quarta-feira, 30 de abril de 2008

Acerolas congeladas


Os caroços com polpa grudada podem ser batidos no liquidificador com água. Depois é só coar e adoçar a gosto. Os pedaços de polpa vão entrar em bolos, caldinhas e coisas do tipo.

Aproveitando o embalo das frutas amazônicas, deixo aqui a dica das acerolas. E congeladas. Várias safras ao ano, mas amadurecem todas de uma só vez. Haja suco e comilança debaixo do pé (até começar a tal erosão ácida dos dentes). Ultimamente tenho trazido muitas delas sempre que minha ida ao sítio coincide com a maturidade das bolinhas. Lavo bem, seco e espalho num tabuleiro. Levo ao freezer e deixo congelar por mais ou menos 3 horas ou até virarem pedrinhas duras. Aí é só embalar e retirar quantas quiser na hora de usar (para sucos, muffins, bolos, caldas, sorvetes ou clafoutis).
É tão comum e adaptada por aqui que parece nativa, antiga. Mas é originária das Antilhas e seu cultivo é recente. A acerola (Malpighia glabra L) ou cereja das antilhas, seu outro nome já que tem um jeitão da cereja européia, é, de verdade, parente da nossa pitanga, do camu-camu, de origem amazônica, e de várias outras frutas de origem brasileira da família das Mirtáceas. Nas Antilhas é apelidada de milagre vegetal dada a quantidade exacerbada de vitamina C. Para se ter uma idéia, cada 100 gramas da fruta fornece de 1.000 até 5.000 miligramas da vitamina ante 50 miligramas em 100 gramas de suco de laranja. Isto representa cerca de 20 a 100 vezes mais. Ou seja, uma única fruta de 10 gramas é suficiente para suprir as necessidades diárias de uma criança ou adulto.

A superioridade vitamínica sobre todos os frutos fez com que fosse considerada nas Antilhas como verdadeiro segredo de Estado, sendo proibida sua saída dos países onde era cultivada. Porém, a tentação gerada pela proibição induziu uma brasileira a trazer consigo 245 sementes do fruto proibido dentro da bolsa (eu também faço dessas...). As sementes geraram frutos na Universidade Federal Rural de Pernambuco, em 1955, que passou a estudá-la e, a partir de 1984, a enviar aos agricultores interessados na produção não só as informações sobre seu cultivo, mas também sementes, o que favoreceu sua proliferação, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, mas também nas demais regiões do Brasil, já que é uma planta rústica que se adapta bem em quase todos os solos e climas do país. Em Fartura vão bem, obrigada.

Hoje a gente vê pé delas em muitos quintais Brasil afora. Virou frutinha nossa, farta, popular, barata. Ainda assim, grande parte da produção é exportada para o Japão, onde é ingrediente obrigatório de balas, refrigerantes, gomas de mascar etc. Como é uma planta rústica, pode ser cultivada organicamente sem dificuldades. Passam a produzir a partir do segundo ano de plantio e tem alta produtividade, durante pelo menos 50 anos. E em cada safra, umas três por ano, cada pé pode render de 20 a 50 quilos. É só achar um pé carregadinho e aproveitar tudo.

Dicas sobre a fruta congelada
- Se quiser, compre as frutas congeladas no supermercado, mas costumam chegar amassadas. Se não tiver acesso a um pé carregadinho, prefira comprar os frutos frescos e congelar.
- O congelamento leva a perdas de vitamina C, mas não se preocupe porque seu teor é tão grande, que a quantidade perdida não fará muita falta.
- Para fazer suco, é só tirar algumas congeladas e colocar direto no liquidificador. Vão bem com kefir ou iogurte e fazem deliciosos frozen.
- Para colocar em bolos ou similiares, é só tirar do freezer a quantidade que quer usar, esperar uns minutinhos e já dá para tirar a polpa rodeando as sementes – aliás prefiro fazer isto com as polpas semi-congeladas, pois a frutinha se desmancha toda quando está fresca.
- No calor, é uma delícia enfiar na boca uma acerola congelada e ir chupando até que consiga mordê-la como a um sorvetinho. Ela não fica tão dura devido à boa quantidade de açúcar natural. Quanto mais docinha, mais macia ficará a fruta congelada.



Clafoutis de acerola

Para fazer este tipo de pudinzinho de sabor neutro, usei uma massa básica, retirada do livro The Fabulous Frut cookbook, de Moya Clarke. Mas, se preferir uma sobremesa mais doce, coloque a frutinha no meio de massa de panqueca, bolo ou muffin.

Como fiz: coloquei numa tigela 100 g de farinha de trigo branca e uma pitada de sal, juntei 2 ovos e um pouco da quantidade total de leite a ser usado que é de 300 ml, suficiente para formar uma massa cremosa. Mexi com batedor de arame e fui juntando o resto do leite, batendo sempre. Deixei descansar uns 15 minutos. Preaqueci o forno a a180 °C (350 ºF). Untei com manteiga 8 forminhas quadradas (use uma maior, como é o jeito clássico), coloquei a massa e, por cima, espalhei cerca de 200 gramas de pedaços de acerola. Polvilhei com 2 colheres (sopa) de açúcar e levei para assar por cerca de 1 hora (ou até a massa ficar firme e dourada).
Polvilhe um pouco de açúcar de confeiteiro, se quiser (eu não polvilhei). E sirva quente ou morno com creme.

Os mirtilos aparecem aqui porque usei as duas frutas num sorvete

Usei uma colherada de nata densa gaúcha, da Marca Piá (piá, no Sul, é menino). Poderia comer o dobro disto, ainda que 1 colherinha de chá baste, mas é maravilhosa, sabor de nata de verdade, puro creme. Comprei no supermercado da rede gaúcha Zaffari, que abriu no novo Shopping Bourbon, e vende os produtos tradicionais e itens do Sul, desconhecidos por aqui. Não estou ganhando nada pra falar isto, que fique claro. Aliás, vou pra Porto Alegre e tchau. Volto na segunda.

DOAÇÃO DE LIVROS



Sabe aquele livro que está ocupando lugar na sua estante? Aquele repetido? Aquele de outra fase da sua vida? Aquele que nunca vai ler? Aquele que nunca mais vai reler? Aquele de auto-ajuda que ganhou de amigo-secreto? Se quiser se livrar deles, faça uma boa ação doando-os para a formação de uma biblioteca que será frequentada por pessoas de todos os níveis e diferentes preferências. Minha amiga Carmem está ajudando a montar uma numa instituição onde trabalha com pessoas com problemas de saúde mental. Eu já separei alguns. Se quiser contribuir também, é só combinar com ela no email: carmenavila@uol.com.br

terça-feira, 29 de abril de 2008

Frutas Amazônicas parte 4 - Bacuripari-liso, banana pacovã e cupuaçu

Sorvete da sorveteria Glacial - cupuaçu, graviola, açaí, tucumã e taperebá
Jenipapo e bacuripari-liso


Bacuripari-liso
O vendedor me deu uma para experimentar. Chupei, chupei, querendo mais, mas o resto era caroço. 1 a 3 sementes duras revestidas por uma fina camada de polpa macia, branquinha, levemente ácida (como a do bacuri do Pará, sendo este muito maior e carnudo). É isto que se chupa. Fiquei imaginando a dificuldade para se extrair a polpa para sucos. Só mesmo para rolar na boca e extrair o máximo que se consegue. Frutinha-diversão, passa- tempo infinitamente mais light que o biscoito com este nome. Demorei para identificar porque há vários tipos de bacurizinhos amazônicos. Mas acho que é este: bacuripari-liso, Rheedia brasiliensis ou Garcinia brasiliensis, de origem amazônica com ocorrência em mata pouco densa e que frutifica na região de Manaus de janeiro a maio. Mais uma fruta que peguei no fim de safra.



Banana pacovã

Na época do descobrimento, havia por aqui uma variedade nativa de banana chamada de pacova que, por ser brasileira, foi denominada posteriormente banana-da-terra. As outras variedades de banana, entre as quais a nanica ou banana d’água, chegaram ao Brasil com os africanos, possivelmente originárias do quente e úmido sudeste asiático. Fiquei impressionada com a quantidade, em Manaus, de banana-da-terra - pelo menos é assim que a chamamos em São Paulo uma variedade muito parecida, um pouco menor. Chamam por lá de pacovã, seu nome primordial. E com ela fazem friturinhas com canela e açúcar vendidas na rua, assim como os chips salgados em rodelas ou fatias linguarudas.

Comida de rua: friturinhas com banana pacovã

Cupuaçu (Theobroma grandiflorum)
São como os do Pará, do qual já falei aqui .

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Frutas Amazônicas parte 3 – Cubiu e Sapota-dos-Solimões


Cubiu verdolengo

Confesso com vergonha que não comi de verdade nenhuma das duas em Manaus. Cubiu comi aqui em São Paulo certa vez como Maná, seu outro nome. Mas aprendi uma coisa que deve valer para todos seres viajantes: quando passar por uma barraca de rua e vir uma fruta ou qualquer coisa diferente que desperte seu interesse, não deixe pra depois, achando que haverá mil delas mais à frente. Pode acontecer de nunca mais se deparar com a coisa até o momento de ir embora. Se deixar pra comprar no aeroporto, então, danou-se. E sabe-se lá quando vai voltar àquele lugar. Mesmo que seus companheiros de viagem te puxem pelo braço, desvencilhe-se à força, faça birra e pare pra comprar o que quer. Pode ser a última chance. O bom é já andar com dinheiro vivo no bolso e uma sacolona à mão quer você vá ao teatro ver a ópera ou tomar sorvete na Glacial da esquina (Glacial é a sorveteria mais famosa de Manaus). Ainda não sabia disto e só agora me dou conta do que perdi.


Cubiu maduro com gengibre - para curas
Pelo menos perguntei o que era e pra que servia, já que todo mundo em alvoroço parecia se interessar demasiado pelo tal do cubiu. É de comer, perguntei. Não, é remédio, responderam. Pra quê? Diabetes, colesterol e o diabo. Tivessem respondido é de comer, teria comprado e reconhecido. Droga! Foi chegando aqui e consultando o livrão da Embrapa, Fruteiras da Amazônia, que percebi que já conhecia a fruta. Certa vez, comprei no Extra, com o nome de maná e até registrei minhas impressões - achei azedinha, boa para chutneys. Originária do Alto Orinoco e domesticada pelos ameríndios, está espalhada por toda a Amazônia – brasileira, peruana e colombiana. Olhando, assim, parece uma mistura de tomate, tomarillo e berinjela. É parente solanácea de todos eles e ainda do jiló, da pimenta e do pimentão. Não é fruta boa de se comer de bocada, mas vai bem em sucos e como tempero – assim como tomate – de cozidos de peixe e frango. Aliás, recebe nome também de tomate de índio, em Pernambuco, além topiro e tupiro no Peru; cocona, na Colômbia, Peru e Venezuela. Em inglês, atende por orinoco apple ou peach tomato.

A razão da panacéia chama-se niacina, uma vitamina do complexo B, na qual o cubiu é muito rico. A vitamina está envolvida em processos enzimáticos no nosso corpo, que inclui o metabolismo de gorduras. Por isto, dizem, faz baixar o colesterol, controla a glicemia, ácido úrico etc. Pelo nome dela “Solanum sessiliflorum”, não encontrei referências no pai dos burros da fitoterapia “Tratado de fitofármacos y nutracéuticos”, o que não significa que tudo isto não seja verdade, pois já vi pelo menos um estudo sério publicado na revista do Instituto Adolfo Lutz que comprova o efeito antiglicemiante com ratos. Por enquanto, vamos comendo, que, se não fizer bem, com moderação mal não faz. Já há plantação comercial do dito no Vale do Ribeira. Foi de lá que veio aquele que comprei no Extra e é só ficar de olho que logo teremos mais por aqui. No Mercadão deve até ter - é que faz tempo que não ando por lá.

Sapota-do-solimões


Goiabas com sapotas-do-solimões

Rambutão em cima, tucumã embaixo e sapota à direita
Sapota-do-solimões foi uma das frutas que só vi duas vezes na viagem toda e sequer comprei uma para experimentar na calma do hotel ou para trazer pra casa. Era fim de safra. Sorte que numa das barracas de rua me deram uma lasca para provar. Mas o excesso de novidades era tanto que estaria mentindo se dissesse que me pareceu azeda ou assada. Não lembro. Sei que era gostosa, nem um pouco agressiva. Tampouco espalhafatosa no aroma como graviola, maracujá ou cupuaçu. Talvez docinha e discreta como um caqui.

A Quararibea cordata, ou Matisia cordata, que dá estes frutos, é uma árvore de porte alto que pode chegar a 20 metros. Parece ser originária da Bacia do médio e alto Solimões e está espalhada da cidade de Tefé, na Amazônia, até Peru oriental, Colombia e Equador. É chamada também de sapota-do-Peru em língua puquiniquim. Já na Colombia, é zapote ou chupa-chupa. E a danana é grande e bonita. Tem casca coriácea e polpa bem alaranjada, suculenta, com algumas sementes duras. Seu peso pode variar de 300 gramas a 1 quilo. Terei que voltar lá no ano que vem.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Frutas amazônicas, parte 2. Graviolas e Jenipapos


Isto é comum em Manaus: polpas frescas em saquinhos
Graviolas


Projetinho de graviola, no Hotel Tropical



Graviolas à direita. Aqui, com cacau, mamão e ingá.


Originárias das Antilhas, as graviolas (Annona muricata) estão presentes hoje em quase todos os países tropicais. Em Manaus a oferta é farta. Mais nas barraquinhas de rua que no Mercado Municipal. Embora se pareça com uma pequena jaca, pertence à família das Anonáceas, a mesma pinha, ata ou fruta-do-conde, cherimóia e atemóia (híbrido entre cherimóia e pinha). No Brasil todo, podemos encontrar a polpa batida e congelada, mas nada se compara àquela polpa tirada na hora do fruto bem maduro. Branquinha, um verdadeiro algodão alvo e suculento, perfumado, doce e ácido, tudo junto, tudo forte, o que dá uma personalidade danada a sorvetes, musses, cremes e sucos. A polpa fresca, em saquinhos, também é vendida por lá (mas vai saber a higiene na manipulação). Prefiro comprar o fruto e separar a polpa eu mesma. Se não uso toda, embalo e congelo.
Jenipapo


São feiosos. Ficam lá amontoados nas barracas. Umas bolas marrons e amassadas. Mas quem se importa? Estão maduros e gostosos quando ficam assim, molinhos. Estes frutos da planta Genipa americana L., originária do norte da América do Sul, podem hoje ser encontrados em vários países. Na Amazônia brasileira é uma planta espontânea que cresce nas várzeas e costuma ser coletada pelos homens. Mas também há cultivos comerciais. Por aí afora recebe nomes como Bigrande, na Bolívia; Jagua, na Colômbia; caruto e xagua na Venezuela; yaguayagua, no Peru e maluco, no México. É mesmo um fruto maluco. Já comi pedaços cristalizados e bebi do licor. Acho muito saboroso e perfumado, mas tem um quê terpênico de diesel, plástico, sei lá o que. Nada que atrapalhe o consumo, um retrogosto apenas. Fora isto, é um fruto cheio de vitaminas e minerais, energético e útil na ornamentação corporal - do fruto verde, ralado e espremido, se extrai um líquido amarelado que escurece em contato com o sol e serve de tinta para as pinturas indígenas ritualísticas.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Frutas Amazônicas, parte 1. Coquinhos: pupunha e tucumã



Pupunha (Bactris gasipaes H.B.K)
Presente em outros países como Honduras, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Peru, Venezuela, Equador e Bolívia, esta palmeira foi originalmente domesticada na América Central e Amazônia. É costume no Norte comer os coquinhos cozidos em água e sal, no café da manhã, como o aipim. Ficam com consistência de castanha portuguesa ou batata doce, só que mais firme, por isto são usados também para purês, cremes, inhoques, tortas. De sabor, fica entre milho e pinhão. É rico em carboidratos, mas também em gordura (27%), uma ótima aliada para transportar tanto betacaroteno (3.800 mcg/100 g), substância amarela lipossolúvel que se transforma em vitamina A. Pode virar farinha de uso na culinária e seu palmito é aquele de cultivo sustentável que passou a ser plantado para dar fôlego ao juçara. De qualquer forma, uma coisa ou outra. Palmito ou frutos.

Tucumã
Como a pupunha, o que se come do tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer) é a polpa. Só que neste caso é mais versátil porque pode ser comida crua. Originária da Amazônia, esta palmeira espinhenta pode ser encontrada nas Guianas, no Peru e na Colômbia. Além de fornecer fibras, linhas, palhas e madeira para usos no artesanato, cestaria e construção, fornece estes frutinhos esverdeados, de polpa alaranjada, deliciosos e nutritivos, outra grande fonte de betacaroteno, como a pupunha, o dendê e outros coquinhos amarelos. Demos sorte de pegar ainda o fim da safra, que vai de novembro a maio. Lá em Manaus, entram numa porção de pratos e podem ser encontrados em toda esquina já cortados em lascas que serão usadas no seu mais famoso veículo, o ilustre sanduíche, nada mais que pão e pupunha, às vezes vendido a R$ 1,00 em pontos populares. É claro que se pode incrementar dando uma ligeira fritada na manteiga, juntando fatias de banana frita ou queijo de coalho. Mas nem precisa. Pena que só trouxe uma dúzia deles e quase nada mais resta depois de devorar dois sanduíches. Tem gosto amanteigado, neutro, não precisa de sal nem açúcar e tem consistência de peito de frango grelhado e macio ao ser mordido.

Tentei tirar a amêndoa para comer ou extrair o leite, mas a semente é dura como pedra. E o coquinho é lindo de branco, com aguinha na cavidade e tudo o mais lembrando um coco da Bahia, mas não consegui sequer dar uma mordida de tão duro. É difícil também de separar a amêndoa da casca. Tentei que tentei com a ponta da faca, mas larguei mão antes que acontecesse um acidente. Seria como tirar leite de pedra. Para conseguir quebrar os cocos no martelo quase gerei dois dedões roxos e achatados, de tanto que escorregavam sem partir. Experimentei uma lasquinha e não senti sabor algum. Mas deve ter serventia e sei que é nutritivo. Alguém aí sabe? Se não, que elas continuem como bolas de colares, que, aliás, ficam lindos.


As lascas em saquinhos vendidas no Mercado, mas também são encontradas em barracas de rua. Preferi trazer os frutos inteiros e tratar deles aqui.

É só descascar e tirar a polpa em lascas - não rendem muito, mas dois ou três fazem um sanduíche.


Sanduíche saudável. E o melhor: de delícia rara e rústica 
Minha amiga e consultora para assuntos amazônicos, Dona Jerônima Brito (da Pousada São Jerônimo, na Ilha do Marajó), me contou que os tucumãs do Marajó são pequenos e que os vendidos em Manaus são carnudos. No Marajó o que se faz é passar os pedacinhos de polpa na máquina de moer e triturar como carne moída, que vai entrar em sanduíches, tortas e o que mais a imaginação atingir. Aproveitou pra me contar sobre uma receita indígena que ela comia e via preparar quando criança. Nunca mais viu. Aqui vai a ideia (a receita, darei no dia em que testar).

CANHAPIRA 
Tempere um dia antes um pedaço grande de pernil de porco com alho, sal, pimenta-do-reino e suco de limão. Deixe na geladeira. No outro dia, refogue o pedaço de carne em óleo numa panela grande. Cubra com água quente e deixe cozinhar até ficar macia, a água secar e começar a fritar na gordura que restou na panela. Coloque num tabuleiro e leve ao forno para dourar. Corte em pedaços, coloque de novo na panela e junte suco de tucumã (a polpa batida com água e peneirada). Deixe ferver em fogo baixo para os sabores combinarem e junte folhinhas de manjericão. Talvez tenha um toque dela aí – esta coisa de cozinhar e depois assar, as folhinhas de manjericão..., mas a ideia é boa, não?

Outra dica da Dona Jerônima: Refresco ou suco de tucumã
Bata a polpa com água e adoce a gosto. Para não ficar viscoso demais, bata junto uma goiabinha verde. É como tirar baba de quiabo. Peneire e sirva gelado.

Tem comida na Virada

A Virada Cultural Paulista acontece anualmente em São Paulo com eventos gratuitos que viram a noite, e neste ano tem como novidade programações gastronômicas. Uma, no Centro da Cultura Judaica, e outra que não faz parte exatamente da Virada, mas engrossa o caldo. O Cine HSBC Belas Artes aproveitou o evento para incluir um Noitão (3 filmes durante a madruga por apenas 1 ingresso - costuma acontecer na 2ª Sexta-feira de cada mês), desta vez só com filmes de comida. Com duas vantagens: sabemos os filmes de antemão (no tradicional Noitão, os filmes são surpresa) e com ingressos mais baratos. Vejam aí as duas coisas:



Centro da Cultura Judaica

A chef Simone Chevis e o gourmet Breno Lerner dão boas vindas à madrugada ministrando oficina de culinária sobre comidas e bebidas de boteco. O workshop inclui um cardápio bem brasileiro com caipirinha, caldinho de feijão e cartola, e outro de origem judaica com Kephir, bebida a base de iogurte, e o Rebecchini di Gerusalemme, sanduíche de polenta e anchovas. Local: Auditório. Duração: 2 horas. Idade Mínima: 14 anos. Vagas limitadas. Retirar ingresso com 1 hora de antecedência. Sujeito à lotação do espaço. (texto da assessoria de imprensa - CH2A Comunicação, no site do Centro da Cultura Judaica)


Quando: 26 de abril às 23 horas
Onde: Rua Oscar Freire, 2500 - Sumaré - Tel. (11) 3065-4333
Quanto: gratis

Estacionamento conveniado Center Park
R. Galeno de Almeida, 148 (esquina com a rua Oscar Freire)

Metrô Estação Sumaré (Linha Verde)






Virada Cine-Gastronômica em São Paulo

Fui convidada para este Noitão do HSBC Belas Artes, só com filmes de comida, mas recusei. Já assisti a todos. Iria novamente com o maior prazer, pois já não lembro direito de alguns. Só não vou porque durmo com as galinhas e acordo com o galo. Seria ir pra dormir na poltrona. Querem me ver no cinema? é sempre nas sessões das 14 ou 16 horas. Morrendo de inveja de quem consegue ficar acordado, deixo aqui a dica para corujas gourmets.

Das 23 horas de sábado, 26, até 8 horas do domingo, 27, serão 3 filmes à sua escolha, recheados, nos intervalos, pelas degustações de pratos inspirados por eles. Tudo patrocinado pela Petybon, idealizadora do evento.

Menu: escolha três
Hall, 23 h - Degustação 1 (Welcome)
sala 1, 24 h - Os Brutos Também Comem Espaguete
sala 2, 2 h - O Jantar
Sala 3, 24 h - Mais Estranho que a Ficção
Sala 4, 24 h - Comer, Beber, Viver
Hall – 2 h - Degustação 2
Sala 1, 2h40 - Chocolate
Sala 2, 2h40 - Depois Daquele Baile
Sala 3, 2h40 - Os Brutos Também Comem Espaguete
Sala 4 – 2h40 - O Jantar
Hall – 4h40 - Degustação 3
Sala 1 – 5h20 - Mais Estranho que a Ficção
Sala 2 – 5h20 - Comer, Beber, Viver
Sala 3 – 5h20 - Chocolate
Sala 4 – 5h20 - Depois Daquele Baile
Hall – 7h20 - Degustação 4 (Café da Manhã)


Sinopses dos filmes (textos da assessoria de imprensa FSB Comunicações - (11) 3061-9596)

CHOCOLATE, de Lasse Hallström (Chocolat, Inglaterra/EUA, 2000). Romance. Narra a história da dona de uma recém-aberta loja de chocolates que conquista a todos em uma pequena cidade no interior da França. Com Juliette Binoche, Johnny Deep, Lena Olin, Judi Dench e Carrie-Anne Moss. Recebeu cinco indicações ao Oscar. Duração: 105 minutos.

COMER, BEBER, VIVER, de Ang Lee (Eat Drink Man Woman, Taiwan/EUA, 1994). Um dos maiores cozinheiros de Taipei, o Sr. Chu perdeu o gosto pela vida após a morte da esposa. Mas ele e suas três filhas estão prestes a descobrir que a união faz a força e o amor pode adoçar a vida mesmo dos mais descrentes. Com Sihung Lung, Kuei-Mei Yang, Chien-Lien Wu, Yu-Wen Wang, Winston Chao, Ah-Leh Gua. Duração: 123 minutos.

DEPOIS DAQUELE BAILE, de Roberto Bomtempo (Brasil, 2006). Comédia. Uma viúva cuida de uma pensão em Belo Horizonte e passa a ser disputada por dois de seus fregueses mais assíduos. Com Irene Ravache, Lima Duarte, Marcos Caruso e Ingrid Guimarães. Duração: 108 minutos.

MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO, de Marc Forster (Stranger Than Fiction, EUA, 2006). Comédia. Um dia um homem passa a ouvir uma voz feminina, que narra exatamente seus pensamentos, atos e sentimentos. Apenas ele pode ouvir a voz. Quando ela diz que ele está prestes a morrer, ele busca algum meio de evitar que isto ocorra. Com Will Ferrel, Denise Hughes, Emma Thompson, Maggie Gyllenhaal. Duração: 113 minutos.

O JANTAR, de Ettore Scola (La Cena, Itália/França, 1998). Comédia. O filme retrata a vida de diversos personagens, com seus vícios e virtudes, em um restaurante italiano. Com Vittorio Gassman, Fanny Ardant, Antonio Catania, Giancarlo Giannini, Marie Gillain. Duração: 126 minutos.

TAMPOPO - OS BRUTOS TAMBÉM COMEM ESPAGUETE, de Juzo Itami (Japão, 1998). Comédia japonesa na qual a comida tem papel de destaque. O filme mostra a busca da perfeita receita da sopa de macarrão, cartão de visitas do restaurante de Tampopo (Nobuko Miyamoto). Junto com seu entregador de leite Goro (Tsutomu Yamazaki), Tampopo se lança na busca da receita e passam em restaurantes, pesquisando, investigando e descobrindo segredos. Enquanto isso, o filme desenvolve uma série de outras pequenas narrativas paralelas que mostram a importância da comida na cultura e sociedade japonesas. Duração: 115 minutos.


Menu degustação
Salada de Fusilli
Petisco de macarrão frito polvilhado com açúcar e canela
Spaghetti e Penne integralli
Molho ao pomodoro com basilico
Molho branco
Pudim e flans Sol
Bolos da linha chocolatíssimo (laranja, milho verde, coco, baunilha e festa)
Mini sanduíches com frios
Pães
Bolos

Quando: das 23h de 26/04 (sábado) às 08h de 27/04 (domingo)
Onde: HSBC Belas Artes – Rua da Consolação, 2423, São Paulo
Quanto: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia entrada)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Peixes amazônicos

O mercado de peixes de Manaus funciona num galpão ao lado do Mercado Adolpho Lisboa - o mesmo que pegou fogo ontem, às margens do Rio Negro. Barcos atracam entre eles trazendo peixes para um e bananas para o outro. Além, é claro, de todo o resto que é vendido lá (mas o que mais vi foram peixes e bananas pacovás). A água do Solimões, leitosa, barrenta e mais alcalina é também a mais nutritiva e atrativa para os peixes. Já a acidez do Rio Negro não é um bom convite para a vida. Nem para os mosquitos - daí os hotéis de selva serem à beira dele, assim como a enorme quantidade de casas ribeirinhas ao longo dele. Fui dois dias ao Mercado e iria muitos outros, caso ficasse por lá mais tempo. A cada dia é uma descoberta. A não ser os peixes mais famosos como o tucunaré, matrinxã ou pirarucu, não conhecia a maioria dos outros peixes de água doce que vi ali. E peixes de rio podem ter sabores surpreendentes como o jaraqui (dizem os manauaras que "quem come jaraqui, não sai daqui"), que tem sabor de ave. Conclui assim depois que comentei com Ananda que senti gosto de pato assado. Ela rebateu dizendo que não, que parecia peru. Espinhento, com este sabor diferente, não é unanimidade mesmo entre os nativos. É um peixe barato. R$ 10,00 0 monte. Frito fica muito bom. Gostei.

Jaraqui (Semaprochilodus spp)



Jaraqui (Semaprochilodus spp) sendo cortado na pele, como é de costume fazer por lá



Pacu branco (Myleus spp) - nada a ver com nosso pacu que, segundo os vendedores, é tambacu - mistura do tambaqui com pacu.

Tambaqui (Colossoma macropomum) e matrinxã (Brycon ssp)


Tambaqui


Tucunaré (Cichla spp)


Tucunaré (Chicla spp)

Tucunaré (Cichla spp)


Pirarucu seco, o bacalhau amazônico - Arapaima gigas


Caparari ou Pintado (Pseudoplatystoma tigrinum); Cachara ou Surubim (Pseudoplatystoma fasciatum) e Filhote ou Piraíba (Brachyplathystoma filamentosum)



Postas de pintado e surubim


Jatuarana (Brycon sp) e Pirarucu (Arapaima gigas) – mantas frescas


Cuiú-cuiú (Oxydoras niger)
Precisaria ficar lá por um mês para experimentar de tudo. Mas, calma aí, foi só a primeira vez. Hei de voltar. Amanhã, frutas amazônicas.


Mercado de Manaus - fogo

Deu no Terra: Incêndio destruiu parte dos boxes comerciais do mercado


Foto: Arnoldo Santos/Terra - fogo nesta noite





Foto minha, do mesmo ângulo, na segunda-feira de manhã

Estava na cara que aquilo não ia dar certo. Um monte de barraquinhos improvisados, comida sendo feita no fogão a gás, tucupi a ferver em fogãozinho no chão, no meio de entulhos... Uma pena.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Manaus


Costela de tambaqui no restaurante Moronquetá
Antes que digam que eu deveria ter tomado o tacacá da Gisela ou café da manhã no Joelza, ido comer no Bistro Ananã ou visitado o hotel Ariaú, entre outras obrigações para quem vai a Manaus, vou logo avisando que vou ficar devendo, que foi só um passeinho rápido e que falhamos apenas dois dias por lá. Fomos todos, incluindo o namorado da filha. Apesar do pouco tempo, fizemos muitas descobertas numa cidade totalmente misteriosa para nós. Tivemos que fazer escolhas difíceis e democráticas que satisfizessem a todos. Afinal ninguém tem muita paciência comigo quando, como um toco flutuante, começo enroscar em cada barraquinha de comida de rua, perguntando o quê, como e pra quê. Desta vez, fora algumas cruzadas de braço e um dos joelhos semi-flexionados do Marcos e da Ananda, até que tiveram paciência com minhas paradas. Tivemos que escolher entre o Festival de Ópera no Teatro Amazonas ou sair para jantar, porque dormir tarde ninguém aguentava. Preferimos a primeira opção para acordar cedo no outro dia. Tudo bem que tivemos duas noites de pizza de mussarela com coca-cola pós-teatro, à moda paulistana, mas conseguimos fazer programas bem legais de gosto coletivo como visitar o Mercado Municipal e o Mercado de Peixes; pegar barco para conhecer o Museu do Seringueiro na outra margem do Rio Negro; visitar o Hotel Tropical e seu zoológico; ir ao encontro das águas; tirar fotos de vitórias-régias; apreciar lindos pirarucus com mais de 100 quilos e comer peixes variados em três restaurantes, entre os quais merece destaque o Moronquetá (Rua Jayth Chaves, 33 - Porto do CEASA - Distrito Industrial - Telefone: 615-3362), onde devoramos uma suculenta e deliciosa costela de tambaqui com arroz de couve fresquinho, tucunaré em molho de macaxeira e jambu, tudo regados com molho de pimenta murupi e tucupi. Além disso, descobrimos que:
a comida de rua mais popular é a banana pacová frita (banana-da-terra para nós) - se mais verde, na forma de chips e mais maduras, fritas e polvilhadas com canela e açúcar para comer de palitinho ou como recheio de sanduíches;
que polpa de tucumã vira recheio de sanduíches e de tapiocas; que é época deste coquinho e que é extremamente saboroso (tô viciada), com sabor amanteigado para se comer sem sal nem açúcar – mas, como coco ou abacate pode entrar em pratos doces ou salgados;
que o bacurizinho de lá é diferente do bacuri gigante paraense;
que os peixes frescos em variedade e frescor são de nos fazer inveja;
que turista brasileiro por lá deveria ser protegido pois está ameaçado de extinção - estrangeiro é só que se vê em Manaus;
que os preços das coisas são para turista estrangeiro;
que o encontro das águas dos dois rios é um espetáculo emocionante – a água do Solimões é leitosa, fria, alcalina e rápida, enquanto a do Rio Negro é escura, ácida, quente e lenta. Como yin e yang ou as ondas brancas e pretas das calçadas de Copacabana, o branco e o preto se encostam mas não se misturam por cerca de 6 kilômetros, um dando cotoveladas no outro, até formarem o Rio Amazonas, com predominância do Solimões leitoso. Aliás, nossa guia do teatro disse que o design das ondas da calçada de Copacabana surgiu mesmo há mais de 100 anos em Manaus, ainda presente na Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas.
Ah, descobrimos ainda que os manauaras são extremamente gentis e que a fiscalização sanitária por lá é precária.

Bem, vamos a algumas aos fatos e fotos. Aos poucos vou falando mais completamente das coisas que me chamaram a atenção. Amanhã, mostro os peixes.

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Café da manhã: melancia e mamão, além de pé-de-moleque, cangica, mandioca (macaxeira), milho e coquinho de pupunha cozido - lembra um pouco uma mistura de milho cozido e pinhão.


Mercado Municipal Adolpho Lisboa: em reforma

Jambu graúdo no Mercado (trouxe mudinhas)

Mercado Municipal – barcos com peixes e bananas chegando pelo Rio Negro
Farinha típica: ova e ovinha (farinha d´água em formato de bolinhas)


Marcado Municipal - alguns vendedores preparam o tucupi ali mesmo, agachados, em latões de higiene precária


Mercado Municipal - Tripas, buchos, entranhas


Teatro Amazonas


Vendedor de chips de banana em frente à sorveteria Glacial

Povoado às margens do Rio Negro: casinhas flutuantes


Mercado- vendedor de mandioca, devidamente uniformizado

Mercado: galinha ovada


Museu do Seringueiro - criado como cenário do filme português "A Selva".


Cabaças secando ao sol para moringas - espiando o Rio Negro, no Museu do Seringueiro



Pé de moleque – doce típico à base de mandioca, açúcar, leite de castanha e especiarias como cravo e/ou erva-doce, embrulhado em folhas de bananeira ou, como é o caso deste, de pariri (caeté?)

Vitoria regia (Victoria amazonica) – minha mão à direita, para ver a dimensão


Encontro de família e de águas. Atrás de nós, a divisão: o rio Negro, escuro e o Solimões, leitoso.


Vergonha alheia – os gringos pagam o maior pau para posar com falsas índias. Antes desta francesa, homens assanhados de várias nacionalidades fizeram destas micagens.


Itaú personnalité: qualquer um pode entrar nas cabines refrigeradas e se livrar do bafo quente da cidade.