quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Alho do reino de Piracaia

Você não pode imaginar a emoção que foi colher este alho. Não, não colhi. Cheguei e já estava colhido. Carlos e Silvana, os caseiros, já tinham feito o trabalho e vieram me mostrar o resultado.  Apesar de termos plantado tardiamente, não termos corrigido o ph da terra, as cabecinhas com dentes miúdos não decepcionaram. Era pra ter tirado o broto, assim as cabeças crescem mais - recomendei, mas não sei se tiraram, esqueci de perguntar. Não importa agora, a trança ficou linda. Eles me dizem que no próximo ano temos que plantar na sexta-feira santa. Replico que não vai dar porque será feriado e eles não vão trabalhar. A gente vem só pra plantar o alho, respondem.  Isto não deve ser pecado. 

Um lindo enfeite
A semente deste alho-do-reino é antiga, vem passando de mão em mão pela família da Silvana. Estes, vieram da irmã dela.  Já Ignês, irmã do Carlos, contou que a mãe cultivava mas tinha perdido a semente. Disse que para feijão não tem melhor. A comida fica cheirosa, o feijão, bem temperado, daquele de cutucar vizinho longe. Já usei na couve e no feijão e pude confirmar como é perfumado, como é diferente do alho grandão argentino ou chinês que a gente compra, quase sem perfume. 

Antes da colheita, já tinha usado o alho imaturo, inteiro, com pele e tudo.
 Uma delicadeza! (o demônio diria: já bastaio, inda cascaio)
Claro, não é tão fácil descascar os dentes do tamanho da unha do dedinho, mas eu já peguei a manha. Coloco alguns dentes dentro da água e esfrego com as mãos. Um ou outro fica com a película aderida. Os demais, assanhados, livram-se logo da roupagem. Aí basta colocar no pilão com um pouco de sal ou amassar só levemente, picar displicentemente ou ainda deixá-los inteiros - neste caso, ficam menos perfumados mas mais adocicados. 

Dentro do alho há uma substância, alicina,  e uma enzima em compartimentos separados. Só quando se encontram - por esmagamento, mais e por corte, menos,  é que produzem aquele sabor e perfume pungentes que conhecemos. Se cozinhamos os dentes inteiros, a enzima é inativada e do encontro não surge nada de diferente. Por isto alho cozido inteiro pode estar aos montes na comida sem estragá-la. Já os dentes esmagados devem ser usados com moderação.  E ao esmagar os dentes para fazer temperos prontos também perdemos parte dos compostos voláteis e medicinais. O ideal é esmagar ou picar na hora de usar. Existe o ideal e o possível e a gente deve ter bom senso nas escolhas sem culpas (já me absolvendo caso resolva descascar algum e conservar no azeite ou deixar preparado algum tempero pronto para uma hora de aperto ... - que, por sua vez, será melhor que um caldo em cubos).

Carlos deixou pra trançar a réstia na minha frente para eu ver. Não é difícil, afinal o alho é colhido quando tem sua folhagem já seca e que termina de secar à sombra antes de ter a palha trançada. É como trança de raiz feita na cabeça da gente.  Uma volta da trança e mais uma cabeça de alho com sua palhagem se junta.  Mas fazer uma réstia bonita e equilibrada exige talento que ainda não tenho - a minha ficou toda retorcida.

Agora é só ir comendo, mas não tudo - uma parte será plantada na sexta-feira santa. Desta vez, duas leiras.

Carlos corta o resto de raiz seca pra ficar com boa aparência



 

Silvana admira a boniteza da réstia trançada pelo marido

19 comentários:

  1. Neide que maravilha, eu sou besta mesmo não sabia que vinha ALHO DA CHINA. pensei que só da argentina.

    ResponderExcluir
  2. Lindo demais!! Perdemos esses momentos na vida de cidade!!

    Beijão!!
    Cátia Milhomens

    ResponderExcluir
  3. Inveja branca de caseiros tão dedicados às coisas de roça.... Bj gde da fãzona do come-se
    Silvia

    ResponderExcluir
  4. Oi Neide,

    Adorei ver tuas tranças frescas de alho!!! entendi teu entusiasmo, porque quando vi pela primeira vez aqui,no mercado, estas tranças de alho fresco, fiquei alucinada, imagina ter as tuas próprias tranças com os alhos colhidos no teu terreno! nada melhor que o gosto fresco do alho, gosto tanto que todos os santos dias como alho, pouco me importando com o cheiro (rsrsrsr). Uma das minhas maneiras preferidas é ralar o alho,num mini-ralador e colocar maionese fresca e colocar no prato de sopa,(no inverno nada melhor) comer com legumes cozidos no vapor, no pão, afinal em tudo.

    ResponderExcluir
  5. Oi Neide,
    Só depois de ter colocado o comentário sobre o alho, é que fui dar uma olhado nos posts posteriores (fiquei fora da web por alguns dias), e amei o que vc. colocou sobre "Cogumelos, urtigas e caças em Dordonha". Eles tem um blog?

    ResponderExcluir
  6. Que belezura essa réstia. Foto linda essa em que aparecem as folhas e ao fundo a paisagem.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  7. Apaixonada por essa trança e morrendo de vontade de comer um feijãozinho temperado com ele! E seus caseiros são demais né? Parecem amar trabalhar com a terra! Todo o meu amor aos agricultores, especialmente os pequenos que são os que preservam as delicias que não tem interesse comercial.
    Bjs
    P.s: Voce conseguiu alguma semente dessa sua safra?

    ResponderExcluir
  8. Olá, Neide. Adoro alho e os de supermercado, mesmo sendo enormes, não são gostosos como os antigos..
    estas sementes antigas, crioulas, pena que estão cada vez mais difícil de se encontrar...Gostaria de saber onde e como encontrar esta de alho do reino que seja antiga. Fico no aguardo ...beijos

    ResponderExcluir
  9. Morri de inveja da boniteza da trança, dos alhos, da dedicação dos caseiros, do canteirinho de alho, mas, acima de tudo, fico tão feliz por você, que de tanto saber valorizar tudo isto, de tanto trabalhar por tudo isto, realmente merece cada um desses prêmios.

    ResponderExcluir
  10. Amiga adorei seu blog sobre comidas tão variadas, mas a réstia (trança) do alho está sensacional. Gostei mesmo. Se você gosta de poesia dê uma passada no meu blog. Vou postar um link lá, indicando o seu blog, que eu achei genial...

    ResponderExcluir
  11. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  12. Oi Neide!
    Adorei suas réstias de alho.
    Quero comprar... Você vende?
    Como fazemos para negociar?
    Muito grata!

    ResponderExcluir
  13. Regina, obrigada. Só produzimos para consumo.
    Um abraço,
    n

    ResponderExcluir
  14. dinomaranjos@hotmail.com27 de janeiro de 2015 às 19:01

    D.Neide e sei que a Sra. só planta pra uso próprio e possível a Sra. me enviar aonde posso comprar as mudas para plantar,quero usar este alho como remédio, e o maior remédio para o coração.
    Desde já muito obrigado.
    Fiquem na paz de DEUS.
    Abraços DinomarAnjos & Familia

    ResponderExcluir
  15. Bom dia. Tenho procurado esse alho do reino para fazer remédio e não encontro. Podem enviar para mim ??
    Eddie.
    Aguardo contato URGENTE.

    ResponderExcluir
  16. Nossa... nunca mais tinha visto alho do reino...como consigo semente para plantar? Já procurei e é muito difícil...

    ResponderExcluir
  17. Sei lá por que, caí neste post e lembrei que, quando era criança, era a encarregada de descascar milhões de pequenos dentes de alho quando minha mãe fazia linguiça caseira. Eu queria ir brincar, mas adorava a linguiça, então queria ajudar também, era um dilema!

    ResponderExcluir
  18. Quero comprar uma restia de alho como faço?

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar. Se você não tem um blog nem um endereço gmail, dá para comentar mesmo assim: É só marcar "comentar como anônimo" logo abaixo da caixa de comentários. Mas, por favor, assine seu nome para eu saber quem você é. Se quiser uma resposta particular, escreva para meu email: neide.rigo@gmail.com. Obrigada, Neide