terça-feira, 28 de junho de 2011

Feira em Uberlândia


Disseram por lá que há pelo menos 8 feiras livres por dia em Uberlândia. Escolhi a do bairro Santa Mônica por indicação da Gisele, dona de uma loja de materiais de construção onde comprei umas panelas de alumínio artesanal. Ela acha que é a melhor.

No sábado acordei antes das 7 horas, chamei o Marcos e pedimos um taxi. O taxista perguntou o que eu queria comprar, para saber onde me deixar, na rua paralela. Mas a senhora vai andar muito, são mais de dez quarteirões, disse ele espantado quando disse que queria ver a feira inteira. Se eu fiquei assustada? Claro que não. Pelo contrário, fiquei extasiada com esta possibilidade que logo se mostrou frustrada. - Então, vou deixar vocês aqui. É só a senhora seguir esta rua que vai dar no comecim da feira. Aí só vai ter que andar uns três quarteirões e a feira acaba. Tá aqui o número, é só me chamar que eu busco vocês lá. Rimos disfarçados com a discrepância simpática e esquecemos de conferir o tamanho da feira, mas não é grande, deve ter quatro quarteirões de mineirices gostosas que não se veem em livros.

Na primeira banca a gente já começa avistando uma perua cheia de guariroba ou gueroba, tanto faz, o  palmito amargo usado em recheios de pasteis e empadões, misturado com carne, no arroz ou refogado só. É preciso de autorização do Ibama para comercializá-lo e são vários vendedores que descamam a iguaria ali mesmo, enquanto vendem às vezes com ajuda da família.  E tem ainda palmito de babaçu, enorme, docinho, que vem de São Luiz. O vendedor polvilha sal numa banda de limão rosa, que ali se chama china, esfrega numa ponta do palmito e me dá a provar. Hum, delicia!

Na banca do Pepe, a Rosângela, sua mulher, me apresenta as farinhas de milho: fubá de moinho para escaldado, bolo e mingau; farinha de milho biju para cuscuz, tomar com leite, fazer canja e farofa de frango; fubá de canjica ou creme para fazer broa, biscoito e mingau pra criança e farinha de milho de moinho também para canja de galinha e tomar com leite. Sem falar nas farinhas de mandioca temperada que tem aos montes por toda a feira.  Com pequi ou pimenta, bem amarelinhas, prontas  pra farofas. E as branquinhas douradas tipo beiju, feitas com o amido da mandioca são bem docinhas, boas pra comer puras, com café  - farinha caipira doce, diz uma plaquinha.

O vendedor de peixe é bom de papo e tem cascudo, tucunaré, barbado e outros seres de rio. Tudo fresquinho, assim como os frangos caipiras de outro vendedor que tem,  além dos miúdos, os pés de galinha numa bacia de alumínio para as senhoras que querem colágeno para ficar firminhas, disse ele.  E como são lindas aquelas oveiras amarelinhas que eu nunca tinha visto assim, pra vender em saquinhos, um monte delas juntas, como caviar da roça.  

E tem os queijos. Quanto queijo e quanta piada do mineiro e seu queijo ouvi nestes dias!  Não é à toa. O queijo é uma das  iguarias  mais importantes desta região - e de tantas outras de Minas.  Quer curado? meia-cura? Se quiser curar é só deixar alguns dias fora da geladeira, virando de vez em quando. Quer que rala?  É pra pão de queijo?

Não é só pão de queijo que leva queijo. Vai no pudim, no bolo, na caçarola italiana, nas ameixas de queijo. E por falar em doces, há banca na feira com caldeirões de alumínio areado com doce de todo tipo, das bolinhas de queijo chamadas de ameixas às compotas de frutas e dosdi leiti de todo tipo: do batido, do cremoso, do branco, preto, liso, grumoso. Ao gosto do freguês.

Para o refogadim de todo dia, uma metade de repolho, um pedaço de abobrinha, um quarto de abóbora madura. Mas não pense que é assim, a seco, não.  A moda pede uma ou duas pimentinhas no mesmo filme plástico para temperar e embelezar. Ficam lindas as bancas que vendem assim estes arrumadinhos, afinal as pimentas vermelhas como rubis são como joias de adorno sobre  pálidos legumes.

Verduras fresquinhas você encontra na banca da dona Orlinda e seu Antônio, mulher e marido que acordam de madrugada para apanhar as alfaces graúdas que cultivam em Araguari e que só levam como adubo cama de galinha e nada mais. Colhem no sábado de tardinha nabos, chicórias, rabanetes, salsinha, coentro e outros vegetais primorosamente arrumados na banca para chamar a atenção do comprador pelo frescor. Tive vontade de mordiscar todas ali mesmo.

Se quiser comprar laranja lima, saiba que por ali é laranja da ilha. E que se for fazer canjica, só precisa do milho branco, mas se quiser canjicada não se esqueça do amendoim. No final, se tiver que escolher  um pastel de feira, peça o de gueroba, bem amargo, pra quem gosta. Se não está confiante que suportará, peça misto, com carne, só pra provar. E se ainda achar amargo, um guaraná Mineiro ameniza. Docinho que só.

Umas fotos da feira. Clique para ampliar.

15 comentários:

Angela Escritora disse...

Que Brasil maravilhoso! E pensar que ainda se passa fome em alguns lugares. Neide, uma perguntinha: continua casada? ANTES DAS SETE HORAS??????????????????? O marido me matava. Divórcio certo. :-)

Neide Rigo disse...

Angela, eu faço assim: amore, eu vou à feira, você pode ficar dormindo se quiser, mas eu adoraria se você fosse comigo. E é a mais pura verdade. Eu gosto da companhia dele. Aí ele vai.

Um beijo, N

Alecio disse...

Parabéns e obrigado por dividir essas experiências ricas com todos. Adorei as fotos.

Kris Nardini disse...

Neide, fiquei até emocionada com o seu post... Você viu a feira de Uberlândia da mesma forma que eu vejo, só que tem uma maneira linda de passar para os outros!LINDO!

Da próxima vez vou te levar para a feira da Monsenhor Eduardo, lá sim são quase 10 quarteirões...

Uma pena a gente não ter se encontrado...

Beijos

Karina Mendes disse...

olá! eu tb adoro feiras livres, perto da minha casa tem uma maravilhosa aos domingos e eu acho uma delícia! Descobri seu blog por conta de procurar uma receita do que fazer com laranjinha Kinkan. Vou fazer sua receita de géleia e postar no meu blog os créditos a vc tá? Estou encantada com teu blog!
abraço!

Neide Rigo disse...

Alécio, é um prazer poder dividir.

Kris, na verdade fui à feira no sábado (e não domingo, como disse na primeira versão do post - já corrigi). Me falaram desta outra feira, mas era domingo e já era dia de vir embora. Voltamos bem cedo. Da próxima vez quero conhecer a da Monsenhor. Pena mesmo!

Mutante, que bom saber!

Um abraço, N

carla disse...

Parabens Neide que coisa mais linda bem a cara do Brasil! como maranhense
tenho que falar do palmito do babaçu
é muito bom,comia quando criança.
Mais como moro em Brsilia a mais de 20 anos agente se mistura,aki temos um "ar" de Minas e ficam bem perto daqui algumas cidadizinhas mineiras
e acaba influenciando.Eu adoro o sabor amargo sempre que posso corro na feira e compro uma gueroba como com galinha e arroz! é e tudo no final se mistura e da esse colorido chamado Brasil.abraços de sua fã.
Carla

Dani Alves Seade disse...

Coisa bem boa uma feira livre. Cada uma com suas peculiaridades regionais. Venha visitar as de Porto Alegre (RS). Aos sábados, tem duas muito boas so com produtos orgânicos. Abraço

Anônimo disse...

Neide resolvi aproveitar minha folga de domingo pra fazer o mingua de farinha de goma. Nossa que delícia!!! Eu acabei fazendo um pouco além da conta e descobri que ele gelado também é uma delícia, minha mãe adorou e a toda hora assalta a geladeira rsss. Abraços e obrigada!
Hildeny Medeiros

Anônimo disse...

Hummmmmm que feira maravilhosa mas , a guariroba e covardia amo aquele sabor amargo me diga por favor , aqui em SP a gente consegue guariroba ... so encontro em Barretos quando vou e olha que ja faz 3 anos que nao vou entao , to na vontade aiiiii beijos Denise e obrigada pelas lindas foto que coloca pra nos deliciar -mos

Fernanda disse...

Que delícia encontrar esse blog! Ler a descrição de cada barraquinha foi como voltar pra Uberlândia!
Ah, não vejo a hora de me mudar pra terra do "dosdi leiti" de uma vez!

Beijo grande!

David Ramos disse...

Fessora!!

Tenho uma tara por feiras e mercados absurda.... principalmente quando estou em um lugar fora de onde vivo.... Nossa ficaria horas passeando e xeretando tudo!
Faria a mesma coisa... sairia as 7h, só que de mansinho pra não acordar o parceiro... esse tipo de tara não é compartilhada aqui em casa.

Engordei uns 10kgs só com a narrativa das iguarias.
Inveja de Uberlândia, aqui em Indaiatuba tem 4 feiras por semana, e olhe lá!!

Beijos Fessora!
A Nossa Indiana Jones das Feiras Livres

Verônica disse...

Que saudade!
Eu morei 2 anos em Uberlândia e morro de saudade do calor no inverno, da feira do Santa mônica (com 10, 15 reais eu voltava com o carrinho de feira lotado - doces e queijos inclusos), meu programa do sabadão. Do pastel com guariroba e do guaraná mineiro... Ai, ai...
bjs

Anônimo disse...

Será que se eu comprar e comer as mesmas coisas que seu modelo de camiseta branca está comprando ficarei na mesma forma física que ele? que coisa linda, hein?
Izabel

Neide Rigo disse...

Carla, é isto mesmo. E gueroba com arroz e galinha combina muito, não?

Dani, já fui algumas vezes à feira de Porto Alegre. Adoro o arroz do seu Juarez: http://come-se.blogspot.com/2009/06/arroz-moti-aromatico-ou-arroz.html

Hildeny, fico feliz de saber.

Denise, já vi guariroba em conserva na zona cerealista, aqui em São Paulo. Veja no Chitão. Bom saber que temos em Barretos.

Fernanda, que bom que você tem esta possibilidade.

David, Marcos não tem a mesma tara, mas acaba gostando de estar junto. Quatro feiras pode ser um bom número para não ter que sofrer fazendo escolhas.

Veronica, realmente é tudo barato e diversificado.

Izabel, podemos tentar comendo repolhos e abobrinhas com pimenta. O modelo, no instante seguinte a esta foto, deu um sorrisão lindo como o da Salete do mercado - e eu perdi o clique. Eita gente simpática (e algumas, lindas, assim!)

Um abraço, N