segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Couve amarelo-outonal, tipo raro. Ou couve orgânica envelhece com dignidade

Pode-se até tentar defender a agricultura convencional baseada no uso de defensivos, por este e aquele motivo. O pior argumento seja talvez de que sem isto não dá pra alimentar o mundo. Fosse assim, desde a revolução verde e agora com quase todo o milho transgênico, não teríamos mais fome como ainda vemos na África, na Ásia e aqui na América. Com o uso de adubos e mata-pragas altamente tóxicos tem-se a falsa impressão de aumento de produtividade sem levar em conta o desperdício e o envenenamento da terra e das águas, com consequências econômicas e ambientais nem sempre imediatas. Mas vou falar só do desperdício. 

Couve-rábano comprado fresquinho na feira, com dois dias na geladeira:
folhas meladas
No mundo vegetal acontece o contrário do que vemos nos alimentos convencionais industrializados,  que duram uma eternidade não por propriedades intrínsecas dos ingredientes principais, mas por causa do excesso de conservantes.  

Já reparou como cenouras da feira, mesmo aquelas compradas ainda com ramas, se deterioram rapidamente? E as couves, as salsinhas, os coentros? Se o feirante não vende no dia, vai tudo pro lixo. Cenouras e mandioquinhas apodrecem no centro, criam uns tumores moles na superfície, batatas viram chaminés de fossas. E couves, nem se fala. Outro dia comprei, para um trabalho de foto, uma manga verde palmer -  totalmente fora de época, é bom que se diga. Com dois dias, a manga já estava estragada sem estar completamente madura.  Uma couve-rábano, a mesma coisa. Com dois dias de geladeira, em saco plástico, as folhas estavam apodrecendo, mal-cheirosas - a da foto. Couves compradas por aí, guardadas na geladeira, duram quanto tempo sem se deteriorar, derreter, feder? E salsinhas? Não passam de uma semana. 

Eu já tinha ideia do tempo maior de vida útil das verduras e legumes cultivados sem agrotóxicos quando os trazia do sítio dos meus pais, em Fartura. Mas não era sempre e as evidências ficavam mais diluídas. Também percebia isto quando comprava na feira de orgânicos. Mas, agora, que abasteço a geladeira quase que exclusivamente com hortaliças que cultivo em Piracaia, sem usar nada além de compostagem que sai da terra e volta pra terra - toda sobra vegetal da minha cozinha, guardo num balde e levo pra lá, pra composteira-, e algum esterco de vaca ou de galinha, não tenho nenhuma dúvida quanto a isto.  Prova é esta da couve. 

Na semana passada fui limpar a geladeira e encontrei dois saquinhos com couves diferentes que tinha trazido do sítio antes de viajar pra Foz do Iguaçu e Curitiba - foram meus marcadores de memória. Ou seja, um mês de geladeira. 




E veja o estado das couves. A clorofila se foi, o betacaroteno ficou. Acontece que os vegetais produzem um gás que funciona como um hormônio, responsável pelo amadurecimento, que faz perder o verde e ganhar colorido (entre outras reações de envelhecimento).   No caso das frutas, é desejável até um certo ponto, no caso das verduras, não, pois ninguém quer comer brócolis amarelos. E o etileno degrada a clorofila. Como junto com clorofila sempre há um pouco de betacaroteno numa proporção menor (3 a 4 de clorofila para uma de betacaroteno),  quando a clorofila é degradada, o amarelo ou alaranjado aparece. É o que ocorre com as flores e folhas outonais - aquelas lindas cores estavam como que camufladas pela clorofila.   

Pois a couve estava tenra, nada murcha, nada melada, com odor suave de couve. Claro, o sabor era um pouco diferente, mas,  ainda assim, couve.  E como o betacaroteno é precursor da vitamina A tanto no vegetal verde quanto no amarelo, pelo menos neste aspecto nutricional não houve grandes perdas. Nem em fibras. Numa degustação às cegas, duvido que a rejeitariam como couve. 



Piquei e refoguei.  Numa degustação às cegas, confundiria facilmente

É lógico que não precisamos chegar a este extremo de comer uma couve amarela com um mês de colhida, mas isto mostra que uma couve orgânica dura muito mais, envelhece com postura. De qualquer forma, é comestível ainda amarela - e é linda, não é? É só pra mostrar que malgrado a cor, a couve está ali, quase intacta e ainda digna.  E o fedor sulfuroso de couve estragada é ausência total de qualquer traço de dignidade couvácea, é ou não é? 

Mas, faça você mesmo o teste. Compre hortaliças parecidas, convencionais e orgânicas, e compare. 

E fique agora com fotos das minhas couves do sítio em estado de perfeita verdura: 



Só tinha 3 tipos (todos trazidos pela caseira Silvana)
Agora tenho 4 tipos, incluindo a rendada, também trazida por ela - trouxe
uma muda de cada para plantar no quintal aqui em São Paulo 



14 comentários:

  1. Olá, Neide. Você tem razão, as verduras e legumes orgânicos duram bem mais. Tive essa percepção também com os morangos, paga-se mais pelos orgânicos, mas o sabor e a resistência das frutas são incomparáveis. Comprei brócolis orgânicos e duraram bem mais na geladeira. Quem dera ter um sítio e poder cultivar o próprio alimento !!! Um dia eu chego lá. Bjs, Liliana.

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  2. Oi Neide,

    Certamente que os legumes cultivados em casa (no sítio, chácara ou até em um vasinho camarada) a base de cascas de legumes e cascas de ovo (no meu caso), são infinitamente melhores, mais saudáveis e sem dúvida muito mais saborosos.

    Na minha casa como ainda não tenho uma boa horta, vivo a base de "congelados", faço a feira, limpo tudo, pico e congelo (salsinha, alho poró, cebolinha e até couve para sucos...). Eu sei, não é a mesma coisa, mas consigo manter eles com uma cara "verde" por mais algum tempo.

    Lindas suas couves.

    Bjs

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  3. Puxa vida!! Que diversidade de folhas de couve! Amei. Só conheço a mais comum.Pena que não tenho como plantar esse mundo de diversidade em minha casa, pois quase não tem espaço para o sol bater! Que delícia que acho colher tudo na horta! Parabéns!

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  4. Coisa linda, Neide. Pra mim, a prova dos orgânicos foi o agrião; antes comprava comum e no dia seguinte já estava melado e amarelo. Do orgânico, principalmente se colhido no dia anterior, dura mais de uma semana na geladeira. (Não sei se dura mais, porque nunca deixei ele lá dando sopa mais que isso...) :)
    Bjs

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  5. Que linda a couve amarela! E aquela com os veios escuros, uma obra de arte da natureza. Legal saber que elas continuam comestíveis. Sabe que tinha reparado isso, com verduras compradas na Feira de Orgânicos e fiquei até desconfiada, do tipo, será que são orgânicas mesmo? Bom saber que isso é uma característica dos produtos orgânicos.

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  6. Adorei saber sobre essa diversidade, muita informação bacana q não se encontra todo dia.
    É muito lindo oq a natureza nos dá, mil possibilidades de alimentos, tudo tão rico e lindo, muita bênção !

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  7. Tenho dúvidas se a folha da couve flor tem os mesmos benefícios da couve folha tradicional. Pois a couve flor é vendida sem as folhas. E comprei em uma horta e veio com as folhas. Tirem essa dúvida pra mim

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  8. Interessante, muito obrigado! Super esclarecedor, estou fazendo suco com as folhas mesmo amarelas e coando...fouum pouco amargo mas o suco verde saiu achei incrivel e nao esta murcha ainda.

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  9. Que bom saber disso,trouxe couve da casa dos meus sogros e amarelou, como é 100% orgânica ainda vou poder come-las.

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  10. SILVIA MARA DO CARMO ALMEIDA22 de setembro de 2018 às 08:09

    Muito esclarecedor, obrigado.

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  11. Muito obg pelas informações pois gosto de couve assim como gosto de outras hortaliças.bom dia

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  12. Me quintal e bem pequeno, mas mesmo assim, com sigo cultivar alguns pés de couve que a anos estão na família da minha mae, em latas e vasos, (adoro minha hortinha), gostaria de saber o nome da espécie, e a minha preferida, a fila e verde e os talos arroxeados, vi a foto dela neste site mas o nome nao consegui localizar. Se pudesse me esclarecer agradeço!

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  13. Só podia ser vc, mesmo, para me tranquilizar quanto ao amarelado da couve-manteiga. Um beino

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  14. Êsses comentários são ótimos pois nos orientam bastante principalmente sôbre a couve amarelada pra não joga_la fora e sim aproveitar.Ela não oerde suas qualidades.Gostei.Eu sou Esmeralda.

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