Sei que o leitor do Come-se não é o tipo que compra salmão de criação porque está barato no supermercado ou acha que comer bacalhau é uma necessidade na sexta-feira da paixão (ok, se você não come carne por motivos religiosos, tem a opção de ser vegetariano neste dia), mas sem querer jogar um balde de água fria na empolgação de ninguém, é bom lembrar que temos vários peixes em risco de desaparecer, vários contaminados nos criatórios, vários de criatórios insustentáveis, vários criados na base de ração aditivada com antibióticos, vários de criatórios causadores de problemas ambientais, vários pescados em períodos de defeso, vários pescados antes da maturidade sexual, vários importados da Tailândia e de outros países asiáticos, provenientes de criatórios sabe-se lá de que tipo, vários oriundos de pesca predatória etc. E, por fim, é bom lembrar que temos vários peixes negligenciados porque são de espécies pequenas, porque tem espinhas e escamas, não fazem grossos filés ou postas, não tem a todo momento nem representam símbolos de status (já reparou como tem gente que fala "eu comi um salmón grelhado"? Não diz salmão, mas salmón, já querendo ser diferente de quem come "lambarrrr-ri" pescado no corguin bem fritin. Bobagem!). Bem, estes peixes tem a vantagem de não custarem caro e serem deliciosos se bem preparados. Ainda garantem o sustento de pescadores artesanais e seu consumo não agride o meio ambiente nem coloca em risco os estoques (e sua saúde).
Pensando nisto, o Slow Food está em campanha pelo consumo consciente do peixe e lançou o Desafio Slow Fish Day. Informações nos textos lá embaixo.
Antes de copiar aqui parte do texto da campanha do site do movimento, aproveito para deixar o contato do Fernando, do site Alimento Sustentável, que acaba de avisar que terá peixe para este final de semana. Ele compra de pescadores artesanais, a preços justos.
Fernando pode atender aos pedidos que forem feitos até hoje às 23 horas. Poderá entregar em São Paulo cação, carapau, espada, galo, pescada, sororoca, tainha e xaréu entre outros, em postas, inteiros ou filés. Também tem mexilhão fresco. Fernando Oliveira: www.alimentosustentavel.com.br - fernando@alimentosustentavel.com.br
Desenho para o Come-se feito pela Adrianne Gallinari |
Está lá no site do Slow Food Brasil:
"Com a pesca, assim como com a agricultura, o Slow Food acredita firmemente que cada indivíduo pode contribuir em algum nível para mudar os mecanismos de um sistema alimentar globalizado baseado na exploração intensiva de recursos.
Com a sua forte experiência internacional e local, o movimento está convencido de que só podemos trazer mudanças, retornando às origens dos alimentos, colocando a curiosidade e o prazer ao serviço de escolhas responsáveis.
Estamos redescobrindo o diferente, os sabores esquecidos, as espécies locais. Que tendem a cair no esquecimento num mercado globalizado e massificado. Recuperando receitas antigas, novas e atualizadas. Estamos buscando recuperar a sabedoria tradicional de comunidades de pescadores, que muitas vezes não mudaram muito suas práticas de pesca ancestrais, as dietas de gerações passadas, e os recursos conhecidos e desconhecidos guardados por mangues, rios, lagos e mares. Tudo isso faz parte da nossa história e nossa identidade. Medidas assim, a longo prazo vão formando tendências que despressurizam impacto sobre determinados nichos de produção intensificados, trazendo diversidade às escolhas. Toda a cadeia de produção entra num fluxo de melhor equilíbrio.
Neste espírito, a campanha internacional Slow Fish aporta no Brasil lançando iniciativas e compartilhando material de consulta que promova a pesca artesanal, as espécies negligenciadas, o consumo consciente e responsável, e inspirem a reflexão sobre as condições e gestão dos recursos marinhos e continentais.
Para ter alguma chance de sucesso em harmonizar de fato os movimentos da natureza e das necessidades do homem, esta reflexão deve começar em nível local.
Ou seja, com você. "
Continue lendo no site do Slow Food: http://www.slowfoodbrasil.com/slowfish e participe do Slow Fish Day. Veja no site como participar.
Que pena Neide que só hoje estou ciente dessa campanha. Se tivesse tempo hábil poderia dar uma pesquisada na minha região sobre os peixes e da pesca artesanal, e divulgar no eu blog de culinária, e assim contribuir para essa divulgação. . Temos muitos rios de onde vem os peixes que consumimos aqui. Nunca pensei no assunto mas achei uma ideia muito boa.
ResponderExcluirBjs
Ai, Neide que bom ler este texto. Os hábitos de consumo são tão contraditórios. Quando digo que, aqui no RS, entre as ofertas do supermercado, é preferível comprar carne bovina do que salmão, frango e suínos convencionais, parece que sou louca.
ResponderExcluirTrabalhar com proteína é um desafio. No Daqui uso somente carne de pasto (bovino nosso, ovino de um produtor orgânico local e consegui coelho e frango). Estamos num movimento de incentivar a produção de frangos agroecológicos (que viverão dentro de um pomar de frutas nativas). Mas para valer a pena, o produtor tem que conseguir colocar no mercado 500 unidades. Estou batalhando para desenvolver a rede dele com os restaurantes de Porto Alegre, mas... e o custo. Ficamos muitas vezes em looping. Um trabalho de educação para todos os atores envolvidos nessa cadeia... Mas devagarinho vai.
Além disso, no Daqui usamos uma porção de 60 grs de carne (independentemente de qual tipo) por pessoa. Para os gaúchos isso é pouquíssimo. Mas o desafio é justamente incluir a carne como mais um ingrediente e não como o centro do cardápio. Alguns reclamam, mas aceitam... hehehe
Tudo isso é divertido e vemos que mais e mais pessoas estão antenadas, por outro lado, vemos campanhas incentivando o consumo do peixe (normalmente salmão, tilápia, panga...), de frango e suíno...carnes brancas e "saudáveis".
Assim como o alface americano, branquinho e sem gosto...
Aproveito o teu texto para um breve desabafo e para informar que vou replicar ele por ai, ok?
Beijos
Adorei a informação e vou tentar comprar peixe de lá! Tb gostei do comentário acima e das porções pequenas de carne. Muitas vezes eu não peço carne no restaurante porque não quero comer um boi inteiro. Acho que a carne é complemento mesmo.
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