A semana passada foi mais uma daquelas corridas, com um compromisso emendando no outro. Na terça e quarta teve recepção em Piracaia para os alunos italianos da escola de ciências gastronômicas do Slow Food. Depois teve no Sesc Belenzinho a última atividade do projeto Comer é Mais, do qual fui curadora por três anos, e foi linda a aula da Paola Carosella. Terminamos em grande estilo. Na sequência tive oficina no Sesc Campinas. E tempo pra blog, cadê?
Bem, voltando de Piracaia com um mamão verde na mala me deparei com a ausência da chave de casa já na porta - ficou no sítio. Depois de ficar algum tempo sentada esperando algum bom vizinho que tenha minha chave acordar, apareceram Maria e Bruno ainda de pijamas me oferecendo a chave e um cafezinho. Enquanto a água esquentava, Maria me disse que queria tirar da sua horta um tanto de salsão que se espalhava impedindo o desenvolvimento de outras espécies. Fui lá ver o tal salsão e descobri que era a mesma planta salsa-do-líbano que tenho aqui e ganhei das meninas da Sabor de Fazenda sob este nome. Maria é de Santa Catarina e ganhou a planta da avó que a chama de salsão. De qualquer forma, salsa e salsão são da mesma família Apiaceae.
Já que o café ainda não tinha sido coado, aproveitei pra dar uma força na lida e limpei a hortinha da Maria. É claro que não iria jogar fora tão preciosa verdura. Eu tenho numa jardineira e uso sempre como salsa mesmo. Dá o ano inteiro e está sempre vistosa. Ela tem um sabor que está entre agrião, salsa, salsão. Acho que o agrião é mais influenciada pelos nomes populares. Mais está mais pra salsão mesmo. E, desde que esteja em local sombreado e bem úmido, a verdura cresce muito, se espalha em estolhos que caminham rápido tomando os canteiros.
De origem europeia do leste, responde pelo nome científico de Apium nodiflorum (sinonímia botânica: Helosciadium nodiflorum). Popularmente a planta é conhecida como salsa-libanesa, rabaça, agrião-do-líbano e, como diz a Maria e sua avó, salsão. Em outras línguas, temos para a mesma planta, european parsley, fool´s watercress, libanese cress, stonecress, berra, berraza, berrera e berro. Note-se que a semelhança com a planta agrião, da família das couves, leva a confusões de nomenclaturas. Há uma espécie de Brassicaceae com folhas parecidas com a salsa-do-líbano. É a Nasturtium siifolium que tem sabor de agrião, já que aí sim são parentes.
Plantei as raízes e usei as folhas para um almoço instantâneo. Enquanto desfazia as malas, coloquei cubinhos do mamão verde da mala para cozinhar em água temperada com sal e cúrcuma. A gosto. Foi tudo na intuição com aquele repertório que a gente costuma ter. Pensei em tratar o mamão como batata e dar a ele um tratamento quase indiano com os temperos que tinha por perto. E as folhinhas entrariam no final como uma salsa que murcharia. Mas, vamos lá, vou tentar dar a receita certinha.O resultado ficou muito bom - pra comer com arroz, mas eu comi puro mesmo.
Quem quiser comprar mudas desta salsa, é só procurar o viveiro Sabor de Fazenda. As folhas podem ser usadas como salsa para temperar carnes, saladas, tabules.
1 mamão verde médio descascado e sem sementes cortado em cubos
1 colher (chá) de sal e 1 colher (chá) de cúrcuma - açafrão-da-terra - em pó (para cozinhar o mamão)
2 colheres (sopa) de manteiga (de preferência de garrafa ou ghee)
1/2 colher (chá) de grãos de cominho
1 colher (chá) de grãos de mostarda
1 cebola picada em quadrados
1 pimenta cambuci picada
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
1 tomate picado em quadrados
Sal a gosto
1 colher (sopa) de suco de limão
Folhas de salsa-do-líbano à vontade (ou folhas de salsa comum)
Cozinhe os cubos de mamão na água com sal e cúrcuma até ficarem macios. Numa frigideira, aqueça a manteiga e junte os grãos de cominho e de mostarda. Espere pipocar. Acrescente a cebola, a pimenta cambuci e a dedo de moça e deixe refoga um pouco. Junte os cubos de mamão verde cozidos e escorridos, os pedaços de tomate e chacoalhe a frigideira. Confira o sal, corrija, se necessário. Junte o suco de limão e mexa. Acrescente as folhas de salsa-do-líbano e deixe murchar.
Rende: 4 porções
Neide Rigo, só vc, q tem uma mão verde, consegue transformar um mamão verde em uma crônica com cor, aroma, paladar, lembranças de quintais antigos, para onde uma dona de casa antiga corria em busca de um socorro para a falta de mistura, como um simples mamão verde que ainda não cumprira seu destino de amadurecer...
ResponderExcluirTe amo - Clarice.
Salsa do Líbano - mais uma para o meu repertório! Sempre resisto ao mamão verde pois não gosto muito do doce. Mas seu caril ficou tão lindo, que vou experimentar assim que um mamão verde cair nas minhas mãos. Concordo com a Clarice acima - você tem a capacidade de transformar um assunto simples numa deliciosa crônica. Sempre que indico seu blog digo: mesmo se o assunto não interessar, leia mesmo assim pois o texto é ótimo!!!
ResponderExcluirparabens
ResponderExcluirGreen papaya with Lebanese parsley or green papaya curry sounds intriguing! I’ve never tried it, but I’m excited to see how the flavors blend. Definitely adding it to my list.
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