sexta-feira, 11 de abril de 2008

Isto não é urucum ou um errinho histórico


Manuscrito, à esquerda: urucu. O certo: leiteira (Peschiera fuchsiafolia Miers.)


A legenda, no livro de comida. Clique e amplie.
Estes frutos de leiteira são do sítio, em Fartura.
O engenheiro Willian LLoyd veio não sei de onde (Inglaterra?); esteve aqui em 1873; se autodefiniu como o pioneiro das estradas de ferro; participou da construção da linha férrea que liga Antonina, no Paraná, a Miranda, no Mato Grosso; era talentoso também nas artes e nos deixou várias pinturas de paisagens paranaense. Pena que confundiu o fruto da leiteira ou leiteiro (Peschiera fushsiaefolia Miers.), comum no Rio, São Paulo e Paraná, com nosso urucum. Vejam na pintura, à esquerda, manuscrito: urucu. O cara se confundiu, uai. Afinal os dois frutos, quando secos, se abrem mostrando as sementes cobertas por um arilo colorido. Só que no da leiteira, as sementes, meio meladas, ficam aderidas à borda, enquando no urucum as sementes mais secas, com cobertura farinhosa, ficam aderida a uma estrutura no centro do fruto. Um tem protuberâncias, o outro é como um oriço de espinhos quebradiços.
Se tivesse parado o erro aí, tudo bem. Mas logo que abri, há alguns anos, o Viagem Gastronômica através do Brasil, do Caloca Fernandes, estranhei a comida de passarinho ilustrando o livro de comida (página 211), com a seguinte legenda: Annatto, or Urucu (Bixa orellana L.), used as seasoning and coloring in Brasilian cookery, in a watercolor by William LLoyd (1822-1905) who in 1874 called it “a strange bean from Paraná”. Ou seja, quem fez a legenda não notou o erro e o perpetuou: “anato ou urucum, usado como tempero e corante na cozinha brasileira..” . O Caloca é meu amigo, super cuidadoso, curioso, sabe muito e não é por isto que vou elogiar o livro, que vira e mexe me acode. Acontece que ele é bom mesmo, indispensável para quem quer conhecer um pouco mais a fundo a cozinha brasileira. Tem fotos lindas do Cícero Viegas, receitas testadas pelo Estúdio Sonia Robato, mas a leiteira passou despercebida, fingida de urucum. Acontece.


8 comentários:

Janna Joaninha disse...

PUXAAAAAAA que descoberta a sua.. e que atenciosa hein!

;)

Migas disse...

Gostei muito deste post! Não conhecia!! Às vezes, certas "mentirinhas" ou enganos, de tantas vezes repetidos, viram verdade! :o)

Beijo

Anônimo disse...

Olá Neide
A sua observação, valeria uma errata dos editores... afinal para que perpetuar erros? Lindas as fotos da Peschiera, nativas de Fartura? Talvez esteja enganada, mas isto é raridade, guarde ou plante umas sementinhas. Toda vez que leio sobre Fartura me lembro do meu avô que dizia sempre: 'Viva a fartura que na miséria, ninguém atura'!
Abs.

Neide Rigo disse...

Lucia,
lá em Fartura tem umas 3 ou 4 árvores desta. Também não sei se é raridade. De qualquer forma, vou, então plantar as sementes, já que pássaros adoram.
beijos,
Neide

Bianca Araújo disse...

Obrigada, Neide! Em meus passeios aqui por Santana de Cataguases, interior de Minas Gerais, vejo muitas dessas árvores, e eu tinha certeza que esse fruto não era urucum,mas também não sabia do que se tratava. :)

suzy disse...

Bianca Araújo consegue umas sementes para mim?

Unknown disse...

Acabei de ver isso fui pesquisar consegui encontrar, ótima explicação 30/03/2020

Anônimo disse...

Achei um pé tava cortado na beira do rio que faz fronteira Paraguai e foz está no lado de Foz não é urucum