sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Nossos temperos: Embiriba, pimenta-de-macaco ou mingau perfumado com embiriba e compota de uvaia

O tamanho delas: aí, um palito de fósforo padrão. Estas, comprei no Mercado da Lapa

Se quiser, leia antes:

Demorei para descobrir que a iquiriba que o Carlos Alberto Dória mostrou na sua aula sobre culinária brasileira, na Escola Wilma Kovesi, também atendia pelo nome de embiriba, pelo jeito o mais comum.
E, como não tínhamos o nome científico, gastei algum tempo também para diferenciar duas plantinhas do gênero Xylopia. Acontece que um outro frutinho, mais comprido, também recebe os mesmos nomes, porém parece que é mais conhecido como pimenta-de-macaco. Ambos apresentam sabor resinoso e apimentado (que se sente na raíz da garganta e não na ponta da língua). Lembra ainda tabaco, pimenta de Sechuan e, descobri há pouco, de tanto mastigar as duas enquanto pesquisava, que lembra bastante o sabor do misque, aquela resina da planta Pistachia lentiscus, vendida em cristais para aromatizar o mualabie - o manjar de leite que me inspirou no mingau.
Iquiriba: fui apresentada a ela na aula do Dória
O Dória, se não me engano, encontrou os frutinhos secos no mercado Ver-o-peso, onde é vendido para garrafadas, xaropes, afrodisíacos. Cheguei aqui curiosa para saber mais a respeito e no outro dia, ao acaso, encontrei no Mercado da Lapa, numa loja de ervas medicinais e de candomblé. Encontrei ainda a pimenta-de-macaco, que o Dória não citou, mas esta eu conhecia e até então não sabia que eram parentes tão próximos. Achei um pouco mais fraca. Mas as duas são muito parecidas na personalidade aromática.
A imbiriba: saquinho a R$ 2,00

Xylopia aromática ou pimenta-de-macaco: também chamada de pimenta-de-gentio, pimenta-de-negro, pimenta-do-campo, pimenta-da-costa, pimenta-do-sertão, embira, envira, pacovi, pachinhos...

Quando os portugueses chegaram, estes e vários outros frutinhos picantes deste gênero já estavam aqui, espalhados da Bahia à Amazônia e chegaram a substituir a pimenta-do-reino. Por isto, são conhecidas também como pimentinhas e as árvores, como pimenteiras. Olhe só a confusão.
Não tenho notícias de que sejam muito usadas atualmente como condimento, além da cachaça e que tais, mas se alguém tiver informações que complementem este post, elas serão bem-vindas. Mesmo porque falta-me tempo agora para estudar mais. Sei que há muitas pesquisas científicas sobre suas propriedades inseticidas e acaricidas (para matar ácaros que atacam plantações, pois em sua composição apresenta α-pineno, α-terpineno e limoneno, que agem como tal) e que popularmente sua infusão é usada para o tratamento de problemas gástricos e como afrodisíaco (além de condimentar cachaças). Outras substâncias como o mirceno, ocimeno, citronelol e carvona também são responsáveis pelo delicioso aroma (mais do fruto seco que nas sementes - eu achei).
Na aula, o Doria apresentou o aroma na forma de caldinha de açúcar que serviu com queijo. Uma delícia intrigante e resinosa. Só para testar, aromatizei o leite fazendo uma infusão com os frutos levemente socados e usei para fazer um simples mingal de maisena. Para não ficar muito sem-graça e já que estava me inspirando no mualabie, fiz uma compotinha rápida com as uvaias maduras que tinha no quintal. E não é que ficou bom? Então, vai a dica: perfume o leite e use em arroz doce, doce de leite, pudins e bolos. E as infusões com água, use para caldas, compotas, licores, molhos para carnes e etecéteras.
Mingau perfumado com embiriba com compota de uvaia

6 frutinhos de embiriba
1 xícara de leite
1 colher (sopa) rasa de açúcar ou a gosto
1 colher (sopa) rasa de maisena
1 pitada de sal
Para a compota
4 uvaias maduras
1 colher (sopa) de açúcar
2 colheres (sopa) de água
Quebre os frutinhos no pilão e junte ao leite. Leve ao fogo e deixe ferver. Desligue o fogo, tampe e espere esfriar totalmente. Coe, junte o açúcar, a maisena e a pitada de sal e leve ao fogo, mexendo sempre, até engrossar. Cozinhe por 1 minuto e tire do fogo. Mexa até amornar (eu deixei esfriar, formou uma crostinha que eu não queria, por isto bati com mixer o que resultou nestas bolhinhas indesejáveis que aparecem na foto - mas para todo o efeito, são efeitos).
Compota: lave bem as uvaias, corte ao meio, tire as sementes e reserve. Leve ao fogo o açúcar misturado na água e deixe ferver e dissolver. Junte a uvaia, espere aquecer bem e tire do fogo. Sirva com o mingau.
Rende: 1 porção
Livros que indico:
Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos
Editora PLANTARUM
Árvores Brasileiras - Manual de identificação e cultivo de plantas
Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos
Editora PLANTARUM

12 comentários:

  1. Esse comentário demorou alguns anos para ser postado.

    Mas tudo, numa vida no passo de Manoel de Barros, é assim: o tempo que se demora é o tempo que se matura, se ensimesma e se cresce pra dentro. Por conta de rastrear os velhos amigos, reencontro Neide Rigo, virtuosa e viva nesse blog cheio de saber com sabor.Que generosidade em tempos de textos tão interessantes quanto leitura de listas telefônicas!

    Reencontro Neide na cozinha e Celso Fioravante na sala ajeitando quadros e esculturas e palpitando (sempre). Que percurso emocionante e sincero.

    Alimentos para o corpo e para o imaginário. Que mais podemos querer ao reencontrar quem admiramos e queremos bem?

    Querida Neide, valeu a pena, não é?

    beijos da roça

    Luiz Claudio Lins em Campinas prestes a primaverar.

    ResponderExcluir
  2. Para achar-me:

    twitter: newtexturas
    mail: newtexturas@gmail.com
    facebook: luiz claudio lins
    blog: homofobiajaera.wordpress.com

    ResponderExcluir
  3. Oi Neide, uma das coisas que mais me faz feliz é buscar alguma coisa de comer no google e sempre cair aqui!
    No ano passado voltei de Juazeiro do Norte com um monte de imbiribeira, lá eles fazem esses lambedores com gengibre e limão pra garganta. Andei usando como tempero de carne de porco e em caldas pra sorvete, fica boa demais.
    um beijo pra você,

    ResponderExcluir
  4. Boa tarde Neide,
    Sou Suíça, moro atualmente na Amazônia, e sou grande admiradora do seu blog.

    Achei o seu post já antigo sobre a Embiriba ou Imbiriba com a duvida do nome em latim. Pessoalmente acho que se trata da Xylopia Amazõnica. Semana passada foi apresentado a elas e comprei as minhas sementes aromáticas aqui no mercado local em Santarém o que deve reforçar a tese. No herbário virtual do IFAM tem um exemplar e eu acho que bate.

    Queria aproveitar a oportunidade e compartilhar a minha paixão da culinária amazônica que me fez pesquisar, escrever, fotografar e lançar no internet um livro sobre a mesma com o nome "Sabor Amazônico", acessível no link: https://www.yumpu.com/pt/document/view/55310218/sabor-amazonico

    Atenciosamente

    Susanne Gerber-Barata, susangeba@gmail.com

    ResponderExcluir
  5. Luiz, o comentário resposta demorou mais tempo ainda, hem? Mas acho que nos falamos por email logo depois do comentário.

    Suzy, eu passei por Juazeiro e esqueci de trazer de lá.

    Obrigada, Susanne! Vou conferir. E obrigada também pelo livro. Vou ver já. Feliz de saber que gosta do nosso país.

    Um abraço,n

    ResponderExcluir
  6. O livro da Susanne, do comentário citado acima, é maravilhoso !

    ResponderExcluir
  7. Vou fazer uma misturada vamos ver o q vai dar

    ResponderExcluir
  8. Um tio meu me trouxe umas embiribas dessas ai dizendo que se mascar, seria bom pra garganta inflamada,no entanto resolveu a inflamação em poucas horas, porém descobrir que mascando e engolindo o sumo, causa lombra! Pelo menos em mim foi como tivesse fumafo um cigarro de maconha do mesmo jeitinho apesar que não fumo mais, achei estranho.

    ResponderExcluir
  9. Boa noite Escrevo para você comprar a semente de pimenta macaco Preciso de mais informações envio meu e-mail makroimportadores@gmail.com e meu celular + 573158879261

    ResponderExcluir
  10. Oi boa tarde sou Jonatha aqui do Ceará vocês comercializa a imbiriba tenho bastante mais a comercialização aqui é fraca meu telefone e Email, (88)99697-2010 jonathaaa84@gmail.com estamos na safra agora

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar. Se você não tem um blog nem um endereço gmail, dá para comentar mesmo assim: É só marcar "comentar como anônimo" logo abaixo da caixa de comentários. Mas, por favor, assine seu nome para eu saber quem você é. Se quiser uma resposta particular, escreva para meu email: neide.rigo@gmail.com. Obrigada, Neide