terça-feira, 10 de maio de 2011

A melhor comida é aquela que nos é oferecida

Gostava quando minha mãe me acordava com uma xícara de café recém-coado, ainda que fosse sábado muito cedo, ainda que fosse uma estratégia para eu sair da cama. Mas nem era. E ainda sou capaz de me emocionar quando a Eliana, do nada, aparece aqui no escritório trazendo um cuscuz quentinho com uma bolota de manteiga, que já chega derretida, e café cheiroso.  Às vezes ainda estou saciada com o café da manhã recém concluído, mas a alegria é tanta que como tudo com gosto, ainda que tenha que adiar o almoço. E não é exatamente pelo cuscuz ou pelo café, afinal poderia ser uma batata doce quente com leite gelado, uma banana amassada com farinha de milho, uma farofa ou o que quisesse oferecer, mas sim por este gesto de dar de comer ao outro, que compõe a avaliação final do prato.  Isto se soma e se sobrepõe às outras sensações gustativas. Por isto temos que ter cuidado quando dizemos por aí que o feijão daquele restaurante não chega aos pés do feijão da nossa mãe.  É o fator oferta operando em alta. 

Mas, voltando ao cuscuz, a Eliana diz que na família dela tem o apelido de "perseguidor", pois onde se vai em sua cidade há o cheiro de cuscuz perseguindo. Entra numa casa e sobre o fogão um cuscuz cozinhando, entra em outra, a mesma coisa.  Quando ela chegou em São Paulo trocou o hábito por pães e bolachas recheadas, porque cuscuz representava a vida dura que levava nas máquinas de sizal, quando levavam uma latinha de óleo vazia para improvisar uma cuscuzeira nos distantes locais de trabalho. Agora existe flocão, milharinas e afins, mas antes, quando ela era criança,  o milho era deixado de molho um dia antes e pilado.  Já há algum tempo ela voltou a dar cuscuz para os filhos em vez de bolachas recheadas e danoninhos, se convenceu que não é apenas comida de pobre, que faz parte de seus costumes e que pode ser muito gostoso, principalmente para os que recebem. Eu que o diga! 


Bem, a receita dela está aqui: http://come-se.blogspot.com/2010/01/cuscuzeira-para-um.html

17 comentários:

  1. Oi, Neide!

    Concordo tanto com o que vc falou, sobre "receber comida" oferecida amorosamente... Na minha família, sempre foi tradição servir o café da manhã na cama (caprichado, em bandeja grande) para o aniversariante do dia... Em meus tempos de adolescência, minha emoção era sempre o dia de receber um namorado em casa e servir um bolo especial, um pavê, uma mousse... Depois que meu filho nasceu, eu estava sempre atrás dele com alguma comida que alimentasse e ao mesmo tempo ele saboreasse... E quando o marido viaja, sempre é recebido na volta com um almoço ou jantar caprichado.

    Creio que associo muito a demonstração de afeto, carinho, com o alimento. Na verdade, tive professoras... Minha mãe que fazia questão de fazer certas comidas especiais e fortificantes quando alguém na casa estava doente ou triste... Minha avó paterna que sempre me esperava com mingau de aveia com mel, iogurte e filé de peixe a milanesa, coisas que ela sabia que eu adorava!

    Hoje, percebo que associo tb o tempo que se passa conversando à mesa durante e após as refeições ao tanto de carinho e entrosamento familiar que existe. Gosto muito disso!

    beijo!

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  2. Oi Neide, nos encontramos no parque da água branca há pouco tempo atrás, estava com minha filha Julia no corredor da feirinha de orgânicos. E por incrível que pareça tenho me deparado com o seu nome em diversos lugares por acaso (a última vez foi num livrinho de receitas distribuído num congresso de medicina).
    Minha mãe aprendeu a fazer 'milharina' no Rio Grande do Norte quando, há 30 anos atrás, ela e meu pai foram socorridos por uma família depois de terem o pneu do carro furado, numa das longas viagens que faziam. Esta família não só os ajudaram, mas os levaram para a própria casa e no café da manhã serviram cuscuz com manteiga, pedaços de bacon e um café preto - hábito cotidiano. Desde então fazemos diversas variações com aquilo que tem na geladeira.
    bj
    Natália

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  3. Neide, você tem o dom de agregar gente boa, já quero ser amiga da Cacau e da Natália (será parente do amigo Ivo Barbieri?) porque essa comida que americano chama de "confort food" traz sentimentos bons.
    Nunca comi cuscuz.
    Na minha ifância, cuscuz era só uma coisa mole, doce, de coco. E eu implico com coisas brancas moles.
    Como a Cacau, o café da manhã do aniversariante era especial! E sim, essas surpresas.. tenho a lembrança da casa da Tia Julieta, meu lugar preferido de todos.

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  4. Oi Neide, vc nem me conhece, mas desde que comecei a segui-la, gosto dos seus textos. Cheguei ao seu blog pela tal comfort food que o James Oseland divulga. Adoro essas comidinhas caseiras. E fico emocionada quando deparo com alguém que se delicia com cuzcuz com manteiga e café pretinho. Na minha família, de origem baiana, o domingo sempre é dia especial do cuzcuz. E, pra onde quer vamos, improvisamos uma cuzcuzeira e oferecemos aos que nos hospedam o nosso cuzcuz simplinho e saboroso! Hoje fazemos mais com as várias farinhas disponíveis no mercado mas, vez por outra, ralamos milho seco e fazemos aquele cuzcuzão! beijos e obrigada pelo lindo post

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  5. Cacau, que família especial você tem! Em casa também sempre tinha uma comida especial para quando a gente chegava com fome. Até a comida requentada ficava boa quando era a mãe quem preparava.

    Natália, que bom aparecer por aqui! Este cuscuz deve ter sido muito reconfortante pros seus pais.

    Angela, também me sinto privilegiada por estas pessoas. O seu cuscuz de infância era o de tapioca, não?

    Combeira (qual seu nome mesmo?), é você falar sobre isto e eu querer comer cuscuz de novo... Hum, já está na hora do lanche da tarde!

    Um abraço, N

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  6. Que maravilha de texto...me lembrou as comidinhas feitas pela minha mãe...tudo de bom! aproveitando, amanhã meu blog está de aniversário e tem sorteio de óleos essenciais por lá! sinta-se convidada...abrs de sua fã Cláudia
    http://claudiaroma.blogspot.com

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  7. Ah, Neide!
    Cuscuz desse tipo é uma das melhores lembranças de meu pai, nordestino. Minha mãe, carioca, não tendo onde comprar a cuscuzeira à época, fazia na tampa da panela com um pano amarrado, no vapor. E ficava bom do mesmo jeito.
    Eu simplesmente amo cuscuz e a panela passou a ser objeto indispensável na minha cozinha.
    E o carinho de quem leva um agrado que acabou de preparar é coisa de gente boa!
    Comprei fubá de canjica e lembrei de você, claro!
    Bjs.

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  8. Engraçado semana passada eu estava no trabalho e senti uma vontade enorme de comer cuscuz de milho com café no jantar. Não me fiz de rogada liguei pra casa e pedi pra minha amada mãe preparar um pra mim. Delicioso como só comida de mão sabe ser quentinho com cafezinho com leite hummm. Bjs!
    Hildeny Medeiros

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  9. Oi para todo mundo!

    Neide, adorei o seu texto. Eu não tenho essa lembrança mágica de cuscuz na infância, mas tenho outras lembranças igualmente saborosas (para o paladar e o coração)...

    Comida representa mesmo muito mais do que apenas nutrir o corpo - comida existe para fortalecer nossos laços e elos com quem queremos bem, com quem amamos.

    Em meu trabalho, às vezes tenho a difícil missão de contra-indicar a alimentação por boca para alguns pacientes. É sempre difícil, tanto para mim, como para a família, como para a própria pessoa. Mas é, às vezes, necessário. Pensando em todo o valor subjetivo e social que alimentar-se tem, é algo que, se possível, sempre procuro evitar.

    Comida? Sempre. Para o corpo e para a alma.

    Sorrisos.

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  10. Neide,
    ao longo da vida percebo que os laços familiares se fortificam ainda mais ao redor da mesa farta de alimentos preparados com amor.Sou de família numerosa então isso sempre fez parte da minha vida.Comi cuscuz pela primeira vez já adulta e casada, quando fui visitar os parentes do meu marido na Bahia e foi amor a primeira mordida. Depois ganhei uma cuscuzeira e aprendi a fazer.Gosto assim simples, para comer com manteiga ou leite de côco acompanhado de café quentinho.Hummm
    A comida agrega e muitas vezes faz a gente viajar nos sabores da lembrança.
    Origada pela simplicidade.
    Bjos

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  11. Neide, comida é afeto!

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  12. Lindo e sensível texto, como sempre. O título diz tudo. Acho que "presentear" as pessoas com o alimento que a gente fez é um gesto e tanto.

    Como boa neta de baianos, adoro cuscuz. Na minha casa sempre teve e todo mundo gostava. Hoje já não comemos tanto pq meu pai ficou diabético e o milho tem alto índice glicêmico. Eu tb como bem menos, só que por causa da balança. rs
    Mas é uma comfort food e tanto pra mim, principalmente com chá mate, que era como eu comia na infância. E sempre comemos de modo simples, apenas com manteiga (e pra fazer colocamos um pouco de polvilho na massa). Em casa temos pelo menos três cuscuzeiras (tb usamos para cozinhar legumes no vapor); ano passado minha mãe ganhou uma mini cuscuzeirinha de uma prima dela, coisinha mais fofa :).
    Abraços.

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  13. Olá Neide,
    Conheço há pouco o seu blog e já estou seguindo, pelo jeito como você escreve e por me rever em tantas coisas que você diz, apesar das diferenças que certamente existem, sendo eu do outro lado do Atlântico. O seu post me fez lembrar as manhãs da minha infância em que acordava com o cheiro acafé acabado de fazer pela minha mãe. O cuzcuz que você fala é certamente diferente do que eu conheço (à marroquina)! Vou procurar receitas e descobrir como se faz. Parabéns pelo seu trabalho.

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  14. Neide, esse seu post me fez ir correndo para cozinha preparar um cuscuz.
    Não posso esperar que alguém me traga pois estou sozinha...mas faço e ofereço a mim mesma...também vale, né?!
    Bjuss!!!

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  15. Bom dia Neide!

    Saudades...

    Hoje vc apareceu no meu Blogroll, havia sumido...

    A última vez que te vi foi no globo repórter, senti o maior orgulho e falei p/ o maridão - eu sigo ela...

    A cuscuz aqui em casa funciona como acompanhamento de carnes, fica uma delícia!

    Um dia iluminado p/ vc.

    Beijoooooooo

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  16. Neide,

    sim, minha família é especial...:-) E minha mãe ama seu blog! De vez em quando vem te visitar aqui ;-)

    Angela,

    Grata!:-)
    Mas é bom demais estes carinhos, ainda mais os carinhos culinários, né? rs

    beijos

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  17. Olá Neide!
    Descobri o seu blog por acaso, estava buscando uma receita e me deparei com tal riqueza de informações e posts maravilhosos que fiquei encantada, mas ao ver este post em especial te confesso que viajei para um cantinho aconchegante (o seu cantinho) que nos remete aos sabores e aromas da infância que tivemos e que hoje sabemos como é importante que também façam parte da vida dos nossos filhos. Sem falar no gesto de "oferecer" pois hoje sabemos o quanto é imprescindível "oferecer" ao próximo, pois para quem oferece é tão gratificante quanto para quem recebe.
    Beijos e serei uma nova seguidora do seu blog.

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