A viagem de Soure até lá não é rápida. Demoramos cerca de 3 horas por causa das esperas nas duas balsas que precisamos para atravessar rios. E parte das estradas são esburacadas. A natureza do Marajó é a coisa mais extraordinária que já conheci, mas no que depende do trabalho do homem, especialmente dos políticos, é também um dos recantos mais ao Deus dará de que se tem notícia.
Aqui dá pra ver parte da floresta no chão para dar lugar ao arroz |
O gavião sempre à espreita |
E o urubu sobre a floresta morta |
Os marrecos, usados para preparar o prato típico, arroz com marreca, aumentaram a população e nadam faceiros por entre os campos alagados, com comida farta, os grãos cultivados. Mas a felicidade não durará muito, nem para as aves nem para os moradores locais. Os marrecos quase não podem ser caçados, afinal ninguém mais entra naquelas terras, e gaviões foram trazidos de Goiás, dizem, para acabar com os marrecos que comem todo o arrozal. E, claro, vão acabar com outras aves menores também.
O gavião é o guarda-mor destas terras |
Os moradores reclamam do aquecimento da cidade que está sitiada pelo arroz - 1/3 do território está ocupado com arrozal. Reclamam que não podem mais pescar. Reclamam da falta de emprego (a desculpa para um empreendimento desta natureza é a de que está trazendo desenvolvimento e empregos para a cidade, coisa que a gente já sabe que é mentira). O cultivo é todo mecanizado. Você anda quilômetros sem ver uma pessoa trabalhando, a colheita e o beneficiamento são feitos por máquinas e a pulverização de veneno é por avião. Quem começou o cultivo ali e é dono da maior parte do arrozal é o deputado federal Paulo Quartiero, aquele mesmo expulso da Raposa Serra do Sol, do mesmo grupo Camil do nosso arroz de todo dia. Mas não sou a melhor pessoa pra falar disso, não. Por isto, indico esta reportagem da Bettina Barros, no Jornal Valor: Ilha de Marajó: crônica de mais um conflito anunciado. Aqui, só um trecho: "Quartiero mudou esse quadro. Além de cercar a área, limitando o vaivém dos locais, a comunidade ficou encurralada pelo arrozal. “Trouxemos todas as cercas de Roraima. Eles [os índios] não queriam a terra? Deixamos só a terra”, diz Renato Quartiero, filho de 30 anos do deputado e administrador da fazenda. Ele dirige a caminhonete enquanto são realizados trabalhos como a abertura de um braço do rio Arari para permitir o plantio, canais de irrigação, estradas etc. No banco de trás, seu pai explica: “Está vendo? Não tem desmatamento nenhum. Aqui não tem floresta”, afirma ele, referindo-se aos campos naturais de Marajó. “É tudo coisa de ambientalista. Esses mesmos vigaristas que vêm falar em aquecimento global“, diz. Continue lendo aqui.
Águas vermelhas e metálicas. Isto não é normal! |
Lá atrás ainda tem uma floresta |
Rio desviado para fazer canais de irrigação |
Arroz com marreca |
Tamuatá no tucupi |
A cidade virou uma estufa de tão quente - é o que todos dizem |
Volte Sumano! (sumano é modo de dizer por lá - vem de ser humano) |
Com Zezé no Museu do Marajó |
Dedé com Tainá entregando um manuscrito antigo para o Museu |
Carlos, Tainá, Zezé e Dona Jerônima, minha amiga de Soure |
Olá Neide, acompanho seu blog há algum tempo, senti vontade de dizer que adoro suas reportagens e suas dicas.
ResponderExcluirUm beijo desde o Rio de Janeiro!
Puxa ,é uma pena o que está acontecendo com o norte do Brasil, tenho uma adoração para conhecer Belém e a Ilha de Marajó, suas paisagens , sabores e a verdadeira cultura Brasileira. Seu blog ajuda a conhecer esse lugar que adoro tanto. Aqui no sul também temos um prato típico com marreco, que é assado e recheado. Linda reportagem , gostaria que fosse de conhecimento de todos os Brasileiros.
ResponderExcluirPatricia
Neide, estive em Cachoeira do Arari em 2010, fui ao museu interativo do Padre Gallo e almocei nesse mesmo restaurante.
ResponderExcluirFoi um dia de muito choro. Tinha ido conhecer o chalé em viveu o escritor Dalcídio Jurandir e o encontrei derrubado todinho no chão. Trouxe comigo uma tábua.
Dalcídio é meu escritor preferido; em seus livros conheci um pouco da cultura marajoara e também salivei com pratos típicos, ele me fez atravessar o Brasil de ônibus e barco só para conhecer os cenários de Chove nos campos de Cachoeira. Eu encontrei tudo isso que você falou. Um beijo.
Elis!
ResponderExcluirTambém choro só de lembrar. Triste, né?
Um beijo,n
Elis!
ResponderExcluirTambém choro só de lembrar. Triste, né?
Um beijo,n
Muito triste, Neide. Mas seu post me fez recordar também as coisas boas de Cachoeira.
ResponderExcluir*Não tinha visto sua resposta em janeiro.
Beijos!
Oi, neide! Adorei o relato e quero muito conhecer essa cidade. Você teria telefones que podem me ajudar nessa vontade? Li que há uma lancha voadeira Belém - Cachoeira, então queria saber mais detalhes, bem como onde ficar hospedado e me alimentar. :)
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