segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Pão no lixo

O homem bateu à minha porta, mostrou um pão francês velho e duro dentro de um saco e pediu leite para acompanhar. Tinha acabado de aquecer o leite cru, puríssimo, da roça, ainda cheiroso. Coloquei num vidro grande de boca larga e aproveitei para dar também um pão que tinha feito no dia anterior. Fiquei com dó ao ver aquele pão duro que acompanharia o leite. Está certo que não foi das melhores fornadas, mas tampouco estava ruim. Cheio de grãos, farinha orgânica, levain. Ele pegou o leite e o pão e saiu. Continuei comendo do pão daquela mesma fornada por mais uns 4 dias. Mas dois dias depois do ocorrido, fui andar com a Dendê e a poucos metros da minha casa .. Epa, reconheço este pão!  Jazia ali meu pão já molhado, já meio mofado, abandonado. Nem outro mendigo além dele quis. Nem o lixeiro levou. Ainda estava embrulhado. Sequer foi aberto para atestar a pressuposta ruindade do pão. Fiquei triste mas acho que desta vez aprendi. E depois até achei graça. Já não é a primeira vez que isto acontece. 

Da mesma fornada, este sim, já com uns cinco dias, já meio duro. Passei
manteiga e torrei e ficou delicioso


Anos atrás, um andarilho pediu um abridor pra abrir uma lata de salsicha. Como estava fritando pescada fresquinha, coloquei uma ou duas, já não me lembro, dentro de um saco de papel ou embrulhei num guardanapo, também não me lembro (talvez já tenha contado isto aqui no Come-se, também não me lembro...). Só sei que o peixe estava quentinho e sei também que ele recusou. Disse que só tinha pedido o abridor. Fiquei com cara de tacho.   Moral da história: só dê aquilo que foi pedido. E a outra moral é que preciso aprender a fazer pães mais apetitosos e ver o que acontece com meu forno que  não anda dourando meus pães. 

(Mas, ok, não dá pra julgar o juízo do homem - pode ser que fosse louco e que realmente só quisesse mesmo beber um pouco de leite). 

Da mesma fornada. Quando ficaram realmente duros, viraram torradas
com manteiga. Mas aquele estava ainda macio e fresco.

14 comentários:

  1. Eu mesma fiquei com vontade de comer o pão que você deu pro homem. Aí fiquei pensando, você não perguntou a ele se queria um novo pão? Talvez não tivesse havido o desperdício. Mas a intenção foi boa, de toda sorte. Um abraço pra vc, Neide.

    ResponderExcluir
  2. Bom dia Neide, me identifiquei demais com seu post. Já tive experiências ruins com pedintes. Uma senhora me pediu dinheiro para comprar leite para seu bebê e contou uma história triste que nem me lembro mais. Com pena,já que eu também tinha um bebê, dei algum dinheiro, leite e uma sacola de roupas, quase novas que não serviam mais para minha filha. No dia seguinte tive o desgosto de encontrar a sacola rasgada e as roupinhas espalhadas pelo chão, na esquina de minha rua. Fique tão triste que até chorei. Me senti enganada. Também adoro e faço pães integrais, e já dei um lanche com o pão. A pedinte comeu o recheio e jogou o pão fora, na minha frente!! Só posso dizer que foi a última vez, e dinheiro não dou mesmo!! Já caí em muita lorota e me senti a mais burra das burras...até senhorinha com perna enfaixada (falsa) me enganou!!

    ResponderExcluir
  3. Uma vez uma criança estava pedindo comida e roupa na frente do meu prédio. Separei uma cuca e uma calça jeans que eu mesma usava.
    Meia hora depois, minhas doações estavam jogadas na calçada. Também fiquei confusa... Se tá com fome, come o que tiver. E ainda era uma cuca!

    Hoje provei a caferana (tem uma árvore cheia aqui no Jardim Botânico em POA). São muito boas! Já colhi várias pra amadurecer.

    bj

    ResponderExcluir
  4. È que um amigo diz quando alguém pede esmola; você pode carregar 10 sacos de cimento ali pra cima??? se aceitar é que realmente necessita de algo em troca...]
    bjs
    Fabio

    ResponderExcluir
  5. Puxa, que triste isso. O gesto de jogar o pão fora, o desdém, e nem sei mais o quê. Se não queria o pão devia ter falado, já que o dele estava "melhor". Difícil, não? Tomara mesmo que ele fosse apenas ruim de juízo.
    Recusar peixe frito fresquinho e preferir comer salsicha, ainda por cima enlatada, também não dá pra entender...
    Abraços.

    ResponderExcluir
  6. Neide, me identifico com você, acho que faria igual, colocaria mais coisas, incrementaria o pedido. mas até o comensal pedinte tem suas idiossincrasias né? vai entender jogar um pão feito em casa fora. pior foi uma vizinha que tive em Piracicaba que jogou no lixo um apple strudel que fiz pra ela, em retribuição por algo que ela me deu. ela achava que eu era uma PORCA porque não lavava a calçada todos os dias, então não comeu nem deixou ninguem comer a torta feita pelas minhas mãos sujas. hahaha! beijaoo

    ResponderExcluir
  7. Puxa, chato demais isso! Mas tb entendo que ele não deveria estar muito bem de juízo, senão teria recusado e pronto... Comigo já aconteceu de pedirem dinheiro para almoçar e eu estar com um saquinho de pães de queijo quentinhos que eu tinha acabado de comprar pra mim. Ofereci em lugar do dinheiro e o homem recusou dizendo que ia estragar o almoço. Outra coisa foi que tem uma moradora de rua que às vezes fica aqui perto. Eu e meu marido estávamos chegando perto de onde ela estava e eu disse pra comprarmos algo para ela. Ele achou melhor perguntar antes se ela queria. Não quis, disse que tinha acabado de comer e pronto.

    ResponderExcluir
  8. Neide, na verdade do nosso pão poucos gostam. São densos requerem do comensal tempo para mastigar e saborear. A maioria está acostumada com pães de massa fofa e sem casca crocante que requer um boa mordida. Ele simplesmente não gostou. Se estivesse com muita fome talvez comesse um pedaço. rsrsrs

    ResponderExcluir
  9. Neide, estando na Dutra, em Cachoeira Paulista, gostaria de almoçar no Sitio do Pinhal, em Silveiras. É longe da Dutra até lá? Tentei ver pelo Google Maps mas não consegui uma boa informação.

    ResponderExcluir
  10. Maria das Graças, sim é longe. Deve ser coisa de 30 quilômetros ou mais.
    Um abraço,n

    ResponderExcluir
  11. Obrigada, caros, pelos comentários. Acho que o homem não batia bem da cabeça. É claro que se ele estivesse com fome mesmo, comeria o pão. Mas ele só queria leite e pronto. Quem tem pernas pra andar e pedir dificilmente vai passar fome. A cidade, bem ou mal, oferece muita comida a quem possa ir atrás dela. É só ir nos fins de feiras pra comprovar.
    Um abraço,n

    ResponderExcluir
  12. Olá, gostei bastante do seu blog! Porém me deparei com esse post e precisei comentar... Me questiono por que devemos achar que alguém, mesmo que em situação de rua, deva aceitar tudo aquilo que lhe oferecemos. É possível que ele quisesse apenas o seu abridor mesmo e que não tenha gostado do pão. Nós nos damos o direito de recusar e não gostar de tantas coisas que as vezes esquecemos que aquele que, achamos que precisa de mais do que nós, não possa ter o mesmo direito e deva aceitar tudo. É uma recusa legítima, assim como tantas recusas nossas. Não foi uma crítica, apenas uma reflexão, que pode ou não fazer sentido para você. Sucesso com o blog!!

    ResponderExcluir
  13. Olá, gostei bastante do seu blog! Porém me deparei com esse post e precisei comentar... Me questiono por que devemos achar que alguém, mesmo que em situação de rua, deva aceitar tudo aquilo que lhe oferecemos. É possível que ele quisesse apenas o seu abridor mesmo e que não tenha gostado do pão. Nós nos damos o direito de recusar e não gostar de tantas coisas que as vezes esquecemos que aquele que, achamos que precisa de mais do que nós, não possa ter o mesmo direito e deva aceitar tudo. É uma recusa legítima, assim como tantas recusas nossas. Não foi uma crítica, apenas uma reflexão, que pode ou não fazer sentido para você.

    ResponderExcluir
  14. D Neidoca, não poucas vezes escutei de gente da familia e amigos o relato de preparem um pão com manteiga e o pedinte receber criticando e jogando fora as vezes na cara da pessoa que preparou com higiene e boa vontade.

    Quando eu era criança era comum ter pedintes, mas eles eram necessitados e agradecidos.

    Esmola não dou, taxistas me contam cada história, tem mendigo que depois de terminar o expediente volta pra casa de taxi.

    Pra ajudar, escolho obras que eu possa visitar. Pra quem passa aperto, hoje me dia há assistencia da prefeitura.

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar. Se você não tem um blog nem um endereço gmail, dá para comentar mesmo assim: É só marcar "comentar como anônimo" logo abaixo da caixa de comentários. Mas, por favor, assine seu nome para eu saber quem você é. Se quiser uma resposta particular, escreva para meu email: neide.rigo@gmail.com. Obrigada, Neide