quarta-feira, 27 de julho de 2011

Coador de seringueiro

Se acomoda em qualquer recipiente, sem precisar de mariquinha, é fácil de
carregar,  fácil de trocar o pano, fácil de secar e fácil de guardar.
Trouxe uns de presente. 


Já falei aqui do café na mariquinha e do café da roça, portanto muita gente sabe que eu prefiro café de coador.

Lá em Acrelândia eu e o Pablo éramos os primeiros a levantar, mas o café ficava por minha conta. Na primeira manhã encontrei duas opções para o feito - uma cafeteira tipo francesa (da Bolívia) e uma cafeteira elétrica de mesma origem. Acabei optando pela primeira embora não tenha muita paciência para pressionar o êmbolo. Em seguida chegou a Maria com um coador de pano de design intrigante, que depois eu veria em todos as casas e mercados. Rapidinho um novo café estava pronto. Fiquei impressionada com a eficiência da baixa tecnologia.

Posso estar errada, mas nada me tira da ideia de que o apetrecho nasceu de uma necessidade num alojamento no seringal, quando um seringueiro, que se levanta ainda cansado e sonolento na alta madrugada, depois de lavar a cara no corguinho, conferir as picadas de carapanã, juntar a cuia e outras tralhas para a lida, se acocora para acender o fogo e ajeitar a lata de água para ferver, procura que procura o coador em trapos e percebe que algum desgraçado o levou do girau. A farofa de caça pra acompanhar já é pouca - mais farinha puba que bicho, o café vinha raleando dia-a-dia e agora encher a boca de pó, nem pensar, José. Pensou, pensou, campeou por uma ideia pelo entorno e lá no varal atrás da luz fraca da lamparina sombreou-se um par de meias encardidas mas limpas, ou limpas meio encardidas. Melhor uma bolha no pé roçado pela galocha de látex que a boca cheia de pó, ah, isto não. E também seria num pé só. Não teve dúvida, tirou o canivete da algibeira, meteu na meia um rasgo de cada lado e espetou nas beiradas dois pauzinhos da forquilha. Ficou feliz e sastifeito porque agora podia enrolar o coador e levar no bolso pra ninguém roubar. E assim se fez este coador de seringueiro, que julgo um bom nome.  Ou será que tudo isto aconteceu no garimpo?  

14 comentários:

  1. Neide,
    Você tem a imaginação de uma escritora de romances ...mas que é bem verossímel, isto é ... Até a minha adolescência, na minha casa o coador era de pano mesmo (geralmente flanela)... antes de ser usado na primeira vez, era fervido com pó de café, para eliminar o gosto de "pano novo"..
    marlene

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  2. Neide,Bom Dia !
    Sabes esse saco de coar café se origina do Ceará,aliás como todo o Acre.(é justo e certo que o RS contribuiu um pouco nessa luta com Placido de Castro)A epopéia de conquista do Acre ,basicamente se deve ao Judeu Brasileiro(o Cearense) que conquistou definitivamente para o Brasil e povoou aquele pedaço de terra esquecido e desconhecido de quase todos.
    A Angela disse que "se não é verdadeiro..."De fato, não é verdadeiramente acreano.Esse saco coador,cujos pauzinhos são enrrolados enquanto passa-se o café é "genuínamente" cearense. É claro que os outros estados do NE também reinvidicam essa paternidade,injustamente.

    Att,
    JAT
    Post Scriptum:
    Te acrescentei no meu Blog,como referência culinaria e naturalmente diversidade gastronômica
    À Bientôt
    www.tubaltrentino.blogspot

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    1. Olá Jaques, eu moro no RS e ao buscar uma imagem desse coador (indicado por uma amiga de Fortaleza), encontrei aqui no blog da Neide e também me interessei por saber mais sobre a história dele. Adoro a história das coisas!

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  3. Angela, acho que não é vero!

    Marlene, meus coadores são de flanela até hoje, mas o suporte é redondo e nem sempre dá certo na boca da mariquinha, bule ou garrafa.

    JAT, obrigada, realmente não conhecia este tipo de coador, assim como infelizmente não conheço o Ceará, e fico feliz de saber a origem. Você tem algum material a respeito (do coador) que possa me mandar?

    Um abraço, N

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  4. Angela, acho que não é vero!

    Marlene, meus coadores são de flanela até hoje, mas o suporte é redondo e nem sempre dá certo na boca da mariquinha, bule ou garrafa.

    JAT, obrigada, realmente não conhecia este tipo de coador, assim como infelizmente não conheço o Ceará, e fico feliz de saber a origem. Você tem algum material a respeito (do coador) que possa me mandar?

    Um abraço, N

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  5. Você e sua imaginação incrível. Adorei e, como num filme, vi tudinho acontecer pelas suas palavras.
    E sabe a aula de sábado, mandei mil e quarenta e sete e-mails pra organização do evento, preenchi o formulário que disponibilizaram na internet, no site deles, insisti, mandei e-mail de novo e nada. Nunca ninguém me respondeu e não consegui me inscrever pra te assitir. Uma pena.
    Se você souber que ainda tem alguma vaguinha, me avisa?
    Um beijo,
    Juliana.

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  6. Juliana,
    que pena, vou ver o que está acontecendo. Obrigada, um abraço, N

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  7. Olha só que criatividade não é só com panelas!
    Amei o coador e achei fácil de fazer c/ malha, morim.
    Bom pro bolso, bom pra natureza.
    Abs.
    Ana Maria

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  8. Eita imaginaçãozinha danada de fértil!!!!Adorei a hipótese.A realidade pode ser outra, mas duvido que seja mais criativa.
    Bjs

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  9. Neide, amei o coador e concordo com a Marlene e a Juliana, a sua maneira de escrever faz a gente viajar, assim como quando lemos um livro ou assistimos um filme. Quem sabe essas crônicas do come-se não viram um livro num futuro próximo?! Tomara!
    Bjs

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  10. OI NEIDE!!!! Oba, eu quero um...já que voce trouxe alguns extras na mala..quem sabe voce traz no dia do nosso bolo? Dri haddad

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  11. Olá tudo bem? Estou louca atrás desse coador, aqui em São Paulo não encontro e nem na internet..onde compro ele?beinos obrigada...haaaa..o texto foi maravilhoso..deve ter sido desse jeitim mesmo...beijos

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  12. Vi este coador sendo usado pela personagem Donana de Pão Pão Beijo Beijo que está sendo reapresentada pelo canal Viva! Ela é migrante cearense e passa o café para as visitas...Na cena ela coloca o pó, mistura e no final ela enrola as madeirinhas em torno da flanela para coar o máximo o cafezinho...Achei maravilhoso, pois assisti esta novela quando era criança e me deu muita vontade de ter este coador para eu comprar! Sou de São Paulo e vai ser difícil encontrar este produto...❤️😃

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