quinta-feira, 11 de junho de 2009

O dia em que o editor da Saveur almoçou na minha casa


James Oseland no Mercado da Lapa. Ele queria ver um mercado de povo, não turístico, por isto sugeri o da Lapa. Acho que gostou, pelo menos tirou muitas fotos.
Tudo começou com os milhões de emails pra ler e responder quando voltei de Porto Alegre. No primeiro dia só respondi aos mais emergentes e de remententes conhecidos; no segundo, de leitores do blog e de gente querendo kefir. No terceiro, cliquei para excluir as mensagens em inglês que me pedem favores em troca de recompensa milionária e os que prometem o aumento de peças do corpo que não tenho. Já estava excluindo quando li rapidamente a palavra Saveur.
Era o James Oseland dizendo que estava no Brasil e que queria visitar um mercado comigo. Ele estava indo para Poços de Caldas e depois viria para o evento do Paladar. Respondi que tudo bem, mas que não poderia no sábado porque teria que preparar a aula de domingo.
Conversei com a Giovana Tucci, do Paladar (a mesma que fez a matéria comigo, que saiu na revista dele) e ficamos de combinar tudo no dia do coquetel. Estava eu lá conversando com a minha amiga Mônica Manir quando ele chegou de repente e efusivo sem ninguém me apontar, dizendo ter me reconhecido pela foto da revista. Como meu inglês é uma porcaria, conversamos numa prosa esquisita mas alegre e empática. E foi o que bastou para que eu aceitasse sacrificar o preparo da aula de amargos no sábado para passar quase o dia todo com ele e a Giovana, que é uma graça de gente.
Assim que chegaram aqui com o carro do Estadão, sugeri que fôssemos de trem, que é como normalmente vou, e ele aceitou na hora. Na estação, vendo o trem chegar, correu como todo mundo faz. E tirou fotos das pessoas. Diz que em Nova Iorque pega metrô todos os dias para ir ao trabalho.
E já chegou ao Mercado animado. Sacou sua super câmera da bolsa e não parou de disparar. Gente, fruta, carne, peixe, tudo. Andando e clicando ao mesmo tempo, como uma metralhadora. Paramos na banca da Marli para tomar suco de cupuaçu e outras frutas amazônicas em polpa, e ela foi trazendo tudo para o moço: cocada, castanha de caju, doce de abóbora, quebra-queixo, pavê, outros super doces e até a netinha para perguntar "what´s your name?".
Como era antes do almoço, quis saber o que ele preferia: sair de lá depois e ir comer em algum restaurante ou comprar o que quisesse experimentar e preparar aqui em casa. Nem titubeou. Preferiu vir comer aqui. Compramos maxixe, jiló, canjiquinha, lambari, mandioca e couve tinha aqui.

Antes, passamos no Ceagesp, mas a feira estava no fim. Fotografou algumas coisas, juntamos moedas pra comprar pimentas e depois voltamos para casa. E não pense que ficou olhando e fotografando o preparo, não. Ele botou mesmo a mão na massa. Picou a couve finamente, melhor que muita mineira por aí. E ainda o alho, a cebola, as pimentas, os cheiros todos. Nunca imaginei um auxiliar tão gabaritado servindo nesta humilde cozinha. Até a Giovana entrou na dança e preparou uma salada de ora-pro-nobis com tomate.
Fiquei feliz por não ser daqueles americanos que pensam que aqui só temos caipirinha e feijoada, que, por sinal, com este friozinho.... bom demais. Ele estava em busca de comida simples, de casa. Conhece ingredientes nossos e quer saber mais. Nem quis beber, por isto só fiz uma limoneide de limão rosa. E foi isto. Comeu, fotografou e me deixou totalmente à vontade. É um cara leve, agradável, culto e sabe como não ser arrogante, não contranger, te deixar à vontade. É um tipo curioso do jeito que eu gosto. Até a Dendê não sabia o que fazer de tanta alegria com o rapaz: se mijava em seus pés, se puxava suas calças, se pedia colo. Quando ele foi embora ela se aquietou de um jeito que deu até raiva.
Foi uma farra boa e uma ótima distração para um dia que teoricamente deveria ter sido de puro estresse (que é como fico pré-aula). Se eu tivesse sabido uma semana antes que ele viria almoçar em casa, não teria dado tão certo. Imagine o estresse da aula somado com a responsabilidade de preparar um menu para um editor da Saveur. Sem falar na arrumação da casa. Iria querer trocar o tapete, pintar a parede desgastada, passar guardanapos, comprar vinho. Assim, do jeito que foi, todos assumimos os riscos.
Só fiquei chateada porque ele voltou no domingo ao Ceagesp pra fazer fotos e não o deixaram, como se sua máquina fosse uma arma. Coisas do Brasil (e ele só queria divulgar aquela boniteza colorida de nossas frutas e verduras).
Como não levo o mínimo jeito pra tiete, tirei só estas poucas fotos. Mas deve sair hoje alguma coisa no caderno impresso do Paladar, do Estadão, nas bancas. Ainda não vi, mas já me contaram. Veja lá.


O Marcos chegou de um congresso para almoçar e encontrou a casa em polvorosa. Mas agiu como se fosse um amigo meu como qualquer outro. Não quis nem saber, gostou do moço, bateu um pratão e se mandou


O prato do James era mais ou menos isto. Faltou aqui a mandioca que, colaborativa, derretia sob a manteiga mole, que ele adorou


O James tem um ar tão simpático que, no Ceagesp, este menino com pirulito verde radioativo o cutucou e pediu: moço, minha irmãzinha quer que o senhor tire foto dela. Ele só entendeu depois que eu atendi ao pedido da duplinha. Também veio e fotografou.

15 comentários:

  1. oi, adoro seu blog! moro nos estados unidos e tava vendo seu ultimo post e tava pensando... como voce faz pra fazer um peixe fritinho assim? e tambem, como se chama esse peixe? obrigada, adriana.

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  2. Oi, Adriana,
    o peixinho é o lambari. O jeito de fazer é o mais simples possível. Basta temperar com sal, pimenta e, se quiser, umas gotas de limão e alho socado. Depois passe por farinha de trigo misturada na mesma proporção com farinha de mandioca (ou só farinha de trigo, ou só fubá). O James me ensinou a temperar com um pouquinho de cúrcuma e ficou ótimo.
    Um abraço,
    N

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  3. Ah, Adriana, depois tem que fritar em bastante óleo quente (óleo que cubra os peixinhos). Isto vale para qualquer outro peixe pequeno.

    Um abraço, n

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  4. Neide, tb eu acabei de ler no Paladar a reportagem sobre esta sua aventura e corri aqui para ca para lhe avisar: um pouco tarde, é obvio...rss
    Pq terminei dando de cara com o seu proprio relato da coisa toda.
    Pq é incrivel: coisas assim, sò dao super certo se saem de sopetao,no improviso total.
    Sò pq cheias de autenticidade e simplicidade, unidas à vontade e ao empenho para que de tudo certo!
    Viu sò como vc tira de letra qq dificuldade?...
    Achei tudo o que li super bacana: parabéns!
    Eu penso que se fosse estado comigo, eu teria ficado, no minimo, paralisada...!
    Hihihi.

    Bjs!

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  5. I don't read Portuguese but the photos tell it all. James sent me the link and it's obvious that he had a great time at your home. The food is beautiful and surely delicious!

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  6. Neide,
    Eita, que você tá chique demais da
    conta (mas merece tudo isso)!

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  7. Neide.
    Hoje li, com prazer, o suplemento Paladar.E vi que vc foi mencionada em várias oportunidades.
    Sempre admirei a tua curiosidade, a tua generosidade, sem falar dessa energia tão produtiva.
    Parabéns!!!. Bj. Denise Abdalla.

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  8. obrigadissima! vou fazer em breve. Adriana

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  9. Menina, que maravilha está o caderno Paladar deste feriado! Sucesso merecido. Você é a estrela mais citada, ganha de Troigros & cia!

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  10. AIIIIIIIIIIIII

    ADOREI!!!

    E DEPOIS DE COMER FORMIGAS O AMARGO GANHOU AÇUCAR!!!

    CHEGA A SER POÉTICO!!

    VOLTO PARA MINHA TERRA NATAL EM BREVE PARA AS FÉRIAS, AGORA JÁ SEI: JURUBEBA NO MERCADO MUNICIPAL DE PIRACICABA, ESTOU COMPLETAMENTE ENSANDECIDA PARA PROVAR!!!

    ARRASA!!!

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  11. Oi Neide,
    Parabéns pelo blog todo. Vc é realmente muito especial. Simples, honesta, e faz o que gosta. É isso. Pode até ser o improviso, mas deu tudo certo pelo que vc é.
    abraços
    madoka

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  12. Neide, adorei te conhecer lá na palestra do Paladar, mesmo que só um pouquinho. Vou colocar um post sobre a aula depois, mesmo atrasada, acho que vale a pena. Teu blog é de um capricho que dá gosto de ver. Parabéns. O relato do almoço está uma delícia. Parabéns por tudo, pelo blog, pelo teu trabalho e por você ser do jeito que é. Um grande abraço, Jussara

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  13. Não ia comentar. Mas achei dez esse texto, principalmente, e sem prejuízo do resto, o comentário sôbre o lixo nos emails. Ah lambari frito, a última vez que comi foi lá atrás no século passado. Que inveja!

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  14. Fantástico... sem mais palavras!!! Beijos

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