quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mercados da Terra, um projeto do Slow Food


Foto: parte da capa do caderno de divulgação do projeto Mercados da Terra
O encontro da liderança brasileira do Slow Food que aconteceu neste último final de semana em Porto Alegre e Antonio Prado, no Rio Grande do Sul, tinha o propósito de apresentar, e discutir sobre sua implantação no Brasil, o projeto Mercados da Terra ou Mercatti della Terra, nova menina dos olhos da Fundação Slow Food para a Biodiversidade.
O seminário foi apresentado pela Coordenadora do Slow Food na América Latina, Lia Poggio, e Roberta Sá, Coordenadora dos Projetos do Slow Food no Brasil, e envolveu líderes de 11 Convivia além técnicos, agricultores, jornalistas (Juliana Dias, do site Malagueta, Priscilla Santos, do Guia Verde e eu, do Come-se). Este evento do Slow Food aconteceu junto com outro encontro, o da Cooperativa Sem Fronteiras, promovido pelo Instituto Morro da Cutia de Agroecologia, com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Sobremesas na Quicheria: gentileza do Convivium Produtos da Terra. A surpresa ficou por conta da musse com mate, de sabor intrigante.
No primeiro dia tivemos jantar na Quicheria, em Porto Alegre, organizado pelo Convívium Produtos da Terra, caprichadíssimo com comidinhas boas como arroz de carreteiro com pinhão e musse com mate. No sábado fomos visitar as feiras ecológicas, a do Parque da Redenção e a do Menino Deus, com bancas de produtores e cooperativas que trazem seus produtos de cidades próximas. O legal destas feiras é que ali você encontra produtos que não estarão expostos nas gôndolas de supermercados, como flores de macela, feijão sopinha dos quilombolas, arroz moti crotalária do Seu Juarez, feijão arrozinho que nasce como inço, raquete de palma para fazer em calda, batata-doce laranja, crua ou assada na brasa, marmelos cheirosos para doces de corte e geleias, tomates graúdos e miúdos, pães de grãos, biscoitinhos saudáveis, flores de capuchinha para comer, flores de cana para arranjo e de macela, para perfumar o travesseiro. Variedades esquecidas de morangas, queijos artesanais, sucos de frutas nativas, araçazinhos e por aí vai. Ok, isto é bom para nós, consumidores. Mas também é bom para o produtor.
É mais ou menos esta a proposta do Mercados da Terra, projeto lançado em 2008 e que está se espalhando por aí - já são 5 na Itália, 1 em Israel e 3 no Líbano. A ideia é ter feiras mais ou menos como estas de produtores que já existem por aqui, mas, para poder usar o nome do projeto, elas têm que seguir alguns critérios como o de ter apenas produtos autóctones, de cultivo tradicional na região ou que sejam protegidos pelas Fortalezas do Slow Food no Brasil. Além disto, os produtos vendidos deverão respeitar safras, viajar poucos quilômetros e, no caso dos processados, serem feitos com ingredientes igualmente bons, limpos e justos, preceitos que devem reger todos os outros produtos vendidos. É claro que num país como o nosso, de dimensões continentais e estações climáticas pouco marcadas, tudo isto tem que ser exaustivamente discutido até se chegar a um consenso. Mas chegaremos.
Algumas fotos das feiras e de Antônio Prado
Abóboras, flores de cana, raquete de palma, folhas de louro, flores de macela
Encontrei meus amigos gaúchos com o Marcos fazendo feira (aqui comprei uns marmelos que mostrarei na minha aula de frutas, na sexta-feira)

Também comprei destes chuchus amarelos, para comer e plantar
Roberta Sá escondida conversa com Seu Juarez dos arrozes
Batata doce laranja assada na brasa. Trouxe uma crua para plantar
Sopa imperial, prato típico de Antônio Prado. Um bolo de queijo, ovos, manteiga e farinha, assado, picadinho e coberto com caldo de galinha caipira. A receita anotada trouxe comigo
Hospitaleiras: Dona Zulema Corsa Simioni e sua filha Aliquei Simioni produzem vinhos e me convidaram para hospedagem com direito a café da manhã de fazenda e banho quente de bacia com barulhinho de cachoeira (topei na hora, quem sabe um dia...).
Organizadíssima a sede da Cooperativa Aécia, em Antônio Prado, que leva produtos locais e orgânicos dos cooperados para a feira ecológica da Redenção.
Antônio Prado, a cidade mais italiana do Brasil, estava fria e úmida assim. Mas é linda!
Os radicci chegam assim aos restaurantes de Antônio Prado. Radicci cotti é o prato típico feito com estes almeirões fresquinhos (cozidos em água, escorridos e refogados em bacon, cebola etc). Comemos no jantar de sábado
Maçãs orgânicas de Antônio Prado servidas na hora do lanche no dia do seminário. Crocantes, suculentas, perfumadas, saborossíssimas

Excesso de bagagem: trouxe só algumas coisinhas como 13 tipos de feijões, chuchu, batatas, vários tipos de mel, frutas cristalizadas, mate, nata, sucos, gravatá (para a aula de frutas), laranja amarga do quintal da Mariângela e do Rui (para a aula de amargos), umbu em compota (presente da Jussara, da Fortaleza do Umbu, para a aula de frutas), doce de tamarindo (presente da Adriana, líder do Convívium de Natal, para a aula de frutas), pimenta (presente também da Adriana), natas, arroz moti crotalária e vermelho, do Seu Juarez, uma pinha inteira também para minha aula, queijo de porco entre outros.

8 comentários:

  1. Chuchu amarelo não conhecia.
    Essa sopa imperial me pareceu bem atraente, vou esperar a receita.
    Imagino a sua alegria diante de tantas coisas interessantes. o excesso de bagagem é inevitável...
    Bjs.

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  2. nossa Neide,não pensei que a muamba fosse tanta! hoje teve feira ecológica na escola da Laura e vi um feijão de nome esquisito,parecido com o amendoim que compraste no mercado,logo pensei em ti.Beijo!

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  3. Que maravilha. Mercados da Terra já! E o que você vai fazer com tantos tipos de feijão?

    Dava tudo pela receita da mousse de mate...

    Abs.

    C.

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  4. nossa..este è o Mercado dos meus sonhos..espero tanto que um dia todas as praçinhas teram, como no passado, uma feira de produtores, com produtos autoctonos..
    parabens pelo projeto ambicioso..
    Fulvio

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  5. Oi Neide, que relato maravilhoso!
    poxa da próxima vez que formos visitar mercados ficarei ao seu lado, pois seu faro pra coisas interesantes e diferentes é fantástico. E eu que achei minha bagagem de volta grande...
    Foi ótimo te conhecer e ao seu blog também. Já fiquei tua fã de carteirinha!

    grande beijo Katia Karam

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  6. Que interessante são os hábitos culturais. Nunca tinha visto um marmelo até morar no Uruguai. Marmelo era uma das meia dúzia ou pouco mais de frutas frescas que se encontrava nas feiras. Marmelo é asiático e deu origem ao inglês marmalade, que há séculos não é mais geléia de marmelo ou a conhecida marmelada. Estou curioso para encontrar aqui em SP a tal batata doce laranja, comum no Peru onde é chamada de camote. A Embrapa em Brasília já introduziu variedades. Ainda não vi.

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