Patinhos e angolinhas Neste feriado não teve bacalhau nem ovo de chocolate. No sítio a coisa é diferente. O peixe salgado, costuma ter na sexta-feira. Mas desta vez os pacus fresquinhos vieram da represa de Chavantes, que fica a 8 quilômetros dali. Foram recheados com palmito plantado e colhido pelo meu pai e assados na brasa. No sábado, os homens da casa foram arrancar mandioca, que cozinhamos para comer com torresmo. Com cerveja, com cachaça e muita conversa boa entre família. E como a última criança da família, a Tarsila, já está com 17 anos, ninguém mais se lembrou dos ovos de chocolate e outros apelos da mídia. Em vez disso, compota de figos do meu pomar, sorvete de abacate que encosta ao chão, mamão amarelo que a gente não vence comer, e muita mexerica, que ainda verde já está docinha com galhos pesados invadindo a varanda. Sem falar na banana que dá o ano todo. Quanta banana! Pra gente e pro sanhaço. O tempo é pouco. Um dia para chegar, outro pra passear, ver a produção, comprar arroz em Carlópolis, e o último só para colher comes e encher o carro. E passa tudo tão rápido. Assim como passou voando o tempo de disposição dos meus pais, que agora envelheceram e querem vender tudo aquilo, descansar um pouco, ficar perto da filha de Curitiba e passear à tarde sem pensar em apartar bezerro ou proteger do sereno o café que seca no terrerão. Talvez se cansem, sintam saudade da movimentação, do alimento plantado e colhido ali, mas eles ainda têm querer, que deve ser respeitado. A casa que Marcos e eu construimos vai junto na venda, afinal, sem meus pais lá a casa também perde o sentido, já que é tão longe de São Paulo (mas a apenas 1,5 km da zona urbana de Fartura). E eu adoro aquela casa. A gente vai pouco por causa da distância, mas é o lugar onde poderia morar para sempre se eu fosse duas e se meus pais tivessem 40 anos a vida toda. Já tem um tempo que a chácara está à venda, mas não falo nada aqui porque evito pensar na questão, e tudo o que ela representa com as devidas melancolias pela ordem natural das coisas. No fundo, no fundo, não quero que o comprador apareça e assim vamos ficando mais um bocadinho. Mas agora já estou treinando o desapego e quem sabe encontro um pedacinho de terra aqui mais perto de mim, para onde vou transferir minha casa, minhas coisas, meu pomar. E meus pais poderão me visitar. Afinal, é repetir e repetir para introjetar a ideia sem dramas: nada é pra sempre. E ainda voltamos cedo para o piquenique de Páscoa na praça, com chuva e tudo. Foi divertido.
Marcos fortão carregando um cacho de banana granada. O trabalho de desmembrar e limpar sobrou para mim. Com prazer.
Os abacates dão assim, quase no chão
Aproveitei o queijo delicioso feito pela minha mãe e os ovos recém postos, para rechear e empanar umas raquetes de palma novinhas, fartas por lá (veja aqui nopales rellenos)
Meu Deus que judiaria estar a mostrar tanta coisa boa.
ResponderExcluirAdoro o campo, mexer na terra e de todas as coisas boas que ela nos dá gratuitamente.
saudade saudade saudade.Lindas fotos Neide.Tomara que a gente ainda consiga voltar antes da venda.Beijo!
ResponderExcluirFoi você falando e eu vendo os meus pais, que a cada encontro vão falando em vender Boracéia...A gente desconversa e vai descascar cajamanga prá congelar e fazer suco. O pé de cajamanga ficou tão grande que o pai teve que cortar os galhos que ameaçavam o telhado.Me dá umas dicas prá aproveitar as cajamangas do quintal de Boracéia.No mês que vem vou aparecer com a Helena na praça tá?
ResponderExcluirNossa... Neide... Até eu fiquei com o coração apertado...
ResponderExcluirMas se o for o melhor para teus pais, que pelo menos encontrem um comprador apaixonado pelas coisas simples do campo e dê tanto valor como vocês, que continue cultivando com amor e carinho tudo que vocês já plantaram e preserveram...
Ah! Já li a resposta do post da Trilha, obrigada! Vou ter que ficar na vontade... hehe!
Ingrid
Ah Neide , que pena!!! Espero que se aparecer comprador ele possa amar o sitio e respeitar a terra tanto quanto você.
ResponderExcluirE de resto mudar também é evoluir e há males que vem pra bem.
Bjs
Recentemente voltei à minha roça, que foi vendida quando eu ainda era criança, e nada opinava. A saudade doeu forte demais. Mas é tão bom ter as lembranças das brincadeiras no quintal, das dezenas de pés de laranja, das jabuticabeiras também plantandas ao acaso, enfim, valeu muito, porque, como vocês, nós curtimos e aproveitamos muitotudo qoue a terra tinha para nos dar. É uma pena que nossos pais não possam permanecer sempre jovens e fortes...Parabéns, mais uma vez, pela sua escrita! Silvia
ResponderExcluirOh, Neide!
ResponderExcluirComo isso custa!
Por cá, é a mesma situação.
Um abraço apertadinho
Manuela Soares
Faz uma cooperativa de amigos para comprar a chácara em comunidade.
ResponderExcluirEu sou leitora de come-se e toda vez que você vai a Fartura é como se eu fosse também.
Mari, vai conseguir, sim.
ResponderExcluirJane, hum.... cajamanga pra suco, sorvete, bolo, doces... Apareça, sim!
Ingrid e Drika, também torço para que isto aconteça. Obrigada!
Silvia, diferente de você, eu nunca morei no campo, mas sinto falta.
Manuela, o tempo não poupa as pessoas nem as coisas grudadas a elas. Fazer o que, né? temos que nos acostumar.
Jane, já pensamos nisto com os irmãos, mas o sítio só tem sentido com meus pais lá, já que fica a 350km de São Paulo. E eles cansaram, se sentem sozinhos. É um sítio bom para morar, ter uma rocinha e umas criações. Não é um sítio de lazer. Mas obrigada pela sugestão.
Um abraço,
N
Neide, quando meus avós resolveram vender o sítio em que passei todas as minhas férias até os 20 e poucos anos foi complicado para nós, netos e filhos. Os donos mesmo, meus avós, já estavam cansados de todo final de semana fazer mala, encher geladeira de isopor, comprar outro tanto de coisa, arrumar, carpir, vistoriar, dor de cabeça...etc..para nós era festa pois era só de vez em quando...
ResponderExcluirFoi dolorido ver o sítio mudar de dono, de donos na verdade...uma cooperativa de 11 famílias comprou e estão cuidando muito bem. Meu avô já se foi e está lá de cima olhando pelo bem que ajudou a formar, cada árvore, cada casa e cada mourão de cerca...e os novos donos sempre lembram dele, de tudo que fez com tanto carinho.
Bom ter podido aproveitar tudo aquilo...agora é nossa vez de fazer nosso sítio.
Beijos! Adorei as fotos...vida simples e feliz.
Pois é assim que quero que minha casa seja! Já plantei o pomar há 4 anos, hoje está carregado de cítricas, de pitanga e os pássaros descobriram o marmelo antes de mim. Não ficou um pra contar história! a horta funciona, mas ainda não sei lidar direito com tudo, lesmas, pulgões são mais espertos do que eu.
ResponderExcluirNão dá pra ter os franguinhos e ovos, meus cachorros caçam. Vaca, desisti, e fiquei apaixonada por ela! agora nao faço mais queijo, mas é isso que gosto! Queria aprender com seu pai a cuidar da terra pra ficar assim, farta!
Não precisa ser duas não, fica lá de vez! bjs!
Ah Neide, eu bem sei o que é tudo isso.Meus pais acabaram de vender a chácara lá em Brotas também. Evito também até de pensar. Nossos passeios por lá também são assim, um dia quase que inteiro para a viagem de 600 Km, mais um pra voltar e no meio disso fazer tudo o que se gosta, além do prazer de estar entre os pais, irmão, cunhada e sobrinhos.
ResponderExcluirA volta é que é triste. Mas...assim caminha a humanidade não é ? Com tantos mistérios que ainda temos por desvendar.
Neide, já comecei a chorar por tudo e por tanta saudade, mas acho assim também que nada na vida é pra sempre e que tem que respeitar a vontade dos seus pais. Beijo. chus
ResponderExcluirAh neide, fiquei com o coracao apertado! Jah estava me sentindo tao "em casa", com as suas visitas aa Fartura. Jah vou me desapegar :-)Mas fico torcendo, pra que o felizardo futuro dono, invista muito amor na terra, como seus pais fizeram todos esses anos. Beijo grande!
ResponderExcluirVerena, pois é, tem todas estas lembranças, mas a gente tem que se desapegar, não há outro jeito. E agora é construir a própria história. Mas que ótimo ter passado o sítio para uma cooperativa, não?
ResponderExcluirÃngela, só nascendo de novo pra ficar de vez num sítio. Apesar de adorar o campo, sou também muito urbana, não dá pra negar. E dependo de tudo aqui. E há outras amarras. Sorte sua que conseguiu.
Ana, então você sabe bem como me sinto. Mas assim caminha...
Chus, não é pra chorar, não. A gente vai se acostumando com cada fase da vida. Já voltou?
Margot, isto pode demorar para acontecer. Enquanto isto, vamos passeando ainda em Fartura.
Um abraço, N