sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dia da árvore

Abacateiros: projetos de árvores
Era para eu ter nascido no dia da árvore, mas quiseram os astros ou a pressa de viver que eu chegasse dois dias adiantados. De presente, tenho ganhado árvores de diferentes formas. Juliana Valentini me deu um dia antes uma árvore de moringa maior que eu. E meu amigo Celso Fioravante deixou na minha porta ontem, um dia depois, um pessegueiro com frutinha e um saco de café usado para adubar a terra. Dos abacates tenho ganhado todos os dias caroços que já vem com raízes proeminentes. Já estou formando uma floresta em copos de água. Logo vão para a terra. Aproveitei o dia ainda para plantar sementes de uma árvore da qual certamente não verei os frutos - baobá do Senegal.  O resto das sementes vão germinar no Viveiro Oiti. E vivas para as árvores. 

Moringa, da Juliana e do Flores


O pacote de café do celso virou etiquetas, ideia da Juliana 

Amendoim cozido. Coluna Paladar 5

Para aumentar, clique e clique
O Paladar de ontem foi um especial de aniversário de 7 anos. Veja que legal o formato de mangá. O caderno inteiro está reproduzido lá no blog. É só clicar e ampliar. Até o Nhac aparece com uma receita japonesa super simples de fazer (dia lotado o de ontem, por isto o atraso). 

http://blogs.estadao.com.br/paladar/mangas-para-comer-edicao-de-209-especial-de-7o-aniversario-do-paladar/

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Bolinho frito de taro. Sem trigo, sem ovo, sem leite...

Ou quinta sem trigo 58. 
Eu ando com mania de comprar taros/ inhames porque germinam facilmente e eu posso plantar em Piracaia. Compro dos redondos, dos compridos, dos brancos, dos roxos mesclados. E ganho da Laura, da Marisa Ono e de quem tem. E tudo porque gosto de comê-los, claro. 

Tirando o uso como legume, tal batatas, ou em broinhas e bolinhos de fórmulas rurais de antigamente, não há muita variação no jeito de usar estes tubérculos na cozinha. Não fossem os asiáticos no Brasil, talvez já tivessem caído também no esquecimento, como aconteceu com o mangarito. 

Conversando sobre usos do taro com meu amigo Luiz Paulo Stockler Portugal, ele me passou uma série de blogs asiáticos que costuma frequentar (veja lá embaixo, ótimas indicações).  Já no primeiro que abri, me deparei com este bolinho frito (u-yen ).  Aproveitei que tinha aqui um monte de taros mutilados - quando um broto começa a despontar, eu tiro um pedaço e enfio na terra -, para usar todos. Tenho vários já em vasos com folhas. 

Está certo que, frito, até pedaço de papelão fica gostoso, mas neste caso fica realmente delicioso, com o miolo viscoso, macio e agradável de mastigar, e crocante por fora. O sabor é suave e adocicado porque segui a receita original, que leva um pouco de açúcar, que ajuda também a dourar. Adaptei apenas as quantidades proporcionais ao que tinha de taro, e acrescentei ainda cebolinha verde para o branco não ficar monótono. Com um molho bem apimentado, ficou incrível. E não vai trigo, não leva leite, não tem ovo (para aqueles que não podem comer nada disso). É tão saudável que ficaria até chato não fosse a malícia da fritura.  Sim, eu tentei achatá-lo de vez, apertando um montinho de massa para ficar mais fina e assar no forno, sem adição de gordura. Mas não ficou boa, não.   




Bolinho frito de taro/ inhame

300 g de taro descascado e ralado grosso (pesado já limpo, 2 xícaras ralado)
2 colheres (sopa) de polvilho doce (amido de mandioca) 
2 colheres (chá) de açúcar 
2 colheres (sopa) de água 
1 colher (chá) de sal 
3 colheres (sopa) de cebolinha picada 

Misturar tudo e modelar bolinhas com as mãos - a  massa fica meio mole, mas você pode ir passando a massa de uma mão para a outra, modelando até o formato ficar bem esférico. Se quiser, tire porções com uma colher e use uma outra para ajudar a modelar com queneles. Frite em bastante óleo quente até o bolinho ficar dourado. Vire de vez em quando para que doure por igual.  Faça um vinagrete com cebolinha, cebola roxa, pimenta em flocos, vinagre, açúcar, shoyo e óleo, sirva com os bolinhos e nhac!  Rende 15 bolinhos.

Dica do Luiz:
A partir dos blogs do pessoal de Singapura/Malásia que acompanho vão uns links que não sei se podem ajudar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pão de taro (inhame) e beterraba com levain


Lembra-se daquelas beterrabas e dos taros que ganhei do Alex e da Laura na semana passada?  Pois partes deles viraram pão. Falar nisso, eles publicaram sobre nosso encontro no blog do sítio, o que me deixou envaidecida e sem-graça. Como estava na hora de fazer o pão da semana, usei um pouco do que ganhei.  E como não queria um pão super vermelho e porque gosto do taro no pão - fica macio e com bolhas, usei apenas uma beterraba, que deixou a massa crua super colorida, de um rosa choque que prometia durar para sempre. Depois de assado o pão,  ninguém dizia que uma beterraba havia passado por ali. O pigmento, sabe-se lá porque reação, desapareceu no miolo e deixou apenas uma leve lembrança na crosta.  O gosto da beterraba também desaparece, mas a massa fica nutritiva, disso eu sei. Aproveitei para usar também sementes de girassol e de abóbora (já descascadas) que comprei no mercado da Lapa e ficou muito bom - o pão com massa elástica levemente crocante. Aqui vai a receita. Se você não tiver levain, veja as dicas lá embaixo. 


Com crosta de sementes


Com farinha branca 
Pão de taro e beterraba com fermento natural 

400 g de levain ou fermento natural (veja aqui)
120 ml de água fria
2 colheres (sopa) de mel
1 colher (sopa) de sal
150 de beterraba cozida, fria
350 g de taro/ inhame cozido e espremido, frio
700 g aproximadamente de farinha de trigo especial (pode precisar de mais ou menos dependendo da umidade do inhame e da beterraba)
100 g de manteiga sem sal em ponto de pomada
1/3 de xícara de sementes de girassol sem pele
1/3 de xícara de sementes de abóbora sem pele
1 colher (chá) de sementes de endro (opcional)
Farinha de trigo para polvilhar
No liquidificador bata o levain com a água, o mel, o sal e a beterraba. Passe para uma bacia, junte o purê de taro e vá colocando a farinha de trigo aos poucos, mexendo com uma colher de pau. Quando a massa ficar firme para manusear, passe para uma superfície enfarinhada e sove bem com as mãos enfarinhadas, até resultar numa massa lisa. Junte a manteiga em pedacinhos, aos poucos, as sementes grosseiramente picadas e o endro, sovando para incorporar bem. Se quiser, separe um poucos das sementes para colocar na casca do pão. Junte mais farinha se precisar. A massa bem lisa, brilhante e que não gruda mais nas mãos, deve ser colocada novamente na tigela grande, coberta com plástico ou um pano. Você pode amassar também na máquina de pão. Espere a massa crescer até dobrar de volume (caso não tenha experiência com pães, faça uma bolinha com a massa e deixe num copo com água em temperatura ambiente – quando ela subir à superfície, a massa certamente estará no ponto). Divida a massa em quatro e molde os pães compridos ou redondos e coloque numa assadeira grande untada e polvilhada, deixando espaço entre eles. Se quiser, pique um pouco das sementes, molhe o pão com água e role-o sobre elas, para grudar bem, conforme se vê na foto lá em cima.  Deixe crescer novamente por cerca de meia hora ou até os pães dobrarem de volume. Polvilhe com farinha de trigo caso não tenha usado as sementes, faça cortes com lâmina bem fina e leve ao forno pré-aquecido bem quente (280 ºC) e deixe assar por 10 minutos. Abaixe o fogo para médio e deixe assar por mais 50 minutos. Os pães devem ficar bem dourados.
Rende: 4 pães


Fresco com geleia de amora

Amanhecido, torrado e com manteiga. Nhac!

Agumas dicas. Talvez para maioria dos leitores o mais fácil seja seguir o item 2.  


1. Para o levain (fermento natural): se você já tem um fermento natural, apenas reforme-o algumas horas antes (eu reformo sempre com antecedência de 6 a 12 horas) com mais farinha e água em quantidade suficiente para que fique com consistência de massa de bolo e que tenha quantidade suficiente para você usar 400 g (cerca de 2 xícaras) e ainda sobrar um pouco (meia xícara já basta) para a próxima vez que for fazer pão. 

Caso não tenha o levain, faça assim
2. Se você não tem levain: faça uma mistura com 1 envelope de fermento biológico para pão (10 g), 170 g de farinha de trigo branca ou integral (cerca de 1 e meia xícara) e 240 ml de água (1 xícara), lembrando que uso sempre xícara padronizada para cozinha, de 240 ml.  Misture bem - vai ficar com consistência de massa de bolo mais firme. Deixe em repouso durante meia hora e use no lugar do levain. 

3. Se você quer começar a fazer seu próprio fermento: faça seu levain usando a mesma mistura indicado no item 2, sem o fermento biológico. Cubra com filme plástico e espere fermentar - em dois ou três dias, no calor, já estará fermentado. Reforme com mais farinha e água, como indicado no item 1. 


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Hora de colher o trigo

Wilhelmus Eltink, o dono do cereal colhido ontem
Faltei ontem ao trabalho por um bom motivo: a Juliana Valentini, autora do blog Dever de Casa, me ligou no domingo à noite convidando: vai chover nesta semana aqui em Holambra, Seu Wilhelmus disse que o trigo vai ser colhido amanhã cedo, você vem? Não pensei duas vezes, arrumei a mala e acordei de madrugada. Cheguei à cidade, que é pertinho de Campinas, a tempo de ver o campo dourado de triticale ir desaparecendo no rastro da colhedeira e conversar com o holandês Wilhelmus Eltink, dono dos grãos e do velho trator New Holand. Mas é conversa pra outra hora.  O fato é que passei o resto do dia conhecendo o viveiro Oiti, conversando com Juliana e Flores, passeando pela cidade fundada por holandeses e comendo delícias holandesas.

Não, eu não converso com árvores nem com flores. Flores Welle é o nome do marido de Juliana, que tem histórias fascinantes para contar, afinal ele é filho de um dos fundadores da cidade e dono de um conhecimento impar sobre a flora do nosso país. E quando não sabe alguma coisa, corre ao pai dos burros da botânica, o livro Tropica. O Flores do nome é de nascimento, mas não veio à toa. Com doze anos ele usou um aspirador de pó para recolher todas as sementes de ipês que tinha disponível no sítio da família, recolheu latinhas de óleo no posto, abriu com abridor uma a uma, fez milhares de mudas e vendeu até pra prefeituras (que nunca lhe pagaram, claro, era coisa de moleque). Parte desta história você pode ver aqui nesta reportagem do Estadão e o resto é só mesmo conversando com ele, que uma coisa puxa outra. 

O viveiro Oiti trabalha com árvores nativas. Se você quer um projeto de reflorestamento, é só falar com eles. Foi ali que Flores nasceu e viveu a vida toda na casa construída pelo pai. Muito do que sabe aprendeu com o pai holandês. Todo o resto, descobriu com os livros e com a prática, mas não esconde nada. Adora ensinar.  Conheci ao vivo um monte de árvores que só sabia de livros. 

Juliana é toda criativa (ela é autora do post com fotos, que correu o mundo virtual injustamente sem autoria, falando dos saquinhos para lixo feitos com dobraduras de jornal - eu mesma faço uso da ideia sem saber que o texto que devo ter visto em algum lugar era dela) e me mostrou o resultado de sua missão cambuci e as peripécias que enfrentou até chegar àquelas trezentas mudinhas. Os dedos dos dois ficaram pretos durante dias por causa talvez do tanino dos frutos. Já os meus, estão ainda roxos de tanto tirar cabinho de amoras gigantes,  que eles tem na frente casa, para comer até me fartar. 

No fim da tarde fomos tomar café com leite e comer doce na Confeitaria holandesa Zoet en Zout em frente ao lago, vendo patinhos deslizando na água em fila indiana. Antes, reformei o fermento que havia dado a Juliana e ele borbulhou alegre com o calor que fazia.  Já íamos dormir, depois de tanta conversa boa,  quando resolvemos amassar o pão com o levain e a mandioquinha que Juliana cozinhou porque estava sobrando na geladeira. O pão cresceu durante toda a noite e foi moldado e assado hoje cedinho. Voltei com biscoitinhos holandeses além de mudas disso e daquilo outro, claro. 

Bem, nunca fui a Expoflora em Holambra, para indicar (está acontecendo neste setembro, de quinta a domingo), tenho um pouco de pavor de multidões e trânsito, mas, uma visita tranquila ao viveiro e a boa acolhida da Juliana e do Flores, isto posso garantir que vale o passeio. 

Umas fotos:






Viveiro Oiti. obra da Juliana - mudas de cambuci


Pão de mandioquinha 

Amoras gigantes
Juliana e Flores

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Troca de sementes


Tudo começou quando a Laura me escreveu dizendo que a mãe tinha a maior saudade de comer sequilhos de araruta e diante da dificuldade de encontrar a fécula, me pediu mudas para plantar em seu sitio. Temos amigos em comum, mas não nos conhecíamos. Marcamos de ela vir aqui buscar o pouco que eu tinha plantado no quintal. Veio com o marido, Alex, e com a filhinha Valentina de três meses que os acompanha pra cima e pra baixo. Os dois são agrônomos e moram num sítio dos sonhos em Santo Antônio do Pinhal com mais duas filhas, Serena e Gaia. Eles produzem tudo de forma orgânica e se emprenham para ter o maior número possível de variedades. Eu saí ganhando pois vieram com uma sacola cheia de produtos - milho vermelho, feijões, fubá, framboesas, beterrabas, inhame batatas, tudo da produção local. Eu só tinha a araruta e um pouco de milho crioulo que meu avô plantava desde moço. Mas me lembrei também da minha pequena coleção de feijões, da mãe do vinagre, do levain. Então, depois do bolo com café, foi a maior festa de troca em cima da mesa. É bom saber que de poucas sementes poderemos ter fartura de comida. Inhames e beterrabas já foram cozidos para o pão de hoje. 

Veja o site do sítio Gralha azul:  www.sitiogralhaazul.net  e a palestra da Lsus no TEDxCampos: http://www.youtube.com/watch?v=sMQ_lMTaldY


Ganhei: framboesas, fubá, beterrabas, batatas, milho amarelo e vermelho,
feijão roxinho e espírito-santo, inhame, tudo produzido por eles

Trocando sementes


Framboesas pretas - já tenho planos para elas
Beterrabas e taros cozidos para o pão de hoje 

Ananda na Saveur


Ananda viaja de férias e pouco dá notícias, mas ontem fiquei sabendo do seu paradeiro pelo editor da revista Saveur, James Oseland, que me mandou fotos da passagem dela por lá. Sabendo que ela iria a Nova Iorque com a amiga Mag, James a convidou para almoçar e   conhecer  a cozinha experimental da revista. Até agora, nada de notícias da menina, filha desnaturada, sobre o que comeram, se estava bom, se a cozinha é bem equipada, se tudo o que aparece de bonito na revista é mesmo testado e aprovado. Claro que fiquei morrendo de vontade de estar junto. Mas Nova Iorque, por enquanto, é um sonho distante. 

James e Ananda na cozinha da Saveur

Ananda e Mag 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cará moela. Coluna do Paladar 4

A coluna Nhac de hoje, no Paladar, é sobre cará-moela e a Neia já publicou o texto no blog do caderno para quem não lê no papel, incluindo o link de um vídeo que vale a pena ver até o fim: http://blogs.estadao.com.br/paladar/este-cara-vive-nas-nuvens/ . Mas, vai que um dia tudo isto some de lá, então reproduzo copiado e colado também cá.  De qualquer forma, veja lá no blog do Paladar como fazer bacon em casa - estou aqui já morrendo de vontade de arriscar.


Este cará vive nas nuvens

  • 13 de setembro de 2012|
  •  
  • 7h59|
  • Por Lucineia Nunes

Cará-moela (Fotos: Alex Silva/AE)
Por Neide Rigo / neide.rigo@gmail.com
Quem nota que um ser assim é de comer? Cor de terra, disfarçado de pedra, ele passa batido. Aquele cará da feira você conhece – o que tem polpa branca visguenta, que também pode ser roxa, e que dá debaixo da terra. Pois este aí é do ar, Dioscorea bulbifera, do mesmo gênero, só que a parte comestível é outra: são os tubérculos aéreos. Quem gosta, planta e come do seu. Quem não tem, comesse, porque não é fácil encontrá-lo nas feiras ou supermercados. Quase ninguém mais produz: não há mercado para ele, dizem.
Foi pelo estilo rústico, produtivo e também pelo contorno incomum, pelo sabor e textura, que, desde os primeiros encontros anos atrás, numa aula de cozinha caipira, fiquei tão obcecada em ter o cará moela no meu quintal que passei a persegui-lo por todos os ambientes rurais por onde passava.
Encontrei-o no Amazonas, em Santa Catarina, Curitiba, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e em várias cidades de São Paulo, especialmente as do Vale do Paraíba e do Ribeira. Sempre como uma cultura negligenciada de subsistência ou de pequena escala, nunca um cultivo comercial.
Em certo ponto, a falta de atenção favoreceu a espécie, que conserva uma diversidade genética incrível. Devo ter uns quatro ou cinco tipos, mas há muitos mais, que podem variar na cor da polpa – bege, esverdeada, roxa maciça ou rajada – e no formato – mais ou menos quinado, quinas lisas ou onduladas, com jeito de fígado de galinha, moela, pedra bruta, seixo rolado, disco voador. Ou lembrar frutos esdrúxulos que sua aparência nos induz a fantasiar.
Se há gente que se incomoda com o leve amargor, eu o acho essencial para a tipicidade do sabor desse cará. Há variedades arroxeadas que trazem certa doçura, mas nos pratos gosto de misturar todos os tipos, comer variedades diferentes. De combinar roxo e branco, com galinha e carne de porco, e adoro cozinhá-lo inteiro para depois tirar a pele, que se solta facilmente quando eles ainda estão quentes.
Mesmo cozido e macio, mantém sempre a boa forma, e isso é fascinante. Poucos ingredientes se conservam imutáveis depois de cozidos e o cará-moela (ou cará-do-ar) é um deles. É incrível como ele não perde a pose nunca. Mesmo cozido, mesmo descascado.
No Vale do Paraíba, o cará-moela entra nos pratos de galinha ensopada ou de carne de porco. São pratos clássicos em que é usado como batata. Aliás, é o contrário, já que as variedades comerciais de batata, difíceis de serem cultivadas em pequenas hortas, é que dominaram tudo e relegaram a segundo plano tantos outros tubérculos, rizomas, raízes e bulbilhos tradicionais, fontes baratas e fartas de energia.
Como as batatas, o cará-moela fica macio quando cozido e dá um purê bem liso. Isso leva a possibilidades culinárias sem fim: bolos, sopas, cremes, assados, pães…
 ‘Batata do ar’ está sempre por perto
A espécie Dioscorea bulbifera, conhecida como cará-do-ar, cará-moela, cará-voador, cará-de-árvore, cará-taramela, cará-de-rama, cará-aéreo, etc., tem origem afro-asiática, sendo os africanos silvestres mais amargos. O nosso, cultivado, tem origem asiática, é mais manso, agradável e gostoso. Atualmente está espalhado em todas as regiões tropicais, embora nem sempre seja benquisto – em alguns lugares, é considerado planta invasiva. Na Flórida, por exemplo, onde foi introduzido no começo do século 20 e é chamado de air potato (batata do ar), não querem nem ouvir falar dele. Em 40 dias, ele já têm tamanho suficiente para encher a palma da mão.
É um eterno nasce, perece e renasce. Os galhos esguios e ágeis sobem rentes a muros velhos, caminham junto a arames farpados, escalam retalhos de cerca e chegam tão alto quanto permite o tutor circunstancial – um poste, uma árvore, um tronco morto, um coqueiro vivo. Por isso, ninguém se preocupa muito em plantá-lo – está sempre à toa, por perto de quem o conhece e aprecia. Mas totalmente fora de moda.
Não coma cru. Mesmo variedades domesticadas podem ter um princípio tóxico, responsável pelo sabor amargo. Então nada de fazer sucos verdes ou comidas cruas com este cará.
Picado e sem pele. Vai bem no refogado de frango ou de suã. Descasque-o, corte em pedaços e cozinhe com o molho até ficar macio (20 minutos).
Inteiro e com pele. Para fazer um purê, cubra com água, junte um pouco de sal e cozinhe por cerca de 30 minutos ou até que o sinta macio ao espetá-lo com um garfo. Descasque, puxando a pele fina com uma pequena faca enquanto ainda está quente. Esprema enquanto está quente e continue a receita depois de frio.

Cará-moela com cebola caramelada
RECEITAS
Cará-moela com cebolas carameladas
Preparo: Basta cozinhar 8 carás em água salgada até ficarem macios e tirar a pele enquanto estão quentes. Depois é só fritar rodelas de 2 cebolas em 1/3 de xícara de óleo, até que fiquem bem douradas. Escorra o óleo, mantenha a cebola na frigideira e tempere com sal a gosto. Junte os carás, 3 colheres (sopa) de cebolinha picada e duas pimentas dedo-de-moça sem sementes, cortadas em rodelas. Misture tudo, desligue o fogo e está pronto. Sirva com frango assado ou como entrada.

Pão de cará-moela
Pão de cará-moela
Ingredientes: 30g de fermento biológico fresco; 250 ml de água; 2 colheres (sopa) de mel; 750g de farinha de trigo (ou um pouco mais, se necessário); 2 colheres (chá) de sal; 500g de cará-moela cozido e amassado (2 xícaras); 100g de manteiga em ponto de pomada
Preparo: Numa bacia, dissolva o fermento na água com o mel. Junte um pouco da farinha só para formar um mingau. Deixe borbulhar (cerca de 15 minutos). Junte o sal e o cará em purê, mexa bem. Vá acrescentando aos poucos a farinha e misturando com uma colher de pau. Quando ficar duro de mexer, passe para uma superfície de trabalho enfarinhada e vá juntando farinha à medida que amassa, até formar uma massa homogênea. Sove até a massa ficar elástica e adicione, aos poucos, a manteiga. Vá amassando até incorporá-la toda à massa. Junte mais farinha nas mãos, aos poucos. A massa, bem lisa e brilhante, deve ser colocada novamente na tigela grande. Cubra com plástico. Espere a massa crescer até dobrar de volume. Divida a massa em três, molde os pães compridos ou redondos e coloque numa assadeira grande untada e polvilhada, deixando espaço entre eles. Deixe crescer novamente por cerca de meia hora ou até os pães dobrarem de volume. Polvilhe com farinha de trigo, faça cortes na superfície e leve ao forno pré-aquecido bem quente (280°C) e asse por 10 minutos. Abaixe a temperatura para 180°C e asse por mais 50 minutos ou até que fiquem dourados.
 Quem sabe você encontre aqui:
Revelando São Paulo 2012. De 14 a 23 de setembro, no Parque do Trote, Vila Guilherme. Informações: 2905-0165
Sacolão Imigrantes. Av. Professor Abraão de Morais, 1.500, Saúde. Costuma chegar na segunda-feira, direto de produtores. Informações: 5583-2729
 DICAS DA NEIDE, para ver mais sobre o cará-moela
Air Potato: vídeo da Universidade da Flórida, que chega a ser divertido não fosse trágico
Fotos: Gosto tanto de fotografá-lo, que criei um álbum com cará-do-ar de todo jeito e roupagem, na terra, na cesta, cru, cozido, brotando ou na panela

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Banana-da-terra assada com suco de laranja



A banana-da-terra é muito usada no Caribe, seja assada e recheada com queijo, frita, em forma de empanadas e de tantas outras formas. Mas desde que descobri esta sobremesa da ilha de Trindade feita com suco de laranja, não canso de repeti-la. É fácil. Basta cobrir pedaços da banana descascada com suco de laranja, mel, pelotas de manteiga e canela e levar para assar até que os pedaços da fruta fiquem bem macios, como se estivessem encharcados de suco de laranja, que fica reduzido a uma calda grossa muito perfumada. Gosto assim, pura, ainda quente. Mas imagino que com um pouco de creme gelado ou uma bola de sorvete caseiro fique ainda melhor caso queira fazer bonito para a visita do jantar. Para o dia-a-dia, melhor sem nada - é leve, de fácil digestão e saudável. Como tempero, pode-se juntar ainda um pouco de raspas de casca de laranja,  noz moscada e açúcar mascavo, mas nada disso é imprescindível. Nem mesmo a manteiga é necessária. O que não podem faltar é o suco de laranja fresco além do mel e da canela. Simples assim. 


Banana-da-terra assada com suco de laranja 

Corte as extremidades de 3 bananas-da-terra, faça um corte ao longo delas e retire as cascas. Corte-as ao meio, longitudinalmente e depois pela metade, na transversal. Coloque os pedaços em uma forma refratária que possa conter o suco de 3 laranjas seletas ou baía (ou cerca de 2 xícaras de suco de outra laranja mais doce que ácida). Depois de cobrir as laranjas com o suco, espalhe por cima um pouco de mel , cerca de 2 colheres (sopa), 1 colher (sopa) de manteiga em pedacinhos e 1 colher (sopa) de canela em pó. Cubra com papel alumínio e leve ao forno quente por meia hora. Destampe e deixe dourar por mais alguns minutos - o suco deverá estar todo absorvido e/ou evaporado. E nhac!