Já tinha ouvido falar em cuscuz de toda sorte: de tapioca, de massa de mandioca, de arroz, de carimã ou puba, de fubá e outros, mas a bijajica foi uma descoberta excitante para mim, porque nunca imaginei algo parecido. Aconteceu no Terra Madre, durante o Intercâmbio de Saberes e Sabores, quando nos encontramos com representantes das comunidades de alimento do Slow Food, que puderam nos mostrar seus produtos.
De Garopaba e Paulo Lopes -SC veio este cuscuz de massa de mandioca com amendoim cru e açúcar mascavo que, à primeira vista, mais se parece um pumpernickel. Mas, no sabor, é infinitamente melhor. Nilcélia Mara Pessoa me passou todas as dicas de como fazer. A massa de mandioca usada vem dos engenhos na época em que se faz farinha – entre abril e junho. Mas, quando cheguei ao sítio e quis aproveitar as mandiocas de lá, vi o tamanho da minha ignorância. Não sabia se deveria sacrificar o sumo da mandioca ou não. E como na dúvida, pró réu, a raiz foi polpada da espremeção e deu no que deu: uma coisa liguenta a que meu pai torceu o nariz. O Marcos até que gostou, mas não tinha nada a ver com a delícia que eu tinha experimentado. Chegando aqui, liguei para mãe da Nilcélia, Dona Maria de Lourdes Lopes de Souza, autoridade em bijajicas. Foi como vê-la fazendo e assim ficou fácil. Tenho certeza de que ela ficaria orgulhosa da eficácia da aula (pelo menos eu fiquei com meu aprendizado). Segundo ela, a massa que vem das casas de farinha chega bem sequinha e pode ser congelada para a entressafra. O que ela não sabe é de onde vem o costume de se comer bijajica, que se estende por vários municípios vizinhos. Tampouco, a origem do nome, homônimo de outra iguaria catarinense – um bolinho de polvilho com ovos e açúcar, frito em banha. Em minhas pesquisas também não encontrei nada a respeito. Se alguém souber, por favor nos conte.
A versão que fiz foi a doce, como a que degustei em Brasília, mas também pode-se excluir o açúcar e acrescentar mais sal. E, em vez de cravo, pode temperar com gengibre, erva-doce, canela.
Quentinho, com manteiga, é divino, lembra biscoito de amêndoas com textura de pumpernickel. Segundo Dona Lourdes, vai bem também com manteiga, coalhada, nata ou doces. Depois de frio, é bom embrulhar em plástico para não ressecar. Ela me deu ainda receita de cuscuz que, diferente do que conhecemos como tal, é um biscoito super crocante resultado, aí sim, de um cuscuz de massa de mandioca com farinha de milho cortado em fatias finas que são tostadas no forno. Mas isto é outro assunto, porque ainda quero testar.
Receita de bijajica da Dona Lourdes
Ingredientes: massa de mandioca, amendoim, açúcar mascavo, sal e especiarias. Abaixo, a goma e o sumo da mandioca espremida
500 g de massa de mandioca ralada, bem espremida (talvez seja necessário 1 kg de mandioca).
500 g de amendoim vermelho cru triturado (usei processador, mas pode ser no liquidificador ou máquina de carne)
250 g de açúcar mascavo
1 colher (chá) de sal (ela disse uma pitada, mas uma colherinha rasa está de bom tamanho para o equilíbrio)
12 cravos triturados (poderia até ser mais para esta quantidade; também medida minha)
Misture bem todos os ingredientes e coloque, sem apertar, na parte de cima de uma cuscuzeira ou panela de vapor, forrada com pano de algodão. Cubra com as pontas do pano, feche a panela e cozinhe por mais ou menos meia hora ou até sentir com os dedos que a massa está cozida e grudadinha. Aí é só virar e desenformar. Se quiser fatias perfeitas, espere esfriar um pouco para cortar.
Rende: 15 porções
Considerações
Minha cuscuzeira é pequena, então moldei uma bijajica na forma de sushi - perdoem-me a heresia - e cozinhei no banho-maria, do mesmo jeito. Ficou com mais cara de pumpernickel ainda.
Espremi a mandioca ralada no meu tipitizinho de brinquedo, que comprei do Clayton, de Bragança-PA. Apesar da função meramente decorativa, a miniatura funcionou. Deixei o suco da mandioca em repouso até sedimentar o amido (goma, fécula, polvilho). Usei o líquido (que temperei como tucupi), para cozinhar arroz. E a goma me rendeu uma bela tapioca, que Ananda devorou.
Passei a mistura por peneira para ficar mais aerada (Dona Lourdes ressaltou bem: não pode apertar a massa).
Oi Neide, querida...fico estarrecida como você consegue fazer tudo isso!!!! em algum momento você dorme (rsrsrs)??? Ou vive sonhando - acordada, claro! - com as iguarias ainda não testadas por essas "mãos de fada"!?
ResponderExcluirBjs..e até a nova aventura...
Alessandra Madeo (da Viva com Orgânicos)
Oi Neide!
ResponderExcluirAcho o seu blog muito interessante e informativo! Dá uma grande saudade do Brasil. Olha, esse "pão" se assemelha muito com o "Schinkenbrot" alemão. Tem a mesma consistência e aparência, mesmo com ingredientes tão diversos. Já copiei a receita.
Um grande abraço
Alessandra,
ResponderExcluirque bom que pensa assim, pois sempre acho que meu dia não rende nada, embora tenha ainda que trabalhar e cuidar da casa (e isto aqui é hobby). Um beijo, volte sempre!
Andrea, não conheço este pão, mas vou me informar. Espero que faça e que dê certo, assim, mata um pouco a saudade do Brasil. beijos, n
Menina, mas você "desencava" é coisa...
ResponderExcluirQuerida Neide
ResponderExcluirA experiência Terra Madre é diferente para cada um, e vejo que você está aproveitando o máximo e descobrindo ainda mais novidades. Seu blog é fantástico!
Agradeço pela divulgação dos produtos das nossas comunidades do alimento, sua contribuição é muito importante.
Neide,este post aqui me deixou morta de inveja.Inveja de ter um sítio para ir e onde se aprende tanta coisa bacana. Amei este teu post.obrigada por tantas leituras maravilhosas.
ResponderExcluirOlá...a sua bijajica ta estranha..
ResponderExcluirSou catarinense e a Bijajica que fazemos é com polvilho, ovo e açúcar.
Qual será é a correta? rs
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bijajica
um abraço =)
A bijajica é com a farinha de mandioca depois de prensado e tirado o polvilho...aí segue a receita acima...
ExcluirOi, Beatriz! Você deve ter visto que citei na minha postagem esta outra bijajica: "homônimo de outra iguaria catarinense – um bolinho de polvilho com ovos e açúcar, frito em banha". É pra gente ver como é rico este nosso país - num mesmo Estado, duas coisas diferentes com um mesmo nome. Mas esta também é bijajica, te garanto. Obrigada pela visita, um abraço, N
ResponderExcluirPara nós, no sul do estado, bijaica ou bijajica é essa feita com massa da mandioca e amendoim. A de polvilho frita é rosquinha de polvilho frita. rsss
ExcluirOi, Neide... tudo bom?
ResponderExcluirSou catarinense, mais exatamente de Garopaba e moro há 3 anos no Guarujá/SP. Eu adoro culinária e minha sogra também, daí eu estava pensando outro dia sobre os doces típicos de SC e lembrei da bijajica. O problema é que ninguém aqui conhece essa iguaria e ninguém da minha família sabe a receita, então procurei no Google e achei o seu blog, fiquei muito contente. Logo faremos a receita aqui!
Beijos.
Oi, Karla!
ResponderExcluirCoincidentemente ontem ensinei a bijajica num evento aqui em São Paulo. Espero que dê certo. Depois me conte.
Um abraço,
Neide
Salve Neide. Estou preparando um material para o Terra Madre Italia, aqui do povo do litoral catarinense. Segundo o Fernando Bittencourt, secretário de Turismo de Garopaba ,a Bijajica é o seguinte:
ResponderExcluir"Bijajica é uma palavra dos povos Mbyá Guarani, nativos do litoral sul-brasileiro.
Vem de “Bija” (ou Biju), que é o pão de massa da mandioca, “Jy”,cozinhar, e “Ka”, que significa semente de amendoim ou milho. É um alimento indígena milenar, feito de massa de mandioca sem soro e amendoim ou milho cozido em pote cerâmico ou folhas de Caeté. A partir da década de 1650, foi adaptado pelo colonizador açoriano e recebeu os condimentos: cravo, canela, açúcar mascavo e sal.
Atualmente, poucas famílias mantém a técnica de fabricação da Bijajica, mas sua produção é ainda bastante expressiva nos municípios de Paulo Lopes e Garopaba, próximos a Florianópolis (capital do Estado)
grande abraço, Fernando Angeoletto (jornalista)
Neide faz mas ou menos 3 anos que acompanho o seu blog, aliás foi um amigo meu que trabalhava com a Nina Horta que me disse, fiquei fascinado e ainda estou com o seu trabalho de investigaçâo, penso em trabalhar exclusivamente com gastronomia brasileira quando volte e queria muito bater um papo com você, e visitar as suas plantas, agora eu queria te perguntar algumas coisas ai no Brasil você encontra estas plantas/ flores como:
ResponderExcluirCordifolia - Aptenia Cordifolia
Begonia - Begonia semperflorens
Còleus- Coleus Blumei
Amaranto tricolor - Amaranthus tricolor
Sâo plantas/ flores todas comestíveis, é que eu queria te perguntar e te peço algum dia se você puder fazer uma pesquisa sobre plantas e flores comestíveis da nossa terra que se diferenciam do somente alface, rucula, etc...
Uma salada com flores e platas genuínamente brasileiros .
Beijos desde a España
Oi Neide,
ResponderExcluircorrigindo um ponto:
A Bijajica é originária da região de Imarui, próxima a Laguna-SC.
Tenho um amigo que mora na região, sendo um especialista nesta iguaria. Sua receita foi apresentada a ele e foi aprovada.
Parabéns.
Obrigada pela contribuição, APacheco! Não sabia da origem. Só sabia de onde veio esta receita, mas não a origem do prato. Que bom que seu amigo aprovou.
ResponderExcluirUm abraço,
Neide
Eu fui criada comendo essas comidas!! mais qto ao nome da bijajica aqui a minha mãe diz que é Mané pança e a bijajica é outra coisa feito com a mesma massa e vai amendoim e levada na chapa enrolada na folha da bananeira p/ assar. Mais tudo isso é maravilhoso. Desejo muita saúde a vc que está resgatando essas comidas que existe na nossa culinaria e que muita gente infelismente nao conhece. Bjos Neia
ResponderExcluirNeia,
ResponderExcluirobrigada pelo comentário. Então, já são três coisas diferentes com o mesmo nome bijajica. De onde você é?
Um abraço,n
Oi Neide!!
ResponderExcluirTudo bem com você? Eu nasci em Laguna, morei dezoito anos em Palhoça, trabalhei oito anos no TJSC e ultimamente estou morando em Garopaba. Aqui existe vários engenhos e as pessoas tbém chamam a mané pança que eu connhço. ABraço
Neide, passeio pelo come-se há uns meses e não me canso!
ResponderExcluirMas nunca imaginei encontrar uma iguaria da minha terra aqui!
Sou de Garopaba, mas moro em Floripa.
Ler sobre a tua experiência com a bijajica me deu uma vontade louca de tomar um cafézinho preto com bijajica e banana assada. Na casa da minha mãe, claro!
Beijos e parabéns!!
Tailu,
ResponderExcluirpelo menos alguém que conhece a bijajica! Obrigada, um abraço, N
Oi Neide!
ResponderExcluirMinha vó faz uma bijajica dos deuses! Eu adoro!
Sou de Imbituba, sul de SC, fica logo depois de Garopaba.
Pesquisei na net uma receita, e o que encontrei foram aqueles bolinhos que vc mencionou no post. Esses sim, eu nunca tinha ouvido falar, hehehe.
Como moro em Floripa, tive que pesquisar na net como fazer. Adorei a receita e vou fazer aqui em casa.
Obrigada.
eu sei muito bem fazer um cuscuz catarina minha mãe me ensinou e se faz com uma cuscuzeira e muito bom a massa só se tem uma fez no ano então tem q congelar para não azedar la vai a receita numa bacia c coloca meio quilo da massa unas seis colheres de açúcar não precisa ser mascavo e meio quilo de amendoim cru e triturado pode ser no liquidificador misture bem e uma pitada de sal e coloque na cuscuzeira,bom que coloque um paninho de saca dentro da cuscuzeira primeiro depois vai colocando a massa sem socar de leve tampe e leve ao fogo ate secar a água da cuscuzeira e esta pronto e uma delicia pode acompanhar tanto com geleia ou com queijo,também pode ser colocado na massa junto o queijo derrete .se espalhar esta massa em uma forma e asar ela pode ser feita como biju
ResponderExcluirha eu sou la de ararangua
ResponderExcluirNeide! Fiz sua receita de bijajica e ficou deliciosa! E uma maravilha o resgate dessas receitas, fico agradecida. Ah! A minha ficou igual à da foto do blog. Beijos!
ResponderExcluirOi Neide minha mãe fazia esse bijajica quando eu era criança agora me deu saudades desse época e uma delícia 😋
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