quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Da carne de cavalo aos capeletti 4 queijos e Eataly

Não sei se você anda acompanhando a novela da fraude da carne de cavalo que agora afeta até a Nestlé. A empresa está retirando produtos de seis países europeus porque foi detectado o uso de carne de cavalo em vez de bovina. E diz que não tem culpa, porque compra a carne da JBS Toledo, empresa brasileira que agora diz que não tem culpa pois compra do fornecedor alemão H.J.Schypke. Vai ver a culpa é do cavalo que se fingiu de boi. 

Não me assusta pensar em comer carne de cavalo desde que fosse um hábito cultural entre nós, mas não é. E também não me impressiona esta prática da indústria, mais comum do que imaginamos. Se fazem análise sensorial e verificam que ninguém sentirá a diferença de sabor e ainda economizam, porque não usar a carne de cavalo que também é comestível (vá lá, pode não ter sido criado com esta finalidade, pode não ser cultural, mas é comestível). Afinal, também a quantidade do principal produto alegado na embalagem geralmente é tão ínfima, que ninguém vai perceber. Estamos acostumados a ser enganados. É bebida com cara de iogurte que não tem iogurte, é um tal iogurte grego que não tem nada de iogurte nem de grego, um biscoito com recheio de goiaba que não tem fruta, um néctar de frutas que é água temperada e açucarada, um leite em pó que é uma miscelânea de aditivos para se dar a crianças, etc. Por fim, podendo enganar a indústria nos engana, com algumas exceções. 

Dificilmente eu comeria carne de cavalo no lugar da de boi a não ser que sejam muito parecidas no açougue do box 20 do Mercado da Lapa, onde costumo comprar. Mas eu vejo chegarem os quartos e não me parecem ser de cavalo. Não compro hambúrguer, almôndegas, molho a bolonhesa. Acho fácil fazer em casa e ficam muito mais gostosos. Agora,  raviolli de carne não é tão fácil de fazer. Ainda assim, não compro e por isto raramente como. Mas o de queijo me pareceu uma boa alternativa num dia em que estava sem tempo e com vontade de comer capeletti com um caldo de pato que tinha aqui. Era uma coisa menos suspeita, pensei. Imagine, um recheio de queijo para capeletti é simples, não pode ter enganação - é só esmigalhar o queijo. Ou os queijos,  no caso do 4 queijos. Ora, se são 4 queijos, são 4 tipos de queijo misturados e só.  Dada a pressa, nem li rótulo. Chegando em casa, aqueci o caldo e me esforcei para enxergar as letras míudas. Ingredientes:  farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, água, farinha de rosca, ricota, fécula de mandioca, preparado alimentício tipo 4 queijos, sal, gordura vegetal, ovo em pó pasteurizado, amido modificado, aguardente de cana, aromatizante, fibra de trigo, corante natural (óleo de soja, cúrcuma e urucum), glicerina, realçador de sabor glutamato monossódico e conservantes sorbato de potássio, propionato de cálcio e ácido ascórbico.  Não comi. 

Fui ao mercado conferir os ingredientes de outras marcas de capeletti queijo ou 4 queijos e é tudo mais ou menos a mesma coisa. O que vem a ser, afinal, preparado alimentício tipo 4 queijos?  A empresa que usa carne de cavalo poderia declarar algo como "preparado alimentício tipo carne de boi" e tudo estaria resolvido. O que a gente não pode é engolir o que a empresa alimentícia quer nos enfiar goela abaixo.  Talvez não possamos viver sem ela, mas podemos consumir alimentos industrializados o mínimo necessário. Assim poderíamos ter menos empresas gigantescas como a Nestlé e mais empresas pequenas escrupulosas, que conseguissem vender aos supermercados produtos de qualidade. 

Por isto vi com alegria a notícia dada pela Cintia Bertolino no caderno Economia de antes de ontem sobre a abertura de uma Eataly aqui em São Paulo. Fiquei encantada com o mercado/livraria/restaurante/escola que vi em Turim. Foi lá que comprei aquelas peras maravilhosas. É possível encontrar lá vários produtos da arca do gosto do Slow Food e vários outros de produtores locais, além de iogurtes de ótima qualidade feitos por empresas pequenas, massas artesanais, vinhos e tantas outras perdições.  

Para saber mais sobre a carne de cavalo e o Eataly em São Paulo, aqui vão os links


http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios+geral,fornecedor-do-jbs-nega-culpa-em-escandalo-da-carne,144477,0.htm


14 comentários:

  1. Olá, Neide!
    Hoje foi a minha 1ª vez que vim aqui ao seu cantinho e adorei :)... Bjokas...

    http://nacozinhadaleonor.blogspot.pt/

    ResponderExcluir
  2. Não é sem motivo que tudo feito em casa é melhor. Mais saboroso e confiável!

    ResponderExcluir
  3. Neide,
    adquirimos o hábito de ler o rótulo dos produtos industrializados na minha casa há pouco tempo, vou te contar que não fazia ideia do quanto nós, como consumidores, somos enganados. Na última ida ao supermercado, acho que gastamos uns bons 20 minutos escolhendo iogurtes (ou o mais próximo de um iogurte que pudéssemos encontrar), lendo rótulo por rótulo, abismadas com as coisas que misturam naquelas embalagens e nos vendem. A maioria continha amido de milho, ou espessante tipo amido, e quase nenhum deles era iogurte de fato (leite, fermento, açúcar, fruta). No final, recorremos aos naturais de marca mais famosa (Nestlé foi uma delas, mas só salva o iogurte natural de copo) e a uma marca totalmente desconhecida, de fabricação local, mais barata do que todas as outras. Este último foi o ÚNICO, dentre todos os rótulos que eu li, que continha somente esses ingredientes descriminados: leite integral, leite em pó, fermento biológico, polpa de fruta e um ou outro corante, na maioria naturais (urucum, carmin, etc).
    Desde então, não compramos mais nenhum alimento sem antes ler o rótulo. Agora estamos de olho. E também vamos tentar sempre priorizar os alimentos de produção local, de pequenas indústrias, porque percebemos que, de fato, essas são as melhores opções.

    Eu não como carne, mas fiquei abismada com essa história da carne de cavalo. Não pela carne em si, como você disse, ela não é pior ou melhor que a carne de boi, ou de outros animais usados para o consumo. Mas é inadimissível que se engane o consumidor dessa forma.

    ResponderExcluir
  4. Mesmo história com o iogurte grego. Compramos o tipo-grego. Eis um link em inglês que explica um pouco: http://www.mnn.com/food/healthy-eating/blogs/what-is-greek-yogurt

    ResponderExcluir
  5. Neide,
    quando eu estou precisada de um capelleti e não tenho outra alternativa a não ser o supermercado, compro um seco, da marca Renata. Ao menos na lista de ingredientes, eles alegam que contém mesmo carne ou queijo e não "preparados à base de". Acho que o gosto é um bocadinho melhor, também... a
    bs, Adriana

    ResponderExcluir
  6. Oi Neide! Sobre a carne de cavalo, vi uma reportagem na TV francesa falando que é impossível um açougueiro (ou alguém que entenda minimamente de carne) confundir carne de cavalo com a de boi, pois elas são diferentes até na cor. Por isso eu não acredito que haja "engano" e sim má fé mesmo. Comecei a ler os rótulos tentando encontrar os produtos que tinham menos aditivos, aí comecei a ver umas barbaridades, como "carne mecanicamente separada de aves" em produtos do tipo salsicha. Só encontro salsicha sem isso de uma marca específica e mais cara! Bjs

    ResponderExcluir
  7. Capeletti seco, só da marca Renata (se eles estão nos enganando, enganam bem e a massa, inclusive de outros tipos da mesma marca, é tão gostosa quanto as italianas).

    Aqui em Porto Alegre e, creio em todo o RS, temos o hábito de produtos regionais. É possível comprar ravioli, capelletti, tortei, biscoitos, bolos, iogurtes, natas (algo que no resto do Brasil seria o creme de leite fresco, só que é muito melhor!) e pães caseiros, compotas e uma infinidade de outros produtos em grandes redes de supermercados sulinas (Zaffari-Bourbon, Rissul e Nacional). Mesmo os hipermercados que existem em todo o país (e mundo ocidental, aliás) Wall-Mart, Big, Carrefour, etc, aqui no Sul vendem marcas locais. Um amigo paulista me disse que isso é bem raro no centro do país, o tempo que ele morou em Porto Alegre o deixou "viciado" em nata, queijo colonial, biscoitos (feitos numa microscópica fábrica, quase ao lado da casa da minha irmã, em Scharlau - São Leopoldo-RS), e massas caseiras com recheio. Tudo comprado no supermercado de uma grande rede (Bourbon) aqui da nossa rua. Esforcei minha memória e lembrei de mais de 30 marcas caseiras vendidas nos supers e hipers aqui de POA. São muitíssimo mais, pois variam de cidade para cidade e no caso de Porto Alegre, capital com forte tradição rural, de bairro a bairro.

    ResponderExcluir
  8. Oi,Neide. Tento evitar ao máximo os produtos industrializados. Mas aqui em casa é difícil, enquanto preparo kefir e consumo com frutas frescas ou congeladas (por mim mesma!), como frutas e verduras, temperos plantados no quintal, sucos naturais, o marido e o filho preferem suco de caixinha, iogurte industrializado, refrigerante, biscoitos recheados e comida de restaurante. Já tentei convencê-los a mudar mas é impossível ... Fazer o que, né? Sinto-me frustrada com isso, mas não se consegue forçar adultos a comerem o que não querem. Confesso que já comprei e consumi essas massas recheadas sabor 4 queijos, geralmente quando estava com pressa. Vou reconsiderar ... Liliana.

    ResponderExcluir
  9. Para que comprar Yogurt industrializado? é tão fácil de se fazer Yogurt!!! um dos itens que não faz parte da minha lista de supermercado!!!! Lendo comentário de João Inácio bateu saudades lá do Rgsul,adorava uma tal de sopa de capeletti lá em Gramado e o tal de café colonial, delicia!!!!!

    ResponderExcluir
  10. Sonhei com você ontem! cozinhando, claro. Tenho uma dúvida a respeito de claras de ovos cruas, em neve, em doces e sorvetes.. como garantir que não tem salmonela?
    Carne de cavalo é habitual entre os mongóis, tudo deles, o leite, tudo. Lembro que quando o Cazuza estava doente comia carne de cavalo que era melhor, mais forte. O problema é que, como não temos cultura, nossos cavalos não recebem o trato das vacinas.. se bem que , vivendo aqui, as vacas dos pequenos proprietários também não. Não há fiscalização suficiente. Mas me afirmaram que o cavalo que eu tinha, um amor , foi comprado pra virar salsicha. Aqui também se usa carne de cavalo nos embutidos.

    ResponderExcluir
  11. "carne de cavalo" é o melhor que poderíamos encontrar num nugget...
    não foi aqui, mas, quem garante?
    acho engraçado mesmo as pessoas se sentirem enganadas com isso...
    estão projetando na industria alimenticia a figura da mãe que nasceu para nutrir!Imaginem, a mãe é uma fdp!!!!!ó que traição!!!!!!!!
    Bora crescer!!!!!!!

    castanha de caju salgada é frita em gordura trans,né?
    praticamente todo industrializado que comemos tem realçadores de sabor, corantes e soja,
    mas ninguem sabe porque tem tanta farmácia, tanta crise de alergia, tanto muco, inflamação e infecção...

    Como crianças mimadas, vamos satisfazendo nossos desejos, já que não somos capazes de encarar nossas frustrações, me dê uma porção de batatas congeladas e nuggets com 10% de frango por favor!!!!!
    Adorei Neide, como sempre!Obrigada!Bjs, Dadi

    ResponderExcluir
  12. E os alérgicos ficam na mão! Achar hoje um produto sem traços de alérgenos como leite e soja, pra ficar nos mais comuns, é uma missão heróica.

    De pouquinho em pouquinho, nada resta da receita original. E no caso dos traços, nem no rótulo está.

    ResponderExcluir
  13. Neide, eu vivo dizendo por aqui: nao dá pra fazer uma lasanha decente e vender por 1,99 Euros no supermercado (porcao para 2 alemaes!!!).
    Infelizmente quem nao lê rótulos é enganado pela indústria.
    E iogurte é tao fácil de fazer, nao precisa de termometro, só uma garrafa térmica rsrs
    a Nestlè é boicotada por mim há alguns anos, eles sao uns dos piores bandidos deste mundo...

    ResponderExcluir
  14. Compro massa fresca de lasanha e faço o capeleti em casa, corto quadradinhos, recheio e fecho dobrando como um envelope. Faço recheio de queijo: ricota amassada, leite até dar o ponto de massinha e temperos. É só cozinhar até boiar.
    Faço capeleti grande para dar menos trabalho. Nem se compara com esses prontos com gosto de bonzo.

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar. Se você não tem um blog nem um endereço gmail, dá para comentar mesmo assim: É só marcar "comentar como anônimo" logo abaixo da caixa de comentários. Mas, por favor, assine seu nome para eu saber quem você é. Se quiser uma resposta particular, escreva para meu email: neide.rigo@gmail.com. Obrigada, Neide