segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Canjiquinha de liquidificador

Continuação do último post.

Eu sei, estou atrasada. Este post era pra ser na sexta-feira, mas meu dia não tem dado pra nada. Admiro quem vive a dizer que não sabe o que fazer para passar o tempo. Bem, mas enquanto eu não descubro uma máquina que me multiplique, vou usando as máquinas que me ajudam a economizar o tempo.

Meu liquidificador é a máquina aqui em casa que mais trabalha. Logo cedo bate frutas com kefir e ao longo do dia está pronto e por perto para o que der e vier.

Milho demolhado por 12 horas

Você deve ter visto o último post sobre como fazer a canjiquinha, a fuba e a farinha de milho. Usei, para tal, o moedor de manivela. Quis repetir a experiência usando máquinas elétricas. Primeiro, só para tirar a dúvida, tentei triturar o milho demolhado no processador. Quase quebrei o copo, mas os grãos continuaram inteiros, mesmo adicionando um pouco de água.

No processador não deu certo
No liquidificador, com um pouco de água, os grãos se quebram e soltam a
película 
A canjiquinha lavada, pronta pra ir pra panela, e a película que é descartada
(desagradável de mastigar quando grudada ao milho)
Então, coloquei os grãos junto com água no velho e bom liquidificador. Talvez um copo de acrílico chegasse a quebrar - o meu último, assim, quebrei tentando bater cúrcuma seca -, mas o meu é de plástico fosco e flexível e aguentou o tranco. Bateu, bateu e triturou. Não chegou à granulação fina pra fazer a farinha de milho, mas para quirera, xerém ou canjiquinha, ficou perfeito. O atrito liberou a película que forma uma camada sobrenadante na tigela com mais água. Basta, então, retirar este resíduo da superfície (dar às galinhas, colocar no minhocário, juntar ao composto)  e passar a canjiquinha por peneira. Se não quiser prepará-la na hora, congele ou guarde na geladeira por 1 ou 2 dias.

Para cozinhar, basta usar o dobro do volume em água e cozinhar até ficar macia, cerca de 30 minutos em fogo baixo, mexendo de vez em quando e juntando mais água quente se secar. Tempere a água com sal. No final, se quiser mas não precisa, junte uma colherada de manteiga e nhac. Este é só um jeito. Você pode cozinhar com carne de porco ou usar leite em vez de água e fazer um mingau doce pra comer com nata e canela.

E, com couve, abóbora e carne,  nhac!



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Milho Joaquim crioulo não transgênico pra fuba, cuscuz, canjiquinha e farinha de milho. Quinta sem trigo

Debulhado para secar mais antes de embalar
Pensava em plantar muitos tipos de milho no sítio em Piracaia, mas um deles era essencial, o milho Joaquim, que batizei assim quando falo dele com minha família. Queria ter a semente que esteve com meu avô Joaquim desde que ele tinha 17 anos, segundo diz minha mãe, que também cultivou do mesmo milho enquanto teve sítio. Acontece que meus pais se mudaram de novo para a cidade e, desta vez, não carregaram junto as sementes. Logo no primeiro ano que compramos a chácara, tentei encontrar alguém na cidade de Fartura-SP que tivesse conservado a semente que meu  pai distribuiu  para alguns produtores conhecidos. Sem sucesso. No segundo ano pedi ajuda de uma amiga da família, Meire, que mora lá. Ela teve dificuldade mas conseguiu duas espigas do milho Joaquim com um sitiante e me mandou por correio.

Pois bem, plantei (Carlos e Silvana, na verdade), colhi (em pessoa), debulhei (à distância) e embalei eu mesma. Não adubamos nem corrigimos a acidez da terra. Carlos simplesmente tirou a braquiária e plantou. Também  não usamos nenhum defensivo.  A rocinha foi pequena, suficiente para estas duas espigas. Como já ouvi dizer que os javalis andam ali à espreita, na próxima safra vou plantar tudo espalhado. Vai dar mais trabalho para colher, mas a quantidade continuará sendo pequena, só para o consumo, e os bichos, se chegarem, terão mais trabalho.

O milho Joaquim, crioulo, sementes do avô
Pronto para colher

Recém-colhido
Apenas duas espigas renderam 18 litros que distribuí em garrafas pets. A sorte (ou não) é que não tenho nenhum vizinho nas proximidades que plante milho. O eucalipto acabou com a roça de subsistência e da abundância. Muitos deixaram de plantar também por causa dos javalis que derrubam o milharal todo.
O vizinho mais próximo a plantar milho é meu próprio caseiro, cujo sítio da família está a três quilômetros de distância do nosso, mas também planta sementes crioulas. Portanto, a chance de este milho continuar sendo um verdadeiro crioulo não transgênico é grande, embora eu não possa garantir que não tenha sofrido algum cruzamento involuntário com algum milho comercial enquanto esteve em Fartura. Só sei que este é o milho do meu avô, isto no momento é o que importa. É claro, eu seria muito mais feliz se soubesse que seu dna continua imaculado, mas os transgênicos estão por toda parte como uma ameaça a estas variedades antigas.

Enquanto o milho é verde há muitas possibilidades, porém não se pode pensar muito, pois a temporada é rápida. A gente sabe lidar com o legume, mas não com o cereal depois de seco. É o milho seco, porém, que resistirá longo tempo no paiol e dará sustento durante todo o ano, até que venha a próxima safra. Sempre foi assim entre as populações rurais, pelo menos. O milho fresco é maravilhoso como ingrediente, mas é sazonal.

Prestes a ser embalados
Prontos  para o uso 
Quando me vi frente à frente com aqueles litros de milho, afinal plantei apenas para consumo próprio, tive a mesma sensação de quem recebe nas mãos um bebê sem estar preparada para  isto, sem saber o que fazer com ele. Acontece que perdemos a intimidade com o ingrediente que agora só nos chega depois da transformação industrial. É difícil comprar milho inteiro para alimentação humana. Para galinha, a gente encontra.

E, contraditoriamente, o milho vem às nossas casas de uma forma ou de outra em grande parte do que comemos, seja como amido, xarope, farinhas, fubás, canjicas etc.  E o pior é que perdemos o jeito antes mesmo de termos a chance de apresentá-lo aos nossos mais modernos equipamentos domésticos.

Claro que no passado triturar o milho e ainda livrá-lo do germe e da película era trabalho insano feito no pilão, em moinhos d´água, monjolos, e assim que foi possível comprar os produtos já processados ninguém mais quis saber de lidar com o milho em casa. Pena que isto aconteceu para muita gente antes das facilidades dos moedores de grãos manuais ou elétricos, do liquidificador, do processador.  Na verdade, um moedor manual já resolve muita coisa (é lógico que agora meu sonho de consumo é a peça moedora para a batedeira kitchen aid, mas estou feliz com meu moedor de manivela). O conhecimento do processo de nixtamalização (já ensinei a fazer aqui e ali), comum na mesoamérica, também facilitaria grande parte do trabalho se a técnica fosse mais difundida por aqui - embora nem mexicanos fazem mais o processo em casa, afinal há farinhas prontas.

Bem, para conseguir usar os milhos que colhi e fazer jus à difícil busca do milho Joaquim,  tive que lançar mão daquilo que aprendi com amigos. Foram as mexicanas Madelen e Maria quem me ensinaram tudo sobre nixtamalização, quando nos conhecemos no Senegal, e agora já fiz tantas vezes que me sinto um pouco íntima do processo.  Então, tortillas com milho nixtamalizado foram os primeiros preparos desta safra. Os links são estes aí em cima.

O caseiro Carlos fez um pouco de canjica, mas não presenciei o trabalho no pilão, em que o milho demolhado foi socado coberto com palha, para não pular. Quando eu mesma fizer e/ou participar, conto tudo aqui.

A fuba

Toste até os grãos ficarem crocantes como piruás, sem deixar queimar.
Usei a pipoqueira com tampa, já que alguns grãos estouram feito pipocas
Simples assim: agora é só moer 
Porém, lembrei que um jeito fácil de processar este milho seco era fazer a fuba, aquela farinha de milho torrado com sabor de pipoca que conheci com a Ana Rita Suassuna (já falei dela aqui e ali) Maria, minha faxineira que é pernambucana, provou da que tinha feito e ficou emocionada, saudosa por nunca mais ter comido. Aproveitei a presença e sabedoria dela e fizemos mais um pouco para ela levar. Ela me corrigiu o ponto de torrefação do milho - tem que ser bem devagar, em fogo baixíssimo, para secar sem queimar.

Farinha de milho sertaneja

O milho fica de molho por uma noite ou pouco mais
O milho molhado é triturado, restando uma farinha úmida e solta 
Passe por peneira para aproveitar para a farinha apenas os grãos fininhos
Simples também: agora é só secar numa frigideira em fogo baixo até que os
grãos fiquem crocantes
Lembrei ainda da farinha de milho sertaneja (tomo a liberdade de batizá-la assim para  não confundir com a farinha de milho caipira, aquela de flocos) que tem sabor de raspa de polenta tostada ou de broa de milho, outro dos ensinamentos da Ana Rita Suassuna. Foi só deixar um tanto de milho de molho de um dia para outro, escorrer e triturar no moinho. O que sai triturado não é uma massa como no milho nixtamalizado, mas uma farinha úmida e solta. Ana Rita me ensinou a fazer e disse que a porção mais grossa poderia ser usada para fazer cuscuz. Pois da minha moeção, com ajuste para mais grosso, consegui ter pelo menos três porções para diferentes usos. Com o que peneirei finamente fiz a farinha, tostando em wok em fogo baixo, sem parar de mexer, por 10 minutos. A gente sabe que está pronto porque os grânulos ficam crocantes.

Esta farinha é tão gostosa, mas tão gostosa, que se você  provar nunca mais vai querer comer sucrilhos. E a fuba te fará esquecer de vez aquelas ditas farinhas lácteas.  Você pode usá-las com a comida, com carne, feijão, ou junto com leite, café, iogurte, frutas.

Peneiragem e frações

O que resta na peneira pode ser lavado para tirar as películas 
O farelo sobe à superfície quando os grãos são cobertos com água.
Basta ir tirando com uma colher-peneira
Com peneiras em diferentes granulações, você consegue produtos
específicos. Em sentido horário: no canto superior esquerdo, a farinha,
depois o farelo, a canjica maior, a canjica menor (juntei as duas depois) e os
grânulos, um pouco mais grossos que a farinha, para cuscuz
A parte mais grossa que sobrou, peneirei mais uma vez e assim tive duas granulometrias diferentes. Cada uma delas fui lavando e tirando as fibras de película que ficavam em suspensão. Tive assim grãos maiores para canjiquinha e mais finos para o cuscuz.

O cuscuz

Os grânulos temperados com sal foram ajeitados sem apertar  na cuscuzeira

Cozinharam por 10 minutos em três etapas 

Foram  umedecidos com água fria e passados por peneira
No fim, recebem uma colher pequena de manteiga e ficam soltinhos
O cuscuz, fiz do jeito africano, como se faz cuscuz de semolina (dá pra prepará-lo também a partir do fubá, como já mostrei aqui). Coloquei o triturado úmido na parte de cima da cuscuzeira forrada com pano. Deixei cozinhar por 10 minutos ou até começar a sair vapor da superfície, com os grãos bem grudados. Passei para uma bacia, fui esfarelando à medida em que juntava um pouco de água fria - numa quantidade que os grãos possam absorver, sem encharcar. Passei por peneira grossa e coloquei novamente os grãos na cuscuzeira. Deixei cozinhar mais 10 minutos e repeti o processo. Os grãos voltam para a cuscuzeira para cozinhar mais 10 minutos pela terceira vez. Porém, na bacia, em vez de água, juntei uma colherada de manteiga. E está pronto para servir. Se quiser guardar, passe por peneira e eles vão se conservar inchados e soltinhos. Aí, basta aquecer no vapor na hora de servir. Você nunca mais vai querer ouvir falar em floco, flocão, polentina, milharina.

Canjiquinha 

Separam-se os grãos do farelo 
Misturei os dois tamanhos e cozinhei em água salgada. Cremosidade de
risoto
À canjiquinha já úmida, juntei o dobro do volume de água e levei ao fogo baixo, mexendo de vez em quando. Temperei com sal e deixei cozinhar por meia hora - os grãos devem estar macios (canjiquinha al dente, não, por favor). Juntei um pouco de manteiga e nhac. Se não fosse preparar na hora a canjiquinha, por estar molhada, teria congelado antes de cozinhar.

E se você não tem moedor de grãos, elétrico ou manual, tente o liquidificador que também dá certo (pelo menos para fazer a farinha e canjiquinha - amanhã falo da canjiquinha de liquidificador.

O resultado 

A farinha de milho sertaneja

E a fuba. Ambas vão para garrafas como as de mandioca 


O cuscuz com legumes e sardinha como comi no Senegal (lá com arroz
quebradinho)

A canjiquinha cremosa com couve. Hummmm, nhac!







 Amanhã mostro como fazer a canjiquinha no liquidificador.

Começaram as inscrições para o Paladar Cozinha do Brasil


Já estão abertas as inscrições para a oitava edição do Paladar Cozinha do Brasil. Algumas atividades oferecem poucas vagas que não demoram para esgotar. Eu participo de duas delas. Uma, no sábado, na já tradicional tríade, Mara Salles, Ana Soares e eu, com o tema "O que é que tem de mistura?" (pronto, descobriu porque fiz o post sobre isto dias atrás). E a outra, uma oficina sobre "Plantas aromáticas pouco convencionais", em que vou falar sobre e mostrar temperos vegetais pouco conhecidos como macassá, malva-de-cheiro, manjericão-anis, xambá, planta curry, folha de curry, pacová, folha de cúrcuma etc.

Uma coisa boa é que neste ano o evento ocupa um espaço mais informal. Será no campus Vila Olímpia da Faculdade Anhembi Morumbi. Com a presença de alunos, as atividades  prometem lotar. Veja lá no blog do Paladar toda a programação e garanta já sua vaga.

Clique e Amplie
 Veja sobre o evento e programação no blog do Paladar, nestes links
http://blogs.estadao.com.br/paladar/garanta-seu-lugar-no-8o-paladar-cozinha-do-brasil-edicao-14814/
http://blogs.estadao.com.br/paladar/paladar-cozinha-do-brasil-chega-a-sua-oitava-edicao/

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Minha chia

Eu sempre começo um olhar torto para qualquer produto que já chegue se apresentando como milagroso. Mas também sempre lhe dou uma chance, afinal ele pode ser mais um aliado na cozinha e na saúde e representar apenas mais uma jogada comercial no pernicioso mundo dos superalimentos.

E se é alimento vegetal, bem cultivado, é certo que trará muitos benefícios à saúde.  Pode até ter mesmo muitas qualidades nutracêuticas, mas se o alimento não é gostoso, a moda não pega. Se o alimento precisa ser importado, então, terei a curiosidade de experimentá-lo mas dificilmente vou incorporá-lo à minha dieta ainda que seja o alimento mais milagroso do mundo.

O problema é que, quando o pobre do alimento é tachado como panaceia, ele mal tem chance de se apresentar como um bom ingrediente na cozinha.  À primeira expectativa frustrada como salvador da pátria, em especial como emagrecedor, ele é relegado ao esquecimento e substituído pelo próximo da fila.  Muita gente não quer se implicar minimamente na mudança de hábitos de alimentação mas acredita em todos os modismos como quem espera por um messias.

O  preço começa nas alturas e vai baixando conforme aumentam as ofertas e diminui a procura. Já aconteceu com tantos outros - falei do hibisco aqui.  Tanto que outro dia vi no mercado uma farinha de nome "Seca Barriga".  Tudo o que caiu de moda e deve ter encalhado estava ali: feijão branco, farinha de maracujá, hibisco, linhaça, açaí, quinoa etc. Devia ter uns 20 ingredientes a tal farinha. E sempre tem um que cai nessa.

Ainda caro no supermercado: 210 reais o quilo 
Quando a chia apareceu, chegou a custar R$ 150,00 o quilo no Mercado da Lapa. Hoje custa R$ 40,00, mas mesmo assim no supermercado ainda há pacotinhos com preços absurdos - veja a foto.

Logo que surgiu por aqui, comprei um pouquinho para experimentar. Adorei de cara. Não pelo sabor, que lembra um pouco algas, mas pela crocância e pela mucilagem que se forma em volta das sementes quando hidratadas.


Comi um pouco e joguei um pouco pro santo - pra terra, digo. Espalhei pelo quintal da casa aqui e também no sítio em Piracaia. Passou um tempo, nem me lembrava mais, afinal jogo tantas sementes pro santo, e comecei a notar aqui e ali umas flores roxinhas em espigas quase como lavandas. Não liguei uma coisa com outra e fui deixando. Quando as flores secaram no pé, colhi alguns ramos e chacoalhei pra ver que tipo de semente caía. Levei um susto. Eram chias. Pronto, acredito em tudo o que disserem sobre ela. Não no milagre, mas na bondade genuína da semente. Agora posso usar à vontade. Nem que ela não fosse esta potência toda, mas só pelo fato de eu ter semeado e colhido já estava valendo. Agora tenho dela já florindo em pleno inverno na horta comunitária da minha rua.

A planta Salvia hispanica é anual, de verão, e originária das áreas montanhosas que se estende do oeste central do México até o norte da Guatemala. Além de ter uso culinário como alimento básico das civilizações pré-colombianas, era também usada como oferenda pagã aos deuses aztecas. Foi este um dos motivos para que os espanhóis tentassem eliminar a cultura e substituir por grãos do velho mundo.

Pesquisas atuais revelam que a chia tem boa quantidade de proteínas de alto valor biológico, com aminoácidos essenciais  (carente, no entanto, em lisina) e é importante fonte de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3. Isto, e mais o fato de conter fibras, mucilagens e antioxidantes, pode contribuir para seu efeito hipoglicemiante quando inserido na dieta. E quando misturada a algum líquido forma um gel gostoso de comer que dá alguma saciedade.

No México, a chia é usada em águas frescas - acrescente uma colher de sopa dentro do copo da limonada e espere hidratar por 10 minutos. As sementes podem ser consumidas cruas, apenas hidratadas, ou na forma triturada e aí  pode entrar no preparo de tortillas, pães, biscoitos etc.

Água fresca de chia com limão rosa 
Como sagu, feito com hibisco:  viciante 

Kefir de leite com chia, banana, melado, fúba e chia tostada 

Como eu uso: para colocar na limonada ou água fresca (do mesmo jeito que se colocam as sementes de manjericão) e para fazer um falso sagu de hibisco (apenas coloque umas 2 colheres de sopa de sementes num copo de refresco de hibisco e espere hidratar). É uma opção também aos mingaus de leite ou para espessar o kefir.

Chia absorveu a água do jiló 
Recheio cremoso, sem caldo
Também fica bom para substituir o pão quando quer enxugar um recheio doce ou salgado (entre a massa e um recheio mais molhado, por exemplo). Veja na foto um recheio de sobra de jiló com um pouco de caldo. Juntei chia para absorver este caldo e juntei um pedaço de queijo. Pensei nisto quando vi a quantidade de líquido que consegue absorver.  Recheei um pastel de milho e nhac.  Para um melhor aproveitamento das proteínas e ácidos graxos, os grãos podem ser triturados. Mas se você quer enganar a fome e dar espessura a alimentos líquidos, use os grãos inteiros e hidratados.

Batata doce cozida na calda de hibisco com crocante de chia
Uso ainda os grãos torrados como se fossem gergelim crocantes. Claro, o sabor é muito diferente. A chia é muito menos marcante, mas o crocante contrasta graciosamente com alimentos mais macios como banana ou batata doce.

E os grãos podem ser cozidos junto com arroz. Esta mistura já deixei pronta com os grãos secos: arroz, quinoa, ervilha, feijão fradinho, trigo, amaranto e chia

Mônica Salmaso - Violada

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Particularidades do sul do Paraná

O sete do corte "setinho". 
Cheguei sem avisar em São José dos Pinhais, ao lado de Curitiba, no domingo. Ainda do táxi liguei pro meu pai felicitando-o pelo dia. Eram seis da manhã, mas como sei que o pai se levanta cedo não soou estranho dizer que queria ser a primeira filha a cumprimentá-lo "diretamente de São Paulo" pelo seu dia. Menos de um minuto depois eu já estava na porta tocando a campainha para surpresa geral.

Eu ainda estranho um pouco visitar meus pais numa casa urbana depois dos tantos anos que viveram no sítio, em Fartura, interior de São Paulo. Havia ali muito o que fazer, muitas distrações. Agora resta um pequeno quintal com galinha, pequena horta e muitas flores. O importante é que eles se sentem menos sozinhos com minha irmã morando ao lado. E, se faltaram distrações, sobraram algumas horas para ficar ali à toa, descansar, e isto também é bom. As horas foram gastas com atividades corriqueiras como colher chuchu, colocar chuchus brotados na calçada para pedestres pegarem,  ir ao supermercado, ao açougue ou à padaria. E com isto a gente também aprende.

Primeiro descobri que colocar coisas na calçada para que outros usufruam (aqui, vivo colocando mudas e jornal lido do dia, que acomodo todas manhãs num recipiente próprio) não é exclusividade minha na família. Quando achei que estava dando uma grande dica para eles, de colocar chuchus brotados na calçada, minha mãe disse que já faz isto quando tem excesso de produção de qualquer coisa no quintal, especialmente chuchu. Enche uma caixa e deixa na calçada que, por sua vez, está tomada de plantas comestíveis como taioba, almeirão etc.  Já mostrei o quintal e a calçada deles aqui.  Bem, algumas pessoas pegaram dois chuchus e no final chegou uma mulher e perguntou se podia levar a caixa inteira, que iria plantar numa chácara da família. Claro, levou.

Setinho no sanduíche com mostarda

E depois aprendi que o corte de carne vendido ali como "setinho" recebe este nome porque um osso da paleta cortado forma o número sete. E isto minha mãe me mostrou com a carne já na panela pronta para receber a tampa de pressão.  Ela refogou em óleo a grande posta de carne cortada em pedaços e temperada com alho socado com sal  até corar. Juntou um pouco de água quente que cobrisse e cozinhou por cerca de 20 minutos, deixando secar quase toda a água. É um corte delicioso e feito assim, cozido na panela, fica suculento e macio, bom para comer como recheio de pão. Foi isto que fiz. Fiquei pensando nos terríveis lanches de viagem nas paradas de ônibus e me animei em montar dois sanduíches com a mistura do almoço - esta carne, sem o osso, claro, e mostarda refogada.  Não vi a hora de chegar a parada do ônibus para devorar os dois a um só tempo.




Na padaria, para comprar os pãezinhos do sanduíche,  me deparei com uma vitrine com kukes e chineques. Kuke, ok, afinal bolo em alemão é kuchen, a gente sabe o que é uma cuca ou cuque.  Agora, chineques nunca tinha ouvido falar, porém hoje já sei que vem de caracol, que se chama schnecken em alemão, e também nomeia os pãezinhos recheados, cortados e assados com o caracol pra cima.