Por acaso nasceu espontaneamente um pé de assa-peixe (Vernonia polyanthes provavelmente ou outra do gênero) em frente à saída dos fundos da minha casa. Por coincidência, peguei uma gripe que me atacou a garganta, com muita tosse. Ou seja, por obra do destino, o remédio bateu à minha porta.
Minhas gripes nunca me derrubam, nunca me dão febre. Geralmente é só tosse que pode durar mais de um mês. Passei uma noite sem dormir de tanto tossir e pela manhã resolvi fazer um chá com as folhas, já sabendo que são ótimas para resfriados, gripes, problemas pulmonares e tosses em geral. Fiz o chá com folhas de manjericão-cravo pra ficar gostoso e ficou. Tomei uns 2 litros durante o dia e foi como tirar com as mãos, como dizem. Na segunda-noite não tossi quase nada. E na terceira, depois de continuar tomando mais chá (no segundo dia já acrescentei outras ervas por minha conta e risco: perpétua do mato, folha de canela, guaco e manjericão-cravo), dormi como anjo. O fato é que foi a primeira vez que vi uma tosse minha ser trucidada em poucos dias.
Fiquei tão encantada com as folhas que resolvi comê-las também. Não é invenção minha, claro. Só resolvi porque já vi muitas referências. Em Minas as folhas novinhas, passadas no ovo como fubá e fritas são chamadas de "lambari-do-mato". Não confundir com a folha folhinha chamada de peixinho e preparada do mesmo modo. Elas não têm sabor de peixe, mas o aspecto do preparo é sugestivo. As folhas fritas lembram mesmo peixinhos fritos.
Resolvi, no entanto, preparar de outra forma. Como no sítio temos vários pés de assa-peixe, não foi difícil reunir um maço de folhas bem jovens. . Refoguei com cebola antes de acrescentar o arroz para cozinhar. Um arroz bem molinho, com tomate picado e azeite no final, ficou com cara de arroz malandrinho, com as folhas bem macias e sabor suave.
Hoje encontrei um pé com folhas tenras na praça - como os jardineiros estão sempre passando, a planta é sempre podada e, portanto, sempre tem folhas novas. Colhi um tanto e preparei com leite de coco, sem receita sem nada. Achei que ficaria bom e ficou.
Assa-peixe no leite de coco
Refogue alho, cebola e pimenta em azeite. Acrescente folhas jovens sem os galhos de assa-peixe e tomate picado. Misture bem, junte um pouco de batata picada, sal a gosto e uma pitada de cúrcuma. Acrescente água quente suficiente para cobrir. Abaixe o fogo e deixe cozinhar por uns 20 minutos, acrescentando mais água se necessário, até folhas e batatas estarem macias. Junte um pouco de leite de coco no final. Espere ferver, prove, corrija o tempero se necessário e, antes de servir, espalhe umas gotas de suco de limão. Sirva com arroz e nhac!
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terça-feira, 24 de abril de 2018
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Pão de taioba com cúrcuma
Só para constar, já que por aqui há outro pão de taioba. Este, fiz igualzinho ao pão de fruta-pão, só que em vez de colocar fruta-pão coloquei taioba cozida e espremida. Cerca de 200 g. A água, fui corrigindo até ficar uma massa maleável, macia.
Aqui, então, os ingredientes. O modo de preparo, você vê lá no link acima mencionado.
Pão de taioba com cúrcuma
200 g de levain reformado (para quem não tem, agora pode ir buscar o seu no Instituto Feira Livre, no Centro - é só levar um potinho para pegar uma porção)
200 g de taioba cozida e espremida
10 g de sal
1 pitada de cúrcuma
Água o quanto baste - certamente mais que 200 ml - comece com esta quantidade e vá aumentando até chegar ao ponto (massa macia, grudenta como a de pão de queijo)
500 g de farinha de trigo (eu uso orgânica da Paullinia ou Biorgânica - que tem também no Instituto Feira Livre)
Antes de colocar para assar na panela super quente, fiz um cortes com lâmina para formar desenhos |
E nhac! |
Pancnacity na Aldeia Guarani
Cúrcuma numa horta ainda vazia |
Tão perto de nós há sempre uma aldeia. Mas sempre insistimos em fantasiar uma ideia. A realidade bem crua de uma aldeia Guarani confinada em apenas 3 hectares aos pés do Pico do Jaraguá mora bem perto dos bairros nobres da Zona Oeste de São Paulo. E foi com alegria que aceitei do convite da nutricionista Rose, da Unidade Básica de Saúde, para fazer uma atividade com as mães no sentido de incentivá-las a usar mais os alimentos que crescem por ali, sejam espontâneos ou plantados. Taioba, mamão verde, ora-pro-nobis, língua-de-vaca, chuchu, broto de chuchu, caruru etc.
Há mães muito jovens com 15, 16 anos, que esperam conseguir criar as crianças de forma mais saudável, ainda que tenham se distanciado da alimentação tradicional Guarani, à base de milho, batata-doce, mandioca, peixes e carnes de caça, por exemplo. Não há terra suficiente para consigam prescindir dos alimentos industrializados que na cultura deles são "alimentos mortos", em contraposição aos alimentos vivos que são os que vêm direto da terra ou da água.
Foi uma atividade curta, simples, mas acompanhada com interesse pelas mães presentes. Não ensinei nada, apenas mostrei e esperei que me contassem se usavam, se não usavam, como usavam. Fiquei sabendo, por exemplo, que a folha de cúrcuma é usada no lugar das folhas de caetés para fazer Mbyta - bolo de milho com folha por baixo e folha por cima, assado na brasa. Para a massa, apenas milho ralado. Já tinha comido em folha de caeté, mas na de cúrcuma também fica muito bom e perfumado - fiz assim que cheguei em casa, mas assei na torradeira.
Um pequeno espaço para horta |
Algumas espécies colhidas |
Caruru ou bredo |
Língua de vaca |
Pico do Jaraguá ao fundo |
Vendedor de pão francês |
Mamão |
Rose, onde fizemos a atividade - ao lado do posto da UBS |
No final, elas quiseram levara algumas espécies para experimentar |
segunda-feira, 16 de abril de 2018
Bucha verde é Panc
Ultimamente não temos produzido muita coisa no sítio, mas pelo alimentados e limpos estaremos por um bom tempo, pois nosso pé de bucha, depois que encontrou um alambrado pra subir, desembestou a frutificar e assim vamos comendo enquanto elas não ficam fibrosas a ponto de virar buchas de banho.
Já falei delas como alimento aqui neste post de 2010, antes que fosse agrupada no rol das Panc - Plantas Alimentícias Não Convencionais.
Bem, elas são suaves como abobrinhas e hoje resolvi empaná-las e fritá-las como tal. Aproveitei para usar um pouco do cogumelo yanomami Sonöma em pó - estão à venda no Box Amazônia, no Mercado de Pinheiros, em São Paulo/SP - Rua Pedro Cristi, 89, Pinheiros. Tel.: 11 3032.0875. Ninguém diz que não é abobrinha frita.
Neste fim de semana, no sítio, fiz as fatias refogadas com molho de soja e cebolinha e também ficaram bem gostosas.
Aqui vai a receita:
Fatias de bucha-verde empanadas em farinha de grão de bico com cogumelos Yanomami
3 buchas verdes e tenras
1/4 de xícara de farinha de grão de bico
2 colheres (sopa) de cogumelos Yanomami em pó
Água o quanto baste
Óleo para fritar
1 colher (chá) de sal
1 pitada de pimenta jiquitaia (pimenta seca em pó)
Lave as buchas, seque bem e corte-as em fatias finas. À parte, misture a farinha, o cogumelo e água gelada aos poucos até formar uma massa fina como a de panqueca. Aqueça óleo numa panela e faça fritura de imersão. Vá passando as fatias na massa e colocando no óleo quente. Retire assim que dourar e deixe escorrer numa cesta de arame. Na hora de servir polvilhe sal e pimenta jiquitaia. Se quiser, acrescente um pouco de cogumelo em pó.
Rende: 4 porções
Já falei delas como alimento aqui neste post de 2010, antes que fosse agrupada no rol das Panc - Plantas Alimentícias Não Convencionais.
Bem, elas são suaves como abobrinhas e hoje resolvi empaná-las e fritá-las como tal. Aproveitei para usar um pouco do cogumelo yanomami Sonöma em pó - estão à venda no Box Amazônia, no Mercado de Pinheiros, em São Paulo/SP - Rua Pedro Cristi, 89, Pinheiros. Tel.: 11 3032.0875. Ninguém diz que não é abobrinha frita.
Neste fim de semana, no sítio, fiz as fatias refogadas com molho de soja e cebolinha e também ficaram bem gostosas.
Bem novinhas, refogadas com um pouco de shoyu e cebolinha, no final. |
Fatias de bucha-verde empanadas em farinha de grão de bico com cogumelos Yanomami
3 buchas verdes e tenras
1/4 de xícara de farinha de grão de bico
2 colheres (sopa) de cogumelos Yanomami em pó
Água o quanto baste
Óleo para fritar
1 colher (chá) de sal
1 pitada de pimenta jiquitaia (pimenta seca em pó)
Lave as buchas, seque bem e corte-as em fatias finas. À parte, misture a farinha, o cogumelo e água gelada aos poucos até formar uma massa fina como a de panqueca. Aqueça óleo numa panela e faça fritura de imersão. Vá passando as fatias na massa e colocando no óleo quente. Retire assim que dourar e deixe escorrer numa cesta de arame. Na hora de servir polvilhe sal e pimenta jiquitaia. Se quiser, acrescente um pouco de cogumelo em pó.
Rende: 4 porções
Lá no sítio, em Piracaia |
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Pão de fruta-pão
Continuação do post anterior.
PÃO DE FRUTA-PÃO
200
g de levain reformado e borbulhante*
200
g de fruta-pão cozida
200
ml de água – corrija na hora de fazer de acordo com a umidade do legume e a marca da farinha usada
½
colher (sopa) ou 10 g de sal
500
g de farinha branca (prefira Paullinia ou Biorgânica - procure no Instituto Feira Livre ou Instituto Chão)**
**variação
– 300 g de farinha branca + 200 g de farinha integral ou de centeio. Corrigir a
água. Se quiser, acrescente nozes etc
Bata no liquidificador o levain e a fruta-pão com a água. Passe para uma tigela e junte a farinha de trigo de uma só vez. Vá acrescentando mais água
se for preciso para fazer uma massa homogênea e um pouco pegajosa como massa de
pão de queijo.
Passe para uma tigela
de vidro ou plástico limpa e untada com azeite, feche bem e espere 30 minutos.
Faça dobras na
massa, espichando e dobrando para cima como se fosse um embrulho. Espere meia hora. Neste momento, se quiser, pode sovar por 10
min, na batedeira com gancho.
Repita as dobras.
Cubra e espere 30 minutos.
Repita as dobras.
Cubra e espere 30 minutos.
Modele e coloque
numa cestinha com pano enfarinhado. Cubra com plástico e espere crescer por
cerca de 2 horas ou até que ao enfiar o dedo a massa retorne rapidamente à
posição inicial.
Preaqueça o forno a
250 ºC (e, dentro dele, uma panela de ferro / barro e sua tampa, se for usar)
Coloque a massa na
panela (só enfarinhada), tampe e deixe assar por 20 minutos.
Destampe, abaixe a
temperatura para 230 ºC e deixe assar mais 20 ou 30 minutos.
A depender da temperatura ambiente - em dias mais quentes, pode fazer
mais dobras e com intervalo menor – no mínimo de 10 minutos.
Para responder às suas dúvidas sobre o levain e a técnica de assar com vapor, com ou sem panela, veja a postagem sobre o levain do zero ao pão
rústico:
Para ver a postagem sobre o pão de forma - para quem não tenha um forno que aqueça a 250 ºC: https://come-se.blogspot.com.br/2017/05/pao-de-forma-integral-com-fermentacao.html
E aqui, outros pães de forma com legumes:
50 g de isca que estava na geladeira
100 ml de água
150 g de farinha de trigo branca, de preferência orgânica
Usar 200 g e guardar o restante na geladeira de isca
Tire a isca da geladeira, dilua com a água em temperatura ambiente, acrescente a farinha, misture bem pra ficar uma massa pastosa. Se precisar, junte mais água ou mais farinha. Feche com plástico e espere fermentar em temperatura ambiente até ficar borbulhante. Use a quantidade que precisa e guarde o restante em pote fechado na geladeira (deixe sempre pelo menos 50 g).
Caso precise de mais levain (para um pão maior), basta aumentar farinha e água da reforma e esperar fermentar. Espere ficar bem aerado (em tempo de calor, deve demorar umas 6 horas) e use em até 24 horas (com o passar do tempo aumentam as chances de estragar fora da geladeira).
Mesmo que o fermento cresça e abaixe, em até 24 horas depois de reformado, ainda estará bom para usar, sem precisar reformar. Guarde a isca sempre na geladeira, em vidro fechado com plástico e elástico ou com tampa de rosca mas sem rosquear totalmente.
Fruta-pão. Coluna Nhac do caderno Paladar. Edição de 12 de abril de 2018
Hoje tem coluna minha no caderno Paladar do jornal O Estadão. Está no site do caderno e também aqui:
No próximo post, pão de fruta-pão
Já começando a amadurecer e |
FRUTA-PÃO
Ela sempre vem comigo na mala, não
da Malásia, um dos prováveis lugares de origem, mas das viagens em tempo de
sorte por aqui mesmo, terra onde tão bem se adaptou, especialmente na costa
litorânea quente e úmida que vai do litoral norte de São Paulo até o Pará. Considero-me sortuda quando nossos momentos
coincidem, ainda que ela frutifique durante quase todo o ano, com dois picos de
safras. A bagagem de ida tem que ir com pelo menos três quilos de folga para
caber ao menos uma fruta na volta. Sim, elas podem atingir 3 quilos ou até
mais.
No último mês fui duas vezes para
a Bahia e na feira de São Joaquim, em Salvador, pude escolher sem pressa já que
havia para todo o gosto – verdes, maduras, mais cilíndricas, mais compridas. As
boas para cozinhar são as verdes claras, de pele esticada, firmes ao toque –
mas vale lembrar que são comestíveis em qualquer estágio. Já em Gandu, no Baixo
Sul da Bahia, fiquei impressionada com a beleza e a abundância de frutos muito
frescos dispostos sobre papelões espalhados pelo chão nos limites da feira da
cidade, compondo quadros tropicais com bananas-da-terra, jacas, araticuns,
cocos e inhames.
Como a banana, o mamão e a jaca,
por exemplo, a fruta-pão, Artocarpus
altilis, pode ser preparada e
consumida como legume quando verde ou como fruta doce e macia que se come crua.
Porém, diferente das primeiras, seu estágio mais convencional é o verde e o uso
mais comum é como legume cozido. Pelo
menos entre nós. É só cortar em pedaços, tirar o miolo e cozinhar em água levemente
salgada até amaciar. Cerca de 15 minutos bastam. Vapor, forno
e brasa também funcionam.
Como a consistência amilácea e
sabor neutro da polpa da fruta verde depois de cozida faz lembrar aipim ou
macaxeira, é um ótimo substituto para o pão, como presume o nome e também era
mesmo de esperar seu emprego em nhoques, escondidinhos, sopas, purês, bolos e
bolinhos, como de fato acontece. Mas na cidade de Gandu são preparados outros
pratos com ele, como a paçoca e o Lelê.
Originalmente, o lelê é feito com canjiquinha de milho, leite de coco, açúcar e
cravo. Cozido como um manjar, deixa-se firmar e corta-se em pedaços. Com a
fruta-pão se faz igual, porém no lugar do milho entra sua polpa. A paçoca doce também é tradição - feita com a polpa da fruta verde cozida e
machucada à qual se junta coco ralado fresco e açúcar. Além destes, há vários pratos baianos
adaptados para a fruta-pão. Vatapá, moqueca, sopa e bolinhos fritos são
exemplos salgados.
Se por aqui adaptações não faltam,
imagine a imensidão de técnicas de preparo e receitas que encontramos em seus
locais de origem (Indomalásia e Malásia) ou em outros países para onde a planta
foi levada. A busca da espécie pelos
ingleses para levar às colônias recém conquistadas nas Antilhas, no século
XVIII, como comida barata e nutritiva para alimentar escravos, foi uma epopeia
que virou filme – O Grande Motim, 1962.
Na Jamaica, onde estas mudas foram plantadas e adaptadas, as frutas
costumam ser sapecadas sobre brasas para cozinhar e abrandar a polpa, como se
faz também no Taiti. Além de ganhar
maciez, adquire sabor defumado muito bom – foi este o destino de uma das que
vieram na minha bagagem, de Gandu. Basta colocar a fruta inteira sobre brasas e
ir virando até que a pele fique queimada. Depois, só precisa descascar, cortar
em pedaços e servir como acompanhamento de carnes e peixes, como ingrediente de
outros pratos ou simplesmente regada com manteiga.
No
Brasil, a planta foi introduzida a partir do Pará e Maranhão com o apelo de ser
uma boa fonte energética embalando boas doses de vitaminas e minerais. A planta
é rústica e produz rápido, em cerca de 3 anos ou até antes a depender da
técnica de enxerto. Sendo que um só fruto pode alimentar uma família de cinco
pessoas. Ou seja, este sim é um super alimento.
Atualmente é bem adaptada em
regiões tropicais quentes e úmidas. É uma planta rústica, com pouco problema de
pragas e chega a tolerar climas frios, mas não suporta geadas. Em São
Paulo, nunca vi a planta produzindo.
Mas, pelo menos agora, e só descobri isto nesta semana, encontrei a fruta pra
comprar em camelôs nos fundos do Mercado da Lapa.
Vivo a me lamentar de não ter esta
fruta por perto porque não basta substituí-la por mandioca ou qualquer outro
ingrediente rico em carboidratos – daí o nome fruta-pão. Ela tem um sabor único
e muito agradável que, em combinação com manteiga a derreter sobre seus pedaços
recém-cozidos, parece transcender a um outro patamar de gostosura. Outra razão para se querer ter a espécie por
perto é que a árvore é ornamental com lindas folhas recortadas que chegam a ter
o tamanho do tronco humano e são medicinais - usadas para acalmar dores reumáticas quando
colocadas aquecidas sobre o local dolorido. Com
elas podemos ainda embrulhar peixes para assar, à moda das folhas de bananeira,
ainda que sejam menos flexíveis.
Apesar de ser mais comum as frutas
sem sementes – ou com sementes atrofiadas, conhecidas como frutas de massa,
produzidas a partir de estacas, há plantas que dão frutos com muitos caroços,
oriundas de germinação de sementes. Destas, não se come a polpa, que não tem.
Em compensação, as sementes que carregam são como castanhas e, cozidas, são
mais apreciadas que as sementes de jaca, sua parente da família das Moráceas.
Elas são nutritivas, ricas em proteínas e podem virar farinha para substituir
parte do trigo em bolos e pães ou usada pura em mingaus.
E falando em farinha, a polpa da
fruta-pão verde também pode ser seca e transformada em pó. Esta farinha fina pode ser usada em vários
preparos sem glúten ou para substituir parte do trigo em pães. E as próprias fatias de fruta-pão podem ser
fatiadas bem finas e fritas. Fazem, assim, as vezes de tacos flexíveis e firmes
o suficiente para conter vários tipos de recheios.
A fruta se conserva verde e bonita
quando fresca – pode ser deixada dentro de uma bacia com água fria, para se
conservar assim por mais tempo. Escurece a casca ao ser refrigerada, mas não
perde a qualidade da polpa, e é um jeito de conservá-la por mais tempo se não
quiser que amadureça. Se amadurecer, não se preocupe, pois a fruta ganha outras
características como mais sabor, maciez e doçura. E assim pode ser consumida ao
natural ou usada para fazer sobremesas com sabor que sabe a abacate – cremes, bolos, pudins ou sorvetes. Se, no entanto, ela for esquecida fora da
geladeira e amadurecer demais, poderá fermentar e até aumentar a temperatura
interna. Ainda assim poderá ser usada para receitas doces com o acréscimo de
uma leve acidez. A tendência à rápida fermentação faz dela um excelente
ingrediente para uma versão de poi no
Havaí. O mais comum é fazer poi de
inhame-japonês (taro) – trata-se de um creme feito unicamente do inhame cozido,
transformado em pasta e deixado a fermentar. O poi de fruta-pão se faz da mesma forma. Como a mandioca, rica em
amido, também é um ingrediente promissor para bebidas fermentadas, como as cervejas que já são feitas no Havaí.
Para os bolinhos, fiz uma
combinação de dois ingredientes que costumam frequentar os mesmos ambientes,
com um chutney também bastante tropical.
Bolinho de fruta-pão com banana-da-terra com
chutney de coentro
Para os bolinhos
350 g de polpa de fruta-pão cozida
(na água, no vapor ou na brasa)
150 g de banana-da-terra cozida
1 colher (chá) rasa de sal
4 colheres (sopa) de salsinha
picada
4 colheres (sopa) de cebola roxa
picada
1 pimenta dedo-de-moça sem
sementes picada
1 pitada de grãos de cominho
tostado
Óleo de girassol para dourar
Para o chutney de coentro
1 e ½ xícara de coentro
1/3 de xícara de óleo de girassol
2 dentes de alho
1 pimenta dedo-de-moça sem
sementes picada
1/3 de xícara de amendoim torrado,
sem pele
½ colher (chá) de sal ou a gosto
1 colher (sopa) de suco de limão
Faça os bolinhos: coloque no
processador a fruta-pão e a banana e processe até ficar uma massa homogênea. Se
preferir, passe por espremedor de batatas. Acrescente o sal, a salsinha, a
cebola e a pimenta e misture bem. Faça 20 bolinhas e achate-as. Doure-as em um
fio de óleo em frigideira antiaderente, fogo médio, 3 ou 4 de cada vez. Apenas
deixe dourar dos dois lados, lembrando que a massa já está cozida.
Para fazer o chutney: bata tudo no processador e sirva com os bolinhos.
Rende:
20 bolinhos