quinta-feira, 25 de março de 2010

Berbigão - um molusco na Arca Gosto


Estes berbigões de Santa Catarina foram servidos durante a apresentação dos alimentos da Arca do Gosto, no Terra Madre. Deliciosos, como sempre. Já os pratos abaixo, comi durante a visita da Comissão da Arca do Gosto à Florianópolis, para conhecer de perto o habitat do molusco e os problemas enfrentados pelos extrativistas locais, como Seu Aristides, que dependem do molusco como alimento e da renda gerada por ele, mas se vêem explorados por atravessadores que pagam pouco pelo produto limpo, e ainda tiveram que lidar com a diminuição da reserva reprodutiva por causa da extração desordenada e a quase eliminação do estoque, a partir de 1995, quando passou por ali, aterrando grande parte do baixio, a Via Expresso Sul, que alterou toda a biodiversidade do mangue e a organização dos extrativistas, mesmo sendo ali uma Resex.
A Resex Marinha do Pirajubaé, primeira reserva marinha do Brasil, foi criada em 1992 na baía sul da Ilha de Santa Catarina, com o objetivo de conservar o estuário do Rio Tavares, onde se concentra a extração do molusco e garantir o desenvolvimento sócio-econômico dos extrativistas tradicionais, e isto foi fundamental para o manejo sustentável do berbigão - mas não impediu os estragos da rodovia.


No pastel, com macarrão e com mamão verde
Também chamado de vôngole, marisco-da-areia, maçunim, papa-fumo, pedrinha, samanguaiá, sarro-de-peito, sarro-de-pito e simongóia, em Santa Catarina todos os conhecem mesmo é por berbigão. Em Portugal, os berbigões que vi são diferentes; já as ameijoas-brancas são mais parecidas com estes nossos berbigões de nome Anomalocardia brasiliana, da família dos Verenidae. Eles estão distribuídos ao longo da costa do Brasil e já foram abundantes no litoral de Santa Catarina, fazendo parte do hábito culinário local. Comem fitoplâncton ou microalgas e zooplâncton, além de outras matérias orgânicas em suspensão e com um ano já são considerados adultos e podem ser coletados, mas o ideal é que atinjam 3 ou 4 anos para garantir reprodução.
A coleta artesanal é feita com rastéu ou gancho - tipo de ancinho, meio gaiola, que vai até o fundo do terreno lodoso da praia e é arrastado trazendo apenas os moluscos de tamanho pré-determinado (a gaiola não pode ter espaçamento menor que 1,3 centímetro, mas o tamanho ideal é de 2 centímetros). Uma das determinações da Resex é que cada família colete no máximo 9 latas de 18 litros. Considerando que cada lata rende quase 1,5 kg de molusco limpo, que dá um trabalhão danado para limpar, depurar para tirar o gosto de terra, fumo ou "travor", cozinhar e descascar, e que o atravessador paga só R$ 4,00 por quilo, calcule quanto sobra para cada família! Por tudo isto, é que entrou para a Arca do Gosto.
Quem quiser comprar berbigão destes extrativistas (mas, por favor, hem, não vá querer pagar preço de atravessador), entre em contato com:
Ubiratan Farias, dono e chefe do Restaurante Villa Açor - Telefone: (48) 32599091 e (48) 99971072,
email: tam_farias@yahoo.com.br
Marcos José de Abreu, Coordenador Urbano do CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo - Telefone: (48) 3334 3176, email: marcos@cepagro.org.br
E agora, o vídeo do Ubiratan e Seu Aristides falando no Terra Madre Brasil 2010:

6 comentários:

  1. Querida Neide

    Quando entro em seu blog me sinto muito bem e quiz entender mais porque e cheguei à algumas deduções.
    Seu site, além da riqueza de conteudo, traz dentro deste conteudo um carinho não só nas palavras mas no sentimento e também muita clareza na informação de forma que se eu nunca ouvi e vi nada a respeito, no minimo saia com vontade de conhecer mais, não intelectualmente mas pelo paladar daquele produto apresentado.

    Parabens e agradeço imensamente a oportunidade de acessar este seu blog.

    beijos

    Silvio Vieira
    www.sabornatural.com.br

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  2. Sílvio, parafraseando Manuel de Barros, sou fraca pra elogios. Mas fico feliz de ouvir isto de você, que tem um trabalho tão bonito.
    Obrigada! Um abraço,
    N

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  3. SAUDADES de comer pastel de berbigão que me deu agora!

    Bj

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  4. Oi Neide,

    É minha primeira visita ao seu blog e com certeza a primeira de muitas! Interessante demais! Em poucos minutos aprendi bastante, conheci frutas e vi receitas inspiradoras! Também sou blogueira de cozinha: www.cozinhacomsotaque.blogspot.com e viajo diariamente em busca de novas idéias, inspirações e amigos de fogão!
    Peçø sua licença para reproduzir sua postagem sobre o berbigão. Sou de florianópolis e de fato a cidade sofreu e sofre com o avanço dos aterros. Hoje tramita o projeto de uma mega marina com muitos quilômetros de aterro, que tentam justificar através dos empregos gerados... enfim...
    Se me permitir colocarei na minha cozinha essa bela expalnação sobre o berbigão!
    Um grande abraço,

    Moema

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  5. Moema,
    claro, pode usar, sim. E obrigada por me pedir, diferente de muita gente (acho que pouca, espero) que vem aqui, dá Ctrl C, Ctrl V e um abraço, sem crédito nem nada. Volte sempre. Que chato saber desta marina. Vou lá espiar seu blog. Um abraço, N

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  6. PARA MIM ESSE CHEF É O MELHOR CHEF
    DE FLORIANÓPOLIS E VOU MAIS ALÉM, DO BRASIL. PARABÉNS UBIRATAM, QUERO VER VOCE EM DUBAI. BYE, NANCY MOTTA.

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