tapiocas-coloridas-e-floridas-como-fazer.html
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
Pão com farinha de arroz e farinha de raspa de mandioca, sem glúten, sem ovos, sem leite, sem gordura... Com sabor!
Às vezes gosto mais do caminho, como deve ser. Mas às vezes faço um caminho que sequer sei onde vai dar. Então coloquei farinha de arroz para fermentar porque adoro fermentar de tudo. Depois de bem fermentado o arroz, eu poderia ter feito bolo e panquecas, idli, fritadas ou aquele outro pão feito com mandioca cozida.
Mas me lembrei da farinha de raspa de mandioca que ensinei a fazer na semana passada e resolvi tentar um pão mais simples, basicamente com as duas farinhas e sal. Juntei ainda um pouco de mel - mais para ajudar a dourar -, nozes na massa e gergelim na cobertura para dar uma incrementada.
Então o que fiz foi mais ou menos isto:
Pão de arroz e mandioca sem glúten
Misturei 1 xícara de farinha de arroz com água até formar uma massa densa. Cobri com filme plástico e esperei fermentar. No verão, em menos de 24 horas a mistura está com borbulhas. Coloquei numa tigela esta mistura fermentada e mais 1 xícara de farinha de raspa de mandioca. Misturei bem juntando água aos poucos para formar uma mistura densa - como uma massa de bolo mais firme. Temperei com 1 colher (chá) rasa de sal e 2 colheres (chá) rasas de mel. Poderia ter deixado assim, mas quis acrescentar um punhadinho de nozes picadas porque gosto. É opcional, claro. Agora, que fica bem bom, ah, isto fica. Outras castanhas ou amêndoas vão bem também. Coloquei em forma de bolo inglês untada e enfarinhada com farinha de raspa, cobri com outra forma e deixei fermentar por cerca de 4 horas. Eu poderia ter feito todo o processo antes e ter deixado fermentar tudo junto, mas, como já tinha o arroz fermentado, foi assim que fiz. Quando achei que tinha crescido pelo menos 1/4 do volume na forma, polvilhei gergelim por cima e levei ao forno pré-aquecido a 200 graus. Deixei assar por meia hora e aí está: a massa ficou firme como a de pão, a crosta crocante e cortável e o sabor com um ligeiro azedinho dos pães fermentados. Não fica quebradiço e reage bem à torradeira. Bom para sanduíches e torradas, enfim.
Estou amando esta farinha de raspa de mandioca. Recomendo, pois!
Mas me lembrei da farinha de raspa de mandioca que ensinei a fazer na semana passada e resolvi tentar um pão mais simples, basicamente com as duas farinhas e sal. Juntei ainda um pouco de mel - mais para ajudar a dourar -, nozes na massa e gergelim na cobertura para dar uma incrementada.
Então o que fiz foi mais ou menos isto:
Pão de arroz e mandioca sem glúten
Misturei 1 xícara de farinha de arroz com água até formar uma massa densa. Cobri com filme plástico e esperei fermentar. No verão, em menos de 24 horas a mistura está com borbulhas. Coloquei numa tigela esta mistura fermentada e mais 1 xícara de farinha de raspa de mandioca. Misturei bem juntando água aos poucos para formar uma mistura densa - como uma massa de bolo mais firme. Temperei com 1 colher (chá) rasa de sal e 2 colheres (chá) rasas de mel. Poderia ter deixado assim, mas quis acrescentar um punhadinho de nozes picadas porque gosto. É opcional, claro. Agora, que fica bem bom, ah, isto fica. Outras castanhas ou amêndoas vão bem também. Coloquei em forma de bolo inglês untada e enfarinhada com farinha de raspa, cobri com outra forma e deixei fermentar por cerca de 4 horas. Eu poderia ter feito todo o processo antes e ter deixado fermentar tudo junto, mas, como já tinha o arroz fermentado, foi assim que fiz. Quando achei que tinha crescido pelo menos 1/4 do volume na forma, polvilhei gergelim por cima e levei ao forno pré-aquecido a 200 graus. Deixei assar por meia hora e aí está: a massa ficou firme como a de pão, a crosta crocante e cortável e o sabor com um ligeiro azedinho dos pães fermentados. Não fica quebradiço e reage bem à torradeira. Bom para sanduíches e torradas, enfim.
Estou amando esta farinha de raspa de mandioca. Recomendo, pois!
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
Quinta sem trigo: Feijão e mandioca!
Era pra ser quinta sem trigo, mas virou sexta sem trigo, já que não tive tempo de terminar a postagem ontem. Bem, com aquela farinha de raspa que ensinei a fazer na última postagem (aqui), resolvi fazer umas panquecas com fermentação natural, como as dosas indianas que são panquecas finas, cuja receita básica leva arroz e feijão mungo (aquele do broto de feijão) sem pele, chamado urad dal ou black gram. Mas há inúmeras variações, das mais crocantes às mais flexíveis, das básicas na cor às de cores fortes quando feitas com adição de massa de espinafre. Uso normalmente feijão fradinho sem pele e arroz branco, mas resolvi desta vez testar a substituição do arroz por farinha de raspa de mandioca. Deixei o feijão sem pele de molho durante a noite, no outro dia triturei no liquidificador com um pouco da água - só o suficiente para bater, e juntei farinha de raspa na mesma proporção do feijão cru que usei, em peso. Misturei os dois, juntei mais água até ficar uma massa como se vê nas fotos e esperei fermentar por umas 12 horas ou até que a mistura ganhasse bolhas. Aí foi só temperar com sal e cozinhar como panquecas - numa frigideira antiaderente bem quente esfreguei metade de uma cebola embebida em óleo. E fiz isto todas as vezes que a massa começava a grudar.
Em uma das massas, acrescentei só cúrcuma como tempero. Em outras, resolvi incrementar a cor e juntei um pouco de beterraba e de abóbora cruas enquanto batia o feijão no liquidificador, antes de fermentar. Deu no que deu e posso dizer que ficarão deliciosas:
Em uma das massas, acrescentei só cúrcuma como tempero. Em outras, resolvi incrementar a cor e juntei um pouco de beterraba e de abóbora cruas enquanto batia o feijão no liquidificador, antes de fermentar. Deu no que deu e posso dizer que ficarão deliciosas:
Com molhos bem apimentados tipo sambal que já publiquei aqui. |
A farinha de raspa de mandioca - bem fininha como a de trigo |
Diferentes combinações - testei também arroz com ervilha e com a massa fiz idlis verdes - próxima postagem |
Vários testes de fermentação natural com grãos e farinhas |
E nhac! Com sardinha frita, iogurte, molhos de pimenta |
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
Farinha de raspa de mandioca pode substituir o trigo em vários pratos. Fácil de fazer!
Já tinha testado outras vezes principalmente quando ficava pesquisando farinhas diferentes para o "Quinta sem trigo", que costumava publicar aqui semanalmente. Mas acabei esquecendo desta farinha típica dos índios Guarani, feita também em Angola e usada atualmente para ração animal, sem valor no varejo - quando não exportada para fora para o mercado do "gluten free".
Trata-se da mandioca raspada - tiram-se lascas ou fatias, seca-se e tritura-se. No livro sobre os índios Guarani (Etnografia de los Guarani del Alto Parana. Muller, P. Franz. Buenos Aires: Caea Editorial, 1989), entre os modos de preparo da mandioca a farinha de raspa está lá: "La raíz de la mandioca, pelada, se hierve en agua o se asa con cáscara en ceniza caliente, o la mandioca es cortada em trozos y expuesta al sol para su secado; luego es convertida en harina en el mortero; con esa harina se preparan panqueques - popi - que son freídos en grasa. La harina se llama cu-í.".
Viu? O jeito de fazer pode ser resumido em três passos: cortar, secar e triturar. Claro, em casa, não precisamos usar um pilão, quando temos um liquidificador.
No post sobre os índios Guarani, que publiquei aqui tempos atrás, comi uma panquecas fritas feitas de trigo. Disseram que antes eram feitas com milho, mas talvez tenham sido feitas com esta farinha de raspa.
Nos Estados Unidos uma das farinhas sem gluten que faz mais sucesso é a Otto's Cassava Flour que nada mais é que nossa farinha de raspa. Veja aqui o que diz o site:
Our search ended in Brazil. Aside from being some of the most beautiful people on the planet, there is this tiny group of them that handle cassava like a BOSS. They turn out the most amazing, just-like-wheat product we have ever seen. It is meticulously handled and is just so different from every other cassava flour on the market that it blew us away. No fermented/musty taste or smell and almost nonexistent crunch (every once in a while we get a tiny crystal that makes you wonder if all your sugar dissolved.) It is light years beyond all the other cassava flours out there. Truly the highest quality available anywhere.
It is this amazing flour that we proudly and excitedly offer to you. If you have tried cassava flour before and were underwhelmed, we get it. And cordially invite you to try ours and taste the difference for yourself. If you have never tried cassava flour, or never even HEARD about it before, then we are doubly excited to introduce it to you. We hope you love it as much as we do."
Isto quer dizer que se não ficarmos espertos, daqui a pouco nossa mandioca acaba como a chia, o sal do Himalaia ou a quinoa. O consumidor tradicional do produto deixa de ter acesso devido ao alto valor que ele pode alcançar no mercado internacional por causa de alguma moda. É melhor vender o produto e com o dinheiro comprar produtos industrializados de qualidade inferior, pensam os produtores. Veja o preço desta farinha no site: http://www.ottosnaturals.com/ . E pensar que por aqui ela não tem valor nenhum. Tem preço inferior ao da farinha tradicional.
A vantagem é que ela de fato pode substituir o trigo em vários pratos. Diferente da farinha de mesa, ela conserva todo o amido original. E diferente do polvilho, que é o amido isolado, ela carrega todas fibras. Ou seja, é a farinha integral da mandioca. Ela é fininha, tem sabor suave e pode ser usada como farinha em massas de tortas por exemplo. Tem quase a mesma performance do trigo em massas crocantes, alguns tipos de bolo, biscoito etc. Só não sei como se faz pra comprar no varejo por aqui. Mas é fácil fazer desde que tenhamos calor do forno ou sol. A minha, fiz no sol. Ralei grosso no processador, espalhei sobre um pano e deixei uns dois dias no sol. Fui mexendo, mexendo, até secar bem. Depois triturei no liquidificador e usei para fazer minha torta de manga verde. A receita é igualzinha à que já publiquei aqui. Simplesmente substituí a farinha de trigo pela de raspa em quantidades iguais. Vou fazer outros testes e publico aqui.
No terceiro dia, deixei secar mais - não pode ter umidade, se não mofa. Depois foi só triturar no liquidificador |
Torta de manga verde com farinha de mandioca |
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Purê de banana verde com jabuticaba
Continuando aquele post sobre uso das cascas da jabuticaba, aqui mais uma ideia depois que ganhei umas frutas frescas de um amigo. Fiz a geleia como sempre (a receita está aqui) e guardei as cascas na geladeira porque não estava com nenhuma ideia na hora. Mas quando fui fazer o almoço, lembrei de umas bananas verdes que tinha cozinhado e também repousava na geladeira. Juntei as duas coisas e fiz um purê. Nem imaginava que pudesse ficar tão bom, mas ficou.
Despejado sobre a manteiga quente |
Podia ter um peixe assado, mas foi bem com o que tinha, incluindo o caril de frango |
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Amoras: safra estendida. Licor tipo marasquino e bolo sabor cereja
Foi com aquelas frutas que colhemos, Kenia e eu, em setembro. Logo, foram quase 4 meses de infusão na cachaça.
A postagem onde mostro a colheita das frutas está aqui. E quando falo da delícia que é a semente da nêspera, o post é este.
O que fiz com as amoras que não pude usar na safra foi congelar um tanto (que uso até hoje no kefir de leite) e o restante lavei bem e coloquei numa garrafa com cachaça - junto com um pouco de cereja-do-rio-grande, um galho de manjericão-cravo e uns 30 ou mais caroços de nêspera cortados ao meio. Deixei a mistura na sombra no vidro tampado e o líquido foi adquirindo uma linda coloração vermelha.
Semana passada, dei uma provada e achei que já estava bem gostosa com bastante aroma de maraschino (afinal a mesma substância do caroço de nêspera é a que encontramos nas amêndoas amargas e nas cerejas marascas). Como não tinha doce pra ser chamado de licor, juntei uma parte de xarope de hibisco. Não sei a quantidade. Fui colocando e provando até achar que já tinha doçura suficiente pra ser chamado de licor. E pronto, aí está meu maraschino like. Ou, quem sabe, marasquino genérico. Ou, simplesmente licor de amora com amêndoas de nêspera.
E, claro, sobraram as frutas deliciosamente enxarcadas de cachaça com sabor de amêndoas amargas. Logo, sabiam a cerejas ao marasquino. Comi as cerejas-do-rio-grande (que não são parentes das verdadeiras cerejas - já as nêsperas, sim, estas são parentes bem próximas). Os caroços de nêsperas, descartei. E as amoras, tive vontade de metê-las numa massa de bolo de chocolate. Foi o que fiz.
Fiz aquela receita de bolo de chocolate bem simples, cuja receita está aqui. Em vez de chocolate em pó, usei cacau orgânico e ficou bem escuro. Nem usei o bicarbonato - porque esqueci. Talvez seja melhor não usar mesmo, porque pode reagir com o pigmento da amora e torna-lo azulado ou amarronzado. Se bem que a amora some na massa - não sem antes deixar um delicioso sabor de cerejas ao maraschino. Portanto, ela fica disfarçada na massa mas na boca sua presença é sentida, claro.
Pronto, a receita está aí. É só jogar uma mãozada de cerejas do licor na massa do bolo e assar. As que aparecem na foto estavam congeladas e só coloquei por cima para decorar - e comer. É claro que não vai ter agora esta amora embebida em licor, mas se quiser fazer um bolo similar, pegue amoras congeladas (aposto que aproveitou a safra e tem um tanto na geladeira) e deixe uma noite imersas na cachaça ou no verdadeiro maraschino. Nhac!
A postagem onde mostro a colheita das frutas está aqui. E quando falo da delícia que é a semente da nêspera, o post é este.
O que fiz com as amoras que não pude usar na safra foi congelar um tanto (que uso até hoje no kefir de leite) e o restante lavei bem e coloquei numa garrafa com cachaça - junto com um pouco de cereja-do-rio-grande, um galho de manjericão-cravo e uns 30 ou mais caroços de nêspera cortados ao meio. Deixei a mistura na sombra no vidro tampado e o líquido foi adquirindo uma linda coloração vermelha.
Semana passada, dei uma provada e achei que já estava bem gostosa com bastante aroma de maraschino (afinal a mesma substância do caroço de nêspera é a que encontramos nas amêndoas amargas e nas cerejas marascas). Como não tinha doce pra ser chamado de licor, juntei uma parte de xarope de hibisco. Não sei a quantidade. Fui colocando e provando até achar que já tinha doçura suficiente pra ser chamado de licor. E pronto, aí está meu maraschino like. Ou, quem sabe, marasquino genérico. Ou, simplesmente licor de amora com amêndoas de nêspera.
E, claro, sobraram as frutas deliciosamente enxarcadas de cachaça com sabor de amêndoas amargas. Logo, sabiam a cerejas ao marasquino. Comi as cerejas-do-rio-grande (que não são parentes das verdadeiras cerejas - já as nêsperas, sim, estas são parentes bem próximas). Os caroços de nêsperas, descartei. E as amoras, tive vontade de metê-las numa massa de bolo de chocolate. Foi o que fiz.
Fiz aquela receita de bolo de chocolate bem simples, cuja receita está aqui. Em vez de chocolate em pó, usei cacau orgânico e ficou bem escuro. Nem usei o bicarbonato - porque esqueci. Talvez seja melhor não usar mesmo, porque pode reagir com o pigmento da amora e torna-lo azulado ou amarronzado. Se bem que a amora some na massa - não sem antes deixar um delicioso sabor de cerejas ao maraschino. Portanto, ela fica disfarçada na massa mas na boca sua presença é sentida, claro.
Pronto, a receita está aí. É só jogar uma mãozada de cerejas do licor na massa do bolo e assar. As que aparecem na foto estavam congeladas e só coloquei por cima para decorar - e comer. É claro que não vai ter agora esta amora embebida em licor, mas se quiser fazer um bolo similar, pegue amoras congeladas (aposto que aproveitou a safra e tem um tanto na geladeira) e deixe uma noite imersas na cachaça ou no verdadeiro maraschino. Nhac!
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
O frango ensopado de nossa mãe. Coluna do Paladar. Edição de 05 de janeiro de 2017
Pois é, voltei. Espero que todos tenham passado boas festas e que nos mantenhamos esperançosos de um ano novo cheio de paz, saúde, alegrias e tempo para que possamos curtir sempre e presencialmente nossos queridos - no fim, é isto que importa.
Neste ano as coisas voltam diferente. É um jeito de viver ao qual ainda estou me acostumando, mas espero ter mais tempo para muitas coisas, inclusive para estar mais perto do blog.
Antes de começar pra valer, uma última despedida de minha mãe. Além de homenagear Dona Olga, o título homenageia também minha mãe postiça, musa inspiradora, Nina Horta, autora de Não é Sopa e do livro lançado recentemente, "O frango ensopado de minha mãe". Sua mãe também tinha um jeito todo especial de fazer o frango que servia com castanhas ou pinhões. Bem, se não fosse pela Nina, por me expor em sua coluna, por ser tão generosa sempre, talvez você não estivesse me lendo agora. Tudo seria muito diferente. Por isto, vai aqui minha grande homenagem para ela e sua mãe também. E para todas as mães e suas particularidades no caminhar da vida.
O texto está no Estadão impresso de quinta-feira passada e também no blog do caderno Paladar. |
O FRANGO ENSOPADO DE
NOSSA MÃE
Quando
ela se curvou na escada com as mãos no rosto e chorou, a vizinha quis saber o
motivo e achou até graça pois aquilo mais parecia capricho da adolescente. Vontade de comer frango, coisa de grávida de
primeira viagem, fácil de resolver. O
frango de granja foi comprado na feira pela mulher condoída, mas a tristeza não passou e não passaria
completamente até que ela voltasse a ter suas próprias galinhas no terreiro
muitos anos depois, quando deixou na cidade grande os filhos criados e voltou a
morar no campo. Tinha saudade da galinha
ciscando no quintal, do chiado da carne de
porco na gordura quente, do cheiro da panela de ferro no fogão de lenha, do jiquiri com angu de milho verde, do
cafezal em flor, daquele almeirãozinho roxo que crescia nos carreadores, do
arroz de pilão pra comer com o frango perfumado de alfavaca feito pela mãe e
até do fedor da lamparina.
Com
o tempo a filharada ajudou a driblar a saudade dos pais e das coisas do campo, mas o frango sempre foi uma questão à mesa.
Reclamava do que encontrava por aqui, embalado sem cabeça, com pele
escorregadia e cheiro de pena molhada. Pelo
menos uma vez por semana ia comprar frango numa avícola que descobriu perto de
casa e descia a ladeira segurando a ave pelos pés amarrados com cordão de pano.
Aliás, minha primeira atividade remunerada foi encher um saco com tiras de tecido
que sobravam das costuras da mãe e trocar na avícola por umas moedas.
Comprava
o frango no sábado e matava no domingo.
E nada de pescoço cheio de sangue do destroncamento, o melhor era a faca
afiada que fazia sangrar o necessário para não manchar o molho.
Portanto, nada de galinha à cabidela lá em casa. Ela tinha um só jeito
de preparar o frango inteiro e ele foi sendo aperfeiçoado ao extremo ao longo
da vida com direito a todo tipo de idiossincrasia.
Não
me lembro de molho de tomate suculento para o macarrão. Era quase só um
tingimento à base de tomate e óleo e os espaguetes ficavam soltinhos e firmes
mesmo sendo aqueles à base de ovos. O molho para acompanhar era o do frango. E que molho! Denso, brilhoso, vermelho, cheio de colágeno.
Às vezes, em vez de macarrão, era polenta, mas arroz e feijão sempre havia e
nenhum outro acompanhamento parecia ser páreo para aquele frango. O perfume do tempero usado invadia a casa e a
vizinhança. Não sei de onde vinha aquela alfavaca, se tínhamos
plantada no quintal ou se comprava na feira - esqueci de perguntar. Mas era e sempre foi o tempero oficial do
frango caipira de nossa mãe.
Só
quando meu pai se aposentou e os dois voltaram para a roça é que fui aprender a
cortar as partes. Ainda assim sempre
acho que estou fazendo alguma coisa errada quando chego no osso do peito e não
acho junta que ajude. Uma de minhas irmãs filmou o passo-a-passo para não
errarmos mais e cronometrou sua esperteza em destrinchar a ave pelas juntas.
Foram três minutos e vinte e quatro pedaços bem delineados.
Se
destrinchar pode até ser feito com calma, para depenar qualquer lerdeza é
imperdoável. Mergulhava o frango por
segundos na água quente e passava para uma peneira grande onde as penas eram
arrancadas rapidamente. Caso a água quente cozinhe a pele, ela se rasga na hora de puxar a pena e isto
era o fim pra dona Olga. A pele não podia estar rasgada em hipótese alguma. Depois, era a vez de sapecar a ave com palha
de milho jogada sobre a lenha para eliminar penugens e este processo deixava um
ligeiro sabor de defumado indescritível na carne.
Já
para eviscerar a ave sem deixar romper nenhuma tripa era preciso atenção. Um
corte na entrada, outro circundando a saída, um puxão preciso e ela tinha em
mãos todo o trato digestório intacto sem sujar o interior da ave. Sorte quando
era franguinha com ovas e brigávamos por elas cozidas no mesmo tempo do fígado.
Parte
da água que foi aquecida para depenar era separada para enxaguar a pia, a
tábua, a bacia e a bucha vegetal que guardava para lavar bem os pés e o corpo
todo. Não que desconfiasse das filhas, mas a parte da higiene do bicho era
coisa dela, não delegava a ninguém. No
máximo, ordenava apenas uma fração do processo, como por exemplo jogar água
quente nos utensílios ou tirar com pinça restos de pena que ficaram.
Não
me lembro de ter visto minha mãe comer frango ou ovo de granja depois que
voltou para a roça. Dizia dar enjoos o cheiro de pena das galinhas enjauladas.
Talvez tenha comido um ou outro peito na casa de alguém pra não fazer desfeita,
mas sempre que podia levava ovos e frango caipira já limpo de presente para não
ter que correr riscos.
Esta
rotina de criar e preparar frango se repetiu mesmo depois que voltaram
recentemente para uma cidade já não tão grande como São Paulo, onde, dadas as
circunstâncias de terreno urbano, tiveram que ter um galinheiro de verdade. No
sítio, era diferente. As galinhas tinham tantos privilégios que em vez de elas
ficarem presas, éramos nós que ficávamos. A casa, um pequeno canteiro de ervas
e um jardim foram cercados com tela para que elas não entrassem. Elas tinham a
propriedade inteira pra ciscar. Minha
mãe aparecia na porta da cozinha, a
turma toda piando se acumulava no portão esperando talvez um repeteco daqui
pipipipi matinal acompanhando de mãozadas de quirera. Quando ela entrava em casa, as galinhas
corriam desajeitadas para o portão da frente supondo que ela apareceria pela
porta da sala com o balaio de milho.
A
mim, que a visitava eventualmente, galinhas e pintinhos pareciam todos iguais,
mas ela conhecia cada quem: as amizades e implicâncias, o grau de parentesco, a
idade, quem estava bicando quem, a fulana que roubou os pintinhos da outra, os
ovos de angola chocados pela galinha, a outra que ficou choca em ninho vazio, o
pintinho fraco que foi tratado com almeirão picado e quirera cozida, a galinha
zangada que rejeitou os filhos etc. E entre uma conversa em tatibitate e outra
com um franguinho à porta do galinheiro, perguntei como ela tinha coragem de matar se tratava
com tanto amor aquelas aves. A resposta
foi simplória e profunda: ‘é só não dar nome, nome anima’.
Mas
depois de morta e destrinchada, eram tantas partes que rendia uma galinha que
minha mãe sempre agradecia a generosidade e a tratava com respeito do começo ao
fim. Como o meu avô, ela também não
gostava que fizéssemos apostas com o osso da sorte: ‘com comida, não se joga’. Claro que fazíamos escondidos. O conhecimento da anatomia da ave, a faca bem
afiada e a destreza pra usá-la resultavam em pedaços limpos, sem fiapos de
carne, pele ou osso. E era também disso que ela reclamava do frango de granja –
pele solta, rasgada e molenga. No frango
caipira cada peça tem lá seu pedaço de pele bem colada.
Já
na panela, sempre de ferro, sempre larga, sempre para uma só ave, a própria
gordura da barriga frigia junto com alho socado e óleo. E ali ela ia ajeitando os pedaços, um a um,
de modo que encostassem todos ou quase todos no fundo da panela. Apenas o
fígado ficava para mais tarde que era para não cozinhar demais e manchar o
molho. Se bem que ela não precisava se preocupar com isto pois, independente do
momento em que era colocado na panela, cerca de
cinco minutos depois alguém dos filhos já o tinha roubado, ainda
vermelho por dentro, com um pouco do
molho recém-formado para comer com pão.
E a panela continuava a chiar o tempo todo. Diferente do frango de
granja que solta aquela aguaceira quando
aquecido, o caipira é sequinho, vai fritado sem molhar, chiando, chiando.
E
quando todos os pedaços estavam dourados, polvilhava por cima o colorau que ela mesma preparava, sem mexer
– a tintura do tempero impregnava na pele só com o vapor, sem diluir. Em seguida, um chiado maior acontecia - um pouco de água quente era jogado pela
lateral da panela, nunca sobre o frango que era pra não lavar o tempero e a cor.
E assim ela ficava ali por perto do fogo
como uma galinha a chocar que não sai do ninho. O fundo da panela começava a secar e ela jogava mais um pouco de água
quente pela lateral. Ia cozinhando
assim, panela tampada, fogo manso, pouca
água, quase como a confitar, sem deixar queimar o fundo. Quando percebia que a
pele estava macia, cutucava com um garfo a asa.
Se a asa está macia, é sinal de
que todo o resto também está. Juntava outro tanto de água pela lateral da
panela, agora um pouco mais, esperava alguns minutos até formar um molho
avermelhado e aí sim colocava folhas de alfavaca, cebolas em rodelas, pedaços
de pimenta cambuci ou pimentão vermelho ou pimenta dedo-de-moça sem semente.
Tampava e cozinhava mais uns dez minutos, só para amolecer a cebola e pimentas.
Não coloca estes temperos antes para que não derretessem.
Uma
coisa que jamais fazia era juntar ao frango legumes como batata. As batatas
ficam deliciosas, dizia, mas o frango, coitado, tem todo o sabor roubado por
elas. Na hora de desligar o fogo, sempre
o mesmo pedido em forma de pergunta para quem estivesse por perto: ô menina,
você não quer ir ali à horta buscar um pouco de salsa e cebolinha pra mim?
Invariavelmente a resposta de qualquer das filhas era em tom de brincadeira:
não, não quero.., mas eu vou. Nada de
cheiro-verde colhido antes, guardado em geladeira, picado em mise en place. Ela dizia que salsa perde metade do perfume
quando sai da terra e que o resto acaba se você picar muito antes de usar. Cheia das sabedorias que aprendeu com a vida.
Na
hora de comer, o frango se multiplicava – ela sabia das coisas quando separava
coxa de sobrecoxa ou dividia o peito em quatro. Se surgia uma visita bem na hora da comida, era
bem provável que ainda pudesse encontrar um curanchim com o delicioso molho
para comer com arroz. A menos que eu estivesse presente, pois nunca deixei
restar pé sobre pé, roendo até os últimos ossos.
E
assim, tenho em mim o que ela me ensinou mas também o lamento por ter ido
embora cedo demais, me deixando a sensação de que vou roer ossinhos eternamente
em busca daquele molho perdido, mesmo quando houver carne.
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O
frango caipira que usei teve abate um pouco diferente do que minha mãe
praticava, mas pescoço com sangue também é bom apesar de manchar um pouco o
molho.
Frango ensopado da
Dona Olga
4
colheres (sopa) de óleo
4 dentes de alho socados com 1 colher (sopa) rasa de sal
1 frango caipira limpo e cortado em pedaços pelas juntas
1 colher (sopa) rasa de colorau
2 pimentas dedo-de-moça, sem sementes e picadas
1 cebola cortada em rodelas
4 dentes de alho socados com 1 colher (sopa) rasa de sal
1 frango caipira limpo e cortado em pedaços pelas juntas
1 colher (sopa) rasa de colorau
2 pimentas dedo-de-moça, sem sementes e picadas
1 cebola cortada em rodelas
10
folhas de alfavaca
1 xícara (chá) de cheiro-verde picado na hora
1 xícara (chá) de cheiro-verde picado na hora
Numa
panela de ferro grande, aqueça o óleo e doure o alho. Cuidado para não queimar.
Junte todos os pedaços de frango (reserve apenas o fígado). Refogue até dourar,
virando os pedaços de vez em quando com
cuidado. Quando todos os pedaços estiverem dourados, polvilhe por cima o
colorau e, sem mexer, despeje água quente aos poucos pela lateral da panela.
Junte mais, da mesma forma, à medida que o líquido for secando, até a carne
ficar macia. Certifique-se espetando a asa – se ela está cozida, o restante do
frango também estará (levará 40 minutos ou pouco mais, dependendo da idade da
ave). Acrescente o fígado reservado, a pimenta, a cebola e a alfavaca. Cozinhe por mais dez minutos, juntando mais
água quente, se for preciso, para formar um molho grosso – sempre pela lateral
da panela. Desligue o fogo, coloque o
cheiro-verde e sirva com arroz, polenta ou macarronada.
Rende:
de 6 a 8 porções