segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ovos de ano novo


Limpos e secos pra encher a matula de viagem de volta pra casa
Não sabia de véspera o que iria comer no Natal, embora minha mãe tenha sempre a certeza do almoço de hoje e o de amanhã. O que ela servisse em Fartura estaria de bom tamanho, fosse o que fosse, embora sejam sempre o mesmo pernil de leitoa, a mesma salada de maionese, o mesmo frango de sítio recheado. Todos muito bons mesmo. Ainda assim, prefiro continuar na dúvida se terá ou não alguma penosa além. Tem ano que tem peru caipira, mas nesta temporada foram todos vendidos muito antes. Só sobraram os patos, que ninguém fez questão de comer. As angolas, muito menos. E foi bom assim. Gosto de natal e reveillon porque tiro uns dias de férias e a família se reúne, mas a obrigação de comidas assim e assadas me cansam.
Sorte que no sítio as coisas são um pouco diferentes. As únicas frutas secas que chegaram por lá foram as do panetone que fiz e levei. E únicos também foram estes panetones, que adoro preparar. Fora isto, nada de cereja chilena (que se me derem eu como, mas não compro), peru temperado com termômetro ou bacalhau da Noruega. Em compensação, muita lichia, que o pé carregou novamente. Banana, muita como sempre. E manga, que na última safra mingou e agora apareceu de montão, da coquinho, da bourbon, da espada e da haden (se eu fosse dentista iria ficar rica mandando fazer capas de plástico personalizadas para os dentes só pra chupar manga coquinho sem pensar nos fiapos póstumos). Abóboras muitas, da redonda, da pescoçuda, da verde, da madura, da verdolenga. Eu passaria o natal comendo abóboras e abobrinhas sem problemas.
De certezas para este ano novo, quase nenhuma, a não ser as de curto prazo - que estou na Vogue de janeiro, que vou pro Senegal no mês que vem e que preciso aprender francês. E que o pé de taperebá ou cajá manga está coalhado de frutos ainda verdes que hão de amadurecer. Assim como a seriguela. O cacto trepador ensaia duas pitaias grandonas enquanto cactáceas mais velhas chegam à frente - mandacarus já trincando de maduros e figos-da-índia amarelando espinhudos. O jambeiro deu a primeira safra e os jambos vermelhos e crocantes hão de resistir às bicadas dos sabiás até minha próxima ida ao sítio. Toda tarde minha mãe, sem tirar o avental, continua pegando seu chapeu e saindo de mansinho pelo jardim enroseirado para voltar em seguida com ovos de pata ou angola nas mãos, toda sorridente. E todo meio do dia, com sol a pino, o boi continua lá parado fingindo se proteger sob uma árvore que deixa vazar mais luz que sombra. E a família segue falando de pimentas enquanto o almoço não chega à mesa.
Desta vez o ano novo chegou tranquilo por aqui, como uma simples virada na folhinha do calendário. Aproveitei o tempo em São Paulo para limpar gavetas, jogar tralhas fora, fazer faxina na casa, costurar cortinas novas, passear com o marido, ir ao cinema. Dias sem ver email, sem ligar o computador, sem saber o destino do celular. Tantos dias que quase desacostumei de fazer blog e morri de preguiça de responder emails. Mas calma que vou chegando de mansinho.

Flores, galinhas e ovos são a paixão da dona Olga
Taperebá ou cajá-manga
Duas pitaias (que plantei de semente num vasinho há anos)
Primeira safra de jambo vermelho

Boi na meia-sombra

Abóbras e abobrinhas, mangonas e manguinhas, para a matula
A receita do panetone é aquela mesma, só que usei o dobro de frutas para aproveitar todos os restinhos que tinha na geladeira

18 comentários:

Gabriel Leicand disse...

Feliz ano novo! Que bom que os posts já voltaram esse ano!

sadhia disse...

oi amiga eu vi os jambos e fiquei alucinada nossa faz exatamente 11 anos que não como um....quando morei em fortaleza dava muito no final do ano,comi muitos deles na minha gravidez por ter um sabor delicado e mais forte que a pera ela alem de me saciar a fome tirava aquela vontade de comer doce ,pois o aroma invade o ar né
e ainda por cima era ótima para meus enjoos ...que linda casinha é assim que quero um dia ter uma ..chjeia de plantinhas lindas ...fritiferas ..hostaliças de todos os tipos ..amiga feliz ano novo..tudinho de bom para vc e sua familia ..adoro seus post
bjinhos sadhia

Dricka disse...

Fotos lindas Neide!
Dona Olga tá um fofa na foto. E a grama em Fartura está tão verde!
Pensando bem que nome lindo para uma cidade, né? Fartura! Lindo!
Bjs
P.S.:Vou correndo comprar a Vogue, pra saber o que você está aprontando lá.

Mariângela disse...

Saudades de tudo e todos!!Bom retorno,muitos beijos!

Gabriela disse...

Nossa, que lindo! Tudo lindo! Que sitio lindo, que flores lindsa, lindsa frutas, lindo texto, lindsa fotos. Que saudades do Brasil! Que saudade da diversidade, do colorido, da abundancia, do brejeiro.
Parabens pelo blog.
Feliz ano novo!

Nadia Marrach disse...

Ô saudade!!!!...e eu que ainda nem li direito as últimas postagens (desde a da salsicha)por conta da correria de fim de ano!
Hummm...Senegal??!!Conta mais sobre essa viagem!
Beijos e um ótimo ano para você e sua família!

Angela Escritora disse...

Que casa linda! Aqui as mangueiras estão carregadas, mas não estao maduras. Vogue? quero comprar!

Priscila disse...

Bem-vinda de volta!

clau disse...

Mas este lugar, ai das suas fotos, até parece coisa de contos de fadas: uma graça!!...
E os seus panetones sao de fazer inveja, Neide. Ao menos para alguém, como eu, que tinha até feito as proprias frutas cristalizadas para fazer o proprio e nem passou disto!
Enfim...
Vai ficar para o ano que vem, n'é?
Bjs!

Margot disse...

Feliz Ano Novo, Neide! Que ele lhe traga coisas muito boas, sejam elas em portugues, frances, ingles ou ateh mesmo afrikaans. Senegal? Que delicia!!! Dona Olga eh uma fofa!!! Bom ter voce de volta. Beijos.

Neide Rigo disse...

Gabriel, obrigada. Feliz ano novo pra você também.

Sadhia, também adoro jambo. Pena que ainda não estavam muito bons. Obrigada!

Dricka, obrigada. Lá em Fartura basta uma chuvinha pra tudo verdejar. Também acho minha mãe fofa!

Beijo pra vocês também, Mari.

Gabriela, obrigada. Feliz ano novo pra você também. Eu também já estava com saudade.

Nadia, não tenha pressa. As postagens continuam por aqui. Ao Senegal, vou pra participar do Forum Social Mundial, em Dakar, pra mostrar alternativas ao uso do trigo.

Angela, enquanto não amadurecem, faça suco com as mangas verdes. E chutney (publico em breve um com manga verde).

Priscila, obrigada!

Clau, eu também queria preparar as frutas. Mas e tempo, né?

Margot, feliz ano novo pra você também. Dona Olga agradece.

Beijos, N

Miguel disse...

Que bacana -- adoro seu blog, e vou ao FSM também (principalmente pelas discussões sobre bens comuns). Será um prazer vê-la/ouvi-la por lá.

Kenia Bahr disse...

Oi Neide.
Acabei de descobrir vc! Fazendo pesquisas sobre blogs, andei passando pela Sonia Hirsch e por outro e por outros... e todo esse hipertexto da net me deixa confusa, já não sei mais de onde surgiu o COME-SE.

Sei apensa que estou completamente maravilhada! Quanta coisa maravilhosa junta! Sou conhecida entre @s amig@s por ser a "inventadora de moda" na cozinha. De onde vou sempre trago alguma receitinha mágica, regional ou dicas...

Adorei e virei fã. Estarei sempre por aqui.

Beijo grande

Kenia

Neide Rigo disse...

Kenia, não importa de onde vem, será sempre bem-vinda. E se é das minhas, então, melhor ainda. Um beijo, n

Neide Rigo disse...

Miguel, que bom saber que estará lá. Pode me passar seu contato? Ou então me escreva no neide.rigo@gmail.com
Um abraço,N

clara e chris disse...

Neide, taperebá e caja manga são a mesma coisa? Sou louca por cajá-manga e nunca comi taperebá, mas já vi na frutos do Cerrado picolés das duas frutas...

Flávia disse...

Olá!
Neide, descobri ontem o seu blog, e foi a perdição, agora 00:14 enão consigo ir dormir pois são muitas matérias apaixonantes.
Fiquei muito feliz, que com todas as tuas viagens, inclusive para outros países legais,também já visitou minha maravilhosa Porto Alegre.
O seu blog me deu muita água na boca. Parabéns.
Um abraço, Flávia
flaviain2@gmail.com

Deia G disse...

Que lugar mais aprazível! Um paraíso, parabéns!