terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quiche de caruru verdadeiro ou quiche de bredo com queijo de leite de cabra


Peguei de uma calçada, perto de uma praça, onde ele crescia feliz. Aqui, já limpo e pronto pra ir à panela.

Este é mais um dos matinhos que encontro aqui no meu bairro nas calçadas. Em São Paulo ninguém dá nada por eles, mas na Bahia é chamado de bredo e vendido nas feiras. Não sei se o hábito é arraigado, mas pelo menos vi pra vender na feira de São Joaquim, em Salvador. E a Eliana que trabalha comigo diz que na cidade dela, Santa Luz, na Bahia, o bredo também é usado como verdura pra fazer caldo. Um caldinho de frango com temperos e bredo. Fica a sugestão.
Também conhecido como amaranto-verde, bredo-verdadeiro, caruru-bravo, caruru-de-mancha, caruru-miúdo, caruru-de-soldado, caruru-verdadeiro ou caruru-verde, o Amaranthus viridis L., como se vê pelo nome, é parente do amaranto do qual comemos as sementinhas. Só que desta espécie, o bom mesmo são as folhas que lembram as de espinafre. Há outras espécies do gênero Amaranthus com vários usos na fitomedicina, mas, como diz o autor do Tratado de Fitofármacos y Nutracéuticos, Jorge Alonso, "La mayoría de las especies de amaranto se consumen como hortalizas y hierbas para guisar. En el caso de Amaranthus caudatus y A. hypochondriacus revisten imiportancia por sua elevados niveles de proteínas". Então, não sou eu quem está inventando de comer mato. Meus pais já comiam e outros povos latino-americanos o fazem. Por isto, resolvi preparar uma quiche como uma de espinafre. Adaptei uma massa já dada aqui na quiche de cogumelo do eucalipto, por sua vez adaptada de outra receita ótima da Elvira, do blog Elvira´s Bistrot.


São Paulo tem destas coisas

As folhinhas já despetaladas e higienizadas com hipoclorito



Quiche de bredo ou quiche de caruru com queijo de cabra

Massa
1 ovo
1 pitada de sal ou a gosto
75 g de manteiga gelada
150 g de farinha de trigo

Para o recheio
2 colheres (sopa) de manteiga
Meia cebola picada
50 g de folhas de caruru limpas (lavadas e higienizadas com desinfetante de verduras)
2 colheres (sopa) de salsinha picada
3 ovos
200 g de creme de leite gelado, sem o soro ou creme de leite fresco
100 g de queijo de leite de cabra duro ralado grosso
1 pitada de pimenta-do-reino
1 pitada de noz-moscada
Sal a gosto

Prepare a massa: numa tigela, misture o ovo com o sal e a manteiga ralada em ralo grosso (ou cortada em cubinhos minúsculos). Numa bancada coloque a farinha, faça uma cova no meio e despeje aí o ovo com a manteiga. Vá colocando farinha por cima e amassando devagar com os dedos até formar uma massa homogênea (não se deve trabalhar demais a massa para não estimular a formação do glúten e deixá-la dura e elástica – ela deve ficar maleável). Se precisar, junte um pouco de água (vai depender do tamanho do ovo e da umidade da farinha). Molde uma bola com a massa, coloque num saco plástico e guarde no congelador por 15 minutos. Preaqueça o forno a 180 ºC. Entre duas folhas de plástico, estenda a massa com um rolo até ficar com mais ou menos 2 milímetros de espessura. Forre com ela uma forma refratária de 23 centímetros, sem untar (se quiser, forre a forma ajeitando a massa até as bordas com os dedos) e leve ao forno. Deixe assar por 7 minutos. Retire do forno e deixe esfriar.

Prepare o recheio: numa frigideira, derreta a manteiga, junte a cebola picada e deixe dourar em fogo alto. Coloque as folhinhas de caruru e refogue com um pouco de sal até que fiquem macias. Junte a salsinha picada e espere esfriar. Numa tigela, bata os ovos com o creme de leite, o queijo ralado, a pimenta-do-reino, a noz-moscada e sal a gosto. Misture tudo com a verdura refogada.
Finalizando: distribua o recheio sobre o fundo preassado. Leve ao forno preaquecido a 200 ºC, e deixe assar por aproximadamente 40 minutos ou até o recheio ficar firme e dourado. Sirva com salada de folhas verdes.
Rende: 8 porções

20 comentários:

Pablo A. disse...

Olá Neide!
Muito bom seu blogue e suas receitas... Visito a pouco mais de dois meses este blogue e estou adorando!
Nossa você é corajosa, rs, pegas as plantas da rua... Ou serei eu o fresco?
Bem, este é umcoment só pra parabenizar seu blogue muito bom mesmo!

Beijos

Pablo A.

Anônimo disse...

É a mesma verdura conhecida como Caruru Arnica? Tem um gostinho meio anisado, parecido com o de ora-pro-nobis?
Como viste, estou em dúvida, pois não me lembro mais das folhas do caruru arnica (só refogadas). Se não me engano, ele também é conhecido como Gondó.

Neide Rigo disse...

Paulo,
eu sou corajosa rss. Só para algumas coisas. Obrigada!

Mimeógrafo (como é seu nome?)
Infelizmente não conheço o caruru arnica. Vou tentar descobrir. Mas não tem sabor anisado e as folhinhas em nada lembram as do ora-pro-nobis.
Um abraço,
N

Drika disse...

Olá Neide!
Sou pernambucana, de Recife, e aqui também comemos bredo (não sei se é o mesmo da foto, sei que ele coloca uma florzinha bem pequena e rosa), pois bem, aqui o bredo é comercializado apenas na semana santa. É preparado no leite de coco e serve de acompanhamento p/ o peixe.

Neide Rigo disse...

Oi, Drika,
obrigada pela informação. Deve ficar muito bom com leite de coco. Imagino que o bredo a que se refere seja outra planta que também recebe este nome: o bredo-major-gomes ou maria-gorda, com folhas mais gordinhas. De qualquer forma, qualquer destas folhas podem ser usadas na torta.
Um beijo,n

Anônimo disse...

Achei pertinho da casa da minha mãe, fiquei toda feliz, e ela se recusa a comer.
"Vai que é uma planta parecida, mas venenosa e perigosíssima, minha filha?"
:D

Neide Rigo disse...

Amanda,
se tiver este aspecto, não vai ser venenosa, não. Pode ficar tranquila.
bjs,n

Anônimo disse...

Olá Neide! Sempre surpreendendo, não?
Comia caruru na minha infância (morava numa chácara). Vou tentar resgatar este hábito já esquecido pela família.
um abraço

Unknown disse...

Oi, boa noite!

Descobri seu blog por acaso. Puxa, como gostei. Estava pesquisando sobre o Bredo. Aqui no Rio Grande do Norte não é comum se comer, tampouco vendido nas feiras. Sempre que vou a horta orgânica, aqui perto, Da. Luzia, a cultivadora, me dá uma saco enorme, de graça, pois ninguém quer comprar, é uma erva daninha. Uso cru: vinagre, azeite. Ou no feijão preto com charque (ponho cru, para esfriar junto com o feijão, antes de congelar). Foi um prazer, boa sorte!

Neide Rigo disse...

Oi, Márcio!
Adorei a dica do feijão. Obrigada.
Um abraço,
N

Anônimo disse...

Meus país possuíam um aviário quando eu era criança em Vila Scharlau, São Leopoldo (RS). Além da ração para as aves, dávamos o caruru tb, que crescia aos montes na nossa propriedade. E as galinhas ficavam loucas quando viam o "matinho". Segundo a minha mãe, galinha que come caruru bota ovos mais nutritivos. Como eu era responsável pela alimentação das galinhas, sei identificar caruru até no escuro (rsrsrsrs). Hoje moro em Porto Alegre e não lembro de ter visto caruru dando sopa por aí, mas vou ficar mais atento, porque estou com vontade de testar essa quiche! Lembro que vizinhos nossos de origem tcheca saíam pelo mato (era uma zona rural bem pouco habitatada, com muiiiiiiiiiiiitos bosques de eucaliptos, que saudade...)para catar folhas de uma erva chamada de língua-de-vaca, tu conheces??? Tem um sabor semelhante ao da alface (mais forte) e esta sim eu vejo por toda a parte aqui em POA e sempre lembro da minha infância, o mesmo acontece com a carqueja e a capuchinha... Mas a gente precisa prestar muita atenção à higienização dessas "plantas-mato", lavando-as bem e usando o hipoclorito. Grande abraço!
João Inácio- Porto Alegre

Anônimo disse...

O caruru é uma amarantácea (amaranto) e era sagrada para os Incas, e agora, acho que devemos vê-la assim também, sagrada, pois o matinho está derrubando a gigante predadora do planeta, a Monsanto.

Marisa Ono disse...

Conversei com o baiano daqui e ele disse que na região onde ele nasceu, come-se bredo com nata (a parte gorda que sobe quando o leite de vaca descansa) ou com leite de licuri.

Fiz com nata. Refoguei, juntei um pouco do creme de leite e cozinhei. Lembra mesmo espinafre. Pena que uma tigela de meio litro só rendeu umas poucas colheres de bredo. Murchou bastante.

Beijos, Map

Neide Rigo disse...

Marisa,
a baiana Eliana, aqui de casa, diz que faz também com leite de coco. Deve ter ficado bom com creme. bjs,n

Anônimo disse...

Essa folha também é considerada no Candomblé como folha fria ou folha que acalma.
Muito boa para banhos, é só macerar e jogar a água em todo o corpo inclusive na cabeça, já que essa folha é de Oxalá pai de todos os orixás.

olhoscoloridos disse...

Olá!
Um jardineiro que me ensinou que caruru é comida.E das boas!!!
Fiz aqui em casa, delicioso!
Substitui tranquilamente o espinafre, como vc disse.
Já colocou num omelete?Hummmmmmmmm
Numa fritada....
É uma delícia!
Se quiser me visitar, vou ficar contente:

www.receitadeumapanelaso.blogspot.com e
www.nossosolhoscoloridos.blogspot.com
bjuuuuuuuuuuuu

Drica disse...

Oi Neide,

estou morando na Bahia, e tenho visto muito o caruru. E gostaria de esperimentar...porém fiquei com receio devido ao fato de as que tenho em casa tem pequenos espinhos!! As que você consumiu tinha espinhos?! Existe um tipo de caruru(Amaranthus spinosus L.) que se chama caruru-de-espinho e é muito parecida com a que vc mostra porém a Embrapa diz que é tóxica para o gado.Agora fiquei na dúvida sobre a que tenho aqui?!
Agradeço, se puder me responder.
Adriana

Neide Rigo disse...

Drica,
infelizmente eu não conheço esta variedade. O meu não tinha espinho, não. Um abraço,n

Anônimo disse...

OI,
GOSTARIA DE AVISAR A VC QUE ESTE MATO NAO É BREDO, CUIDADO COM O QUE ESTA COMENDO, PROCURE SE APURAR MAIS.

Daniela Pastana Cuevas disse...

Estou postando suas receitas num grupo do facebook que criei sobre as ruderais.
Participo de hortas comunitárias na cidade de São paulo com centenas de amigos, e como soubemos que muitos matinhos são comestíveis, começamos a procurar receitas com elas. E nas pesquisas seu blog estava sempre presente na lista.
Quando posto as receitas sempre colosua a fonte. agradeço por nos dar a oportunidade de experimentar receitas deliciosas e por continuar espalhando o uso daquilo que nossos ancestrais usavam, e que agora incentivamos como você a saborear e plantar.

https://www.facebook.com/groups/357234117706059/