Acho que todos nós conhecemos ao menos umas três variedades de abóboras. Elas pertencem à família de plantas com maior número de espécies usadas como alimento pelo homem, a das Cucurbitáceas, a começar pelo gênero Cucurbita que engloba as de frutos achatados ou de pescoço, as de rama ou de touceira, as lisas e rajadas. Algumas são melhores maduras, outras verdes. Umas para doce, outras com sal. Todas com folhas comestíveis.
Sim,
temos algumas folhas na cambuquira, uma síntese de toda a planta composta
de ramos novos com pequenas folhas,
brotos, projetos de flores e gavinhas, deliciosa na sopa de milho verde feita
no fogão de lenha e temperada com gordura de porco, para lembrar da tradição
rural. Mas não são destas que quero falar.
São as folhas mesmo, as adultas, grandes
e sadias, porém ainda tenras, de um verde uniforme, às vezes rajado. Quem se
lembra que elas são boas de comer? E são tão nutritivas e gostosas como
espinafres.
Acontece
que as plantas vão se especializando para produzir melhor uma parte ou outra. Acredita-se
que as Cucurbitáceas, por exemplo, foram cultivadas ancestralmente não pela
polpa que era exígua, mas pelas sementes abundantes, ricas em gorduras e
proteínas. As espécies cultivadas hoje
seriam resultado de mutações naturais e seleções artificiais privilegiando a
polpa carnuda que passou a ser a parte mais apreciada.
Domesticadas
no novo mundo, as abóboras hoje são cultivadas e consumidas em vários países,
mas são poucos os lugares onde as folhas são consumidas como verdura. Não
é o caso da África. Na Namíbia e países
vizinhos, por exemplo, as folhas macias
com superfície penuginosa são cozidas e servidas como acompanhamento do prato
principal, a exemplo de outras folhas menos convencionais entre nós, como as de
mandioca e de batata-doce.
Quem
já viu o projeto Delicatessen with love,
do fotógrafo italiano Gabriele Galimberti (www.gabrielegalimberti.com), que
retrata avós do mundo inteiro apresentando seus ingredientes e a comida preparada com eles, deve ter notado que um
dos pratos de resistência da avó de Zimbabwe é feito com grandes folhas de
abóbora. A verdura, pré-cozida e refogada em manteiga de amendoim é servida com
uma espécie de polenta branca chamada de Sadza. Foi a deixa para que eu tentasse fazer algo
parecido com as folhas que colhi da minha aboboreira bicolor. Todos que provaram, aprovaram. Combina muito
com o sabor forte do amendoim. Porém, mesmo refogada simplesmente com alho,
cebola e tomate, fica gostosa e macia, com leve sabor de abobrinha verde.
Uma
das vantagem das folhas de abóbora em relação àquelas mais comuns no mercado é
que podem resistir a intempéries de todo tipo. Enquanto as folhas de alfaces
são castigadas pelo vento, pela estiagem, pela chuva forte ou frio intenso, as
folhas de abóbora se suportam firmes aos galhos rastejantes.
Uma
pena que ainda não encontremos para comprar destas folhas, pois o foco ainda
está no fruto, mas está aí um caso em que uma finalidade não exclui a outra, e
o fato de arrancar algumas folhas não enfraquece a planta nem diminui a
qualidade da abóbora, pois a planta é vigorosa e rústica. Seria uma fonte de
renda a mais para o pequeno produtor. É
claro que exigiria um cuidado maior no uso de defensivos, por exemplo. No
entanto, as plantas de cultivo orgânico e aquelas que podemos ter no próprio quintal ou do vizinho
– que não deem grandes frutos, mas as folhas sempre aparecem - não carregam
esta preocupação e poderiam se multiplicar em diferentes ofertas, afinal temos também
as flores machos ou fêmeas - com
abobrinhas grudadas ou não, estas, sim, ingrediente cobiçado. E não custa perguntar por elas para o seu
quitandeiro de confiança, para um produtor orgânico ou mesmo para o feirante,
afinal a demanda traz a oferta.
Folhas
de abóbora refogada na manteiga de amendoim
200 g
de folhas de abóbora com talo (escolher as folhas mais
macias)
1 tomate pequeno
picado
1 pimenta
dedo-de-moça madura picada
1 cebola pequena picada
1 colher (café) de pó de caril
(curry)
1/2 colher (chá) de sal -
ou a gosto
1 xícara de água
2 colheres (sopa) de
pasta de amendoim pura, sem sal (ou triture 4 colheres de sopa de amendoim torrado sem casca e dilua em um pouco de
água)
Antes de picar as folhas
já lavadas, tire as fibras do talo, puxando com uma faca como se limpasse um
aspargo ou talo de taioba. Tire também as fibras das nervuras da parte inferior das folhas – elas saem facilmente como umas linhas.
Enrole as folhas e pique em fatias de meio centímetro, quase como couve.
Coloque numa panela as
folhas lavadas e picadas, o tomate, a pimenta, a cebola, o caril,
o sal e a água. Misture, tampe a panela e cozinhe em fogo baixo
por 15 minutos ou até a verdura estar macia, mas não seca (deve
restar um resíduo de caldo - se não, junte mais um pouco de água quente).
Junte a pasta de amendoim e misture. Prove o sal e corrija, se
necessário. Deixe voltar a ferver e desligue o fogo. Sirva com polenta de milho
branco ou arroz. É um bom acompanhamento também para peixe frito.
Rende: 2 porções
Nota: para fazer a polenta, leve ao fogo
numa panela 3 xícaras de água com meia colher (chá) de sal. Quando ferver,
junte 1 xícara de fubá de milho branco misturada com 1 xícara (chá) de água.
Misture bem e cozinhe em fogo baixo por 30 minutos, mexendo de vez em quando.
Despeje ainda quente em tigelas pequenas ou xícaras untadas com óleo, espere
amornar e desenforme.
Nota 2: há uma receita de manteiga de amendoim aqui no come-se. Aqui numa loja da Lapa tenho comprado uma excelente, purinha, sem sal, açúcar ou qualquer outro ingrediente, da marca INAM.
A
abóbora e suas partes
Para o fruto
não faltam usos já consagrados. Versátil, a abóbora madura se presta para o preparo de cozidos salgados e doces em pasta ou compotas em
pedaços. Com a polpa se faz ainda sopas e mingaus doces, purês, recheios para
torta doce e salgada. E qualquer abóbora
ainda jovem pode ser chamada de abobrinha
e usada como hortaliça, cozida, refogada, recheada, ralada crua em saladas e
até em bolos doces.
As
sementes podem ser secas, salgadas, torradas e comidas como aperitivos
ou trituradas e usadas como farinha para engrossar molhos e sopas. Já as flores,
machos ou fêmeas (estas, com uma abobrinha não desenvolvida ainda grudada), são
consideradas iguarias e podem ser temperadas, passadas em farinha e fritas ou
usadas como uma erva em tortas, risotos e sopas.
E tem ainda a cambuquira, que é a integralidade da aboboreira com todo o seu
frescor. São ramos terminais tenros com as folhas novas, os brotos e as gavinhas, que fazem delicados refogados para acompanhar
carnes assadas ou no preparo da sopa de milho com cambuquira, prato bem brasileiro, comum no interior de São Paulo,
Paraná e Minas, principalmente na zona rural onde podem ser colhidos direto da
planta.
A abóbora bicolor
Esta variedade é resultado de cruzamento feito
pela Embrapa, entre duas abóboras de pescoço, uma predominantemente verde rajada
e a outra, alaranjada. Foram selecionadas ainda para serem mais resistentes. E
são, pois consegui plantar e colher várias no meu sítio sem uso de nenhum
artifício.
A cada post do come-se, fico mais impressionada com a quantidade de alimentos saborosos que jogamos no lixo por pura ignorância, preguiça ou falta de curiosidade.
ResponderExcluirNeide querida adoro seus textos suas palavras são guloseimas para a alma.
ResponderExcluirAcho que vc se confudiu, a data de hoje é 08/08/2013 oui???
Abraço
Pierre
Lili, pois é, eles estão por aí aos montes.
ResponderExcluirPierre, obrigada pelo elogio e pelo alerta - foi tentativa inconsciente de ganhar tempo. Já arrumei, obrigada.
Um abraço,n
EXCELENTE MATÉRIA! ESTAMOS SEMPRE APRENDENDO COM VOCÊ! UM ABRAÇO, RAQUEL.
ResponderExcluirNeide: adorei saber que pode se comer folhas de abobora, pena que ainda não tive sucesso em plantá-las. Acompanho e admiro seu trabalho há bastante tempo e queria te perguntar se folhas de bardana também poderiam ser comestíveis.É que o pé que eu plantei, de tão grande, as folhas servem para fazer sombra. Um abraço direto de Porto Alegre. Fernando
ResponderExcluirFernando,
ResponderExcluiras folhas de bardana são comestíveis, mas muito amargas. Os talos, tirando os fiapos que o recobrem - como os aspargos, são bem gostosos. Cozidos e passados em azeite ou manteiga, por exemplo. Um abraço,n
Obrigado Neide. Vou fazer os talos para experimentar. Um abraço
ResponderExcluirOi Neide!
ResponderExcluirObrigada por tão valiosas informações!!! Sou fã de abóbora, de todo tipo, por ser bem versátil, fica bem com tudo.
Um abraço!!!
Inês Fusinato
Obrigada, Ines!
ResponderExcluirTambém sou fã.
Um abraço,n
Foi ótimo saber das propriedades da abóbora como uma todo. Melhor ainda, foi saber que as folhas e flores são servidas como um prato fino e nutriente por que descobri por curiosidade e gostei. As cultivo no meu quintal e sirvo para minha família.
ResponderExcluirSua matéria é completa. Me deixou feliz, sou consumidora de folhas de abóbora, agora não perco nem as flores, um vês que são cultivadas no meu quintal.
ResponderExcluirNossa não sabia q dava pra fazer tantas coisas boas com as folhas de abóbora 😋😋
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