sábado, 10 de dezembro de 2011

Pequenos senegaleses

Crianças são como flores. Lindas, de todas as cores, em qualquer lugar, promessa de futuro, de frutos. As da aldeia Guarani, de Acrelândia ou do Piquenique, todas tem sorrisos espontâneos e desinteressados, fomes e sedes, desejo de ser abraçada, ouvida, ninada, um sonho no olhar. 


O primeiro contato com as crianças nesta viagem ao Senegal foi na casa onde jantaríamos todos os dias na primeira fase do trabalho. Um elevado de cimento, como uma grande cama, coberto de palha, serviria para nos sentar sobre o tapete onde seria servido o grande prato coletivo iluminado por uma lanterna ou celular para nos guiar as mãos, já que o quintal era escuro. Uma só luz iluminava toda a casa. Mas, mais que o escuro para o jantar que acontecia tarde da noite, me chamou a atenção um pequeno cômodo mal iluminado, com porta para o quintal e com burburinhos infantis em coro: un, deux, trois, quatre ... Fui até lá e, mal podendo enxergar,  vi meninos e meninas maiores, com livros nas mãos, ensinando os menores a contarem os números em francês. Eram primos e irmãos se ajudando, sérios como se estivessem numa sala de aula convencional.  Ficaram curiosos com minha presença e fizeram muitas perguntas que não entendi. Em wolof, claro. Mas isto não foi impedimento para a amizade, as poses para foto, as brincadeiras. O pouco que sei de francês não é muito diferente do que as crianças senegalesas que encontrei pelo caminho sabem. Talvez por isto tenhamos nos entendido tão bem. 


Os bebês crescem agarrados às costas das mães, que são carinhosas e brincalhonas e fazem de tudo com eles ali quietinhos só observando o que se passa. Raramente choram, a não ser quando querem mamar. E mamam até ganhar tamanho. Quando saem das costas já podem quase se virar sozinhos. Aí, sim, podem se sujar à vontade na areia, pois são livres e soltos para isto. 


Em alguns povoados, acho que há crianças que não comem muito bem. Algumas parecem ter desnutrição proteica - com rostos mais inchadinhos, com alimentação monótona, pouco variada. Outras comem apenas cuscuz com caldo ralo pela manhã, como aquelas nossas crianças que come farinha com água.  Algumas pedem dinheiro. Outras são oferecidas pelas mães - que as amam e por isto mesmo quer para elas um futuro melhor. No mais, são muito educadas, não fazem manha, não ficam clamando por pai ou mãe e brincam em grupos. As maiores me diziam frases de agrado em francês e isto me emocionava bastante. Fizeram me lembrar das crianças guarani - link lá em cima. Em alguns lugares pouco frequentados por estrangeiros éramos a atração, arrastando multidões de crianças alegres no nosso rastro, que queriam apenas nos olhar, conversar, ser fotografadas. Alguns bebês, que talvez nunca tenham visto brancos, choravam de medo quando me viam. Meninos e meninas maiores logo entenderam também meu interesse por comida, costumes, flores e frutos e não se cansavam de me apontar cenas e espécies para ver e fotografar. Tenho saudade daqueles sorrisos e daquelas mãozinhas pegando na minha para dizer  bonjour, madame est très gentil, madame est très jolie. ...  Veja as fotos: 


13 comentários:

  1. Que bela vivência Neide.!!!!...
    olhando essas fotos, fico imaginando que nesse momento a vida lá continua como em todas partes de mundão...
    e o admirável são os sorrisos desses pequenos que, apesar de todas as dificuldades, são encantadores...
    abs
    Fábio

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  2. Sim Neide, essas criaturinhas são lindas em qualquer canto do mundo. É uma pena que nossos líderes sejam tão omissos e estejão mais preocupados em fazer gerras que promover a paz, e salvar esses pequenos sonhadores.
    Beijos

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  3. Ô, estávamos desesperadxs com teu desaparecimento, Neide Rigo! Quase organizamos uma brigada malaka pra te resgatar na África!

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  4. Neide, vi todas as fotos com os olhos da alma e marejados ainda se encontram. Deus te abençoe por socializar algo tão grandioso e que vc nos permite compartilhar de sua experiência.
    Anunciada
    Currais Novos/RN

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  5. Quando você for dar uma palestra,uma palavra,uma consulta...me avise.Existem histórias que merecem serem compartilhadas,e eu gostaria de estar presente.Com um café e alguns biscoitos seria perfeito.
    Obrigado.

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  6. Estou completamente encantada com essa sua viagem ao Senegal, com o país, as pessoas e com o seu olhar, que nos traduz tudo com ternura.

    Beijo

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  7. Estão ficando ótimos os artigos contando todos as histórias que você está vivenciando no Senegal. Muito bom conhecer culturas diferentes da nossa.

    Parabéns!

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  8. Neide,
    Qualquer coisa que eu escreva é pouco para expressar meu respeito e admiração pelo seu trabalho.
    Amo crianças e amo Piracaía; acho que já temos algo em comum,rsrsrs.
    Sou leitora assídua do seu lindo blog.
    Abraço

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  9. O ensinamento é como a parábola do semeador. Se a semente cai em campo fértil florece e frutifica, porém, se cai em campo árido perecerá. O que importa é que o semeador lance suas sementes em toda a terra, pois guardadas não terão chance alguma de germinar.
    Você, sem dúvida, é uma exímia semeadora. Bjs. Izabel

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  10. Caros leitores,
    desculpe se não respondo individualmente cada comentário, mas saibam que eles sempre me chegam como grande incentivo. E não deixo de ler nenhum. Agradeço muito.
    Um abraço,
    N

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  11. Que crianças lindas, mesmo com tanto sofrimento elas conseguem sorrir!

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  12. Confesso que me emocionei ao ler sobre as crianças. As fotos então, são espetaculares. Cada sorriso de cada criança....mostrando a alegria acima de tudo!
    Belo trabalho. Parabéns.

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