quarta-feira, 20 de junho de 2012

Aula de frutas no Paladar Cozinha do Brasil

Ontem tivemos mais uma reunião entre as inúmeras que já fizemos depois de termos sido convidadas novamente para o Paladar - Cozinha do Brasil. Disseram-nos que nossa sala dobrou de tamanho, dobrando também o tamanho da preocupação do pessoal que nos ajuda: Andreza, Lili, Hilda, Valentina. É que a cada reunião não param de chegar novidades. A gente não consegue parar de pensar nas frutas e nas infinitas possibilidades. Já havíamos decretado na penúltima reunião: nada de novas invenções. E ainda assim, ontem apareci com um papel de banana de duas cores e pasteizinhos de banana com creme de arroz e coco;  Ana Soares,  com uma conserva de mamão e carambola verdes e Mara Salles, com sais e passas de jabuticaba. Passamos a reunião toda tentando abreviar o que poderemos mostrar em duas horas de aula. O duro é cada uma abrir mão de suas criações. Tão dadivoso este trio. Como diz a Ana, é muito assunto. Tanta coisa gostaríamos de passar para que todos degustassem, mas Andreza estava preocupada, afinal alguém nesta equipe tem que ter juízo: "Gente, não tem condições de passar 19 itens pra degustar numa classe com 150 pessoas em 2 horas".  E assim cada uma ficou incumbida de colocar a cabeça no travesseiro e passar o facão em suas próprias criações. É triste isto, ah se é. No final, já marcada a próxima reunião para amanhã, Mara ainda vem com mais esta: vamos fazer pelo menos um ceviche de frutas, vai! Silêncio. Susto. Gargalhadas. Não!! 



Estas reuniões prévias, semanais desde que fomos avisadas da aula, servem não apenas para a preparação do conteúdo, mas também como grupo de estudo sobre um assunto específico. Aprendemos muito umas com as outras.  Neste ano, tivemos vários argumentos para justificar nossa escolha. Ana voltou de Paris encantada com cítricos; Mara, indignada com o desperdício de jabuticabas no pé, lá em Minas,  e eu com a cabeça nos umbus de Uauá,  nas sementes de cupuaçu e banana-da-terra de Acrelândia. Gostaríamos de ter tempo de ensinar tudo o que agora sabemos, mas tenho certeza que vamos conseguir ao menos despertar curiosidades e mostrar algumas técnicas. E, claro, aula com Mara e Ana será sempre cheia de teatralidade e cenografia. 


Ontem falamos um pouco sobre nossas memórias com frutas. Eu me lembrei que não havia um só dia na minha infância que não houvesse uma fruta de sobremesa no almoço e no jantar. Laranja, banana ou caqui. Abacaxi era para o domingo.  E era comum irmos para a frente da televisão ou para o quintal com uma bacia de laranjas que íamos descascando e chupando. Na terça, dia de feira, a casa tinha cheiro de laranja baía.  Lembrei também que no sítio do meu avô saíamos, minhas primas, irmãs e eu, para passear pela roça com a clara intenção de encontrarmos mamões maduros e melancias. Quebrávamos ali mesmo numa pedra qualquer e comíamos como animais, desperdiçando frutas quentes sem lavar, lambuzando a boca, mãos e braços. E lembrei também da história da geleia de frutas, que seria triste se não fosse engraçada. Já publiquei aqui, no post sobre a geleia de mocotó, anos atrás, mas vou repetir pra quem chega agora:  


"Ora, meu pai era caipira e só conhecia a tal geleia de mocotó, que se comia bem temperada com casquinha de limão, canela e suco de laranja. Em porções individuais, em copos, de colherada. Minha mãe nunca a desenformava. Então, na primeira sexta-feira depois do primeiro salário bom como operário de uma multinacional, quis fazer um agrado à família. Nas sextas de pagamento o mimo costumava ser doce de bar - de abóbora, batata doce roxa e amarela em forma de coração, maria-mole, doce de leite, pé-de-moleque, embrulhados em papel cor de rosa. Mas aquele era um dia especial. Passou no supermercado e viu lá uns copos de vidro. No rótulo, desenho de frutinhas e nome de geleia. Destas geleias comuns - apenas fruta e muito açúcar. Nada de mocotó. Só que ele não sabia. Pensou: se geléia de mocotó com laranja já é bom, sô, imagine estas com frutas todas. Seu Toninho comprou um sabor para cada um. Cinco filhos, pai e mãe, sete copos diferentes. Uva, morango, laranja, amora, goiaba, jaboticaba e maçã ou coisas assim. Acho que da Cica. Depois da janta, cada um pegou seu sabor predileto, catou uma colher, correu para a sala, se espremeu no sofá, com a boca cheia de doce esperando a novela acabar. Na primeira colherada, nhac, hum, nham, nham....; na segunda, han?; na terceira, argh. Um a um, copos e colheres açúcaradas foram deixados na mesinha de centro. Caras de entojo, barrigas curvadas e tanta sede. Como minha mãe nunca guardava nada que tivesse sido contaminado por “colher-de-boca”, que azeda a comida, mais de quilo de geleia foi ao lixo no outro dia. Nossa primeira coleção de copos de geleia. ..... Só algum tempo depois descobrimos que geleia de mocotó era uma coisa - pra comer de colherada,  e geleia de frutas era outra, pra passar uma pontinha de faca no biscoito que acompanha o chá. Mas demorou."


Só pra dizer que na nossa aula não ensinaremos a fazer geleias. De qualquer forma, o que for dado em aula ou o que for cortado deverá aparecer em breve aqui no Come-se. 


Paladar, cozinha do Brasil. 

15 comentários:

  1. Oi, Neide. Fiquei ansiosa de ver, ler e provar tudo o que vcs fizerem nessa aula. Mas vou ter que me contentar em apenas ver e ler o que vc publicar. Posso sugerir que vcs publiquem até o que não for para a aula? Sucesso, sempre!
    Izabel

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  2. Izabel,
    pode ficar tranquila que vou publicando tudo aos poucos, mesmo o que não for dado em aula. Um abraço, N

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  3. Quando minha avó era viva e morava em um sitio, ela costumava colocar casca de laranja pendurada no teto para espantar inseto. Acho que funcionava, pois quando ela veio morar próximo daqui continuava com o mesmo costume. Dizem que rato não gosta de casca da laranja.
    Beijos!

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  4. lembrei disso por ver as cascas em um cordão. rsrsrsr

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  5. Hoje mesmo falava com o marido sobre as coisas que tínhamos em casa na infância. Ele, filho de mineira, tinha sempre broa de milho. Mingau de maizena. Eu, filha de cearense, sempre tinha em casa rapadura, melado com farinha.Geleia de mocotó Colombo era coisa pra domingo, e se usava como as outras, na ponta da faca em cima do sanduíche de queijo quente, feito no fogão com aquele treco de ferro, que minha mãe chamava de "rapitochi" certamente, rapid toast.

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  6. Vocês são incríveis!

    <3

    Beijo,

    Janaina

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  7. Como eu gostaria de estar lá!!!! Alem de achar vocês tres absolutamente fantasticas, eu adoro o tema, frutas é sem duvida meu doce preferido no mundo.
    Bjs

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  8. Neide,

    Ver essa foto das cascas penduradas secando faz com que eu me sinta com 5 anos. Minha bisavó, avó e mãe sempre secaram as cascas de laranja no varal e depois acendiam como um incenso pra deixar a casa perfumada.

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  9. Estou triste, Neide, pois quero postar no meu blog sobre o seu maravilhoso papel de banana, mas minhas fotos ficaram tão ruins!
    Agora não sei o que vou fazer....

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  10. Dirlene,
    o jeito é você aproveitar para testar! O pior é que nem eu tenho fotos. Só as que fiz aqui em casa. Também não estão muito boas, mas se quiser posso lhe mandar. Que bom saber que estava lá. Um abraço, N

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  11. Quero muito fazer, Neide, mas estou sem processador rs será que consigo fazer na peneira? Pois no espremedor de batata fica muito grosso e dificulta a abertura da massa bem fininha....

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  12. Sua narrativa me reportou aos tempos de criança, quando íamos à mata fechada atrás de marmelo, quando ainda tinha mata fechada, agora virou tudo área de café, cana e pastagens. E nessa busca encontrávamos melão que eram uns melões pequenos e de cor verdes e rajadinhos, que não sei a espécie, mas muito comuns naquela época,nasciam espontaneamente, assim como melancia, que comíamos ali mesmo.

    Adoraria ter participado dessa aula de frutas.
    bjs

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