segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Muito Além do Peso



Vários amigos e leitores me mandaram o link. Assim, acho que a maioria dos leitores do Come-se já deve ter visto. Fui deixando pra ver depois, com tempo, espichada no sofá, e nunca deu. Mas ontem minha filha Ananda me mandou e hoje tive que fazer um repouso forçado. Tudo a calhar e finalmente vi o documentário que mostra crianças obesas com problemas derivados do excesso de peso e as principais causas. Se você não tá nem aí porque não tem crianças, veja porque ainda poderá tê-los. Ou tê-los por perto. Afinal, tem seus sobrinhos, filhos das primas, dos amigos. Se só tem filhos adultos, poderá ajudar seus netos. Se já passou para os segundo tempo, lembre-se que estas crianças serão os adultos que cuidarão da sua saúde. E, de qualquer forma, se já viu, grave e divulgue.

Observe a mãe de uma menina gordinha que já trabalhou no Mac Donald e a analogia que ela faz com o viciado. Ananda também fez uma analogia na cena das criancinhas na zoológico, se não me engano, todas com seus sacos de salgadinhos e rostinhos desfigurados pela edição para proteger suas identidades - juntas,  parecem uma turminha de pivetes viciados em cola (hoje substituída pelo crack). É bem triste. Veja ainda sobre o papel dos sugar drinks, coca-colas, pseudos sucos de frutas, sucos de pozinhos e a quantidade de açúcar que estas bebidas contem (os de pozinho tem adoçantes artificiais, isto o filme não mostra, mas a gente sabe). E repare que ninguém mais mata a sede com água, mesmo nos lugares mais isolados. Mas também veja o sucesso que é o barcão da Nestlé navegando por águas nunca ou quase nunca antes navegadas (por serviços essenciais como de saúde e saneamento básico...). Levam produtos básicos e indispensáveis para vender em Breves, no Pará, por exemplo: chocolate, salgadinhos, suquinhos, porcariazinhas. E o Mac Donalds fazendo brincadeiras na escola? E os presentes para as crianças associados a alimentos viciantes? Sorte que pelo menos a mãe do pica-pau morreu! (segundo um menininho, a polícia matou). Veja ainda a opinião de especialistas que falam da concorrência dificil que os pais têm que enfrentar. Publicitários ardilosos, televisão gananciosa, e indústrias poderosas.

O documentário da diretora Estela Renner, trata de assunto de peso de forma leve, mas instrutiva. Mostra cenas comoventes em todo o Brasil de pais que amam seus filhos, mas estão perdendo para a concorrência que quer vê-los adictos, fieis. Nossas crianças estão obesas, cansadas, sedentárias, diabéticas, hipertensas, com dores nos joelhos. Nossas crianças envelheceram. Vamos ficar de braços cruzados? Que legado estamos deixando para elas, tão indefesas? 

Eu já vi esta novela antes,  por todos os cantos por onde passei. No Senegal, os outdoors da Nestlé e outras corporações são vergonhosos, constrangedores. Crianças e adultos senegaleses não tomam café coado, por exemplo. Tomam nescafé, nas cidades e nas aldeias. O tempero tradicional não existe sem cubo Maggi, por exemplo. E o suco de baobá natural leva suco em pó para incrementar (certamente uma daquelas receitas de rótulo ensinando a usar o produto em receitas naturais, para deixá-la mais bombada). E aqui, como mostra o filme,  temos de crianças tomando mamadeira de coca-cola a cacique ensinando a preparar miojo. No alto Xingu os índios estão hipertensos pelo consumo de alimentos industrializados. Nas periferias, pais e filhos estão gordos, pois refrigerante, biscoito recheado, sorvetes e outros engordativos são baratos. 

Mas uma experiência em Acrelândia, PA, onde uma turma de pós graduandos em nutrição e eu fizemos oficinas, foi bastante animadora (se quiser saber, é só digitar Acrelândia aí no campo de buscas, pois tem muita postagem a respeito, o mesmo para Senegal). Observamos que o que falta para detonar a concorrência é regular a propaganda, mas também investir pesado em campanhas de educação nutricional nas escolas e em outros agrupamentos infantis. E não precisa de muito dinheiro, não. É só incluir piqueniques nas aulas de artes, ciências, matemática etc. O alunos de uma escola rural adoraram comer frutas, legumes e pratos feitos pelas mães. Ficaram empolgados com a mesa colorida. Não sobrou nada e até a tigela com salada de pepino foi raspada. Então, vamos tentar.






O legal deste filme é que você pode baixar e montar sua própria exibição na sua igreja, na sua comunidade, entre seus amigos. Vá lá ao site oficial do documentário:
http://www.muitoalemdopeso.com.br/index.html

16 comentários:

Angela Escritora disse...

E há o outro lado, Neide. Muito abaixo do peso.. vi o documentario sobre a Isabelle Caro, morreu dois meses após o documentário. A busca pela magreza.. e na Internet há grupos de jovens que apostam na bulimia, ensinam como esconder dos pais que estão vomitando. Não sei qual extremo é pior, se por um lado vendem excesso de gorduras, por outro, exigem o padrão de beleza absurdo que leva ao comportamento da magreza . A mãe da Isabelle depois se matou, uma loucura. A anorexia também tem que ser falado, falado, falado. Sissi, a Imperatriz, ja era anorexica assim como a Lady Di. Enfim.. Freud saiu de moda e o Capital está cada vez mais em moda.

Anônimo disse...

então, tá de molho mas tá boa, né? beijim. v.

Miguel Vieira disse...

Oi Neide, matou a pau! Barco da Nestlé chegando nos cafundós, carregado de comida porcaria... será que esse é mesmo o "desenvolvimento" que a gente quer? Abraços do Miguel

Patricia disse...

Oi,Neide,acabo de ver o documentário inteiro com meus filhos,para reforçar com eles minha fala de Não aos indusrializados...realmente,tocante e emocionante...obrigada por compartilhar ist conosco,todos deveriam ver a reportagem!

Gilda disse...

Ai Neide! Eu fico desolada com tanto absurdo! Felizmente alguns pais, já se dando conta da realidade, tentam levar os filhos a escolher aquilo que alimenta e não aquilo que mata. Mas a maior parte dos pais dão é exemplo das práticas erradas. Assim é quase uma luta perdida. Na própria família, as pessoas conscientes passam por xiitas, chatas, implicantes, infelizes. É duro!

Jussara disse...

Eu já tinha visto, e gostei tanto que vi duas vezes. Muito bom mesmo, ainda mais a coragem de bater na cara das propagandas ardilosas.

Acho que mesmo quem não tem filhos, sobrinhos nem netos pode e deve ver, se busca uma alimentação mais saudável, ou se é viciado nessas "comidas" industrializadas.

O que me deixa mais surpresa é ver mães magras e algumas até "malhadas" com filhas gordinhas. Acho injusto e estranho. Se elas cuidam da saúde e boa forma delas, por que não se importam com as de suas filhas?

Muito boa a analogia que sua filha fez, é bem por aí mesmo. E hoje o que mais vemos são crianças ainda bem pequenas, abaixo de 6 anos, já comendo essas porcarias. Acho um crime.

Uma coisa que me deixou surpresa foi ver a quantidade absurda de açúcar que tem nesses sucos ditos naturais. Muita gente troca o refrigerante por eles, achando que está sendo saudável, mas a gente vê que não é assim. Ainda bem que eu nunca gostei. Não considero suco algo que vem numa lata ou caixa.

Seu texto está ótimo, como sempre, e resume muito bem o documentário.

Abraços.

Neide Rigo disse...

Angela, querida, o caso da Isabelle Caro é emblemático, a mãe não queria que ela crescesse e pesasse mais que um bujão de gás. Isto tudo é face da mesma moeda. A mesma indústria que produz alimentos engordativos, viciantes no sabor e pobres do ponto de vista nutricional, produz depois alimentos diets, lights, baixas calorias, baixo sódio, sem gorduras trans, etc. E mostra que para as pessoas ficarem lindas, com corpos esculturais (às vezes com modelos anoréxicas), é só tomar um potinho daquela porção mágica. Não sei se se lembra do caso de um post meu - http://come-se.blogspot.com.br/2011/06/precisa-se-de-nutricionista-manequim.html - em que uma agência de publicidade contratada por uma poderosa indústria de alimentação recrutava estudantes de nutrição com manequim 36/38 para trabalhar no estande em um evento científico de nutrição (certamente era a patrocinadora mor). Então, vai vendo como estes dois extremos estão ligados. E muitos casos de anorexia começam na pré-adolescência, com estas mesmas crianças, engordadas por força do vício a que foram induzidas, tentando emagrecer à base de regimes restritivos. Neste filme, em pelo menos um caso, fiquei com medo de que a determinação da criança evolua para uma anorexia. Bem, em pleno curso de nutrição, eu já perdi uma amiga com anorexia. O difícil é seguir o caminho do meio, mas não é impossível.

V, já estou melhorando da pequena cirurgia de dente.

Miguel, parece que é, né? Quanto mais eu vejo isto, mas me sinto estimulada a sair por aí mostrando este filme, falando destas coisas (e também do extremo oposto, anorexia, como bem lembrou a Ângela).

Patrícia, fez bem!

Gilda, é uma luta que não para.

Jussara, a gente pode viver sem estes alimentos, mas muita gente não sabe. Acha que pode ser bom dar coca cola na mamadeira. Talvez estas mães tenham também sido cooptadas pela indústria para acreditarem que quem ama, alimenta. Depois, algumas serão convencidas de que as filhas e filhos (e elas) devem ter manequim 36/38. É uma luta covarde. Estas mães também tem que ser "reeducadas", já que criança não tem autonomia financeira para comprar alimentos. E nenhuma criança (que eu tenha conhecimento) se suicida de fome. Uma hora ela há de comer o que foi posto à mesa (e não no sofá, em frente à TV).

Um abraço, n





Lorena disse...

Neide, quando vi esse documentário só me lembrei de você. Não te enviei, não sou comentarista frequente aqui, mas te leio sempre. Sabia que você "gostaria" do documentário (ainda que não gostasse - ninguém gosta_ de ver a situação em que estamos).
Você foi a primeira pessoa que me influenciou a deixar os industrializados de lado, na minha alimentação. Foi por ler você que aboli temperos prontos, sucos de pozinho, e a maioria dos alimentos artificiais que deixei pra trás. Sendo assim, sabia que você se sensibilizaria pelo doc, porque você mesma poderia ter escrito o roteiro dele.

Assisti e me chocou, mas foi um choque de realidade BOM, muito bom, porque me fez enxergar que minha mudança foi positiva para mim, hoje, mas os principais afetados positivamente serão os meus filhos, no futuro. E todas as crianças que eu puder proteger, no que eu puder fazer.

Um beijo.

Neide Rigo disse...

Lorena, não sabe como isto me deixa feliz! OBrigada pelo depoimento e parabéns por ter enxergado um outro modo de se alimentar. Um abraço, n

maria lucia disse...

Neide, assisti e espalhei. É muito importante, gostei muito. Obrigada.
Espero que você tenha descansado bem. Beijinhos

M. disse...

Neide,
melhoras.
tenho lido e nao comentado, pois minha vida está um turbilhao...

vou tentar mostrar à minha filha, que está pelo menos indo no caminho certo

e mesmo que tenhamos o problema da bulimia e anorexia, acho que a obesidade está mais avancada e presente em todo o mundo

Anônimo disse...

Neide,
como estou no trabalho agora, não estou podendo ler seu texto na íntegra nem assistir ao vídeo, mas em casa, com certeza, irei me deliciar com as informações.

Mas não pude deixar de te escrever para tirar uma dúvida sobre kefir... como já disse em outro comentário meu, estou atrás do kefir e através de seu blog consegui um contato (Obrigada!). Até que hoje descobri que a mãe de minha amiga, aqui mesmo em Araras tem, mas ela o cultiva na água! Trata-se do mesmo kefir cultivado no leite, é o mesmo procedimento.....??? Se você puder tirar minha dúvida, desde já agradeço a atenção...
Um abraço, Raquel.
(rwichguimaraes@ig.com.br)

Dricka disse...

O engraçado é que quando eu era criança as crianças com menos poder aquisitivo eram as que comiam melhor, frutas da época, muita verdura,doce era bananada, feita com muita banana madura, nada de mc donalds, nem alimentos industrializados que isso era caro. Hoje em dia está tudo diferente, qualquer graninha extra bora gastar com porcaria porque dá estatus! E da-lhe crianças cheias de colesterol, triglicerides altissimo. E triste, mas bem real.
Bjs

Edna Martha Queiroz Pereira disse...

Esclarecedor e aterrorizante também; sem deixar de ser novidade. Tenho uma filha de 17 anos e gestando novamente aos 41. Sempre que hasteio a bandeira do correto, sou taxada de chata, "caxias" e outros tantos termos pejorativos. Eu e meu marido conversamos muito sobre como educar nosso Pedro. Comer corretamente e resgatar as brincadeiras infantis faz parte dessas conversas. Fico pensando nos lanches da escola, quando certamente "diferente" será uma palavra recorrente na vida do meu pequeno...

Mariangela disse...

Vi hoje Neide,é um festival de horrores isto aí. E a gente nem imagina que nos rincões mais distantes do Brasil já seja tão presente esta alimentação em forma de lixo. E o que é a merenda escolar(?),a gente tem aquela fantasia ingenua que nas escolas se cozinha de verdade mas o que diz a cozinheira?Apenas arroz e macarrão, as carnes,legumes,etc,tudo "em lata". Não acho impossível mas vejo muito difícil mudar este quadro,ainda mais no Brasil...

jp disse...

Neide nesse mesmo onda de produtos industrializados e transição nutricional, o (inidôneo) USDA mudou a famosa pirâmide nutricional pra um programa chamado myplate. Tu já deste uma olhada? Faz alguns meses já, mas só descobri recentemente.