terça-feira, 29 de março de 2011

Araçá urbano

Era fim da tarde e a mulher fechava atrás de si o portão depois de um dia de trabalho, ajeitando com a outra mão a bolsa no ombro e, na boca, o cigarro ainda apagado. Ao me ver colhendo e fotografando em frente à casa dos patrões, ficou parada olhando curiosa, tomou coragem e perguntou: "o que a senhora está pegando aí?" / "Araçá, que já passa da hora de colher"/ "E pra que serve?"/ "Pra comer, é bom, nunca provou?"/ "Sou faxineira aqui tem anos e pra mim esta árvore é só mais um estorvo. Nesta época, toda vez que venho aqui tenho que varrer pro lixo um monte desta frutinha que se esborracha na calçada, pensava que era venenosa". Foi embora não muito convencida de que podia comer.
Já falei deste mesmo araçá em 2009. E dei uma receita do araçá gaúcho aqui. Mas gostaria de ter dito àquela mulher que ela é mais sortuda que eu, que sempre chego atrasada pra colher as frutinhas nunca vistas em supermercados.
Outro dia passei por aquela curva de esquina e vi a árvore solitária entre asfaltos e ônibus apressados, vermelha de frutos, com dois homens colhendo. Estava de carro e não pude parar. Quando voltei, era tarde. Várias bolinhas vermelhas já tinham caído e sido varridas para o lixo. Outras, acho que os homens levaram.
Teria dito também que ela estava perdendo uma ótima fonte de vitaminas. O araçá vermelho,
Psidium cattleyanum, tem mais vitamina C que as laranjas. E que é uma fruta nativa da Mata Atlântica, que não demora a frutificar (dois, três anos) e a chamar de volta a fauna de áreas degradadas. E, claro, para além destas qualidades, que é uma iguaria em sabor, que lembra a goiaba, sua parenta próxima.
Mas peguei só umas duas frutinhas pra comer em casa e virei a curva cantando
Amora com Renato Teixeira: "Depois da curva da estrada/ Tem um pé de araçá/ Sinto vir água nos olhos/ Toda vez que passo lá/ Sinto o coração flexado/ Cercado de solidão/ Penso que deve ser doce/ A fruta do coração..."

13 comentários:

  1. Pois fique a senhora sabendo que se já tivesse vindo pra Curitiba, teria a satisfação de comer e colher um monte,pois aqui a ciclovia que cruza a cidade, na região em que percorro é cheia de pés de araçá e pitanga (os mais comuns). Por aqui já terminou a "colheita", mas final de janeiro e fevereiro é fartura. E por conta deles vc nem imagina a quantia de sabiás.
    Um beijo.

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  2. Eu nunca tinha visto essa fruta, acho que não tem aqui em BH. Quando passei no interior de Sergipe, comi balas de araçá que pareciam caramelos. Era uma coisa MARAVILHOSA!

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  3. Sabe que também só conheci araçá quando vim morar aqui pra baixo, em São Paulo. Em BH, onde nasci, não é comum. No fim de semana achei um grande pé de araçá amarelo, muito carregado, na beira do mar, em Ubatumirim.

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  4. Gente.. se tivesse jogo de fruta eu jogava agora no araçá!
    Recebi um mail de uma amiga virtual de BH que me perguntava se eu tinha amoras, e que ela adorava, quando criança no interior, comer amora, araçá e guabiroba. Eu nunca comi araçá nem gabiroba. Aí, chego aqui, e olha o araçá aí minha gente!

    Também fotografei o chão hoje, mas não com vermelho, com roxo das quaresmeiras! lindo!

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  5. Oi Neide, sou tua fã e tu és a minha referência como blogueira. Sempre que olhava na internet alguma coisa estranha que eu como, tipo menstruz ou cren, sempre estava lá o teu blog, como fonte de toda a informação que eu queria. Tu me deste a ideia de começar meu blog e estou adorando fazê-lo. Também já postei essa semana sobre araçá, pois aqui no sul estamos com as árvores carregadas, de araçás, de butiás e de feijoas. Um beijo de quem muito te admira!

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  6. Endosso as palavras da Ana... Aqui pertinho de casa tenho alguns pés de araçás. Já tive a oportunidade de falar sobre essa fruta algumas vezes e comentei justamente que essa no mercado tem não!
    Lembra demais minha infância, mas eram os araçás amarelos. Em Curitiba só vejo dos vermelhos. Fiz iogurte com eles e publiquei. Achei uma delícia!
    Bjs.

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  7. Neide, tenho um pé de araçá na frente da minha cozinha. Mas são diferentes destes. Os meus são roxinhos, quase pretos. Parecem muito goiabinhas bem ácidas. Tenho feito geléia e sorvete com eles.
    Um beijo,
    Mariana

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  8. Pois eu conheço araçá desde pequenina. Toda a minha família tinha pelo menos uma árvore/arbusto dessa fruta deliciosa, que nós gostamos muito. Até aqui nada de especial a não ser que eu estou a falar de Portugal, na região do Porto.
    Todos os anos eu faço doce de araçá depois de comer muitos, até ficar saciada.
    Parabéns pelo seu blog que é uma delícia, uma verdadeira enciclopédia, além das receitas maravilhosas. Venho sempre aqui visitar ou colher informações.
    Obrigada, Neide, um grande abraço.
    Isabel Silva

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  9. Essa especie de araca nunca vi nem comi, maas aqui do lado da minha casa ( na casa do meu sogro ) tem um pe daquewle amarelinho , gosto mais de araca do que de goiaba. Outro dia fiquei surpresa ao ver uma especie de jambo que tambem nunca , havia visto o jambo que conheco da minha infancia e aquele , que quando fica maduro ele fica amarelo mas , vi na tv uma especie vermelha e bem grande fiquei curiosa vc conhece e o sabor e o mesmo do outro ...... Beijos Denise

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  10. Hummmm...araçá que delícia, fruta da minha infância lá em Jacupiranga/SP, que tb tem gabiroba e jambo amarelo da casca quebradiça e um sabor especial e o jambo rosa (que a Denise não conhece), cheiroso, saboroso e lindo! Neide, me impressiona, não a falta de conhecimento, mas a falta de curiosidade em conhecer...você cumpre muito bem esse papel com suas fotos, suas receitas e curiosidades. Bj
    Sueli Rosa

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  11. Oi Neide, aqui em Papanduva tem araçá também! Meu sogro tem no quintal ao lado da nossa casa! Minha menina adora! Postei no meu blog umas flores em homenagem a vc! Dê uma olhadinha lá!

    Abraço, Janete

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  12. Neide, quando criança provei desta fruta.E não faz muito tempo aqui em Águas da Prata, no jardim de uma Imobiliária tinha um pé cheio de araçás. Me deixaram pegar alguns.Matei a saudade!
    O araçá daqui não é vermelho, é meio amarelinho...delícia!
    Beijos,
    Dalva

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  13. Poderia uma hora falar da guabiroba-açu (Myrcianthes pungens)?

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