sexta-feira, 12 de setembro de 2008

É ingá - resposta à charada de ontem

Sementes chupadas de ingá - enganação da natureza ou frutinha ligh por excelência.

Ontem o primeiro a matar a charada foi o Leo Levorin, do Tá Bem Bom, que conhece bem o tal ingazinho porque seu pai tem um sítio em Santa Branca na margem do Rio Paraíba e comia a fruta enquanto nadava no rio, durante toda a infância. Parece mesmo balinha de criança. Doce mas não muito; saborosa, mas não muito; nem ácida nem perfumada. E as sementes tem esta superfície brincalhona algodoada que, como disse o Eduardo Luz, as faz parecerem dentes de pelúcia.

Não sei se estou certa, mas, pela descrição e fotos do Harri Lorenzi, no livro “Árvores Brasileiras” (Instituto Plantarum ) , trata-se do Ingá laurina ou ingá-mirim (também ingá branco, ingá-chichica, ingá-de-macaco, ingá-da-praia, ingaí), que ocorre em todo o país, desde a Amazônia até o Nordeste e de lá para o Sul até o Paraná. E outros países da América Latina, Central e Caribe. É uma leguminosa mimosóidea com muitas variedades. Só nos arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, estão registradas 34 delas. As flores são muito melíferas, a madeira é usada em caixotaria e os frutos, bem... nós, crianças e macacos, adoramos. Balinhas de algodão umedecidas em agüinha com açúcar, muito light. No mato, me lembro de ir com irmãs e primas chupando ingazinhos que encontrávamos pelo caminho e jogando as sementes pelas trilhas como João-e-Maria. Sementes que saiam quase do mesmo jeito que entravam na boca. A pelúcia (botanicamente, o arilo flocoso das sementes) é amassada com a língua e dela saiu só uma gominha de nada. Pura ingá-nação. A gente chupa, chupa e não sai nada. Quase como uma cerejinha de café que se come do pé. Ou sementinhas de romã que, segundo minha filha Ananda quando criança, tinha gosto de dedo. É só para divertir, passar o tempo, alegrar. Mas falo deste ingá-mirim. Na Ilha do Marajó comi uns ingás gigantes e polposos, um pouco mais ácidos, deliciosos. Estes sim, de comer a se fartar e engordar.

Os da foto, encontrei num posto de gasolina às margens da rodovia dos Bandeirantes – posto Serro Azul. Bati o olho e precisei descer do carro e catar quanto pude – com permissão do frentista, é claro, se é que ele estava se importando com umas vagenzinhas bobas.

E, já que o Leo Levorin lembrou da Correnteza, música do Luiz Bonfá (com Djavan cantando, é linda), aqui vai a letra:


A correnteza do rio vai levando aquela flor
O meu bem já está dormindo zombando do meu amor
zombando do meu amor
Na barranceira do rio o ingá se debruçou
E a fruta que era madura
a correnteza levou
a correnteza levou
a correnteza levou, ah
E choveu uma semana e eu não vi o meu amor
O barro ficou marcado aonde a boiada passou
Depois da chuva passada céu azul se apresentou
Lá na beira da estrada
vem vindo o meu amor
vem vindo o meu amor
vem vindo o meu amor
Ôu dandá, ôu dandá, ôu dandá, ôu dandá
E choveu uma semana e eu não vi o meu amor
O barro ficou marcado aonde a boiada passou
A correnteza do rio vai levando aquela flor
E eu adormeci sorrindo
Sonhando com nosso amor
Sonhando com nosso amor Sonhando...
Ôu dandá etc...

10 comentários:

  1. Neide me lembro de ingá quando era ainda uma garotinha. Se não me engano tínhamos lá no sítio....vou perguntar ao papai se ainda temos....
    É tão saboroso ....
    Bjs.

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  2. Ha quanto tempo nao via. Uma delicia que pra mim tem gosto de infancia, boca lambuzada.
    Belo post as usual!

    Beijo

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  3. Olá Neide,.. caramba !!!!! fiquei emocionado com tantas citações. Valeu mesmo. Inté Leo.

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  4. Algodão!!!!!
    Só mesmo eu.Sou filha de nordestinos, mas sou muito paulista, desconheço tantas coisas.Preciso remediar isso.Perde-se tanta coisa maravilhosa que a terra produz por falta de informação.
    Ainda bem que tem Neidoca.Rsrsrsrs
    Bjs

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  5. Neide, que saudade da minha infância, um vizinha da casa dos meus pais, tinha um ingazeiro enorme, era uma festa!

    Obrigada por essa lembrança.

    beijoca

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  6. Acho que já vi mas não me lembro de ter experimentado...que pena ,porque agora nem pensar em encontrar ingá por aqui..
    Bjs

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  7. Olá...
    Gostaria de sabwer se você sabe alguma receita de LICOR DE INGÁ.
    Obrigada.

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  8. Oi Neide, eu também tenho 2 exemplares deste Ingazinho-mirim, mas ele ainda é bem jovem e não frutificou tampouco conheço sua flor.

    Abraço.

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  9. Olá Neide,

    Santos é uma cidade quase toda arborizada com Inga-Mirim.. Não sabia que existia outros tipos de ingá, e acho que a maioria dos santistas também não sabem. hehehe

    Abraço

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  10. Moro em Ribeirão Preto hoje mim deparei com varios pés de ingar em um canteiro proximo a minha casa.as frutas estão maduras vou pegar um montão vou mim deliciar.

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