Na minha rua |
Hoje tem coluna Nhac no Paladar. Está lá no blog do caderno. E está aqui também:
É
impossível contar o número de espécies comestíveis, aromáticas e medicinais que
crescem espontaneamente nos espaços de terra livre, mesmo nas grandes cidades
como São Paulo. A muitas basta uma fresta de calçada ou uma rachadura
de muro para que despontem seguras de suas raízes.
Algumas
destas plantas são aromáticas explícitas, como o epazote, conhecido também como
erva-de-santa-maria, de perfume mentolado, que os mexicanos usam como tempero
de queijos e feijões e nós apreciamos apenas como remédio. É fácil descobrir
quando ela está presente entre outras ervas, pois é só tropeçar nele e vem o
aroma.
Outras
são prolíferas, mas frágeis e discretas, tanto na aparência quanto no perfume.
E por isto vão passando despercebidas enquanto invadem sorrateiramente
canteiros, desafiam braquiárias e sufocam as flores mimosas do jardim. Assim é a galinsoga (Galinsoga parviflora), uma importante erva ruderal, nome que se dá
a espécies que crescem indesejavelmente nos ambientes urbanos, totalmente
negligenciada por aqui até então.
Mesmo
que seja arrancada, pisoteada, não vai revelar o segredo que traz escondido,
reservado só àqueles dispostos a conhecê-la mais profundamente e sem
preconceitos por ser erva vulgar. No entanto, quando submetida ao calor,
ligeiro que seja mas de preferência em líquidos borbulhantes, ela revela tudo
de bom que tem para oferecer, a começar pelo perfume que transcende as paredes
da cozinha. E, depois, pelo sabor que se
infunde pelo caldo, tornando qualquer água insossa em essência vegetal
fragrante e saborosa.
Sempre
ouvia falar da erva guasca usada na sopa colombiana ajiaco, como tempero
indispensável e insubstituível. Nunca
acreditei, porém, que uma plantinha tão invasora e combatida na agricultura
como erva daninha, inço ou planta nociva,
pudesse realmente ser aquela maravilha toda. Isto, até o dia em que
avancei uma casa no universo da curiosidade e, em vez de só prová-la crua, resolvi metê-la num caldo. E foi uma epifania
quando, depois de uns três minutos, o vapor começou a invadir a casa. Era
verdade, a erva cozida surpreende. Quando
crua, tem algo de alcachofra e de cogumelos no sabor. Mas, depois de aferventada,
o perfume é encantador. Por isto, um
tanto dela cozida em água e um pouco de sal bastam se quiser fazer um econômico,
complexo e delicioso caldo de vegetais para usar em sopas e risotos.
É
quase certo que, quando passar a
reconhecer e colher por aí a galinsoga, alguém que lhe pegue em ação vá dizer:
pensei que fosse mato. Dizem que é mato
a planta sem nome, mas a galinsoga tem nome de batismo em latim e uma porção de
apelidos que só fazem aumentar o desprezo e a confusão. Então, já que muita
gente está acabando de ser apresentada à espécie, vamos chamá-la de galinsoga,
que é o nome científico do gênero e também o popular em vários países.
Outros
nomes populares no Brasil são vagos e incluem:
brinco-de-princesa, fazendeiro, picão-branco, botão-de-ouro, guasca e
galinsoga. Se tivermos que escolher, fiquemos com guasca e galinsoga, menos
sujeitos à confusão com outras plantas de nomes parecidos.
Nativa
da costa oeste da América do Sul, hoje a erva está ampla e generosamente espalhada
mundo afora. Como tempero fresco ou seco
é apreciada nos países andinos, mas também na Europa. Em Portugal, é chamada de
“erva-da-moda”. Na África do Sul, as
folhas frescas ou desidratadas são consumidas como verdura ou tempero.
Há
outras três espécies de Galinsoga,
todas também comestíveis. E como todas elas têm o desenho muito característico,
não há risco de confundir com outras plantas.
As flores são pequenas, como mini margaridas de miolo amarelo e pétalas
brancas mínimas, e as folhas são levemente pilosas e macias, com bordas
serrilhadas. Não vou me alongar na descrição quando você pode ir ao Google Imagens
com o nome científico e tirar todas as dúvidas vendo fotos. Você vai
reconhecê-la imediatamente quando encontrá-la nas ruas ou num vaso
esquecido.
O
nome do gênero é homenagem ao espanhol Ignacio Mariano Martínez de Galinsoga
(1776-1797), médico da rainha consorte Maria Luisa da Parma e fundador do Real
Jardim Botânico de Madri. Vários nomes populares fazem referência ao “soldado
da rainha”. E o nome da espécie parviflora
alude ao tamanho das flores, afinal parvus
em latin quer dizer pequeno.
Na
Colômbia, a erva, conhecida como guasca,
é encontrada também desidratada e moída para temperar sopas, cozidos e carnes,
principalmente de frango. E na medicina tradicional é requisitada por suas
propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias – talvez você possa encontrá-la
em casas de ervas.
Higienize com hipoclorito, como qualquer outra verdura |
Algumas dicas para
plantar, colher e usar: se você ficou com curiosidade para usar a
erva, não encontrou para comprar e não quer pegar a planta da rua, faça o
seguinte: colha de onde encontrar um galho com flor seca, coloque em cima de um
pires e espere que a flor se desintegre liberando as sementes, que parecem
fiapinho. Agora, é espalhar pelo seu jardim ou pelos seus vasos e regar. Só tome cuidado pois, se deixar, ela toma conta
de tudo, especialmente se estiver em terra úmida com muita matéria
orgânica. De qualquer forma, é fácil de
ser arrancada se for preciso. Quando brotar, use as folhas jovens cruas (menos
aromáticas) em saladas. Em qualquer
estágio, todas as partes - talos, folhas
e flores - são gostosas como verdura
para sopas, recheios, omeletes e cozidos.
Sequei a erva inteira (já higienizada) e só depois tirei os galhinhos |
A erva seca, ótima para finalização de pratos |
As folhas podem ainda ser secas em forno a 40ºC e trituradas para depois
serem usadas como tempero em pratos com frango.
Diferente de condimentos como a salsinha que, depois de desidratada,
fica como grama seca, sem sabor nem perfume algum, a galinsoga ganha ainda mais
potência. É um ótimo tempero de mesa para finalizar sopas. Para manter as folhas colhidas viçosas,
coloque-as em vidro sem água e feche bem para que não percam umidade.
A sopa a seguir é um reconfortante prato único para
as noites frescas de outono, inspirado na sopa colombiana ajiaco, porém, sem os
acompanhamentos clássicos: abacate,
alcaparras e creme. Mas, fique à vontade.
A sopa fica muito boa |
SOPA DE MILHO,
BATATA E GALINSOGA
2 dentes de alho finamente
picados
1 cebola pequena
picada
2 colheres (sopa) de
óleo
1,5
xícara de grãos de milho verde
1,5
xícara de batatas em cubos
2
colheres (sopa) de folhas de coentro
1,5 litro de caldo de
frango
1,5
xícara de peito de frango cozido e desfiado
Meia xícara
de folhas de galinsoga
Sal e
pimenta-do-reino a gosto
Coloque numa panela o alho, a cebola e o óleo e
leve ao fogo. Mexa até o tempero começar a dourar. Junte os grãos de milho, as
batatas, o coentro e o caldo. Tampe a panela e deixe cozinhar por cerca de 20
minutos ou até que o milho esteja macio. Junte o frango e as folhas de
galinsoga, tempere com sal a gosto e espere ferver. Se quiser uma sopa mais
fluida, junte mais água quente e corrija o sal. Na hora de servir, tempere com
pimenta-do-reino.
Rende: 4 porções
Outras ideias
Com caldo de frango e batata doce: é só juntar caldo caseiro de frango, batata doce cozida e folhas de guasca. Talvez também uns pedaços de pimenta, pra quem gosta. Nhac!
Jaca verde com guasca: esta é ideia do meu amigo Guilherme, do blog Matos de Comer . Fez um tipo de "jaca louca" e temperou com guasca. Fica com jeito de alcachofras.
Que bom, mais uma Panc para a coleção. Assim que li seu post de manhã, fui dar uma voltinha no quintal para ver se achava alguma. Não encontrei!! Fiquei tão curiosa com essa erva que potencializa seu aroma ao secar e ao ir à fervura! Porem mais tarde fui ao centro da cidade e, ao passar por uma casa desocupada, encontrei um monte delas ocupando uma frestinha entre a calçada e o muro. Não tive dúvidas, apanhei algumas flores secas e vou plantar aqui no meu quintal!Beijos
ResponderExcluirEssa plantinha nasce direto nos meus vasos! Até hoje nunca usei, mas agora vou usar, com certeza, adoro o sabor de alcachofra.
ResponderExcluirAcabei de usá-la na omelete, depois de averiguar aqui de que era comestível mesmo. Não tinha muito dela, então não consegui sentir muito o seu sabor, talvez porque a omelete também tinha outros ingredientes.
ResponderExcluirTem muito dela aqui no Rio. Os colombianos que moram aqui se deliciam. Já experimentei num ajiaco feito por uma amiga colombiana e é excepcional. Amei.
ResponderExcluirComo es el nombre aca en brasil
ExcluirMinha cachorrinha idosa sempre comia na rua, plantei no vaso e está linda, ela sempre come qdo está com indigestão, adorei pesquisar e saber de sua utilidade.Obrigada!!
ResponderExcluirOnde consigo as sementes?
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