Um paineira jovem e um muro amarelo separam Paraisópolis do escadão que dá pro Morumbi. Ou o contrário. E uma muralha de prédios brancos no horizonte parece limitar a área que abriga cerca de 100 mil habitantes - a segunda maior favela de São Paulo. Por isto, Paraisópolis cresce pra cima. Um puxadinho aqui, um andar a mais acolá, e todos vão se ajeitando. Calçada quase não há. Lugar pra árvores e jardim, nem pensar. Cachorros também quase não vi, afinal, prioridade é gente. É arrumar um cantinho pro cunhado que está chegando com a mulher e filho. Sempre há espaço entre o chão e o céu. Ainda assim, há fora de casa crianças empinando capuchetas de folha de caderno usado, outras chutando bola com o pai, gente fazendo churrasquinho na porta, homem engraxando sapato com o pé apoiado na grade da escada, outros no bem bom: bar, cerveja, bilhar. E nos vasos que enfeitam portas e varandas, só plantas úteis, sabidamente úteis. Babosas para queimaduras, hortelãs pro chá do menino, manjericão para dor de barriga e quem sabe no frango, capim santo pra gente nervosa, rosa branca pra banhos de mulher e alecrins para cheiro de todos.
Este passeio era uma das opções de atividades externas do Paladar-Cozinha do Brasil deste ano. Todos fizeram o maior sucesso. Teve visita a produtores rurais, ao mercado de peixe do Ceagesp, ao moinho de farinha etc. Eu só tive tempo para um e escolhi conhecer mais de perto as atividades desenvolvidas junto à comunidade local pela ong Gastromotiva, tocada pelo amigo David Hertz, que capacita gratuitamente em gastronomia jovens que não tenham condições de fazer um curso particular. É a gastronomia motivando mudanças. O dia estava lindo e pudemos andar com tranquilidade pelas ruas estreitas. David tem muitos amigos lá e vai enroscando pelo caminho encontrando um e outro conhecido. Fomos apresentados a gente formada pela sua escola e que hoje toca seu próprio negócio, gerando empregos e renda na própria comunidade, como a Ana Laura, que já tem seu próprio bufê.
Conhecemos outros projetos importantes como o Instituto Prof, onde almoçamos; o Bom Prato, com apoio da prefeitura; e a casa Gosto de Saber, um projeto de inclusão social, onde um grupo de mulheres faz doces e salgados para festas. Foi lá que um outro ex-aluno do David ensinou aos visitantes a preparar caponata com banana verde e coração de banana. Mulheres mostraram como fazer geleia de casca de mexerica - deliciosa!
No Prof, fomos recebidos para o almoço com brinde de espumante e a comida estava tão boa que teria repetido outra pratada não fossem os bolos e salada de frutas que nos aguardavam de sobremesa. Todos que foram ao passeio estavam muito animados, especialmente a jornalista, fotógrafa, escritora, cozinheira Anissa Helou, que veio de Londres a convite do Paladar. Não perdeu uma pose e já postou alguma coisa em seu blog.
Algumas fotos aqui e outras no album abaixo:
Anissa e Camila Hessel |
Ana Laura |
Caponata de banana verde |
Combinandinho em verde |
David, Enzo e Ana Laura |
Geleia de maracujá com pimenta |
Tortinhas da casa Gosto de Saber (Tel. 3088 8119 - Pituca) |
Clique pra ver mais fotos no álbum:
É muita comida diferente. rsrsr
ResponderExcluirNão sei se eu teria coragem de comer.
Beijos!
Olá tudo bom amigo? estou seguindo o seu blog e acompanhando o seu trabalho. Se puder siga o meu também, o link é http://www.thieresduarte.blogspot.com/ desde já obrigado e parabéns pelo blog!
ResponderExcluirNeide, que bacana! Fiquei com vontade de tudo! E as fotos estão lindas, mesmo. Beijinhos
ResponderExcluirPode uma receitinha da caponata? da geleia? :D
ResponderExcluirseu blog é uma obra de vida!
ResponderExcluirhttp://deliciasdaisa.blogspot.com.br/
Na casa dos meus pais havia sempre coração ou umbigo de banana de "mistura", mas muita gente torce o nariz e é um desperdício se jogar fora algo tão bom. Parabéns pela divulgação de trabalhos tão interessantes e benéficos. Abç
ResponderExcluirIzabel
Janice, a única coisa diferente que havia era a caponata de banana verde, uma delícia. Você teria comido e gostado, tenho certeza. Os outros pratos que comemos eram bem familiares. Por que não teria coragem?
ResponderExcluirMaria Lúcia, obrigada. Da geleia não tenho - a Gastromotiva tem pra vender. Mas da caponata, está aqui: http://come-se.blogspot.com.br/2009/06/receita-que-fiquei-devendo-caponata-com.html (vi que você já a encontrou).
Obrigada, Isadora!
Izabel, Sim, é um desperdício jogar fora este ingrediente tão gostoso e nutritivo.
Um abraço, N
Obrigada, Neide, já escrevi para eles para ver se mandam para mim.
ResponderExcluirA sua caponata é só do coração, achei na internet umas receita com a casca da banana verde também e vi o que fazer com a massa http://come-se.blogspot.com.br/2009/01/um-uso-para-as-bananas-verdes-caril-de.html
:D
Agora, é só achar alguém gentil que me ceda o coração
Maria Lúcia,
ResponderExcluira caponata pode ser feita com o coração ou com a casca cozida (junto com a banana verde) e picada finamente. Quem tem bananeira geralmente corta o coração pras bananas crescerem mais.
Um abraço, N
Projeto lindo, Neide! Sempre que vejo coisas assim, acredito que o Brasil vá pra frente e ai fico ainda mais apaixonada por ele.
ResponderExcluirE se os olhos são o espelho da alma, os seus espelham, fotografam e espalham poesia. As fotos ficaram perfeitas é assim que gosto de ver o Brasil representado, com toda a imensa beleza do povo simples que somos! Não precisamos ser a primeira, nem segunda e nem nona economia do mundo, desde que absolutamente TODOS tenhamos a dignidade de botar o pão na mesa, e que, se possivel, ele seja caseiro, compartilhado pelo prazer da companhia e não pela solidariedade da necessidade.
Adoro iniciativas como esse da Gastromotiva!
Bjs