terça-feira, 9 de setembro de 2014

Fim de inverno em Piracaia

Ipê já no fim da floração

Quando eu voltar para Piracaia, já será Primavera. A paisagem será outra, as pétalas das flores amarelas dos ipês já terão sumido no chão dando lugar às vagens nas árvores enquanto vêm as folhas, as manduiranas estarão com nova folhagem, alguns pequenos brotos de uvas já terão jeito de cachos, a safra das amoras terá sido devorada pelos pássaros, os frutos da mamona estarão abertos expulsando sementes para longe, haverá muitas cabeludinhas para encher a boca de sabor, talvez acerolas, as bananas estarão cheias, os maxixes nascerão sozinhos e das mostardas, só restarão as pequenas vagens abertas e vazias com brotos nascendo ao longe.  As mirtáceas - araçás, pitangas e goiabas -  não estarão mais em flores, mas em frutos. O sol deixará de passar inclinado para voltar ao meio do céu, que já não terá o azul lápis de cor que tem agora. As flores do assapeixe estarão feias e secas no pé, mas folhas novas virão mais vistosas. Haverá na horta arnica, mentrasto, serralhas e dente-de-leão de montão. O ananás estará maduro, o maracujá do mato também, a ora-pro-nobis lançará seus braços pesados sobre as cercas, as folhas vão aumentar de tamanho escondendo o chão agora seco. As batatas de tulipas darão flores, as manguinhas que não caírem vingarão. e quem sabe até a água vem.

É só quando a gente trabalha com a terra que consegue observar todo o ciclo das coisas da natureza. Não que não dê pra fazer isto na cidade, mas o tempo passa rápido demais por aqui e mal temos tempo de olhar a lua todos os dias. Quando vou para o sítio, o tempo é curto de tanta coisa que quero fazer, mas totalmente aproveitável, sem tv e internet esquecida, com tempo para olhar para o céu. Marcos cuida da trilha sonora e vamos fazendo o que precisa ser feito, cansando o corpo mas com a mente quieta. No fim, temos um cansaço bom, como se tivéssemos ido para a academia, e um canto da sala basta para relaxar o complexo todo, corpo e alma.

Canto da sala com camas, bom para repousar o corpo - com os gatos no colo

Nesta semana que passou estive no sítio também no meio da semana num gostoso encontro com amigos do curso de hortas, que fiz no ano passado - Vivian, a professora, queria nos mostrar como fazer uns preparados biodinâmicos, e lá fomos nós enterrar chifres com estrume, valerianas, mil folhas etc. Almoçamos lá e voltamos no mesmo dia.

No sábado recebemos a visita dos amigos Renato e Maga, do Waru.  Foram buscar a mudinha de baobá que eu tinha prometido aos filhos meninos Michael e Lucas. Passamos uma tarde gostosa conversando,  escolhendo feijão e depois tomando chá com pão.  De resto, trabalhamos bastante, embora nem devêssemos chamar isto de trabalho. Fizemos valetas na terra, mudas de citronela, de boldo e capim santo para espalhar pelo sítio, cobrimos a terra com palhada, semeamos sementes de flor, separamos sementes de manduirana e fizemos bolinhas de terra (para jogar pela janela do carro ... ), debulhamos sementes de mostarda, colhemos, cozinhamos etc.

Já aqui na cidade grande,  muita coisa por fazer, com pouco tempo para o blog, mas como quero fazer tudo ao mesmo tempo -  cuidar da casa, do sítio, da horta comunitária, fazer oficinas no Sesc, me dedicar à jardinagem e a escrever sobre tudo isto  -, não vou deixar o Come-se, não. Apenas terei pouco tempo para ele de agora até o final do ano. Então, peço desculpas se não responder aos comentários (mas, por favor, comente, que eu gosto, leio tudo e assim acredito que existe vida por trás daqueles números que indicam cerca de 3 mil leitores/dia - é bom saber que você é um deles).

Algumas fotos:

Fruta cabeludinha


Ipê amarelo

Almeirão, mostarda, tomate - tudo misturado

Amora gigante

Amora gigante

Leucena - sementes sabor shitake

Limão kafir

Lobeira

Flor de mamona vermelha

Mamona vermelha

Projetos de manga

maracujá do mato - antes da flor


Maracujá do mato - flor se abrindo

Maracujá do mato - a flor

Maracujá do mato - o fruto
Tomatinho do mato
Jeito mais prático para debulhar sementes de manduirana
Sementes de manduirana e feijão guandu, para replantar
Bolinhas de barro com sementes de manduirana
Mostarda para debulhar 

Mostarda debulhada (tropecei e derrubei este tanto todo na grama!)

Preparados biodinâmicos



Tapioca e Beiju 











8 comentários:

Anônimo disse...

3001!!!! rsrsrsrssrs

Lindo texto!!

Um grande beijo no coração!!

Cátia Milhomens

Juba disse...

Ah, Neide, que coisa linda! Que privilégio poder acompanhar um pouquinho disso, mesmo por meio da tela... Suas fotos alegram o dia!

Leticia Cinto disse...

Acho que sou um desses números! Quase todo dia estou sapeando por aqui, vendo o que há de novo, pesquisando receitas mais antigas, enfim, usufruindo do seu trabalho. Adoro as fotos tb, as deste post estão lindas, mas a primeira, com o ipê e o céu ao fundo, está demais! Bom trabalho aí para vc, aproveite bastante :)

Juliana Valentini disse...

Ai, que saudades desse sítio, de você, do Marcos, da Dendezoca, dos gatos… Biju ainda age como cachorro? Tapioca continua mudada, companheira também, depois de sobreviver?
Parabéns pelo seu trabalho duro na terra. Conheço de perto sua energia e tenho certeza que a natureza anda retribuindo. Ao Marcos também.
Que venha a primavera!
E a chuva com ela!
Beijo grande,
da Ju.

Gilda disse...

Seu blog é delicioso até quando não tem comida. A gente sempre acha o que comer com os olhos.

Unknown disse...

Neide,

amei o texto, as fotos - bom demais ler você.

Aqui, a primavera parece ter chegado já faz um tempinho> abacateiros, mangueiras, pitangueiras floridos, lindo de se ver.

Será que a primavera chega mais cedo na Chapada????

beijo,
adelia

Anônimo disse...

Coisa Linda!!! mamona vermelha, amora gigante, gente perto da terra, bicho apreciando o dia...
Taí, colhendo tudo que o coração passou para a mão fazer.
Vc me enche de vontade de ser melhor!!!
Obrigadão!!!!
Bjo Ana

Unknown disse...

Belíssimo texto. Parabéns também pelas fotos e pela qualidade da relação com as coisas da terra. Um abraço, Osmar.