Mangabas no paneiro de arumã, forrado com as folhas da mesma planta
Estava meio triste quando entrei sozinha no barco de volta pra Belém, deixando para trás a Ilha, os amigos e os peixes do Marajó. Sem falar num tanto de farinha de mandioca amarela que vazou do saco furado dentro da mala e foi escapando pelo caminho, denunciado meus passos. Mas logo me animei ao ver os vendedores ambulantes passando de lá pra cá, com cupuaçu, tapioquinha e um deles com paneiros de mangaba. Arrematei os três. Já tinha sido apresentada à fruta por meu anfitrião Paulo, em Belém, e a primeira coisa que a menininha Vitória me disse ao concordar com os elogios do avô à fruta é que ela também tinha um mmm .... e fazia o gesto com a boquinha colando e soltando os lábios, querendo me avisar da seiva viscosa da casca. Ainda assim era o suco preferido da pequena. Acho que o meu também, desde aquele dia. Se disser que não conhecia a fruta, estarei mentindo, pois comi direto da mangabeira no Cerrado da Chapada dos Guimarães. Mas não dei muita sorte. Não vi muita graça. Talvez não estivesse madura - não me lembro, no entanto, de estar amarrenta, travosa, característica dela quando verde. Ou talvez eu esteja sendo traída pela memória de mais de uma década. Comi ainda a compota, em Goiás ou Minas, e achei que o açúcar matou a fruta. Também não dei importância. Agora já sei que para estar boa tem que cair do pé de madura, com a pele corada como pêssego. Ou ser colhida quando está firme, mas bojuda, e deixada a amadurecer até ficar molinha, com consistência cremosa, ácida o necessário, muito doce e aromática. E estas do Pará são tudo isto e muito mais. Come-se inteira, com casca e tudo (resta apenas um pouco do visgo e do amargor da seiva, complementos indispensáveis até). Só se tiram as sementes, não grandes, não muitas. Lembra um pouco o sabor da pera, mas a massa é de uma atemóia lisinha. Até chegar a São Paulo (passei ainda mais um dia em Belém), as frutinhas já estavam maduras o bastante para serem devoradas, assanhando papilas. Como eu estava sem tempo para dar a elas destino melhor, e elas, no ponto exato de maturação, sem tempo de me esperar, viraram suco mesmo, o que não a desmerecem. Pelo contrário - o suco entrou no rol dos melhores para mim, junto com o de cupuaçu e de graviola. E creme, numa fórmula já clássica que os paraenses usam para transformar várias frutas em sobremesa rápida e infalível: 1 parte de creme de leite, 1 de leite condensado e 1 de polpa da fruta. Bate tudo e bota no congelador por 1 hora. Serve para bacuri, cupuaçu, maracujá, graviola etc. Se colocar na sorveteira, vira sorvete cremoso. Como prefiro admirar o sabor e a acidez natural da fruta e gosto de subverter receitas clássicas, usei minhas próprias proporções: 2 medidas de polpa (a fruta batida no liquidificador e peneirada), ½ de creme de leite e ½ de leite condensado. Bati no liquidificador e deixei 1 hora no freezer só para firmar e ulalá. Ainda sobrou outro tanto de polpa, que congelei. Bem, acho desnecessário dizer que a brasileira Hancornia speciosa é nutritiva, faz bem e coisa e tal. O resto eu já disse.
Neide eu fico a conhecer cada coisa por aqui!...
ResponderExcluirE as suas histórias são fantásticas.
Beijoooos
Ah, Neide, dah ate tristeza constatar que tem um mundao de frutas por ai que eu nunca provei e talvez nunca vah provar. Mas vou adotar a dica do sucao cremoso, so que vou fazer com as frutas daqui mesmo.
ResponderExcluirum beijo!
nada coo suco ou picolé de magaba num dia de calor. Minha fruta preferida também.
ResponderExcluirGrande Neide !!
ResponderExcluirMorei por alguns anos em Boa Vista Roraima e posso dizer de quão maravilhosos são os sabores destas frutas tão ímpares desse nosso maravilhoso Brasil.
Hoje ao sentir o cheiro principalmente do cupuaçu,é como se me transportasse para outro tempo e outro lugar..."Ah..mazônia" !!! Que saudade desses cremes, de comer ingá de metro e pitombas que os meninos vendiam nos cachinhos pelas ruas...
Que bom que vc colabora, enviando as fotos e fazendo as descrições.
Que delícia esse blog...rs
ResponderExcluirMe fez lembrar o tempo de criança na fazenda no interior de MS..lembro a festa que fazíamos quando meu querido pai trazia do mato "Mangaba" as vezes ainda verde ,e lembro que era uma tortura pq sempre ele as colocavam em um saco plástico e as enterravam no quintal,dizendo que tinha que ser assim pra ficarem maduras...eram dias longos até estarem prontas para comer...mas compensava pq era muito bomm...rs
Humm "Mangaba" doces lembranças...
Obrigada Neide... me divirto por horas a fio vendo seu blog..grande beijo
Nossa, eu descobri que amo mangaba, mas precisamente caipirinha de mangaba com abacaxi, batido no liquidificador com açucar. Fica uma delícia!
ResponderExcluirDos Deuses!
Bebi muita desta caipirinha em Morro de São paulo. Receita do meu amigo Viradouro.
Só fico triste porque moro no Rio e aqui é impossível de achar mangaba. Nem polpa!
Mas a esperança é a última de morre!
Parabéns pelo blog!
Renata
Vou comprar uma mudas destas e esperar crescer os frutos, só assim provarei.Lendo aq q os frutos verdes sao venenosos e podem até matar!
ResponderExcluirAnderson - Df
Adoro sorvete �� de mangaba tinha duvidas se poderia colocar para amadurecer agora fico tranquila moro na bahia e aqui tem muita mangaba.
ResponderExcluirMuito bom! Estava eu a lembrar das minhas memórias afetivas da infância, e queria mostrar para meu marido essa experiência maravilhosa,que era o paneiro de mangaba que meu pai comprava pra gente. Até hoje sinto o cheiro e o gosto dessas frutinhas,lembrança da minha infância no interior, que hoje se tornaram meio escassas.
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